Noite, cumpádi!
Se aprochegue na fogueira que o café tá quase pronto. A noite tá fria, mas a cachaça ta ardendo feito o Cão!
Comprei essa garrafa lá na venda do Tonico. Ele trouxe essa daquele alambique que fica lá perto de Diamantina. Trem bão, cumpádi. Bão dimais da conta.
E isso até me alembra um causo que se sucedeu quando eu tava de viagem pra lá daquelas banda.
Fui visitar o primo Tião, que morava numa cercania longe da cidade. O primo tinha um sítio que chamava Vista Alegre, terra boa, com nascente e tudo. Prantava mio, fejão, mandioca e ainda criava umas galinha. Ele tinha chamado eu e minha senhora pra passá uns dia praqueles lado, por conta do casamento dele com Maria.
E foi assim que a gente fumo parar praqueles lado. Fazia já dois dia quando primo Tião disse que ia se metê no mato pra caçar, e me chamou.
Catamo dois trabuco que o primo tinha de herança, pegamo umas lata de fejão e de café. Se despedimo das muié e fumo embora eu, Tião e o cão Rondante.
Já tardava três noite no mato quando Rondante danou a ladrar. Tião mais eu tava correndo atrás duma paca quando ouvimo os uivo do cão.
Demo uma carrera na direção dos latido, e quando chegamo na clareira, demo de frente com um preto veio com a fogueira acesa, passando um café.
Tal qual tamo agora aqui, cumpádi!
Rondante tava bravo, rosnava e uivava, mas Tião achou que ele tava estranhando o preto, que tava de terno e tinha cheiro de cravo, como se fosse um defunto que fugiu no meio do velório.
Ele alevantou a cabeça quando viu que nós entramo na clareira, como se nem tivesse tomado conhecimento de Rondante.
E chamou nóis, perguntando se a gente queria tomar um pouco do café. O velho quase que não tinha os dente, mas sorria o tempo todo. Eu e Tião achamo por bem sentar na fogueira e tomar um café, que a noite ia longe. Assim, sentamo com o preto veio e esperamo ele cabá de passar o café.
E sucedeu do café ficar pronto, e a gente esticou a caneca pra ele servir. Enquanto servia, o véio perguntou qual que era o santo da nossa devoção. Eu falei pra ele que era devoto de Nossa Senhora Aparecida e ele arrespondeu:
“Santa boa, essa. Mãe de Jesus, vela pelos home na hora da morte.”
E aí que aconteceu, cumpádi. Eu me alembro como se fosse ontem.
O raio do café do preto véio saiu do bule soltando fumaça e tudo, mas nem chegou a encostar no fundo da caneca. Ela passou direto, como se o fundo não fosse fundo e o café não fosse café, e quando pingou na perna, ao invés de queimar só fez frio.
Foi quando o cumpádi gritou: “Danou-se! Corre, cumpádi! Corre que é assombração!”
Danamo numa carrera mata adentro até a clareira ficar longe e a mata rarear. O troço corria atrás feito uma sombra, mas cada vez que chegava perto, Rondante tentava morder a canela do véio e ele ficava pra trás. Chegamo no pasto fora da mata, e avistamo uma capela no longe. Corremo pra lá até as perna bambear, mas chegamo num tiro.
Quando entramo na capela, eu virei e gritei:
“Valei-me minha nossa senhora! Vade retro, assombração!”
O preto veio guinchou e caiu, com Rondante ainda mordendo a perna. Como se fosse fumaça, sumiu no preto da noite, e nunca mais a gente viu.
Voltemo eu mais Rosinha pra casa no dia seguinte, sem nem olhar pra trás. E isso já faz pra mais de dois ano.
O primo mandou uma carta esses dia. Parece que tá bem, a muié vai ter neném e chamou nóis pro batizado.
Mas não sou bobo não, cumpádi! Dessa vez, quando o batizado acabar, e Tião quiser se meter no mato pra caçar, a gente leva o padre junto!
Se aprochegue na fogueira que o café tá quase pronto. A noite tá fria, mas a cachaça ta ardendo feito o Cão!
Comprei essa garrafa lá na venda do Tonico. Ele trouxe essa daquele alambique que fica lá perto de Diamantina. Trem bão, cumpádi. Bão dimais da conta.
E isso até me alembra um causo que se sucedeu quando eu tava de viagem pra lá daquelas banda.
Fui visitar o primo Tião, que morava numa cercania longe da cidade. O primo tinha um sítio que chamava Vista Alegre, terra boa, com nascente e tudo. Prantava mio, fejão, mandioca e ainda criava umas galinha. Ele tinha chamado eu e minha senhora pra passá uns dia praqueles lado, por conta do casamento dele com Maria.
E foi assim que a gente fumo parar praqueles lado. Fazia já dois dia quando primo Tião disse que ia se metê no mato pra caçar, e me chamou.
Catamo dois trabuco que o primo tinha de herança, pegamo umas lata de fejão e de café. Se despedimo das muié e fumo embora eu, Tião e o cão Rondante.
Já tardava três noite no mato quando Rondante danou a ladrar. Tião mais eu tava correndo atrás duma paca quando ouvimo os uivo do cão.
Demo uma carrera na direção dos latido, e quando chegamo na clareira, demo de frente com um preto veio com a fogueira acesa, passando um café.
Tal qual tamo agora aqui, cumpádi!
Rondante tava bravo, rosnava e uivava, mas Tião achou que ele tava estranhando o preto, que tava de terno e tinha cheiro de cravo, como se fosse um defunto que fugiu no meio do velório.
Ele alevantou a cabeça quando viu que nós entramo na clareira, como se nem tivesse tomado conhecimento de Rondante.
E chamou nóis, perguntando se a gente queria tomar um pouco do café. O velho quase que não tinha os dente, mas sorria o tempo todo. Eu e Tião achamo por bem sentar na fogueira e tomar um café, que a noite ia longe. Assim, sentamo com o preto veio e esperamo ele cabá de passar o café.
E sucedeu do café ficar pronto, e a gente esticou a caneca pra ele servir. Enquanto servia, o véio perguntou qual que era o santo da nossa devoção. Eu falei pra ele que era devoto de Nossa Senhora Aparecida e ele arrespondeu:
“Santa boa, essa. Mãe de Jesus, vela pelos home na hora da morte.”
E aí que aconteceu, cumpádi. Eu me alembro como se fosse ontem.
O raio do café do preto véio saiu do bule soltando fumaça e tudo, mas nem chegou a encostar no fundo da caneca. Ela passou direto, como se o fundo não fosse fundo e o café não fosse café, e quando pingou na perna, ao invés de queimar só fez frio.
Foi quando o cumpádi gritou: “Danou-se! Corre, cumpádi! Corre que é assombração!”
Danamo numa carrera mata adentro até a clareira ficar longe e a mata rarear. O troço corria atrás feito uma sombra, mas cada vez que chegava perto, Rondante tentava morder a canela do véio e ele ficava pra trás. Chegamo no pasto fora da mata, e avistamo uma capela no longe. Corremo pra lá até as perna bambear, mas chegamo num tiro.
Quando entramo na capela, eu virei e gritei:
“Valei-me minha nossa senhora! Vade retro, assombração!”
O preto veio guinchou e caiu, com Rondante ainda mordendo a perna. Como se fosse fumaça, sumiu no preto da noite, e nunca mais a gente viu.
Voltemo eu mais Rosinha pra casa no dia seguinte, sem nem olhar pra trás. E isso já faz pra mais de dois ano.
O primo mandou uma carta esses dia. Parece que tá bem, a muié vai ter neném e chamou nóis pro batizado.
Mas não sou bobo não, cumpádi! Dessa vez, quando o batizado acabar, e Tião quiser se meter no mato pra caçar, a gente leva o padre junto!