por Count Zero Ter Jun 09, 2020 8:11 pm
– Sinta o cheiro – disse ele, oferecendo as folhas para ela. – Eu as colhi hoje de manhã. Estão bem frescas.
Nibelia inspirou fundo, fechando os olhos. Era algo muito prazeroso, de fato.
– Sinto os pulmões leves. Isso é muito bom.
– Não sei como você aprendeu a fazer poções – continuou ele, enquanto colocava as folhas na água e acendia o fogão –, mas no meu aprendizado, ervas podem ter efeitos diferentes quando colhidas em momentos diferentes. No orvalho, todas as suas capacidades são ampliadas e servem para qualquer coisa. Mas se você quiser conservar o efeito delas por muito tempo, a melhor coisa a se fazer é deixar que as folhas sequem, assim ela retém sua energia e pode ser usada depois, se jogada na água quente. Conservas também são possíveis, mas você precisa atentar para a substância em que está conservando.
A forma simples, descontraída que o druida falava agradava Nibelia. Era o oposto entre os intelectuais arcanos da academia. É como dizem: os intelectuais falam coisas simples de forma difícil. Os sábios falam coisas difíceis de forma simples.
– Ah, você iria detestar a forma que as mentoras da academia falam sobre as ervas – disse ela de um jeito bobo e descontraído. – Infelizmente muitos magos são presunçosos e petulantes, e nada que está nos livros é levado a sério. A magia arcana é implementada em tudo de uma forma muito científica, e qualquer coisa fora desse escopo é considerado ultrapassado ou mesmo tolice. Porém eu cuido para não sofrer desse mal. É muita pretensão achar que todo o conhecimento e poder concentra-se em apenas uma via da manifestação. Quem subestima sempre perde, de uma forma ou de outra.
– Gosto da sua ideia – respondeu. – Um bom chá precisa ser apreciado num lugar adequado. Ainda mais se você quer relaxar. Pegue xícaras e o que mais quiser levar. Vou te mostrar um lugar.
Nibelia pegou o necessário e acompanhou o druida, caminhando ao seu lado, feliz por alguns minutos de ar puro. Hywel a conduziu até um bosque bem localizado. Tinha a vantagem de ser calmo e, ao mesmo tempo, perto da cidade.
– Escolhi este bosque porque fica perto dos meus amigos – contou. – E para evitar que derrubem isso aqui na minha ausência. Seja bem-vinda, a propósito.
– Obrigada, Hywel. Esse lugar tem beleza, além de poder. Não tem como negar isso. Basta caminhar por aqui que eu sinto um grande peso deixar meu espírito. É como uma purificação semelhante ao chá. Me sinto leve.
Ela então foi conduzida até as raízes do grande carvalho onde Hywel habitava.
– Acho que fica claro porque eu não gosto de passar os muros – disse, de uma forma debochada. – Detesto o barulho de lá.
– Também não gosto, para ser sincera. A balburdia e a futilidade sempre tiram minha concentração dos estudos. É por isso que você sempre me vê de capuz pelas ruas. Tento passar sempre sem chamar a atenção, pois não gosto de gastar meu tempo com a conversa fiada dos humanos. Se eu pudesse, escolheria uma vila discreta ao invés de uma cidade, se bem que um bosque como esse também é uma excelente opção.
Ela então se sentou ao lado do druida, bebericando o chá, apreciando aquele vento fresco e aquele calor ameno dos raios solares filtrados pela grande árvore.
– Bem, você pode me perguntar o que quiser – disse. – Não sei se conseguiria te ensinar alguma coisa, mas posso tentar.
– Você também pode me perguntar qualquer coisa que desejar. Adoraria trocar conhecimentos com você. Sua contribuição na luta foi inquestionável e suas magias foram admiráveis.
Ela então pensou por um momento, ainda sorrindo e disse:
– Elas falam com você? Há muitos rumores de druidas que literalmente conseguem falar com árvores. Isso sempre me deixou curiosa.
Ela não se incomodou em ficar bem próxima dele, chegando a fazer seus corpos encostarem um no outro.