ANO ZERO / DIA 12
Rudaho prosseguia com passos decididos, mais centrado em fazer o próprio trabalho do que em se meter em disputas que considerava pouco produtivas. “Em que droga de grupo me meteram”, pensara ele, avaliando as chances de saírem vivos de lá.
Momentaneamente não mais estando ele mesmo no foco de alguma tensão, aqui e ali lançava a Priscila palavras soltas que pareciam “papo furado”.
- O clima tá estranho, não acha? - Dizia, apesar de nenhum sinal visível que remetesse a chuva ou algo do tipo. Falava por falar, apenas pra interagir, ou tratava-se um pressentimento mais profundo de stalker?
E num golpe de sorte, o guia encontrara algumas raízes comestíveis sob uma área mais sombreada. “Infelizmente parecem precisar de descontaminação. Melhor guardar pra mais tarde...”.
Era por volta das 8h atingiram o limite do setor onde haviam acampado e, avaliando o caminho à frente, disse à guerreira: "Bem, acho melhor seguirmos pra lá. Não é bom nos afastarmos tanto do caminho principal". Infelizmente, descobriram que o terreno ali não era nada apropriado para a locomotiva. "Se a passagem para aqui, isso não é nada, nada bom. A locomotiva não vai conseguir seguir até... até seja lá o que procuramos".
A verdade era que, para todos, era difícil saber exatamente o que esperar. Sabiam que a população da Arca era estéril e que o objetivo final era solucionar tal problema... por mais que, de qualquer forma, a ideia de se envolver sexualmente com "irmãos de criação" fosse estranha para muita gente lá.
Não importava que riquezas encontrassem.
Não importava o paraíso em que parassem.
Se não encontrassem uma resposta... seria o fim da humanidade.
A não ser que... haveria outros agrupamentos fora do HangardeTeste05, como nas imagens do livro? Seriam eles hábeis a produzir uma nova geração?
Mais atrás, com pensamentos próprios, Heckyl vinha pensando sobre o ocorrido, a disputa pela arma.
Izu havia tentado pacificar a situação fora de controle com uma oferta e, naquela hora, ele punha-se a pensar. A tensão era alta, uma vez que Mutt parecia disposto a tudo, não importava o risco para si e ou para a comitiva.
O “cara de árvore” continuava com o cano erguido na direção do outro, e fechou um olho como se mirando no meio da testa dele.
Até que começou a rir.
- Sua boca é muito grande, pequeno, e você fala besteira demais. Nada do que disse tem o menor sentido, mas melhor um louco disposto a comprar briga que um são covarde. Poucos me enfrentaram assim abertamente e terminaram sem uns bons dentes quebrados. Então faça-me o favor: mantenha não só a arma, mas essa atitude sem medo da morte. Se voltar a choramingar como um bebezinho querendo voltar pra casa, não vai nem ver a bala que vai levar nas costas. É pra frente que vamos, ok?
E após isso, guardou a arma. Não sem antes dirigir-se a Izu.
- E você, nada de trapaças, ok? Se descumprir sua promessa... .
Mas aquilo já havia ficado para trás e agora e chefe seguia um tanto quanto cabisbaixo, pensando no desaparecimento de Montoya. Deviam ter procurado alguma evidência, mas a confusão fizera Rudaho colocar o pé na estrada e desistir de ajudar a investigar. Para piorar, na cabeça dele, as perspectivas não eram nada boas: ou ele havia morrido perdido na Zona; ou “algo” estava caçando eles ou a própria Arca agora; ou ele teria voltado e feito todos duvidarem da capacidade do grupo. “Que droga, Montoya! Por que fez isso?!?!”.
Já era quase 10h quando fizeram uma pequena parada. O mundo parecia tranquilo ao redor... até tranquilo demais.
Rudaho, que estava sentado tirando areia das botas, calçou-as e levantou-se, levando uma mão às viseiras e observando algo à distância.
Podiam ver nuvens. Inicialmente distantes, mas... .
- MERDA! CORRAM!! TEMPESTADE DE AREIA!!
Como uma onda gigante, o deserto se derramava na direção deles a uma velocidade incrível. Não tinham muito o que fazer para além de fugir.
- Spoiler: