CAERN DO PÁSSARO DE FOGO

Dava pra ver o Ahroun se aproximando saindo de um arbusto qualquer de uma posição inesperada, ele caminhava tranquilamente em direção aos recém chegados e em seu caminho tomava a forma humana, sem camisa, descalça, apenas com uma bermuda no corpo e uma faixa laranja desbotada prendendo os cabelos cumpridos.

Ele sorri, mostrando todos os dentes quando Testemunha-das-Estrelas anuncia Revogador-de-Certezas, um ato involuntário da pele humana pra expressar felicidade.

- Eu sou Garras-da-Justiça, Cliath lua cheia dos Uktena. – O sotaque era terrivelmente carregado e indiscernível, mas Sumé podia ter certeza que não era um sotaque devido a alguma língua do povo. Ele estende uma das mãos pra Stroller já que era a forma que os macacos gostavam de se cumprimentar.

Era impossível não notar a imponência do guerreiro, ele era altivo mesmo vestido de maneira pobre e com o rosto de moleque que nem tinha barba direito.

Ele bate as duas mãos no ombro de Sumé e sorri de novo – É bom ter mais um do povo aqui, você me lembra Persegue-a-Névoa, ele é do povo líder da toca brilhante Cassino Chukchansi, muito hospitaleiro.– as palavra soavam honestas e felizes e definitivamente entregavam o jogo pra ouvintes atentos de que Garras nunca havia sido humano, no entanto o momento feliz não duraria muito o brilho sumia quando Juno tocava no assunto do sonho.

- Ele nos mostrou a guerra, tempos difíceis virão. – Ele bate na própria cabeça como se repreendesse a ele mesmo – Melhor que Canção-de-Luna dê os detalhes, um guerreiro não deve contar histórias sem motivos, não é meu propósito. – a voz ficava triste e ele se calava, dava pra ver ele tomar a forma de lobo em seguida, a transformação perfeita os ossos quase nem estalavam-se, como se fosse alguém que tivesse muita prática naquilo, ele se afasta, mas não o bastante pros ouvidos poderosos do lobo não escutarem a conversa, se deita em uma pedra ainda no alto da colina e espera.

Mesmo com o estranho sonho, Lia permaneceu tranquila o resto do dia fazendo seus afazeres. Foi natural que se aproximasse mais de Juno do que do demais por terem algo em comum que era a terra natal, mas continuou tentando se aproximar de Xie e de Garras da Justiça, por mais complicado que fosse. Ao menos com Garras ela se divertia, o que não acontecia com Xie, sempre distante, e Lia não sabia nem como puxar um assunto. Talvez chama-lo para atividades práticas?

Ao menos naquele dia algo novo acontecia, Megumi regressava com mais garous para a seita.

- Sou Lia, Loba Saltadora, Cliath Ahroun. Muito prazer - ela acenou com seu jeito despojado e jovial.

Os Uktenas logo se juntaram igualmente por suas semelhanças, o que era natural e Lia não viu problema algum quanto a isso. Por outro lado, ela conseguiu rir da piada de Stroller.

- Essa foi boa... wi-fi é um surto coletivo hoje em dia, hahahaha! Na cidade ainda é possível usar - ela sorria e inclinava a cabeça com a lembrança de poder fazer tudo pelo celular.

Lia já estava acostumada a se apresentar em público, mas fazer o tal Uivo de Abertura parecia algo cabuloso demais para ela e aquilo a preocupava. Que responsabilidade. Como ginasta, ela treinava bastante e decidiu que tinha de treinar um discurso, mas como se nem um espelho tinha ali? Ela não era uma oradora e aquilo foi muito difícil para ela. Então ela ficou discursando para a parede.

- Isso é tão complicado... - suspirou.

Mas era chegada a hora e ela foi para a Assembleia e respirou fundo antes de começar a falar.

- Bem... Boa noite a todos... - ela engolia em seco e piscava varias vezes - estamos aqui reunidos para a Assembleia com nossa líder Testemunha-das-estrelas... agora vou uivar - e emitiu um uivo que ela achou ser para uma assembleia e foi sentar-se sentindo muita vergonha, definitivamente não estava preparada para aquilo.

A reunião prosseguiu com Megumi fazendo o link com o Mundo Espiritual e Lia pegou o seu origami e o queimou como instruído. Decisões foram tomadas e a moça não tinha objeções quanto a divisão feita por Juno.

- Para mim está ótimo... - na verdade estava feliz por se livrar de qualquer coisa que envolvesse uivos sociais. Uivos de combate pareciam mais a cara dela.

Os dias seguem com Garras como sempre sendo taciturno na maioria do tempo, ele parece correr atrás de um espírito aqui e ali em busca de ter mais olhos dentro do caern nas áreas mais ermas, uma oferenda aqui e ali, e todo fim de dia a fogueira pro pássaro de fogo, quase que como um ato religioso, sempre partindo do ninho de um pássaro.


Diferente de Sumé ele parece dar pouca ou nenhuma atenção especial a Stroller, mesmo com Sumé parecendo tão alarmado, mas quando ele toca no assunto dos espíritos ele faz alguma menção a acompanhar o Theurge em sua caminhada e apresentá-lo aos espíritos locais.

- Claro que podemos conversar, mas meu conhecimento é certamente mais limitado, afinal eu tenho que cumprir com os meus deveres e vocẽ os seus. - ele não ri com o humor do Andarilho – Eu se que ué difícil pra você compreender os filhos do Grifo, mas em parte isso faz parte da nossa mágica de poder vestir mais de uma pele. - a voz é ainda terrivelmente carregada com um sotaque indistinguível, mas é calma e serena, o olhar parecia compreensível a dificuldade que o garou encontraria pra lidar com os espíritos que ali habitavam.

Ele acompanha o Theurge, calado, ainda assim parecia compreender tudo o que ele não “falava” com os espíritos, incluindo o totem, mas não parece querer se intrometer, tendo sido ele convocado pelo Pássaro ou não.

- É sua responsabilidade e direito saber se comunicar com eles, mas é verdade que nem todos nós temos a sorte de ter instrução de como fazer as coisas, se quiser eu posso arranjar um tempo entre uma ronda ou outra pra te ensinar isso se vocẽ reconhecer meu sacrifício e se dedicar a aprender. - não havia reprovação na voz do Uktena, mas havia a expressão de que aquela falha poderia e muito atrasar os chiminages que o Theurge poderia vir a promover.

Off:

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Olhar pro totem no céu trás um certo alívio inexplicável, ele se aproxima, quase invisível, silencioso, ele espera a abertura de Lia, em momento nenhum parece fazer menção de tomar a forma humana e conversar como ele, mesmo quando ele junto de Sumé jogam a estatueta do Uktena pra dentro do fogo ele o faz com o focinho.

A indagação da mais velha poderia causar um estrago em qualquer outra seita, ele imaginava, mas eles eram poucos, ele podia ver dali tempos a psição dele ser desafiada naquele mesmo instante, naquele mesmo tipo de pergunta.

Ele olha pra todos como se tivesse mais direito de fala do que todos eles depois de Testemunha-das-Estrelas, mas se cala, olha pra cada um deles e espera as considerações de Juno, e parece se entusiasmar ou se empolgar pouco com as palavras de Stroller ainda que houvesse um olhar de aprovação pra ele.

Ele se apresenta, de novo, mesmo sem precisar como se seguisse um protocolo escrito. - A posição de vigia me honra muito, eu fico feliz que tenha me escolhido, mesmo sem ter tido a oportunidade me provar digno dela, eu esperava que as glórias viessem em caçadas externas, mas nós sabemos que isso não vai acontecer, sabemos que não vai ser assim. - os rosnados de sua língua natural soam calmos – Testemunha-das-Estrelas é a mais velha, mas estamos em uma seita. - e olha com um olhar curioso e questionador pra garou – e uma seita deve ter um conselho, eu posso aceitar a responsabilidade e a honra de defender as fronteiras, mas não posso aceitar que Cliaths se sentem no conselho e tomem decisões de como a seita deve proceder – e o tom de censura era até pra ele mesmo – então quando teremos outros mais velhos, precisamos da sabedoria não sṍ sua como deles também, ainda mais com um futuro obscure o incerto. - ele parece dizer tudo que tem pra dizer, pelo menos por hora e se senta esperando respostas da Filho de Gaia.