[ON] Caleb: Absolvição e rancor

Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica


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Kevin estava tomando um bom café quente na área comum.

Já havia despertado do seu processo de criogenia a dez dias, mas de certa forma sentia como se aquele frio ainda estivesse nos seus ossos. E nesses casos nada como o bom e velho café quente.

Ele apoia a caneca no braço da poltrona, pega sua câmera e sorri enquanto liga o aparelho, acessando a memória interna, revirando algumas pastas até encontrar o que procurava.

Era uma filmagem. O último registro feito de sua família antes de embarcar na Argo.

Nele era possível ver Andrea, sua esposa, com uma discreta barriga de gravidez. Ela estava com quatro meses de gestação e sorria enquanto revelava que o bebê seria uma menina, segurando uma blusinha rosa em frente ao ventre.

Kevin sorri com a lembrança ao mesmo tempo que é assolado pela saudade. Com certeza sua filha já deveria ter nascido. Pelas suas contas, estaria com uns três meses ou mais de vida.

Ele toma mais um gole do café enquanto continua assistindo o vídeo, mas algo parece errado.

De repente a imagem começa a desfocar e ficar tremida. Estática começa a surgir, tornando quase impossível ver a imagem. Ele estranha. Havia assistido ao vídeo no dia anterior e estava tudo certo. Ele mexe em algumas configurações e então a imagem volta.

Um grito e o que ele vê na tela não é algo que ele havia gravado.

Andrea gritava enquanto estava deitada em uma maca. A sala onde estava parecia suja e escura e um médico, que estava entre as pernas dela, estava com as mãos e parte dos braços sujos de sangue, enquanto a mandava fazer força.  

A mulher berrava de dor e por fim o médico puxa de dentro da mulher uma criança pequena, o corpo arroxeado tinha bracinhos tortos. O médico bate no bumbum da criança, que não responde ao estímulo. Estava morta.

Uma nova estática interrompe a cena e quando a imagem retorna, Andrea está chorando em frente a um pequeno caixão onde a criança, toda vestida de branco, estava deitada. Andrea olha para frente, como se pudesse ver Kevin através da gravação.

- A culpa é sua! Por que você não estava aqui comigo, Kevin? – Ele ouve a mulher dizer com rancor na voz.

Desesperado, Kevin mexia na câmera tentando entender o que estava vendo quando uma batida na porta o assusta, chamando sua atenção.

- Kevin, sala criogênica. Novo grupo despertando. Hora de registrar. – Era a Capitã Elisa que entrava na sala. – Está tudo bem? Você está pálido... – Ela diz preocupada.

Olhando novamente para a câmera ele vê que a cena exibida era a continuação do vídeo que ele fez de sua esposa. Estava na cena em que ela dizia que o amava e que ela e a filha esperariam por ele em casa. As imagens estranhas haviam sumido. Ele volta algumas cenas, mas nada de anormal podia ser visto na filmagem.

- Tudo bem. Achei que tivesse visto uma coisa, mas acho que meu equipamento bugou... Ou isso ou meu cérebro – Ele responde tentando descontrair e afastar a sensação ruim. – Pinguins despertando, né. Certo, vamos ao registro para a posteridade. – Ele diz pegando a câmera e indo para a sala de criogenia

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Câmara Criogênica.

Ainda de olhos fechados Caleb vira a cabeça de um lado para o outro. Ele mexia a boca, estalando a língua enquanto sentia a saliva grossa e um gosto horrível amargo na boca.

Arregalando os olhos de forma repentina ele se senta e faz menção de se levantar, mas as pernas pesadas não ajudam e sente que alguém o segura, impedindo a queda.

Ele olha ao redor, mas a visão embaçada e a mente turva dificultam que ele entendesse ao certo o que falavam e o que acontecia.

Com ajuda e alguma dificuldade, tropeçando nas próprias pernas, ele caminha pelos corredores e vê que logo a sua frente uma mulher ferida é carregada até uma das salas.

Ao passar ele olha para dentro do local e percebe que se trata da enfermaria. Ele consegue ver quando deitam a mulher em um dos leitos. Então ela se move, olhando para ele. Era Suzy, ela estava extremamente pálida e sangrava. Ela estica uma das mãos para ele. “-Caleb... Foi o Jonny” – Ele a ouve sussurrar.

Ele não tem muito tempo para processar o que viu e ouviu, pois seguem o arrastando pelos corredores até que finalmente param em frente a porta de uma das cabines.

Por um impulso ele olha para cima. Treze, era o número acima da porta. Mas era esse o número da sua cabine? Ele jamais teria escolhido a cabine treze... Ou teria?

A porta abre e sem poder resistir, devido ao mal-estar, ele é carregado para dentro da cabine de número treze. Ele é colocado sentado na cama e a pessoa sai o deixando sozinho.

Caleb consegue se lembrar de estar na Argo mas não entende o porquê de Suzy estar ferida na nave, acusando o líder da guangue de ter feito aquilo a ela.

Será que tinha visto errado? Será que aquela não era Suzy? Ele queria levantar-se e ir verificar, agora que a mente parecia entender melhor o entorno, mas o corpo estava pesado e o mal-estar tomava conta dele.

Ele se recosta na parede e olha ao redor, reconhecendo alguns objetos como seus.

Caleb não queria dormir, mas os olhos estavam pesados. Sentado onde estava ele fechou os olhos, jurando que não ia pegar no sono, mas pegou.

OFF:

Caleb já tinha lido que aquele tipo de experiência seria ruim.... ficar congelado como um pedaço de frango, certamente o corpo humano não fora feito para aquilo.

As pernas tremeram por terem ficado muito tempo sem uso. Era difícil aguentar o próprio peso, mas felizmente tinha gente ali para segurá-lo.

Confusão...

Sendo arrastado pelos corredores, as luzes, mesmo que não tão fortes ainda incomodavam a sua vista, fazendo com que fosse cada vez mais difícil focar a vista em qualquer coisa que não o interior das pálpebras. Foi então que ele ouviu os gemidos de dor e a mulher sendo carregada para dentro da enfermaria. Sua reação base foi erguer a cabeça e virá-la para o lado, falando quase que babando...

Caleb: Sue...? .....Sue.....?

Ele foi levado até a área da sua cabine e quando olhou para cima...

Caleb: Oh.... puta merda, isso.... só pode ser um.... pesadelo!

Ele ainda pensou em resistir, mas estava tão fraco que foi colocado sem muita cerimônia na cama. Continuou olhando para o teto, mas logo tomou coragem de colocar a cabeça dentro da privada ou da pia e vomitar um pouco por conta do enjôo da criogenia, antes de se arrastar para a cama e cair num sono profundo.

Sonhos esquisitos fariam com que tivesse uma "noite" extremamente perturbadora. Acordou de supetão, mas agora já estava melhor. Lavou a cara e bebeu um copo de água da torneira, para tentar afastar os sonhos ruins. Olhou para o espelho e concluiu...

Caleb: Isso é culpa desse quarto. "Treze", PORQUE DIABOS LOGO O TREZE?!

Brigava consigo mesmo em frente ao espelho... e viu que estava com a barba por fazer.

Pegou a navalha e quando pensou em se barbear, baixou ela e a cabeça, pensando....

Caleb: Não vai dar! Não com aquela merda de numero ali!

Saiu pela porta usando somente a cueca e olhou para cima vendo o numero 13 marcado acima da porta.

Caleb: Mas nem ferrando que vamos dormir juntos...

Pegou a navalha e riscou o máximo que pôde o número, até torná-lo irreconhecível.

Caleb: Agora sim.... bem melhor!

Jogou a carga da navalha na lixeira e lavou as mãos com o triplo de sabão que lavaria por ter de ter tocado no maldito 13.

Depois, se lavou, vestiu-se, colocando uma jaqueta de couro negra e com um símbolo da academia da força aérea (que ele nunca frequentou, pois aprendeu a pilotar em simuladores acadêmicos) e saiu, indo em direção a sala de comando, onde um piloto deveria estar. Se visse alguém, cumprimentaria com um aceno e se visse a capitã Elisa, se apresentaria a ela.

Caleb se veste e se prepara para sair da cabine, tinha a intenção de ir até a sala de comando pois estava se sentindo suficientemente bem para assumir o seu posto de piloto e se no caminho encontra-se a capitã Elisa, tanto melhor.

Mas quando ele abre a porta, dá de cara com uma mulher de longos cabelos ondulados e olhos claros. Ela vestia uma calça mais larga e uma regata branca. Conseguia lembrar vagamente de ter falado com ela antes do processo de criogenia.

A mulher estava parada em frente a sua porta. Mão levantada com punho fechado. Parecia que ela ia bater a porta quando Caleb a abriu.

Ela abre levemente a boca em demonstração de surpresa, mas logo em seguida se recompõe, recolhendo o braço e dando a Caleb um meio sorriso.

- Olá! Eu sou a doutora Anne, a psicóloga... Lembra de mim, de antes de sermos colocados em hibernação?

Dra Anne Valeri:

Ao perceber que estava bloqueando a passagem, ela dá um passo para trás dando espaço para Caleb poder sair da cabine caso desejasse, pois era isso que parecia que ele iria fazer.

- Eu estava ajudando na sala de criogenia quando você despertou... Queria saber se você está se sentindo bem? – Ela volta a falar enquanto aponta para algum quarto no final do corredor – Eu estava conversando com outro tripulante no final do corredor de alojamentos... Quando vi você de cuecas, mexendo em algo na porta.

Anne volta a olhar para Caleb e dobra o braço na altura do peito, esticando o dedo indicador, apontando para algum ponto na parte de cima da porta da cabine dele.

- Eu me aproximei e vi que você riscou a numeração da porta... Mas por que? Sei que alguns ficam confusos ao acordar, então vou perguntar novamente.... Está tudo bem? – A Dra Anne tem uma expressão preocupada enquanto observa Caleb

Acima da porta podia ser visto a numeração da cabine raspada. Estava bastante danificada, mas ainda era possível distinguir o número.




Caleb havia riscado o número oito. O número de identificação de sua cabine.

Caleb ia sair da sua cabine quando deu de cara com a psicóloga. Ele a olhou de cima a baixo e não pôde esconder aquele sorrisinho maroto de quem já estava de bom humor por finalmente não ser mais um picolé... e também por ser recebido por uma mulher tão bonita.



Caleb: Olá, Doutora... boa noite.

Ele levantou o indicador como quem pede "1 minuto", entrando para a cabine, mas ainda mantendo a porta aberta e deixando uma visão do quarto ainda um pouco bagunçado, como quem acaba de acordar.
Foi de novo na pia e lavou o rosto de novo, voltando com as gotas ainda na testa e na barba.

Caleb: Desculpe, doutora... você estava dizendo...? Digo.... você quer entrar?

A psicóloga perguntou sobre ele estar de cuecas mexendo na porta... então ela prestou atenção que ele estava de cuecas? O sorriso brotou, mas foi mt sutil.

Caleb: Bem... eu fiz isso?

Ele se inclinou pra olhar a porta e....

Caleb: Cacete.... Aquilo não era um treze?

Devia estar mais grogue do que imaginava. Coçou a cabeça e riu meio que desconcertado.

Caleb: Olha, eu me lembro pouco depois de ter acordado. Devia estar meio chapado da viagem, mas... sim, eu tô legal. Claro que depois podemos conversar sobre esses meus delírios no seu consultório. Você tem um, certo?

Disfarçou. Não queria que ela soubesse da fobia dele ao numero treze, então tentou ser o mais "nem aí" o possível...

Anne balança da cabeça de forma negativa ao ouvir o convite de Caleb para entrar na cabine.

- A menos que precise conversar sobre algo...

Ela faz uma pausa e observa mais uma vez o número oito riscado sobre a porta da cabine antes de voltar a encará-lo.

- Treze? – A Dra Anne ergue as sobrancelhas para Caleb em uma expressão intrigada – Tenho certeza de que está nunca foi a cabine treze. Porque sou eu quem está na treze. - Anne sorri para Caleb. - Não, aqui na nave não tem um consultório para isso. Geralmente eu vou até a cabine de quem precisa da minha ajuda. Então, quando precisar falar comigo é só pedir para Athena me avisar que eu venho até você

“Caleb Katarn, a capitã Elisa solicita sua presença na ponte assim que possível”

Eles ouvem a voz de Athena, a inteligência artificial da nave


- E por falar em Athena... Bem, estão te chamando, mas você acabou de acordar e ela disse “assim que possível”. Que tal um café antes? – Ela dá de ombros – Afinal o refeitório fica no caminho mesmo.

Somente eles dois estavam no corredor dos alojamentos. Na direção da parte da frente da nave havia uma porta que separava a área onde estavam da que dava acesso a sala criogênica e o refeitório.

Nesta porta uma escotilha de vidro permitia a visão estre os corredores.

Imagem:

Caleb pode ver o vulto de uma mulher que parecia observá-los conversando. Foi algo rápido, mas teve a impressão de que era Suzy.

OFF:

Caleb sorri enquanto pensa em como seria bom se a psicóloga ruiva quisesse dar uns amassos, mas... no momento era óbvio que não.
O piloto apontou para a própria cabeça e sorriu.

Caleb: Vamos deixar assim, doutora... eu não entro no seu coração e você não entra na minha cabeça, sim? Não quero que a senhora tenha pesadelos comigo... riscando o numero da porta.... de cueca.

Tinha um sorriso jocoso na cara e quando ela falou que a cabine dela era a treze, ele meio que se sentiu como um vampiro que não poderia entrar em uma casa com um crucifixo.

Caleb: Não sei se foi o destino ou se a senhora leu meu perfil, mas... taí uma bela defesa contra mim.

Ele ouviu então a voz do comando convocando a sua presença até a ponte e ergueu as sobrancelhas, dando de ombros.

Caleb: Dever, antes do prazer...

Só que a psicóloga o convidou para tomar um café antes. Caleb era um mulherengo e meio sem vergonha.... e apesar de ter certa responsabilidade com o seu trabalho... uma ova que ele perderia um café olhando aqueles lindos olhos da psicóloga ruiva. Estavam no espaço.... ficaram dormindo por um bom tempo, o que seria mais um pouco, certo?

Ele sorriu...

Caleb: Um cafézinho? Bem... pedindo com esse jeitinho, doutora....

Ele meneou com a mão de um jeito cavalheiro, mas meio debochado, como quem diz "primeiro as damas".

No caminho quando estavam indo, ele resolveu puxar papo.

Caleb: E então, Doutora... qual a sua história? O que leva alguém como a você a estar trancada nesta banheira pressurizada a centenas de milhares de quilometros da Terra?

Ao fim da pergunta, ele viu alguém que parecia ser a Suzy em uma das janelas... diminuiu um pouco o passo e esfregou os olhos, mas tentou disfarçar. Caso a pessoa percebesse, ele responderia algo como.

Caleb: Nada não. Achei ter visto alguém, mas era só o nosso reflexo no vidro...

Anne coloca uma das mãos na cintura e sorri, convencida.

- Uma defesa contra você, né? Mas será que você tem defesas contra mim?

Ela se aproxima de Caleb, passando seu braço pelo dele, indo em direção a porta que separava o corredor dos alojamentos do próximo setor da nave.

- Nosso reflexo? – Ela diz intrigada enquanto observa a porta alguns metros a frente. – Riscando números nas portas, vendo reflexos... Se quiser conversar... Prometo que não terei pesadelos com você... Não por você estar de cuecas – Ela pisca um dos olhos, brincalhona.

Eles finalmente atravessam a porta, acessando um novo corredor. A direita, Caleb pode ver a sala de criogenia, enquanto a esquerda ficava a sala de convívio.

A porta da sala a esquerda se abre revelando um ambiente amplo e vazio. Como quase tudo na nave o tom metálico era predominante no local.

Ali havia uma grande mesa oval com algumas cadeiras. Poltronas brancas estavam espalhadas pelos cantos da sala. Um balcão com cafeteira, micro-ondas e sanduicheira ficava ao lado de uma ampla geladeira.

Em um dos cantos havia uma estação de comunicação com uma tela interativa ao lado de uma prateleira com alguns livros. No canto oposto uma pequena área concentrava alguns jogos eletrônicos.

Anne gesticula para que Caleb se sentasse enquanto vai até o balcão.

- O que me trouxe aqui? Sabe como é... – E imitando o gesto que ele havia feito, ela aponta para a própria cabeça. – O fascínio pela mente humana – Ela dá de ombros. – Ah, vai eu sou psicóloga, é isso o que eu faço e... Além disso essa é uma ótima oportunidade para a minha tese de doutorado... Estou escrevendo sobre a hibernação criogênica e seus efeitos.

Ela pega uma bandeja com duas canecas com café e um sanduiche e vai até Caleb, sentando-se próxima a ele.

- Então sim, você pode se considerar uma das minhas cobaias. Aliás, uma vez que também hibernei, até mesmo eu sou uma cobaia – Ela sorri simpática antes de tomar um gole do café. – O sanduiche é seu. Imagino que possa estar com fome, já que acabou de acordar... Pra mim só o café está bom.

Nesse momento a porta da área de convívio se abre e um homem alto de barba e olhos claros entra na sala. Caleb consegue se lembrar dele.

Ele se chama David e é o navegador da Argo. Ele tem um ar prepotente de quem se acha extremamente vital para a missão. Ele também lembra que, antes do período de hibernação iniciar, David tentava se aproximar da capitã Elisa para conseguir alguns privilégios entre a tripulação.

David para pôr alguns instantes olhando para Caleb, erguendo uma das sobrancelhas. Então caminha até a geladeira de onde retira uma garrafa de água e retorna para a porta, pronto para sair.

- Impressão minha ou a capitã estava chamando por você? Nem bem acordou e já está fazendo corpo mole. – Ele olha para Caleb por sobre o ombro antes de abrir a porta e sair.

Anne estica uma mão, tocando o antebraço de Caleb.

-  Espero que você seja paciente. Esse aí é carne de pescoço... Até pra mim – Diz gesticulando com a cabeça em direção a porta

Anne era extremamente charmosa... até mais do que parecia. Até mesmo porque, Caleb não estava preparado para ela. Ele imaginou que ela seria uma daquelas doutoras chatas, de óculos, que acham que qualquer cantada era uma oportunidade para lhe sentar um coice na testa. Porém... a doutora era bem agradável.

Caleb: A gente só se defende quando o outro time ataca.

Ele olhou pra baixo e então subiu só os olhos pra ela e sorriu....

Caleb: Posso esperar um ataque, então?

Aquilo tinha um leve clima de paquera.... ou então ele estava enferrujando por conta da hibernação criogênica.
Caminharam e ele acabou vendo aquele reflexo... foi quando a doutora perguntou sobre ele querer conversar e comentou dele de cuecas, com uma piscada brincalhona. Aquilo foi inesperado e pela primeira vez ele ficou um pouco desconcertado. Porém, de repente umas sessões de terapia com ela pudessem ser o que ele precisava pra arrumar uma companhia naquela nave e de repente conhecer alguém bacana a ponto de não ter mais motivos pra voltar pra Terra que não fosse buscar seu filho.

Caleb: Hahaha....

Coçou a cabeça desconcertado.

Caleb: Bom, talvez eu aceite sim umas sessões.

O piloto senta onde ela convidou e aceita o sanduiche, dando uma mordida que quase não cabia na boca, pois estava varado de fome.

Caleb: Noffa.... Deffculpe....

Terminou de mastigar e engoliu. Passou o antebraço na boca pra tirar o farelo.

Caleb: Desculpe, falando de boca cheia.... Nossa, mas eu nunca senti tanta fome na vida. parece que meu estômago colou...

Deu mais uma mordida enquanto ouvia a história dela, sobre o mestrado e seu estudo. Apoiou os cotovelos na mesa, demonstrando interesse.

Caleb: Interessante. Você deve ser alguém bem inteligente, doutora. Daqui a pouco vai dar um nó na minha cabeça. Eu sou só um simples piloto...

Quando David entrou e fez o comentário, Caleb sorriu pra ele...

Caleb: relaxa, Dave... eu só estou comendo algo. Não se preocupe.... se o trabalho de navegação estiver bem feito, não vamos bater em nenhuma estrela.

Mesmo assim, Caleb não iria desacatar a Capitã no primeiro dia. Ele sorriu para a doutora que estava com a mão no antebraço dele, mas mesmo com a jaqueta de couro, pôde sentir os dedos magrinhos e brancos da doutora, que deveria ter um toque delicado, pelo porte. Ergueu o copo de café, como que faz um "brinde" e matou o resto de um gole só.

Caleb: Obrigado pelo sanduíche, Doutora. Depois falamos sobre aquelas sessões....

E desta vez foi ele quem deu uma piscadela de olho pra ela.
Se nada mais fosse acontecer ali, ele se direcionaria para a ponte de comando para se apresentar a Capitã.

David havia saído sem olhar para trás, ignorando totalmente as palavras de Caleb.

Anne dá de ombros, retomando a conversa.

- Inteligente? Talvez, mas não sou do tipo que banca a sabichona. Meu ramo de trabalho muitas vezes aborda questões difíceis, de grande carga emocional... Por isso tento se mais simples e tratar as pessoas com leveza – Ela sorri mais uma vez ao perceber como ele estava com fome.

Voltando a se recostar na poltrona, ela toma mais um gole do seu café enquanto observa Caleb terminar rápido o seu lanche e se levantar, pronto para atender o chamado da capitã.

- De nada. Se precisar da ajuda da psicóloga aqui, é só chamar... Mas não esqueça, mantenha a guarda levantada. Nunca se sabe quando alguém pode atacar – Anne vira a cabeça de lado, sorrindo, e levanta uma das mãos para ele, balançando os dedos, se despedindo.

A sala de convívio ficava no mesmo corredor que a das câmaras criogênicas e ao passar por ela, através da grossa camada de vidro na parede, Caleb pode perceber que estava vazia. Finalmente todos os tripulantes estavam despertos.

Seguindo em frente ele passa por mais uns dois corredores que separavam a nave por sessões até finalmente chegar à ponte de comando.

A sala era ampla e sem dúvidas a mais tecnológica da nave.

Painéis, telas interativas, botões, sensores e alavancas espalhadas por todo o ambiente garantiam que a rota traçada até marte estava sendo seguida e que tudo na Argo estava em perfeito funcionamento

Naquele momento havia quatro tripulantes na ponte, além da capitã. Cada um ocupava uma cadeira e acompanhava o que os painéis mostravam executando as ações necessárias. Caleb pode ver David em um dos controles frontais da nave.

No meio da ponte, uma grande central holográfica de comando era ocupada pela capitã Elisa, que estava de pé, olhando para frente

- Athena, por favor... – Elisa diz enquanto leva as mãos as costas – David, abra o painel.

- Sim, capitã!

Nesse instante uma música ambiente tocada por uma orquestra passa a ser ouvida por toda a nave.




Os painéis frontais começam a se abrir e o planeta marte pode ser visto logo a frente pelos tripulantes da ponte

“Três minutos para entrada na órbita”

Eles apenas aguardam enquanto admiravam a visão do planeta vermelho e ouviam a música.

“Órbita alcançada com sucesso. Argo 2 pronta para iniciar missão”

Eles ouvem a voz metálica de Athena ao mesmo tempo que um sutil solavanco na nave pode ser sentido. Os tripulantes vibram, alguns batem palmas comemorando e um “- Finalmente chegamos!” é ouvido.

A capitã Elisa sorri e finalmente olha para Caleb.

- Desculpe não ter de dado atenção assim que chegou, mas... Já viu algo tão incrível, Sr Katarn? – Ela olha mais uma vez para o planeta marte antes de se voltar para ele. – Percebe que acabamos de entrar para a história?

Elisa tira as mãos das costas e vai até o piloto, parando em frente a ele.

- Sei que acabou de despertar e claro que vou te dar mais um tempo, mas preciso que esteja preparado dentro de 48h. Estou escolhendo você para comandar uma parte da tripulação que irá descer em solo e espero poder contar com a sua competência para pilotar uma das naves exploratórias. – Ela coloca uma das mãos sobre o ombro de Caleb. – E a propósito, bem-vindo de volta, piloto!

Caleb: Eu imagino que o seu trabalho deva ser bem estressante... É o ônus do bônus, certo? Ter que lidar com a carga emocional de todos os malucos dessa banheira...

Ele se despede dela com um sorriso sobre a guarda levantada, erguendo os punhos, como se dissesse "meu boxe está em dia".

Caleb: A propósito.... me chame de "Cal". É como meus amigos me chamariam se eu tivesse algum ainda vivo...

Partindo, ele vai em direção à ponte de controle.

Caleb olha maravilhado as proteções se abrindo e a música clássica foi um "tcham" a mais que só fez aquele momento ser mais grandioso ainda. De fato, estavam entrando para a história naquele exato momento. Já havia visto filmes e mais filmes sobre aquilo, sem falar nas horas do simulador... mas nada se comparava como tal. Em pouco tempo, estariam onde poucos homens estiveram...

Foi então que a Capitã se voltou pra ele. Ele meio que saiu do transe que aquele momento causava e piscou os olhos rapidamente, voltando a si e dando toda a atenção à Capitã.

Caleb podia ser mulherengo, irresponsável e até meio pedante às vezes, mas se havia algo que ele levava a sério era aquele trabalho e a função de piloto. Ele sabia quantas vidas dependiam dele quando estava em um cockpit e sabia que não poderia decepcionar ninguém.

Caleb: Eu estaria mentindo se dissesse que "sim", senhora. Está tudo bem, perdoe o meu atraso. Precisava de um café.

Ele ouviu as informações dela e respondeu de forma respeitos, ao menos da sua maneira...

Caleb: Eu só preciso de 24 horas, senhora. Não se preocupe, estarei pronto.

Ela disse que estava designando ele para liderar uma equipe. Parte de si se encheu de orgulho e parte de preocupação.

Caleb: Senhora... eu não sei se sou o cara mais adequado para liderar uma equipe, mas... bem, obrigado. Vou te dar o meu melhor.

Sorriu quando ela deu as boas vindas...

Caleb: It's good to be back, Ma'am...

A capitã Elisa retira a mão do ombro de Caleb e sorri para ele satisfeita com a atitude do piloto.

- Muito bem, então. Fico contente em saber que poderei contar com o senhor antes do que esperava. – Ela gesticula para que ele a seguisse. – Tenho certeza que sim. Já pude comprovar que é um ótimo piloto, por isso o estou designando para comandar essa missão exploratória.

Ela caminha até a sua central de comando, tocando na mesa holográfica, que abre a visão em 3D do planeta marte.

- Sabe senhor Katarn, quando estávamos próximos do despertar Athena enviou um pequeno satélite para mapear o solo. Nada diferente do que foi feito por décadas antes de nós chegarmos aqui. – Ela olha para Caleb, seu olhar era sério. – Mas desta vez o satélite retornou imagens que nunca haviam sido captadas... Pelo menos não nos últimos 150 anos.

A capitã toca em um ponto específico da mesa e a imagem do planeta é substituída pela imagem do solo. Em uma sequência de poucas fotos, Caleb pode perceber relevos e depressões. Havia também muitas rochas. Até que uma última foto e algo diferente pode ser visto no solo. Era uma nave.




- Esta é a Argo 1, Sr Katarn. – Com um gesto a capitã amplia a imagem, não deixando dúvidas de ser a nave. – Está bem distante de sua rota de exploração original e talvez por isso não a tenham encontrado antes. – Ela leva as mãos as costas. – Um dos grupos que descera em solo marciano irá até ela para explorar, tentar salvar qualquer registro feito pela tripulação, se ainda existir, e retornar para a cá com os dados coletados. Essa é a missão que irá comandar Sr Katarn. – Ela sorri para ele. – Alguma questão sobre isso?

Caleb não podia esconder que a situação de liderança o deixava um tanto tenso. A responsabilidade de várias vidas era algo que assustaria qualquer um. Porém, era melhor liderar que ser liderado, ao menos para alguém com a personalidade dele.

Ele caminhava com a capitã, ouvindo o que ela tinha para dizer, em silêncio enquanto observa a imagem holográfica.

Caleb: Mas que...? Isso é a...?

Argo 1. Caleb havia visto várias imagens dela na academia. Havia inclusive estudado seu funcionamento e voado nela umas três vezes no simulador.

Ela diz então que a missão de resgate seria a que ele iria liderar. Aquilo foi uma injeção de empolgação para o piloto. Seria como um mergulhador poder descer no Titanic!

Caleb: Apenas duas, senhora... Quem vai ser a minha equipe? e... posso aprontar a equipe em 4 horas... aí podemos partir?



Caleb: É pra já, chefe...

Se ela dissesse que si, ele iria menear a cabeça e sair para se preparar e preparar a nave.

A Capitã Elisa pensa por alguns instantes antes de responder a pergunta
,
- Assim como o senhor, Sr Katarn, muitos tripulantes acabaram de despertar, além disso alguns preparos precisam ser feitos. Por isso acredito que as coisas não possam acontecer tão rápido quanto imagina. Mas... Tendo em vista sua prontidão eu irei agilizar tudo o máximo possível.

Ela dá uma última olhada na foto em que a Argo 1 podia ser vista no solo de marte. Voltando a tocar em um ponto da mesa a imagem some, sendo substituída pela foto de dois tripulantes.

Médico e Videomaker:

- O senhor irá comandar um grupo de quatro pessoas. O Dr Benipe que é um médico e o Sr Kevin que é o nosso videomaker estão confirmados na sua equipe. – Ela olha de soslaio para Caleb antes de continuar explicando - Você também terá a companhia de um engenheiro e um segurança. Porém eles estão despertando agora e precisamos avaliar para saber se já estão em condições de sair em missão.

Mais uma vez ela toca na mesa e a imagem muda novamente. Agora sendo substituída pela imagem da planta interna de uma nave exploratória.

Elpízo 1:

- Esta será a sua nave. A Elpízo 1 – Com um movimento das mãos Elisa faz com que a imagem gire 360º - Ela está no compartimento de carga e embora Athena seja muito eficiente, ela não pode providenciar alguns preparativos. – Ela por fim fecha a imagem holográfica e se volta para ele – Então enquanto eu verifico a situação dos outros tripulantes o senhor pode abastecer a nave com o que for necessário e verificar os controles

A capitã se afasta da mesa e pega um aparelho com uma tela translúcida e o entrega a Caleb.

- Athena vai alimentar esse dispositivo com algumas informações sobre sua missão e a Argo 1. Mas o senhor já poderá estudar a planta interna da nave e elaborar a melhor estratégia de abordagem. – Ela sorri mais uma vez. – Athena lhe avisara quando a tripulação estiver pronta. Está dispensado, Sr Katarn

Mapa Argo 1:

Caleb observa tudo, inclusive a imagem dos companheiros tripulantes que iriam na missão com ele. Ele havia reparado em alguns detalhes da imagem da nave ARGO 1 que levaria em consideração para o seu plano. O olhar de soslaio dela não influenciou em muito para ele, apesar de poder ter alguma razão curiosa, tendo em vista que ele não conhecia nenhum dos dois, ao menos não pessoalmente. Então, ela citou o segurança e o engenheiro... de fato, um engenheiro sempre era útil, mas um segurança?

Caleb: Capitã, temos mesmo a necessidade de um dos seguranças? Marte é desabitado, qualquer pessoa que tivesse sobrevivido já teria tido os seus ossos transformados em pó por ter morrido há 150 anos e eu não creio que vamos encontrar homenzinhos verdes.

Obviamente era interessante se ter um segurança se aquilo fosse um filme, mas era a vida real. Caleb duvidava que encontrariam qualquer coisa viva. Entretanto, a decisão era da capitã Elisa. Ele só dava a sua opinião porque achava importante opinar sobre o que acreditava em uma missão que ele iria liderar.

Ela apresentou a nave e ele se debruçou um pouco pra olhá-la mais de perto. Os olhos tiveram um leve brilho...

Caleb: Isso é uma [dizia o modelo da nave]? Cheguei a treinar com ela num simulador, mas nunca achei que ia pilotar uma.

Sorria. Aquilo estava ficando melhor...

Caleb: Sim senhora. Vou checar tudo antes de partirmos. Não quero que nada saia errado... não se preocupe.

Pegou o aparelho e já deu uns cliques enquanto a capitã falava para já ir se familiarizando... deixou soltar.

Caleb: Fascinante... é como descobrir o Titanic... mas num grande deserto vermelho.

Deu uns toques no tablet...

Caleb: Tudo bem, Capitã Elisa... Eu vou checar tudo antes de partirmos.

Meneou a cabeça e partiu em direção ao hangar, mas antes passou na cafeteria para pegar outro café e uma garrafa d'água... pois mexer com mecânica sempre dava uma canseira. Se a doutora estivesse na cafeteria ele a cumprimentaria.

Partiu para o hangar e passou a mão na nave, seguido de um assobio que indicava "que beleza você é".

Tirou a jaqueta e a jogou no chão mesmo, ficando com uma camisa branca sem mangas e com tag militar com seu nome e tipo sanguíneo, além de "piloto fodão" embaixo. Não era uma tag militar oficial... ele havia mandado fazer num mercado chinês, mas gostava e a achava útil. Tinha um corpo até musculoso, pois o tempo na prisão criou nele o hábito de fazer exercícios de manhã... pelo menos umas 100 flexões.

Caminhou olhando a nave...

Caleb: Athena? Me dê o relatório de preparativos da nave!

Pediu ao computador central da nave.
Caleb pegou as ferramentas enquanto ouvia o relatório de Athena e foi checar as principais coisas, como o combustível (abasteceu completamente), os rebites das asas, as turbinas, o fechamento de portas, o motor e até os controles, que ligou, acendendo as luzinhas para checar se estava tudo ok. O que não estivesse, ele prepararia...

Quando entrou na nave, observou o depósito de armas e máquinas e, ao ver as armas ali, teve um leve vislumbre do último assalto, onde muitos tiros foram trocados... Sacudiu a cabeça e voltou ao serviço.

A Capitã Elisa faz uma expressão divertida ao olhar para Caleb.

- Eu também espero que não encontremos nenhum homenzinho verde, mas os seguranças fazem parte desta missão. Deixe-os se divertirem também – Elisa sorri para ele. – E pense pelo lado prático Sr Caleb... Caso decida dividir sua equipe, mesmo mantendo um tripulante a bordo da Elpízo, nenhum exploraria a Argo 1 sozinho, o que já não seria mesmo recomendado e no mínimo você teria mais um par de mãos para ajudar a carregar o que for preciso. - Embora sua expressão tenha voltado a ficar séria ela ainda mantém a leveza no tom de voz – Algo aconteceu aquela tripulação, Sr Katarn. Podem não ter sido homenzinhos verdes, mas é melhor não arriscar.

Ela caminha até a sua poltrona de comando onde se senta enquanto sorri pelo entusiasmo do piloto e observa quando ele deixa a ponte de comando.

Caleb deixa a ponte de comando em direção a sala de convívio. Esperava encontrar a Dra Anne, mas ela não estava mais lá.

Ele chega ao hangar e finalmente encontra a nave que comandaria.

“Sim, Caleb Katarn. Atualizando relatório de checagem”

Nesse instante Caleb percebe que a tela do dispositivo entregue pela capitã se acende e novas informações começam a ser inserida conforme a voz metálica de Athena enumera os preparativos.

“Nave Elpízo 1. Tripulação, cinco ocupantes. Objetivo, abordar e recuperar dados da Argo 1. Checagem de sensores e drive de manobra, ok. Checagem de combustível, ok. Checagem funcionamento das sondas, necessário. Abastecimento de equipamentos médicos e armas, necessário. Conexão computador de bordo, ok. Definição de rota, necessário”

Conforme Caleb ia resolvendo alguns dos problemas Athena atualizava a lista.

“Neste momento superfície marciana registrando ocorrência de Dust Devils próxima a Argo 1. Estimativa de duração, indefinida”

Caleb ouve Athena informar sobre uma tempestade de areia que ocorria próximo onde ele teria que pousar sua nave, enquanto uma imagem passa a ser exibida no aparelho. Provavelmente não seria um vôo fácil e talvez nem o pouso.

Dust Devil:

Enquanto trabalhava não pode evitar de ter algumas lembranças de momentos não muito bons, mas se ele permanecesse atento as palavras de Athena logo ele terminaria todos os preparos para poder partir em missão.

Uma das coisas que ainda precisava providenciar era a checagem das sondas. Elas ficavam guardadas em uma sala mais ao fundo da nave.

Ao olhar naquela direção pode ver um vulto passar rápido, entrando no compartimento das sondas.

E se fosse verificar o que estava acontecendo, ao entrar ele veria uma mulher sentada no chão, encolhida enquanto abraçava os próprios joelhos. A aparência não era das melhores e lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ela balançava o corpo para frente e para trás.

Era Suzy.

Caleb assentiu e deu uma engolida em seco quando ela disse "Algo aconteceu com a Argo 1"... não dava para deixar de sentir o tom sinistro na voz daquela mulher.

Já no hangar, Caleb cuidava dos preparativos da nave. Tentava ser o mais metódico possível com tudo naquela nave.

Caleb: Athena, realize as checagens todas de novo, enquanto eu pego o armamento e equipamento médico.

O piloto deixou Athena atualizando as checagens, pois preferia checar tudo duas vezes, enquanto ele foi até o arsenal pegar as armas para alocar na Elpizio 1. Chegando lá, pegou um carrinho de transporte de equipamentos e colocou em cima 5 rifles de pulso M41 e também 4 PPG. A quinta PPG ele colocou nas suas costas, já que iria ficar com uma mesmo, que mal fazia?
Colocou também o equipamento médico e munição o suficiente para uma ou duas recargas de cada rifle.

Foi guiando o carrinho pelo corredor em direção ao hangar. Entrou na nave e alocou as armas todas no compartimento de armas e equipamentos, e também deixou o equipamento médico no local adequado mais acessível para os tripulantes.

Com a checagem de Athena, ele viu que ainda faltava ajustar as sondas.

Caleb: Ok, querida... Já estou indo. Jeeez.... Isso vai virar um casamento.

Não pôde deixar de rir quando imaginou-se casado com Athena e ela dizendo que já "o mandou jogar o lixo fora duas vezes". Caminhou até o local quando ouviu os passos e viu um vulto correndo.

Caleb: Ei! Espere! Quem é você?

Ele correu atrás do vulto, até que viu ali uma mulher sentada no chão, abraçada em seus próprios joelhos. Ele conhecia aquela voz, mas não sabia exatamente de onde. A mulher não estava entre nenhum dos tripulantes que ele havia visto... e nem tinha a postura de um.

Caleb: ...Quem?

Quando a mulher levantou a cabeça e seus olhos estavam manchados de lágrimas ele não sentiu pena, nem amor... mas sim raiva.

Caleb: Ah, não! Que porra cê tá fazendo aqui, Sue? Que merda você tá fazendo aqui?

Não, não podia ser verdade! Ela tinha ficado na Terra.

Caleb: Só pode ser minha mente me pregando peças! Você não tá aqui, desgraçada! Você não tá aqui!

Ele sacou a PPG e a manteve na mão, ainda abaixada, enquanto andava meio que de um lado pra outra na sala, balançando a cabeça em negação.

A mulher se assusta e para de se balançar quando o vê.

Ela olha fixamente para ele por alguns instantes. Apoiando as duas mãos no chão ela engatinha para mais próximo de Caleb e fica em pé a uma distância de pouco mais de dois metros do homem.

A mulher, que ele reconheceu como Suzy, tinha uma aparência péssima. O cabelo desalinhado tinha um aspecto meio sujo. Grandes olheiras denunciavam que ela provavelmente havia chorado. Suas roupas estavam sujas, assim como suas mãos e a fraca luz azulada da sala dava um aspecto ainda mais pálido a mulher.




Ele tinha abreve lembrança de tê-la visto quando estava despertando. Ela estava sendo levada para a enfermaria e parecia estar ferida. Embora a roupa apresenta-se traços de sangue, não parecia que ela estava machucada.

A mulher desce os olhos, observando a arma que Caleb segurava ao lado do corpo.

- Cal? Sou eu Cal, a Suzy... Não está me reconhecendo? – Ouve a mulher perguntar enquanto voltava a encará-lo. – Claro que estou! Eu estou aqui Cal, eu vim atras de você. Vim escondida. Eu tinha que te ver. – Ela dá um passo na direção dele. – Eu estava com tantas saudades, Cal. Saudades de você, de nós... – Outro passo e ela estica um pouco o braço –  Eu tentei fugir, mas acho que Jonny me seguiu... Vem, fica comigo! Deixa isso de missão de lado e vamos ficar juntos. Vamos embora daqui, meu amor...   - Mais uma vez ela olha para a arma que ele segurava. - Vamos para casa.

A mulher para e uma lágrima escorre por seu rosto enquanto ela olha para Caleb sem piscar os olhos e ergue os braços apara ele, como quem pede um abraço.

Cal dá um passo pra trás, com o cenho franzido e a expressão notoriamente enraivecida. Ele não tinha a menor pena de Suzy.... porque ela não teve dele. Ela não ficou do lado dele... ela deixou ele apodrecer. A única coisa que ainda fazia ele olhar na cara dela era o filho que eles tiveram e que ele nunca conheceu.

Caleb: Você fugiu? Veio escondida? E o nosso filho, caralho? Onde você deixou o meu filho, sua maluca pirada de merda?

Ele erguia a arma, chegando perto dela e colocando ela na têmpora dela enquanto falava, trincando os dentes, morto de raiva.

Caleb: Eu devia fritar os seus miolos aqui mesmo! Desgraçada! Nosso filho é um bebê e você fez o quê com ele? Deixou ele com o bêbado do seu pai ou a drogada da sua irmã?

Ele se virava e andava em círculo uma vez, se voltando pra ela.

Caleb: Eu não posso acreditar! Não dá pra crer! Tá com medo do Johnny porquê? Você resolveu trepar com ele quando eu tava ali, apodrecendo numa cela pra proteger você e o que você faz? Abandona nosso filho pra vir aqui perseguir um romance?

Caleb estava possesso. Só de imaginar que ela veio a bordo e deixou o filho deles sabe lá Deus onde...

Caleb: Tu veio escondida? Acha o quê? Que vou jogar minha vida fora pra fugir com uma maldita traidora como você? Se enganou, baby! Sabe o que fazemos com clandestinos? Bom... tu vai descobrir!

Ele iria pegar ela pelo braço e tentaria arrastar ela para a sala de comando. Estava com tanta raiva dela estar ali que não tinha nem lágrimas pra chorar. Queria mais era que ela se explodisse!

Furioso com a situação, Caleb avança na direção de Suzy e agarra a mulher pelo braço, fazendo menção de arrastar ela dali, mas a mulher trava o corpo e firma os pés no chão, se recusando a ir.

- Porra, Cal! O que mais você quer de mim? – A mulher diz tentando puxar o braço de volta. – Eu passei a merda da noite toda nesta bosta de lugar esperando você sair e é assim que você me recebe?

Suzy continua fazendo força para impedir que Caleb a arrastasse

- Eu não trepei com o Johnny pelo prazer de te trair. Caralho, Cal! Você sabe que ele te odeia e faz de tudo para te atingir e isso inclui a mim e agora o nosso filho. Você queria o que? Que eu deixasse ele me matar e ficar com nosso filho, merda... – Ela começava a parecer furiosa, tanto quanto Caleb. – Por isso vim escondida dele. Nosso filho está bem, obrigada! Porque eu, EU, faço de tudo por ele.

Agora suzy amolecia o corpo parando de fazer resistência. Lágrimas começam a escorrer enquanto ela ainda parecia tentar controlar a raiva.

- Nosso filho está bem. Está com a minha mãe. Quando fiquei sabendo que você sairia tive que vir te ajudar, te levar para casa. Estou aqui desde ontem e quando falaram que seria hoje eu pedi que minha mãe trouxesse o nosso bebê. Ele está a caminho – A voz dela estava mais calma, assim como as atitudes. – Só não entendi por que me chamou de clandestina... Do que você está falando? Merda, Cal. Não acredito que você está se drogando.

Se olhasse para os lados perceberia que não era mais o interior da Elpízo, o ambiente havia mudado.

Estava uma sala ampla com poucas janelas. O piso em tom de cinza escuro e as paredes pintadas em um bege já desgastado pelo tempo prejudicavam a iluminação, deixando o local um pouco escuro. Atrás dele havia um grande balcão com um grosso vidro a prova de balas que separava o policial do público que era atendido.




Nos cantos da parede alguns bancos em madeira com verniz desgastado davam a ideia do desconforto de quem tinha que ficar esperando. Mais a frente portas duplas deixavam visível o vislumbre de um bonito dia de sol.

Suzy vestia as mesmas roupas e ainda estava descabelada e com olheiras como se realmente tivesse tido uma noite ruim, mas suas roupas não estavam mais imundas.

Olhando ao redor ele reconhece o local como a recepção da cadeia onde havia passado os últimos tempos preso.

Suzy dá um passo para frente e estica a mão, tocando de leve os dedos sobre a bochecha dele.

- Droga, Cal! Eu te amo! Vamos ficar juntos. Essa vai ser a nossa missão... Você, eu e nosso filho. Nunca vamos te deixar... Estaremos sempre com você – Suzy vira a cabeça de lado olhando fixamente para Caleb e sorri.

Caleb estava com raiva, mas ela foi reduzindo... Suzy dava pena, de certo ponto de vista. Por mais que a raiva estivesse injetando adrenalina em seu sangue, ele não podia ver a mulher que um dia amou naquele estado. Era desumano a maneira como a tratou inicialmente, mas fora a raiva, a frustração de não poder iniiar uma nova vida sozinho... mas ainda havia seu filho, o filho DELES.

Caleb: O que eu quero de você, Sue? O que eu quis de você foi um pouco de fidelidade, mas isso foi pedir demais, né? Droga.... eu fiquei pra trás por você! E quando vejo.... você tá nos braços daquele merda?!

Ela falou do filho deles e de que ela fazia tudo por ele...

Caleb: Nosso filho precisa da mãe e do pai, Suzy! Você ter deixado ele assim, com a sua mãe. E se o Johnny for atrás dele? Nós estamos no espaço, diabos... não haveria nada no universo que pudéssemos fazer.

Quando ela começou a chorar, ele fraquejou.

Caleb: Droga... Vem aqui, sua idiota...

Caleb abraçou ela, encostando a cabeça dela no peito dela e alisando o cabelo, visando acalentar a dor dela.

Caleb: Tá tudo bem... vai ficar tudo bem. Me desculpe... Eu só extravasei. Você não merecia...

Quando se deu por si, estava na sala de espera da delegacia... ele conhecia bem aquele lugar. Não era o interior da nave, mas sim um lugar que ele odiava. Separou-se dela de supetão.

Caleb: O que tá acontecendo aqui? Isso é real? Você...

Ela tentou tocar no rosto dele e ele se afastou um pouco incrédulo...

Caleb: Você é real? O que é isso, cacete?!

Afastou-se, apontando o dedo pra ela e um pouco ofegante, como que um asmático em meio a um susto...

Caleb: Não... não toque em mim. Onde estamos? O que tá acontecendo?