Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica
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Diego estava sentado na sua enorme e confortável poltrona na sala de engenharia. A frente dele monitores diversos mostravam gráficos analíticos sobre o funcionamento de cada parte da nave, gerando de tempos em tempos relatórios precisos sobre o estado geral do bioma e conservação dos sistemas de suporte a vida, navegação e segurança.
Athena podia ser o coração da nave, a inteligência artificial que permitia que tudo funcionasse em perfeita sincronia. Mas se ela era o coração, ele era o médico que garantia seu funcionamento.
Naquele momento era o único engenheiro da nave que já havia despertado do hiper sono. Havia pelo menos mais um engenheiro, mas este ainda passaria pelo despertar nos próximos dias, e tendo Athena ficado tantos meses sem um acompanhamento de seus sistemas, Diego passava horas revisando relatórios e providenciando os ajustes e reparos necessários apontados pelos gráficos.
Ele estava debruçado sobre um dos relatórios que tratava justamente do bioma do laboratório, elaborando um novo projeto para corrigir alguns problemas encontrados, quando uma movimentação em um dos monitores a sua frente chama atenção.
Diego levanta os olhos e observa. Um dos monitores que antes exibia um dos relatórios, agora mostrava a imagem dos corredores dos alojamentos.
Ergue uma sobrancelha achando aquilo estranho, pois não havia tocado em nada para que as imagens de segurança fossem acessadas. Olha a tela por alguns instantes e, sem ver nada de estranho, toca no monitor que volta a exibir o relatório.
Diego rabisca mais algumas anotações sobre o novo projeto quando percebe uma nova alteração no monitor, que exibia o corredor do alojamento, desta vez sendo possível ver a porta de sua cabine.
Ele olha por alguns instantes quando algo chama sua atenção.
A porta de sua cabine se move, abrindo lentamente até que uma pequena brecha permite um vislumbre do interior escuro do quarto.
Diego franze a testa. Sabia que a cabine estava vazia e tinha certeza de ter trancado a porta quando saiu, então como ela poderia estar abrindo?
Puxa a cadeira para a frente e aproxima mais o rosto da tela, olhando atentamente para a imagem da porta entreaberta, quando pode jurar ver um vulto aparecer rapidamente pela brecha da porta, como se alguém estivesse dentro da sua cabine.
Ele joga o corpo para trás com o susto.
Pela imagem da câmera vê que segundos depois as luzes principais do corredor se apagam, deixando o corredor mergulhado em uma penumbra ao ser fracamente iluminado pelas luzes azuis de segurança.
Instantaneamente os olhos procuram pelo monitor que mostrava o funcionamento da parte elétrica da nave, constatando que nenhum problema era sinalizado. Fosse o que fosse, aquela falha no abastecimento não estava sendo detectada pelos sensores.
Uma nova movimentação na imagem faz com que Diego aproxime o corpo novamente do monitor. Forçando os olhos, apesar da penumbra que dificultava o entendimento do que era mostrado, ele pode ver que a porta de sua cabine agora estava totalmente aberta.
Segundos depois alguém sai de lá de dentro. A escuridão dificultava, mas podia jurar se tratar de uma mulher e parecia que ela vestia uma roupa larga no corpo, talvez um vestido ou uma camisola.
A mulher anda alguns metros e para protegida por um local mais escuro. Ela se vira lentamente e parece levantar o rosto, olhando em direção a câmera. Os olhos dela se destacando mesmo no escuro, como se brilhassem.
Sente um calafrio percorrer sua espinha e sua respiração acelera. Além de ser uma situação estranha, algo naquela mulher era estranhamente familiar. Algo no jeito como ela se movia, o cabelo... Algo o fazia se lembrar de sua falecida esposa.
O engenheiro se sente tentado a ir verificar, mas a questão é que ele não fazia ideia de quem poderia ser e essa função não era dele e sim dos seguranças da nave. Mas então a mulher volta a se mover, caminhando pelos corredores e Diego esquece a ideia enquanto observava a mulher avançando pelo escuro.
Ela dobra a direita em um dos corredores e ele prende a respiração ao perceber que ela havia acessado o corredor onde ele estava.
A mulher caminha protegida pela penumbra e para, ficando de frente para uma das portas.
Ao perceber pelas imagens que ela havia parado em frente a porta da sala de engenharia, Diego endireita o corpo e lentamente vira a cabeça olhando na direção da porta. O coração batendo rápido a ponto de conseguir ouvi-lo em seus ouvidos.
Olha novamente pata o monitor. A mulher ainda estava lá, parada.
Franze a testa e caminha até a porta, tentando não fazer barulho. Aproxima o corpo e encosta o ouvido contra a porta.
- “Diego” – Ouve o sussurro de uma voz feminina. – “Por que você deixou nossas filhas sozinhas?” – Era a voz de sua falecida esposa.
Assustado, se afasta dando alguns passos para trás sem desgrudar os olhos da porta, até que o corpo esbarra na cadeira. Se vira rápido, olhando para a imagem no monitor. O corredor ainda mergulhado na penumbra, mas a mulher havia sumido. Não estava mais na porta.
Toca freneticamente no monitor, acessando outras câmeras, tentando encontrar a mulher. Puxa a cadeira e se senta enquanto procura, mas não encontra nada. Como poderia ser?
Relaxa o corpo e as costas de apoiam no encosto da cadeira enquanto observava um dos corredores escuros, quando a imagem muda sozinha.
Agora a imagem mostrada pelo monitor era da sala de engenharia. Ele se via sentado de frente para os monitores. Atras dele, uma mulher trajando uma camisola hospitalar, estava parada com a cabeça levemente abaixada, como se olhasse para ele.
Ao perceber o que via, sente o corpo travar enquanto um novo frio percorria sua espinha. A mulher levanta a mão e parecia que ia tocar seu ombro.
Agoniado ele sente o corpo ser inundado pela adrenalina. A vontade de fugir tomando conta de cada célula de seu corpo que ameaça se agitar.
Ele pode sentir a respiração atrás de si e quando a mão da mulher toca seu ombro, ele fecha os olhos e dá um pulo da cadeira emitindo um som abafado, que lembrava um grito de susto.
- Diego! Desculpa, você está bem? Não queria te assustar... – Era a voz da capitã Elisa que entrava na sala. – Tudo bem?
Abre os olhos e constata ser realmente a capitã. Pela porta aberta atrás dela podia ver que as luzes do corredor estavam acessas. Olha em volta e não vê nada de diferente. Os olhos vão até o monitor que exibia o relatório que lembrava que estava analisando antes. A mulher havia sumido, assim como os corredores escuros.
- Você parece assustado demais... Aconteceu alguma coisa? – A capitã cruza os braços e ergue uma sobrancelha, parecendo curiosa.
- Estou bem... Estou bem... Apenas... Acho que estou trabalhando demais. Devo ter pegado no sono... Estava tendo um sonho estranho... Só isso – Ele sorri sem graça. – Bem, em que posso ajudá-la, capitã? – Pergunta dando uma última olhada em direção ao monitor.
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Câmara criogênica
Sente uma pressão em seu peito e o corpo parece sacudir.
Com algum esforço consegue abrir os olhos e embora a visão estivesse embaçada, consegue perceber que alguém estava debruçado sobre ele.
- Vamos, cara! Vamos! Seja bem-vindo de volta! Hora de acordar! – O som parecia abafado e percebe que alguém apoiava a mão em seu peito e o sacudia.
Mexe a cabeça de um lado para o outro, se forçando a despertar. Faz força para suspender o corpo, mas os ossos de sua coluna não colaboram e não consegue concluir o movimento.
Sente que a mão que sacudia se peito agora agarrava um de seus braços, fazendo força e o ajuda a se sentar.
A visão clareia um pouco e ao olhar em volta reconhece a sala criogênica da Argo.
O corpo inteiro estava dolorido e tremia involuntariamente pelo frio que sentia. Quando força o corpo a ficar de pé, sente tudo girar a sua volta e perde o equilíbrio, caindo sentado.
O mal-estar piora, intensificando os calafrios, e o estomago revira, mas não consegue vomitar.
Alguém passa e coloca uma espécie de manta sobre as suas costas e o ajuda a ficar de pé.
Não se lembrava direito como havia chegado ali, mas agora estava em sua cabine sendo ajudado a deitar em sua cama que parecia quente e confortável demais se comparada ao frio e dureza dos casulos criogênicos.
Frederick é deixado sozinho. Olhando em volta consegue reconhecer seus pertences. Parecia que tudo estava exatamente como havia deixado a seis meses atras.
Talvez não quisesse dormir, mas o conforto da cama e os olhos pesados dificultavam para ele se manter acordado. Não conseguindo resistir ele finalmente fecha os olhos caindo em um sono profundo.
- OFF:
- Tudo começa com o despertar do Fredericke após seis meses de hibernação ele está mais uma vez em sua cabine.
A cabine é simples, com cama, armário, mesa de trabalho, pia e espelho e um pequeno banheiro.
Vc pode descrever melhor o ambiente e objetos pessoais, caso deseje.
Também pode permanecer na cabine ou sair para explorar outros lugares da nave. Fique a vontade ^^