Textos tirados de seu Diário:
“São três horas da madrugada, acordo com o mesmo sonho novamente, o que está havendo comigo? Meu corpo sua como se estivesse em uma fornalha, sinto-me sarapantado por esse sentimento que revivo em lembranças nos meus sonhos, mas como eu poderia lembrar desse tipo cousa, eu não saberia por quê. Fui orientado a escrever quando ocorresse esses eventos a minha pessoa, pois ajudaria a compreendê-los. Melhor tentar dormir de novo.”
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“’Cazzo’! Outra vez o mesmo sonho, aqui estou eu, acordado às três horas da madrugada, não consigo decifrá-lo, é tão confuso e obscuro. Engraçado, lembrei-me de algo curioso. Durante o meu serviço em algum dia desse mês acabei sendo consultado indesejosamente por uma vidente, sem precisar falar qualquer informação sobre mim, ela soube dizer cousas que me deixaram incrédulo, como poderia saber disso tudo? Que truque fora esse, eu não sei dizer, mas aquela dona de nada, velha estranha, chamara-me a atenção. Ela disse-me algo assim ‘Tu és virgem, esse és teu signo. Sol em virgem. Sinal de que és curioso e estudioso, vive como um analítico, agindo de maneira cuidadosa. Tua devoção a razão faz de ti alguém sobrecarregado em preocupações e temores. És responsável e meticuloso, odeia e ama essa vida, sem teu labor, és infeliz. Um individualista tentando ser autossuficiente. Prefere a penumbra dos bastidores a ser centro das atenções. Um perfeccionista. A tua devoção a intelectualidade para muitos pode ser considerada como frieza de tua parte. Teu elemento és terra, signo de natureza crítica.’ Depois de mais algumas baboseiras que acertara sobre mim, sua fala tornar-se-ia assustadora ‘Agora vejo o porquê de ser assim, senhor és amaldiçoado, as sombras do desconhecido cercam-lhe e pouco a pouco usurpam de tu a vida, às ordens dele. Ele é onipotente, é colossal, é indescritível, é a origem e é o fim, sob as camadas da ficção e da realidade, esconde-se e dorme a milênios enquanto a hora de acordar não chega, enquanto isso seus lacaios perseguem os amaldiçoados e fazem de alimento para o poderoso.’ ‘Che palle’! Quanta baboseira tenho que ouvir. Cansei de escrever.”
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“Mesmo sonho, sempre o mesmo sonho, acordado às três horas da madrugada. Seria o meu serviço o responsável por isso? Trabalho desde muito novo como policial, mas há alguns anos saí desse labor e desde então trabalho de detetive particular. Durante esses anos vi muitas cousas, digamos que nada mais surpreende-me, conheço o lado pitoresco e obscuro do homem, capaz das piores selvagerias, para isso que vivo, para lutar contra estes homens, somente eu sou capaz de pegá-los, pois conheço a natureza destas pessoas. Não acredito nessas baboseiras religiosas, nem na vida após a morte, Nietzsche estava certo quando disse que não há verdade absoluta. Todos nós estamos fadados a sermos comidos pelas minhocas no final. Sono, tentarei dormir.”
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“Acabei de acordar deste pesadelo! Parecia tão real, mais real que das outras vezes, como se estivesse lá, tudo era mais claro e nítido, mas mais estranho também. Era Portugal, no concelho de Angra do Heroísmo, nos Açores, 28 de Agosto de 1893, dia que nasci. Eu nascia, às 17 horas em ponto, na Igreja Velha de São Mateus da Calheta, dia de glória, dia de benção, mas meu nascimento fora dia de terror, dia de morte também. Ao longo do anoitecer um furacão devastara parte da igreja, destruíra parte da vila e levara consigo diversas vidas, pessoas queridas a mim, meu pai e minha mãe, jamais pude conhecê-los. Tudo havia sido muito rápido e parecia que eu tinha consciência nesse sonho, como se já fosse adulto para compreender os eventos ocorridos. Contudo, o mais bizarro deste evento, é que todos na igreja morreram, menos eu, um bebê recém-nascido. Uma imagem escura flutuava sobre mim neste sonho, era enorme, sua imensidão era capaz de ocupar toda a visão, havia tentáculos e um som gutural indefinível, nunca ouvira isso antes, aquela imagem nunca sairá da minha cabeça novamente. Sei que não há o sobrenatural, mas aquilo fora forte demais. Depois do ocorrido, eu fui adotado por uma família italiana de Lombardia, mas antes dos conflitos da Primeira Guerra Mundial acontecer, mudamo-nos para Brasil, Rio de Janeiro.”