Todos que já tem ficha ganham também um tópico amanhã para fazermos umas cenas individuais antes de corrermos todos juntos. O jogo vai começar com uma cena depois da primeira mudança, uma cena depois do teste da tribo e uma cena conjunta depois do texto abaixo. As duas primeiras para fazermos uma "sintonia fina" dos personagens.
“Dover, a porra do fim do mundo.”
As letras brilhavam no display do celular de gatinho dela. Não vale nem a pena abrir a conversa. Melhor ele achar que nem foi lido. Não vale nem a pena desbloquear a tela, era a única mensagem nova. O celular vai para o bolso do moletom preto em um movimento quase imperceptível. Um segundo inteiro para se acostumar com a luz. Com a falta dela. Ela empurra uma mecha de cabelo colorido pra dentro do capuz sentindo a ansiedade aumentar.
“Eles estão atrasados. Vinte e dois minutos para ser exato. Alguma mensagem?” - Ela responde só com o olhar, não precisa mais que isso. O magrelo desarrumado com fiapos de barba espalhados pela cara torce o rosto em uma careta e continua falando sem pausar um instante. - “Eu vou entrar, não tô nem aí. Ainda vou pichar aquele carrão que eles tiraram do traficante.” - Ela suspirou, mas não disse nada. Ele era o alfa. Ele estava sorrindo agora e desfiando a manga da camisa velha cor de envelope, mas era o alfa por algum motivo.
Ele seguiu na frente, pulando do banco de ferro torcido mais velho que o tempo no calçadão em frente a praia. Ela foi logo atrás, chutando as pedrinhas que a maré tinha levado até ali. O mar estava agitado há dias e ali, perto da reserva, o cheiro se misturava com o que vinha das árvores e do asfalto. Era como poder sentir a cidade inteira de uma vez. Jay seguia mais afastado, distraído. Ela sabia, sem olhar, que ele estava louco para espiar o celular. Ansioso, esperando alguma coisa com olhos apaixonados, vidrados fora dali.
Quando ela passou pela marcação, ela pode sentir na mesma hora e todos pararam no mesmo passo. Mesmo separados. Mesmo sem avisos. O choque de um, arrepia o pelo dos outros. Vazio. O território estava vazio. A Marca não significava mais nada. Escondida nos arabescos da varanda de uma casa a duas ruas da praia. Uma casa enorme que seus donos nunca souberam que era uma divisa importante. A casa branca e as palavras ocultas feitas de ferro não significavam nada essa noite e os cães malhados no jardim dormiam sem suspeitar.
Passaram direto pela casa. Correndo agora pelas ruas de asfalto do melhor pedaço da cidade, um sonho de território todo iluminado por postes antigos e lâmpadas de LED. Os pés de Jay marcavam o avanço deles. Cada divisória era a mesma coisa. Cada marca vazia de significado. Assim que chegaram na casa em que a outra alcatéia se reunia, não viram nada fora do lugar. Nenhum rastro estranho, nenhum sinal de ataque. Era como se a qualquer momento eles fossem chegar para assistir um filme no sofá da sala. Nenhuma proteção levantada. A porta da frente só encostada, chaves penduradas logo ao lado. Carros na garagem aberta para a noite. Comida na geladeira e uma caixa de pizza na lixeira. Louça pra lavar na pia, mas nada nojento, só xícaras, facas e colheres lambidas.
“Tá vendo alguma coisa? Eu não to achando nada aqui.” - O alfa, que agora tinha nos olhos o vazio pontilhado de estrelas do céu noturno, responde com a cabeça. Nada. “Jay, volta para casa. Avisa os outros e começa a fazer ligações. Eu e Richard vamos dar uma olhada aqui. Garante que os filhotes estejam em casa.” - Jay oferece um sanduíche que ele tirou do microondas ainda quente enquanto mastiga seu irmão gêmeo. A carne pingando sangue. Ela olha por cima do balcão da cozinha para a porta da frente. Ele não gostou, mas foi.
Ela não se adiantou ao alfa, ela obedeceu o ritmo das engrenagens da alcatéia. Nessa hora, ele já era um lobo e tinha saído da casa. Ele não precisava dizer nada. Eles dois estavam há dez anos juntos. Se estivesse assistindo do outro lado da rua nesse momento um vizinho enxerido, veria um garoto de moletom cinza do time de rugby da escola pública saindo de uma casa despretensiosa. Dez passos depois, ele volta e entra na garagem pela janela evitando as câmeras. Mais trinta segundos e ele sai com um carro esporte. Ninguém veria o lobo cinza e branco que saiu logo antes ou a mulher seguindo ele.
Um mês depois as marcas estão de novo no lugar. Um trono sem rei. Nenhum sinal do antigo monarca, mas seus muros de pé. A coroa e o cetro largados aos pés do trono. Metáforas para sua coroação. Isso mesmo. É tudo seu agora. Pode pegar, pode sentar e se acomodar. Você não quer desapontar ninguém, quer?