O vento estava calmo aquela manhã. O sol nascia pálido no oeste. As águas claras do pequeno rio refletiam sua luz alaranjada sob o azul sereno daquelas águas, cujas águas eram atormentadas por uma pequena embarcação élfica branca com detalhes que lembram um cisne de asas fechadas. Na lateral da embarcação, algumas flechas cravadas na madeira branca.
No leme, um velho elfo conduzia a embarcação com afinco enquanto uma pequena criança élfica de cabelos ruivos e olhos amendoados em tom verde claro se agarrava a seus pés, em prantos. O velho elfo tinha duas flechas cravadas nas costas. O sangue pingava e tingia o branco puro da embarcação e das vestes da garota.
-"Não chore, pequena! Temos que fugir daqui antes que te aconteça o mesmo que com seus pais! Seja forte! Não pude proteger seus pais, mas posso te proteger!", o velho elfo tentava consolar a garotinha com falsas esperanças. Sim, falsas esperanças, pois na margem se aglomerava um grupo de elfos já com seus arcos preparados para uma segunda saraivada.
Desta vez uma flecha atingiu seu objetivo. O projétil atravessara a garganta do velho elfo, fazendo-o engasgar com o próprio sangue enquanto tentava salvar a garota. Sem forças e com a vida se esvaindo, o corpo do velho elfo tomba sobre o corpo da garotinha em uma última tentativa de protegê-la.
Dhele’anarah acordava suada. Novamente teve o mesmo pesadelo de sessenta anos atrás. Do dia em que deixou sua terra natal. Do dia em que seus pais foram mortos por um parente ambicioso por questão de herança. Do dia em que sua vida mudou. Passou os últimos sessenta anos sobrevivendo como podia, de cidade em cidade, de ajuda a ajuda, de pequenos trabalhos a pequenas caças, sem a ajuda de ninguém. Sua nova vida foi moldada sobre promessas vazias.
Buscava seu cantil e percebera que estava vazio. Dhele’anarah acampara ao lado de um pequeno córrego. Engatinhando, fora até a margem, onde juntou as mãos para tomar um belo gole da água fria da madrugada. Quando as ondulações da água amenizaram, o reflexo da lua iluminava a água parada como um espelho que refletia o rosto cansado, cheio de olheiras e cabelo desgrenhado de uma Dhele’anarah cansada.
Então, percebeu uma melodia vinda de algum lugar. Era o som de uma flauta, disso tinha certeza, mas de quem?, se perguntava.