A velha e poderosa senhora ainda não sabia a total extensão de seus poderes até olhar para os olhos daquele órfão e cair numa profunda escuridão...
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...Cavaleiros...
Algo mais comum agora, já que sou protetor de uma constelação, mas antes era algo a temer e ao mesmo tempo de se almejar. O sentimento era o de ser tomado por uma euforia dentro do peito que outros chamariam simplesmente de... querer, junto de um brilho nos olhos onde, talvez, uma cigana poderia até ver o passado, ver como o mundo foi criado, ver a explosão do big-bang lançando suas caldas de cosmos e matéria, ou ver futuro da vida, o futuro da guerra, e este momento de agora tento compreender apenas o presente.
Os longos cabelos sedosos entre meus dedos que agarro firme me trás uma sensação de paz, mas estou totalmente atordoado. A armadura pesa. O suor parece incomodar mais do que a dor dos ferimentos, afinal a dor é uma companheira fiel que por muitas vezes tem papel importante nas batalhas.
Sinto que minha consciência vai me deixar a qualquer momento. Talvez minha vida também... Engraçado, não sei o que ocorreu nem a um minuto atrás, nem sei a quanto tempo estou nesse estado onde a única coisa que posso fazer é pensar.
Em minha mente vem a infância. Dizem que minutos antes de morrer, um filme passa por sua cabeça e o leva de volta para o início. Talvez isso seja verdade.
Algo pesa mais que o normal em minhas costas e tem algo além de cabelos sedosos que seguro em minha outra mão. Pelo tato e peso, provavelmente seja uma espada...
Por que não descobrir olhando? O que há com meus olhos? com minha visão? Agora que pensei nisso, não enxergo nada a não ser um borrão vermelho. A brisa suave conforta meu corpo. Estou tão fadigado que parece que irei cair apenas com o sopro suave dessa fria brisa.
Onde está meu cosmo? Sou um cavaleiro! Vamos! Mexa-se, abra esses olhos! Cosmo, Queime!
Sinto gotas d'água. Estão geladas. O vento está ficando mais forte... acho que irei cair. Por que eu simplesmente no me deixo cair? Não sei o porquê, mas sinto que se cair, será o fim. Estou prolongando-o o máximo que consigo. A chuva começou, calma, apesar do vento. O sangue escorreu dos meu olhos graças a chuva e agora vejo um céu cinza.
Minha armadura está trincada e empoeirada, mas a chuva me faz perceber seu brilho dourado. Sim, sou um cavaleiro! Um cavaleiro de Ouro! Protetor de Athena!
Ah sim! Minha visão! Agora posso saciar minhas dúvidas... em minha mão direita, uma pesada espada de ouro que, apesar de meu estado, ainda a empunho e resisto em deixá-la cair. Eu posso soltá-la, se quiser?
A espada cai ao solo soando um barulho abafado pela terra. Um alívio em se livrar daquele peso, e um sentimento estranho toma ao se livrar da espada, como se faltasse algo.
Cabelos longos. Agora vejo que são escuros e está mais leve que a espada. É uma cabeça... mas não vejo corpo algum. Não, espere... há um corpo, mas há um metro a frente. Não só um, mais vários corpos... aqueles são... cavaleiros. Cavaleiros de ouro estão estirados. Ainda não tive reação e nenhum tipo de sentimento. Há um lindo ambiente aqui, agora posso ver. apesar das marcas de uma grande batalha, percebo um campo verde e uma flora de encher os olhos. É realmente lindo. Minha memória ainda está perdida, mas os sentidos voltam aos poucos. Acho que a única coisa que ocorre em velocidade desabalada é minha mente e pensamentos.
Ainda assim, a única coisa que consegui comandar foi o abrir de meus olhos e o soltar de minha espada.
Soltei agora a cabeça decapada que segurava pelos cabelos, que rolou e revelou seu belo rosto. Hades caiu.
Um trovão esbraveja no céu fazendo seu coração tremer e em um momento, volta a si o cavaleiro de ouro, saindo de seu estado de transe em que se encontrava.
Estava petrificado para reagir a dor que agora emerge com toda a força depois daquele trovão. Não consigo gritar como o meu corpo pediu, apenas gemer. Finalmente estou caindo. Sinto o impacto e agora sim: dor, angustia, medo, insegurança... um turbilhão de sentimentos. As lágrimas escorrem, afinal recobrei as lembranças e todos meus companheiros estão mortos, mas uma coisa conforta a minha partida... eu tive poder suficiente para arrancar a cabeça do maldito e me lembro claramente do pegasus se retirar com Athena. Emfim, posso partir em paz, minha missão foi cumprida...
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A velha finalmente desperta depois de ter sido domada por seu próprio poder. A cigana, agora de olhos arregalados, se apressa em direção ao Mestre do Santuário. Havia uma mensagem importante que poderia mudar o rumo da nova Guerra Santa que se aproximava.