Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica
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Kevin estava tomando um bom café quente na área comum.
Já havia despertado do seu processo de criogenia a dez dias, mas de certa forma sentia como se aquele frio ainda estivesse nos seus ossos. E nesses casos nada como o bom e velho café quente.
Ele apoia a caneca no braço da poltrona, pega sua câmera e sorri enquanto liga o aparelho, acessando a memória interna, revirando algumas pastas até encontrar o que procurava.
Era uma filmagem. O último registro feito de sua família antes de embarcar na Argo.
Nele era possível ver Andrea, sua esposa, com uma discreta barriga de gravidez. Ela estava com quatro meses de gestação e sorria enquanto revelava que o bebê seria uma menina, segurando uma blusinha rosa em frente ao ventre.
Kevin sorri com a lembrança ao mesmo tempo que é assolado pela saudade. Com certeza sua filha já deveria ter nascido. Pelas suas contas, estaria com uns três meses ou mais de vida.
Ele toma mais um gole do café enquanto continua assistindo o vídeo, mas algo parece errado.
De repente a imagem começa a desfocar e ficar tremida. Estática começa a surgir, tornando quase impossível ver a imagem. Ele estranha. Havia assistido ao vídeo no dia anterior e estava tudo certo. Ele mexe em algumas configurações e então a imagem volta.
Um grito e o que ele vê na tela não é algo que ele havia gravado.
Andrea gritava enquanto estava deitada em uma maca. A sala onde estava parecia suja e escura e um médico, que estava entre as pernas dela, estava com as mãos e parte dos braços sujos de sangue, enquanto a mandava fazer força.
A mulher berrava de dor e por fim o médico puxa de dentro da mulher uma criança pequena, o corpo arroxeado tinha bracinhos tortos. O médico bate no bumbum da criança, que não responde ao estímulo. Estava morta.
Uma nova estática interrompe a cena e quando a imagem retorna, Andrea está chorando em frente a um pequeno caixão onde a criança, toda vestida de branco, estava deitada. Andrea olha para frente, como se pudesse ver Kevin através da gravação.
- A culpa é sua! Por que você não estava aqui comigo, Kevin? – Ele ouve a mulher dizer com rancor na voz.
Desesperado, Kevin mexia na câmera tentando entender o que estava vendo quando uma batida na porta o assusta, chamando sua atenção.
- Kevin, sala criogênica. Novo grupo despertando. Hora de registrar. – Era a Capitã Elisa que entrava na sala. – Está tudo bem? Você está pálido... – Ela diz preocupada.
Olhando novamente para a câmera ele vê que a cena exibida era a continuação do vídeo que ele fez de sua esposa. Estava na cena em que ela dizia que o amava e que ela e a filha esperariam por ele em casa. As imagens estranhas haviam sumido. Ele volta algumas cenas, mas nada de anormal podia ser visto na filmagem.
- Tudo bem. Achei que tivesse visto uma coisa, mas acho que meu equipamento bugou... Ou isso ou meu cérebro – Ele responde tentando descontrair e afastar a sensação ruim. – Pinguins despertando, né. Certo, vamos ao registro para a posteridade. – Ele diz pegando a câmera e indo para a sala de criogenia
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Câmara Criogênica.
Ainda de olhos fechados Caleb vira a cabeça de um lado para o outro. Ele mexia a boca, estalando a língua enquanto sentia a saliva grossa e um gosto horrível amargo na boca.
Arregalando os olhos de forma repentina ele se senta e faz menção de se levantar, mas as pernas pesadas não ajudam e sente que alguém o segura, impedindo a queda.
Ele olha ao redor, mas a visão embaçada e a mente turva dificultam que ele entendesse ao certo o que falavam e o que acontecia.
Com ajuda e alguma dificuldade, tropeçando nas próprias pernas, ele caminha pelos corredores e vê que logo a sua frente uma mulher ferida é carregada até uma das salas.
Ao passar ele olha para dentro do local e percebe que se trata da enfermaria. Ele consegue ver quando deitam a mulher em um dos leitos. Então ela se move, olhando para ele. Era Suzy, ela estava extremamente pálida e sangrava. Ela estica uma das mãos para ele. “-Caleb... Foi o Jonny” – Ele a ouve sussurrar.
Ele não tem muito tempo para processar o que viu e ouviu, pois seguem o arrastando pelos corredores até que finalmente param em frente a porta de uma das cabines.
Por um impulso ele olha para cima. Treze, era o número acima da porta. Mas era esse o número da sua cabine? Ele jamais teria escolhido a cabine treze... Ou teria?
A porta abre e sem poder resistir, devido ao mal-estar, ele é carregado para dentro da cabine de número treze. Ele é colocado sentado na cama e a pessoa sai o deixando sozinho.
Caleb consegue se lembrar de estar na Argo mas não entende o porquê de Suzy estar ferida na nave, acusando o líder da guangue de ter feito aquilo a ela.
Será que tinha visto errado? Será que aquela não era Suzy? Ele queria levantar-se e ir verificar, agora que a mente parecia entender melhor o entorno, mas o corpo estava pesado e o mal-estar tomava conta dele.
Ele se recosta na parede e olha ao redor, reconhecendo alguns objetos como seus.
Caleb não queria dormir, mas os olhos estavam pesados. Sentado onde estava ele fechou os olhos, jurando que não ia pegar no sono, mas pegou.
- OFF:
Tudo começa com o despertar do Caleb.
A útima vez que Caleb viu a sua cabine foi a seis meses, antes do processo de criogenia.
A cabine é simples, com cama, armário, pia e espelho. E vc pode descrever os itens pessoais dele e também pode sair da cabine e explorar outras partes da nave, caso deseje. Fique a vontade.
Não achei referência ao nome do Líder da Guangue, por isso resolvi chama-lo de Jonny ^^