Promessas
O som estridente provocado pelo choque das espadas cortou o ar novamente. A dúzia de homens que circulava os dois soldados prendiam a respiração numa tensão respeitosa. Andreas duelava com Undoss, o jovem que podia considerar um pupilo. Era um rapaz forte e sagaz. Por ser filho do prefeito da vila, tivera alguma facilidade para adentrar na guarda, mas sua crescente evolução nos assuntos de batalha e guerra mostravam que ele era muito mais do que apenas um filho de burguês. Tinha talento para a guerra.
Era uma luta apenas de espadas, sem escudos. Claro que eram espadas de treino, seu gumes de fio, mesmo assim, um golpe bem empenhado ainda machucava e muito. Por isso todos estavam levando muito a sério. Aquele tipo de duelo era o que realmente elevava a perícia dos soldados, pois eles tinham que tomar tanto cuidado quanto numa batalha de verdade, onde o que estaria em jogo era suas próprias vidas.
Ambos se moviam com igual destreza e os golpes desferidos se balanceavam com a mesma intensidade de força. Undoss tinha apenas dezoito anos, mas já era um homem feito, alto, de ombros largos e muito ágil. Além dos cabelos negros como a noite que lhe caiam como um tapete alisado até os outros, seus olhos de um azul profundo marcavam seu rosto, sempre aguçados e sérios, acompanhando atentamente os movimentos do tutor.
O último golpe desferido por Undoss veio com extrema força, mas pouco jeito. Andreas, mais experiente, posicionou a espada de forma que quando aparasse o golpe, a guarda da espada batesse nos dedos de Undoss. O garoto urrou de dor, deixando a espada cair. Ele saltou para trás, a fim de evitar uma investida de Andreas, erguendo uma das mãos à frente do corpo, dando o combate como encerrado.
- Diabos! - exclamou estarrecido.
Os soldados em volta aplaudiram. Fora uma defesa inteligente e a experiência sobrepujara o jovem. Mas todo o resto do duelo fora parelho, digno de ser assistido.
Segurando os dedos da mão esquerda, Undoss foi de encontro a Andreas, num abraço sem os braços. Riu com toda a face enquanto encarava Andreas.
- Estou quase lá! É melhor parar de me treinar tão bem, ou vou superá-lo!
Uma gargalhada de companheirismo surgiu por parte de todos ali. O bando começou a se dispersar.
Undoss foi até um dos bancos do pátio da guarnição para conferir o estado dos dedos da mão esquerda que pareciam machucados.