ON - Ernandes Costa

Há um mês vinha crescendo a edição no canal do Freakzoides, anteriormente era somente coisas simples e aleatórias, agora era videos inteiros e sem qualquer conversa mais planejada, o que só dificultava o caminho pretendido pelos produtores. O material a ser editado era entregue por João Rocha, o produtor do canal e que fazia o contrato com os apresentadores.

Só que os apresentadores tinham sumido, não aparecia novos materiais para edições, estava precisando de trabalho e do mais importante do dinheiro, algumas contas começaram a aparecer e talvez conseguir alguns serviços a mais.

Era início de noite, quando João te manda uma mensagem te avisando se faria o acerto, você poderia esperar até de manhã ou passar no apartamento dele, onde também era o escritório, aquela noite mesmo. Acabou preferindo ir logo pegar o dinheiro aquela noite e assim resolveria logo isso, foi quando a chuva começa a cair, acompanhada de uma neblina forte.

Você vai dirigindo até o apartamento, fica na parte próximo às industria e empresas da cidade, já conhecia o caminho para lá, não demoraria muito para chegar. Conforme ia pelas ruas semi desertas da cidade, parecia que todos tinham tirado férias e saíram da cidade, era vista poucas pessoas e carros. A chuva batia no para-brisa do carro de forma ritmada, junto com uma neblina que entrava no carro, algo anormal para essa época do ano, sentia o sono te incomodar em um ritmo hipnótico.

Nesse transe você começa a dirigir de forma automática, onde poucos pensamentos passavam pela sua cabeça, só seguia em frente sem saber como conseguia dirigir. Só o que prevalecia um sentimento de desconforto e como preparando para o pior, como alguém se atiraria na frente do carro ou seria assaltado. Não falta muito para a chegada, você tinha que passar por debaixo de um viaduto e mais algumas quadras, estaria lá.

Para rapidamente no cruzamento antes do viaduto, senti um leve arrepio, o som emitido pelo vento passando pelo metal do viaduto estava muito sinistro, junto com chuva, névoa e a escuridão era bastante um sombrio. Você sente que alguém bateria no vidro do seu carro, não podia deixar de pensar que seria assaltado naquele cruzamento.

Som da Chuva:

Rolagem de dado:

Conforme dirigia, Ernandes sentia seu corpo entrar num torpor bizarro. Na verdade, dirigir, quando não era uma tarefa estressante, era bem prazeroso. Seu cérebro desliga e você apenas acelera. A chuva ajudava o sentimento de letargia. Ele pouco ligou que não era a época do ano que acontecia aquelas coisas. Somente ficou perturbado quando uma espécie de paranóia começou a crescer por trás de sua nuca.

No cruzamento do viaduto, sentiu-se ainda pior. Que caralhos estava para acontecer ali? Ele olhou pela janela molhada de um lado para o outro. Não ia esperar muito tempo. Foi conduzindo o carro para frente e assim que percebesse que poderia cruzar, cruzaria, sem esperar sinais verdes ou similares. Precisava chegar à casa de João para pegar o dinheiro. E numa noite sinistra como aquela, quanto antes tivesse em casa, melhor.

Passa pelo viaduto e pela neblina densa, o sono passar sem mais fortes, tento que se esforçar para manter acordado. Olha para o lado, não reconhece onde que estava, nunca tinha visto aquele bairro ou algo parecido na cidade.

Os prédios dali eram germinados, antigos em ruinas, sem condições de sequer entrar em segurança, por mais que pareciam que tinham moradores ali. Não era prédios históricos, era algo do tipo muito mal feito há tempos atrás. Podia ver rachaduras, mofos e infiltração nas paredes mesmo do lado de fora; objetos e moveis espalhados de forma aleatória; e construções não seguiam qualquer sentindo.

Não havia carros na rua de paralelepípedos de pedras irregulares; a calçada era toda de cimento em tom cinza escuro parcialmente destruído; não havia animais ou qualquer vegetação naquele ambiente caótico. Havia algumas pessoas visíveis, com aspecto de envelhecidas, enrugada e tons brancos e pretos, não sabia se seu cérebro te engava pelo ambiente do local. As pessoas agiam como zumbis de usuários de crack, porém não procuravam vestígio de droga, estavam fazendo coisas do cotidiano delas, mesmo que não conseguisse saber o que estavam fazem de imediato.

Não reconhecia aquele lugar, não conseguia identificar como tinha parado ali, sequer conseguia acreditar que ali poderia ser sua cidade. Para em uma esquina qualquer, em busca do celular, esse estava descarregado e não ligava de qualquer jeito, ficando assim sem um GPS. Enquanto estava distraído com o celular, ouve duas batidas no vidro do motorista.

Ao virar você que uma jovem de olhos totalmente negros, como de um abismo, te olhando fixamente, por mais que fosse jovem, tinha uma pele enrugada ou gosmenta.


- Você está perdido?

Rolagens:

... (Lapso de memória)....

Você percebe que ainda está dirigindo, de forma automática, não no local anterior. Parecia que só tinha cochilado no volante. Olha para os lados, era a cidade de como a conhecia, suas casa, prédios e lojas. Não sabia como tinha retornado, nem como tinha ido parar lá, sequer sabia se era real ou não.

Não era um sono, tinha estado lá, a sensação é diferente de um sono. Algo de errado, muito errado tinha acontecido, o que não conseguia expressar. Talvez seu cérebro tenha colocado algumas informações a mais, por mais que tinha a certeza que era exatamente aquilo que tinha ocorrido.

Seu celular acende uma fraca luz, demonstrando que está funcionando ainda. Seu corpo só demostra moleza de acabado de acordar. Não foi difícil reconhece onde estava, era umas cinco quadras do prédio do João, estava no caminho errado, teria que fazer um retorno para ir para o caminho certo.  

Por mais surreal que fosse, a imagem dos olhos da menina era vivido em sua mente, não conseguia esquecê-la.

Ele parou o carro e levou as mãos à cabeça, coçando seus cabelos cortados bem baixos. O que diabos era aquilo? Não tinha certeza. Parecia um terrível pesadelo, mas vívido. Tão vívido que ele não arriscaria dizer que não fora verdade. Viu que o celular funcionava. Tinha que voltar alguns quarteirões porque havia passado do lugar certo.

Ernandes digitou o número de João enquanto fazia o retorno. Seria melhor estar falando com alguém. Quando ele atendesse, iria segurá-lo na linha: - Alô? João? É o Ernandes. Eu estou há uns poucos quarteirões da sua casa. Não desliga o telefone até que eu chegue aí... Er... - Iria contar que viu um outro lugar com gente... morta? Os olhos negros da garota pareciam estar desenhados em suas íris. - A rua tá muito estranha.

Dirigia prestando toda a atenção possível para aquele estado de semi-torpor em que estava.

Já tinha saído daquela realidade da menina, o transe desapareceu, estava novamente em sua realidade “comum”. A cidade em seu estado normal e as pessoas em seu estado normal, talvez o termo normal nunca foi tão reconfortante. Continua prestando atenção na rua, para ver se o estado anterior iria voltar novamente, seguindo pelo caminho do prédio.

- Olá. Sim eu mesmo. Pode falar cara… Então chega aí, já estou descendo para te buscar… Pode por o carro no estacionamento, já que tu está com medo de ladrões.

A realidade anterior não retornou, era a comum que você está. O que não demora muito para ver o prédio do João, que abre o portão do estacionamento e você vê ele que te indica a vaga para você estacionar.

Suspirou aliviado com a voz conhecida do outro lado da linha. Foi conversando com João até que chegasse. A volta da normalidade o consolava. Parecia muito bom que tudo fosse exatamente como era. Ao ver o colega abrindo o portão do estacionamento, desligou o celular. Colocou o carro na vaga indicada e desligando o motor, foi se levantando.

Era bom sentir o corpo novamente de pé. Parecia que havia uma indolência em seus músculos que teimava em encurtá-los. - Hey... - Não sabia se seu semblante ainda tinha vestígios do pavor que ele passara. - Tem alguma coisa para beber aí? - Se ofereceu. A verdade era que queria passar um tempo até se sentir novamente seguro para sair daquele local e voltar para casa. Aproveitaria e perguntaria do casal de youtubers desaparecido.