[!ON!] Aisha

Não foram dias fáceis para Aisha.
Ter que partir tão repentinamente para uma rotina pesada de estudos em outro país foi doloroso para a moça, mas o que se podia fazer? Eram deveres de uma princesa que herdaria toda uma nação e conhecer bem seus vizinhos, nações aliadas e rivais fazia parte desses deveres. Ela só não esperava que esse dia chegasse tão rápido e da maneira como chegou. Mas o fato era que agora ela vivia em Photius, um lugar que em nada lembrava seu antigo lar, luminoso e radiante. Sob a tutela e proteção dos Conde Amil e Arcebispo Anibal, a jovem ainda assustada, começa a desvendar as minucias de uma cultura tão diferente da sua e vendo os valores que elas guardavam também. Não existia cultura errada, apenas diferente. Coisas que ela foi aprendendo com o passar dos anos. E tentava aprender cada vez mais com seus colegas de classe.

Ela se deu particularmente bem com a professora Bahar, talvez por pura afinidade cultural ou pela matéria que ela lecionava, mas fato era que as duas se davam super bem. Talvez por isso a professora que lhe conferia confiança na moça, até para assuntos mais sérios. Um dia ela comenta sobre a morte do curandeiro e pede sua ajuda.

- Mas que infortúnio para a família – ela faz uma saudação para Ala – esse homem será recebido pelas graças de nosso Deus.

Ouvindo com atenção, a menina acha uma excelente oportunidade para sair dos muros do castelo e ver mais pessoas, mesmo achando estranho ela pedir aquilo justo para ela.

- Com certeza nossa proximidade nos dá muita vantagem, mas por que a senhora acha que eu sou a pessoa indicada para isso? – ela caminhou pela sala – por que não envia uma comissão para investigar... Eu adoraria ir, mas estou sob proteção dos nobres locais. Meus pais não me enviaram para cá para que eu ficasse me envolvendo em encrencas – ela sabia que anotações de médicos eram preciosas, mas ainda tinha receio de sair da proteção do palácio. E se sua tia estivesse de olho? Ela engoliu em seco pensando na possibilidade, por mais longe que ela estivesse. Aquela mulher sempre seria um espinho em sua pele – eu... bem... eu não sei se devo, minha mestra.

A princesa mulçumana prestava atenção às palavras e gestos de sua professora e ergueu as sobrancelhas ao ouvir que ela tratava o arcebispo com intimidade. Esse tipo tratamento era deixado apenas para os membros mais íntimos da família. De fato, aquilo a preocupava: até que ponto iria aquela intimidade? Eles estariam tramando algo? Ela se lembra bem da proximidade da segunda esposa e de seu tio e o que isso significava e no que isso resultou.
A insistência em enviar a nobre para um lugar distante também era suspeita. E se fosse uma armadilha? Aisha respira fundo e aperta os dedos das mãos que estavam apoiadas em seu colo, uma certa paranoia tomava conta da jovem princesa, que tentava se recompor rapidamente antes que a mulher elevasse seu rosto.

- De fato, eu gosto de boa arte e livros de ciências. Seria um acréscimo essencial para a universidade. Tirarei o dia para pensar e me informar com meu chefe da guarda para ele me falar dos riscos dessa viagem. Com licença.

Ela se retira da sala sem mais e caminha depressa pelos corredores com suas aias e vai à procura do chefe de sua guarda pessoal, precisava saber como era essa região e que perigos ofereciam à jovem.

Obviamente Aisha encara sua tutora nos olhos para ver a profundidade das palavras ditas por ela para não deixar que seu orgulho por um simples elogio lhe cegue a visão e o discernimento, mas não deixa de concordar que conversar com a população também é um ponto importante em sua educação e ela queria isso.

- Negociar faz parte de meu aprendizado também. Com meu dinheiro e minha posição social consigo sim muita coisa. Como disse, verei com meu chefe da guarda.

Muitas coisas passaram pela cabeça da jovem enquanto caminhava pelos corredores antes de encontrar seu fiel soldado. Ela era uma garota adorável e crente, confiava nas pessoas, mas seu medo a deixava preocupada o tempo todo e temia que isso a deixasse paranoica. Seria certo duvidar de todos? Talvez...

- Chefe da guarda Tehran, envie alguns batedores na frente para se certificarem que o caminho é seguro e, se esse for o caso, partiremos amanhã ao nascer do sol. Me mantenha informada! - ela parte para o jardim do palácio, um local onde gostava de passar algumas horas lendo, sempre na companhia de suas aias. Ela sentia a necessidade de relaxar, já que a simples possibilidade de deixar os muros do castelo a enchiam de expectativas e medo.

- Minha cara aia Nasira, traga-me o Ish - a princesa tinha um gato de estimação, que era seu companheiro nos dias solitários naquele lugar. Ela se sentia confortável e segura com o bichano e ler com ele em seu colo era extremamente agradável e relaxante.

Ela passou o dia todo esperando a resposta de seu soldado, tentando agir normalmente.

NA tarde parecia não passar enquanto seu chefe de guarda não chegava. Ela largou o gato com uma de suas aias assim que soube que a pequena comitiva voltava e partiu apressada até eles.

- Então, meu capitão? - ela perguntou mantendo a calma, mas por dentro temia pela resposta - é seguro o caminho até o vilarejo? - ela ouviu a resposta e se tranquilizou um pouco. Ela não teve muito o que pensar e escolheu ir cavalgando - certo. Prepare meu cavalo e a comitiva para partirmos assim que amanhecer - a carruagem era muito mais confortável, mas exagerado demais e ela não queria chamar muita atenção; o cavalo a deixava mais exposta a perigos, mas era mais rápido e mais discreto. Ela só queria se livrar disso o quanto antes. Por que ela simplesmente não poderia ser uma princesa normal e estar junto ao povo? Aisha lutava constantemente para não ser dominada pelo medo e pela paranoia. Seu coração pesava toda vez que lembrava do motivo daquilo tudo: por mais que fosse legítima defesa, ela tinha tirado a vida de um ser humano e ela se culpava por aquilo.

A noite não foi tranquila para a jovem, que rolou na cama até que desistiu de tentar dormir. Ficou acordada contemplando as estrelas com Ish em seu colo até a hora que suas aias entraram para vesti-la para a empreitada, seu traje de viagem era coberto por um chador que a cobria por completo. O desejum foi feito em seu quarto mesmo e logo após suas orações ela desceu até o local onde seu cavalo a aguardava.

Mesmo com medo, sair do castelo parecia aventuresco para a jovem Aisha, que tinha aquele desejo adolescente em desbravar o mundo, porém tinha que lidar com o peso de sua posição e da desconfiança que estava sempre à suas costas. Ver pessoas comuns e paisagem singelas foi revigorante de certa forma. Por um tempo ela esqueceu a preocupação e curtiu a viagem, observando a população do vilarejo até chegar à casa que de fato visitaria. Ela indicou com o olhar para que um de seus guardas batesse à porta até obtivesse resposta, a que não tardou.

- Eu soube de seu infortúnio, minha senhora - a princesa responte com a voz suave e respeitosa - e vim prestar minhas condolências à senhora. Sou a princesa Aisha Qadir, filha de Fadl Qadir, Sheikh de Al Cádiz e sou hóspede do senhor Amil e do senhor Anibal e venho por parte da universidade prestar nosso respeito e conversar com a senhora - ela trazia um presente para a viúva, um tecido adequado para o luto da mulher. Em sua cultura era adequado levar um presente em uma visita, mesmo sendo numa situação difícil como aquela, por isso não poderia ser algo muito festivo e animado, por isso escolheu o tecido, que poderia ser útil para a viúva.

A porta se abre revelando uma gentil senhora que talvez só estivesse nervosa por causa da situação que vivia - perder um ente querido não era algo fácil.

- Não se preocupe com isso - ela inclinou levemente a cabeça em uma saudação breve - agradeço por me receber. Salaam Aleikum!

Aisha adentra a casa da mulher e apenas observa a reação dela ao receber o presente e sorri por baixo do véu, realçando seus belos olhos decorados com kajal.

- Sua hospitalidade é seu melhor agradecimento. Espero que lhe seja útil esse presente. É de coração.

A visita não era de cortesia, já que trazia motivos diretos para que fosse feita e a forasteira teria de lidar com essa situação: seria sua primeira missão diplomática por assim dizer.

- Eu sinto muito por sua perda! - ela foi levemente solene antes de prosseguir - a notícia da morte de seu marido chegou rapidamente até nós. Eu sou aluna da universidade e vim atrás dos conhecimentos de seu marido. Perdoe-me ser tão direta assim - Aisha mantinha-se numa postura ereta e falava com gestos discretos - é uma área de meu interesse particular, mas será de grande valia para os alunos e mestres da universidade. Se não for nenhum incômodo, eu gostaria de ver os livros e pesquisas dele, talvez o laboratório em que ele trabalhava. Estou disposta a pagar uma quantia significativa por esse conhecimento.

A atitude da viúva à menção do valor a ser pago já era esperado pela jovem soberana e ela sorriu por baixo do véu, mas desconfiou quando ela pediu proteção. Elas caminharam pelo laboratório e gostou do que viu, por mais que não tivesse o que queria.

- Por que precisa de proteção? - ela precisava saber, uma simples viúva precisar de proteção? Estranho - material surrupiado? Isso é muito grave, é como roubar o próprio rei... - nessa hora ela deixou seu tom voz mais sério e sombrio, deixando claro a gravidade da situação - o valor significativo a que me refiro seria referente a coisas realmente valiosas, pesquisas úteis, coisa que pelo visto não estão mais por aqui. Pagarei o mínimo pelas sobras do conhecimento dele - Aisha precisava deixar claro quem estava no controle - você sabe alguma coisa sobre esses ladrões? - a mulher fala sobre uma suposta amante do médico e sobre a suspeita de envenenamento, o que atiça a curiosidade da jovem - envenenamento? Isso é uma acusação muito grave. Fale-me mais sobre essa mulher, onde posso encontra-la, o nome dela. Creio que agora o material de seu marido será confiscado para investigação se tornando agora provas de um crime - ela se volta para os seus - recolham tudo e levem para a universidade. Agora isso são provas e serão periciados. Além de suspeita de assassinato, temos também a situação do roubo do material de pesquisa do médico. Nós trataremos disso, senhora. Se essa mulher for ladra e assassina, ela será punida de acordo, não se preocupe.

Um crime tinha sido cometido e naquele momento, Aisha era autoridade, mas ela não passaria por cima do conde, o verdadeiro responsável pela região. Não deixa de reparar na aflição da viúva com relação aquilo tudo e prossegue com suas decisões.

- Chefe da guarda, deixe dois de seus homens na proteção da casa e da senhora e disponha de mais alguns homens para iniciar a busca por essa mulher. Coletem toda a informação necessária com a dona da casa. Quanto a mim, regressarei ao palácio e montaremos nossa estratégia de lá. Tomarei as rédeas desse caso. Partamos imediatamente - disse com autoridade.

Certamente ela não deixaria a mulher à míngua e antes de deixar a casa dela, Aisha deixa com a mulher algumas moedas, menos do que pagaria pelo real material que tinha ido buscar, mas o justo pelo transtorno causado.

- Terá sua justiça em breve, mulher. O seu marido, Walter, descansará em paz e o responsável punido. Salaam Aleikum! - disse enquanto montava em seu cavalo para voltar ao palácio.

Quando ela fala que coisas foram roubadas você nota que os olhos dela não te encaram, ela não está mentindo (pelo menos não obviamente)mas existe algo de errado na história
Ela diz que a ajudante do marido é que é a suspeita dela, que eles eram amantes em segredo e que quando ele morreu ela fugiu mesmo sendo uma negra escrava, o nome dela é Anaya e ela veio das terras do oeste; no local onde os equipamentos de alquimia encontravam-se não parece existir nenhum espaço para justificar um roubo, a não ser que o que tenha sido roubado seja muito pequeno.
você nota que quando você começa a falar sobre retirar os pertences dela algo de raiva surge nos olhos que vai se tornando maior e maior e ela te encara com a boca aberta sem saber como te responder

Quando você manda os guardas ficarem com ela os olhos dela se enchem de lágrimas e ela só consegue babuliciar um "o.o...obrigada" muito baixinho quando você deixa algo de dinheiro pra ela

a volta para a universidade é tranquila e você chega dolorida de cavalgar e cansada de remoer o que há de errado com a situação

A nobre não gostava nada das reações da mulher com relação ao suposto roubo.

- Não estou gostando nada disso - dizia com autoridade - olhe-me nos olhos ao falar comigo. Não minta para mim - Aisha precisava capturar cada detalhe daquela conversa, mesmo que isso a fizesse soar um pouco arrogante, mas ela estava em seu direito de faze-lo - seu marido estava trabalhando em algo diferente? Especial? Ilícito talvez? Não... não tenha medo de responder... agora isso fará parte da investigação. A senhora quer justiça, não quer?

A mulher falou o que sabia e à medida que falava, Aisha já dava ordens aos seus homens.

- Procurem por uma escrava fugitiva chamada Anaya - um escravo fugitivo era mais um criminoso que seria severamente punido quando capturado. Essa mulher estava imensamente encrencada - dê todos os detalhes possíveis sobre essa escrava à meus homens para que eles façam uma busca minuciosa e não cometam erros - exigiu da viúva.

Ela, por fim, parte.
Ao chegar ruma direto para a universidade, descansa um pouco e logo começa a folear o pouco das anotações que sobraram, depois pensa em procurar por um perito, um professor mais qualificado para investigar os pertences e os livros, mesmo ela sabendo que as anotações principais tinham sido roubadas. Antes de falar com alguém, ela muda de ideia, desconfiando que alguém poderia estar bancando as pesquisas desse homem e decide chamar sua professora mesmo, isso, se não fosse ela a patrocinadora.

- Professora, estive na casa da viúva e parece que as pesquisas do homem foram roubadas e possivelmente ele tenha sido envenenado. Mandei alguns soldados atrás de uma escrava que a viúva acredita ser a assassina e ladra - ela contou quase tudo que ouviu da mulher e preferiu ver a reação da professora ao ouvir seus relatos antes de falar qualquer coisa para ela, sobre suas suspeitas, a de que alguém poderia estar patrocinando alguma pesquisa obscura.

As observações de sua professora foram em vão, já que a princesa sabia como se portar diplomaticamente.

- Certamente que falei em nome da universidade e irei comunica-lo, afinal, é possível que seja um assassinato em suas terras. Meus guardas estão apenas adiantando o trabalho como a senhora disse. Só vim deixar as coisas aqui antes de ir ter com ele - Aisha olhou as coisas organizadas e prosseguiu - já que está tudo pronto, estou me retirando. Salaam Aleikum - ela se despede da professora e vai à procura do barão. Mesmo sendo mais poderosa que ele, Aisha era uma hóspede muito especial ali e devia respeito ao seu anfitrião, isso era muito importante em sua cultura: a hospitalidade. E ela não estava disposta a cortar esse vínculo com ele. Ela sabia de alguns prováveis lugares onde ele poderia estar e para acelerar sua busca, ela pergunta aos criados que encontra pelo caminho.