Templo de Avalon

Sir Pontius olhava assustado para Flamarion, sentindo os efeitos execrável de seu Dom refletidos em suas palavras. Todavia o veterano compreendia do que aquela sensação se tratava, e apenas torcia as pontas de seu bigode no intento de controla-la para então dizer firmemente de forma cortês.

-- Eu jamais permitiria tal descaso em minha vigilha meu lorde!

Embora Flamarion tivesse perdido seu título de nobreza após ser deserdado pelo seu irmão, atual regente de sua família. Seu antigo servo que lhe jurou lealmente ainda o tratava como um lorde legítimo. O homem de meia idade esperou o momento em que Flamarion focava sua atenção nos ferimentos de Aysha, para que pudesse se retirar do recinto, tendo em mente em plano atrevido que faria seu senhor se orgulhar de seus serviços.

A conciliana Mercere havia sofrido uma perfuração em seu ombro esquerdo, e não foi preciso uma avaliação profunda e detalhada para perceber que a flecha foi retirada de forma indevida causando um ferimento ainda pior. Enfim Albam chegava, cruzando com Sir Pontius ao passar pelas grandes portas de madeira maciça do local sagrado, o homem parecia determinado em seguir seu rumo mas não perdia a oportunidade de retrucar o comentário do mago.

-- Talvez esta não seja a pergunta mais sensata neste momento meu caro...

A voz de Flamarion estourava vigorosamente com suas palavras em latim ecoando por todo salão preenchendo o ar com aquele dose cheiro amadeirado de carvalho revelando sua insígnia mística. Aysha estava pálida e trêmula, mas sua ferida esfumaçava ao toque do jovem da Casa Flambeau, cauterizando-a instantaneamente. Com o ferimento magicamente curado, Gertrudes que já estava próxima observando tudo meio cabreira de se aproximar, tomava um impulso para limpar o sangue no corpo de Salazzar. Entretanto, Matilda a repreendia retirando o pano de suas mãos e o humedecendo no balde para repousa-lo sobre a testa da maga.

-- Não foi pra isso que eu pedi isso! Não está vendo que ela está ardendo em febre? Limpar o sangue não é a prioridade no momento!

Matilda estava extremamente preocupada, tentando manter o pano frio com a água do balde e repetindo o movimento na intenção de estabilizar a temperatura da conciliana. Ainda apreensiva, forçava um olhar na abrasiva presença de Flamarion para dizer de maneira aflita.

-- Você foi incrível mestre! Mas ela ainda está envenenada, não tenho os recursos saber as propriedades do veneno e nem mesmo para criar um antídoto a tempo! Eu sinto muito, mas...

Bastante ofegante e com dificuldades para falar diante de toda aquela energia despendida, Flamarion via lágrimas inconsoláveis de desespero começando a verter na face de sua companheira, borrando as marcas de carvão que ela pintava em seu rosto, mas ainda se agarrando na irracional esperança de tentar evitar a morte, mantendo seu movimento com o pano molhado na testa de Salazzar. Albam já se aproximava observando tudo o que acontecia, quando de repente Roxana chegava correndo esbaforida. Foi então que todos notaram algo que em meio aos acontecimentos turbulentos daquela manhã não foram capaz de lembrar...

Devido não terem se dedicado aqueles breves 2 minutos matinais no ritual de Parma Mágica, a influência de seus Dons afetou pela primeira vez uns aos outros, tendo como agravante o Dom Manifesto da Maga de Cambridge que os fazia sentir o amargor do fel em todo seu apogeu, chegando a causar ânsia em Flamarion que estava tentando se recuperar da magia exaustiva que havia conjurado. Todos deveriam aprender a reagir aos efeitos do dom um do outro naquela situação de despreparo, sentindo na pele o que os mundanos do concílio sentiam todos os dias ao lidarem com eles. A respiração de Aysha ficava cada vez mais fraca e que seu corpo começava a ter alguns espasmos deixando claro para Roxana que sua vida estava quase encontrando o seu lamentável fim.

Flamarion parecia não ter a situação sob controle como imaginara, e as palavras de convicção desferidas se quebraram como um espelho ruidoso com morte iminente de sua aliada. Talvez a cura que havia proporcionado ajuda-se a mante-la forte para resistir ao veneno por um pouco mais de tempo, mas não entendia muito bem como venenos funcionavam. – Por Gwyndion, que veneno diabólico é este que mata em minutos, Matilda? – exclamou em nome do deus Galês.

A chegada de Albam havia irritado o Galês, mas foi o Dom manifesto de Roxana quem causou um tremendo mal estar em todos, deixando Flamarion agressivo com a situação, ainda que não fosse sua intenção – O coração ainda batendo e já vieste recolher o corpo para seus experimentos nefastos, mulher? – disse raivoso.

- Um ritual será necessário, mas ainda há tempo? – Então se afastou da Mercere e dos outros Magi o máximo que a situação permitia.

Entro no templo e sigo diretamente para Aysha.

– Cadáveres podem esperar, são os vivos que exigem pressa – rosno em resposta a Flamarion sem sequer olhar para ele.

A distinta sensação do dom de Flamarion me faz lembrar do ritual da Parma Magica e me dou conta de que minha presença deve beirar o insuportável aos demais sodales. Surpreendentemente, nada me incomoda partindo de Albam, o que me faz considerar que ele deva possuir o dom gentil. Ele faz um comentário delicado que ignoro devido a urgência da situação.

Sem perder muito tempo com esses pensamentos supérfluos, concentro-me em examinar a condição de Aysha.

– Onde está o ferimento? – pergunto para ninguém específico, devido à ferida da flechada não estar visível. Escuto a resposta sem desviar minha atenção da paciente.

Após um brevíssimo exame mundano da maga envenenada eu improviso o feitiço Epifânia dos Defeitos da Carne – trazendo uma brisa gélida com o aroma das flores de um funeral ao salão do templo enquanto gesticulo sobre o corpo da paciente bradando alta e lentamente “INFIRMITATES REVELARE GRAVI MORBO REVELARE”. Isso deve me permitir identificar imediatamente o quão grave é a situação e que tipo de veneno está sendo utilizado.*

Feito isso, avalio se possuo em meu equipamento médico algum antídoto mundano para o veneno, o que seria uma solução mais rápida, prática e barata para o problema.

Imediatamente em seguida realizo o feitiço “Purificação da Ferida Purulenta”, a fim de aumentar as chances de sobrevivência enquanto avaliamos as opções. Com gestos enérgicos e entoo no mesmo tom do feitiço anterior “CORPUS INFIRMUM SANARE GRAVIS"**

Controlando a repulsa provocada pelo dom de Flamarion eu digo:

– Você agiu corretamente ao selar o ferimento da flechada. Mesmo que esse ferimento ainda precise ser tratado quando o efeito da magia se dissipar, pelo menos por hora o corpo dela precisará lidar apenas com o veneno. Quanto a isso, fiz o melhor que era possível fazer imediatamente e é provável que ela se recupere se cuidarmos dela em um ambiente aquecido e confortável.

Eu faço uma pausa e então concluo sombriamente.

– Mas há sempre uma chance de que esses esforços não sejam suficientes… eu arriscaria algo em torno de uma chance em oitenta. A única maneira de garantir que o veneno cesse de ter efeito imediatamente é através de um ritual que nos custará cinco peões de vis. Isso não apenas garantirá a sobrevivência de Aysha, como também vai nos poupar a maior parte do tempo de recuperação. Considerem tudo isso enquanto providencio minha Parma Mágica, se me permitem, pois vai ser improdutivo conversarmos nessas condições.

Afastando-me para outra parte do salão eu faço meu ritual da parma e então retorno para ouvir a opinião dos sodales.

*Mecânicas do exame inicial::

** Mecânicas do tratamento inicial:

Frustrada em meio ao desespero de se ver em mãos atadas naquela situação, do pouco que Matilda havia lido sobre Galeno de Pérgamo e Hipócrates, a erudita sabia que na maioria dos casos o envenenamento significava uma sentença de morte. A voz de Flamarion vinha como um trovão ao convocar o nome supremo de sua divindade a fazendo retrair o corpo instintivamente sem sequer ter coragem de responde-lo constatando sua inabilidade de lidar com aquilo que estava diante de seus olhos. Assim que Roxana chegava o clima ficava ainda mais pesado, com discussões incitando o fervilhar do sangue dos magi. Gertrudes ficava pasma ao ver a possível carniceira da membro dos capuzes vermelhos se aproximando para chafurdar seu cadáver assim como o Flambeau havia insinuado. Sua presença maligna estuporava qualquer simpatia que se pudesse ter por ela, causando olhares de desaprovação para Albam por parte das mundanas que ali estavam, devido sua tentativa de elogiar e defender a Bruxa de Cambridge.

Em seu exame inicial no corpo da Mercere foi capaz de denotar sintomas como febre, tremores e espasmos, dificuldade na respiração, pulsação acelerada, inchaço na garganta, pele pálida, fria e úmida e o inicio de uma parada cardíaca categorizando um choque anafilático causado por um envenenamento grave. Ao assistir brevemente todos aqueles métodos precisos, tendo em mente que agora a situação seria transferida para as mãos suspeitas da necromante, Matilda se retirava junto de Gertrudes enquanto direcionava um olhar desconfiado e carregado de inveja para a Bonisagus, apenas assentindo com a cabeça para seu mestre em forma de respeito em sua partida do templo. Em meio a curiosidade da curandeira surgiu em voz alta sua indagação de como ela havia sido envenenada tão seriamente sem ao menos ter um ferimento para tal. Assim Flamarion se prontificou em atualiza-la sobre todos os detalhes que detinha da situação, causando uma sensação na maga mediante a isso de que ele havia fechado a ferida com o propósito apenas de atrapalha-la em seu processo de diagnóstico e tratamento do quadro clínico de Salazzar. A primeira magia era conjurada com certo esforço pela maga, a deixando completamente ofegante debruçada sobre a paciente, tendo o sucesso da execução como recompensa de toda aquela energia despendida. No entanto, sua insígnia trazia ao ambiente um aroma fúnebre de crisântemo que lhes passavam a impressão de que ela estava velando o corpo já sem expectativas de sobrevivência daquela mulher moribunda em frangalhos. Para a surpresa de Roxana, como se a alma estivesse prestes a sair do corpo da Persa uma luz amarela que somente ela podia enxergar irradiava, sendo tão incandescente que ofuscava suas pupilas que se dilatavam para tentar se adaptar a claridade repentina. Todo organismo de Aysha estava comprometido por aquele veneno nitidamente incomum nunca visto antes por ela, formando aspirais sincronizadas no fluxo sanguíneo como se aquela substância estivesse começando a devorar suas células de dentro para fora, como se em segundos replicasse uma degradação semelhante a que certos fungos conseguem realizar em anos, deixando-a com a certeza de que se tratava de uma toxina sobrenatural. Assim que os movimentos ritmados e conjurações voltaram a sair de sua boca, aquele cheiro se intensificava ao redor se tornando um odor desagradável impregnando todo o local, trazendo novamente um pressentimento de que um funeral inevidavelmente aconteceria ali, porém dessa vez o intuito da bruxa era estabilizar aquela pobre vítima dos efeitos tórridos e agonizantes que percorriam em suas veias. Foi então que seguindo o exemplo de Albam, evitando os pensamentos hostis influenciados pelo Dom de seus sodales, não tardou em tentar apaziguar os ânimos com seus elogios e por fim reservar poucos minutos de seu tempo para efetuar o ritual de Parma Mágica.

- Acordei da pior maneira possível, de sobressalto – disse em resposta a Albam, ainda com descontentamento em sua voz. – Por que você não nos refresca a memória à respeito da profecia?

Ouviu Roxanne elogiando suas ações, mas as palavras soavam como deboche em sua mente - Aparentemente precipitei-me em fechar o ferimento antes do diagnóstico completo, foi um maldito tiro no escuro, visto que uma intervenção mundana talvez resolvesse – e quase rosnava entre palavras, nervoso, tanto consigo como com o DOM Manifesto da aliada.

Enquanto a Magi de Cambridge tentava resolver a situação, Flamarion que havia tomado distancia, conjurou sua Parma Magica, a fim de diminuir os impactos de DOM nos outros, e como era de costume fazer toda manhã.

- Nos aprecemos, então, para o ritual. Cada segundo importa. Roxanne e Albam fazem os preparativos, eu busco os peões de Vim. Matilda pode auxilia-los, certamente. – Não que Flamarion odiasse o laboratório, longe disso, mas tinha preferência por coisas práticas e menos rotineiras.

Sinto um certo alívio após realizar meu ritual da Parma.

Retorno para próximo de Aysha e respondo a Albam.

- Nunca vi esse veneno antes, mas posso dizer que ele é mais violento do que o pior dos venenos naturais. Talvez seja coisa das fadas… ainda não tivemos tempo para aprender sobre as particularidades desse lugar.

Detalho um pouco mais o diagnóstico para eles e então, percebendo que minha tentativa de apaziguar os ânimos de Flamarion não surtiram resultado, eu reforço o que havia dito anteriormente.

- Ainda bem que não precisei perder tempo cuidando do ferimento. Agradeço se puder trazer o vis enquanto me preparo para o ritual.

Enquanto Flamarion sai eu organizo tudo e comento para quem estiver por perto.

- Acho que deveríamos fazer uma reunião dos sodales e definir algumas coisas. Precisamos estabelecer objetivos e trabalhar em conjunto. Acho que também seria bom estabelecermos uma enfermaria e revisar as defesas… não temos ainda um Aegis do Lar e não vejo como resolver isso no curto prazo, mas podemos tentar recrutar pessoas de Glastonbury para viver aqui e criar uma rotina de vigilância.

Impulsivamente Flamarion se apressava o máximo que podia rumando para Torre Alta. Nos primeiros momentos seus dentes começavam a bater sentindo o frio, enquanto seu corpo lutava para aquecer durante sua corrida. De fato correr em meio ao nevoeiro apenas com sua camisola de seda não parecia ter sido uma boa ideia, sentia suas narinas ardendo com o vento gélido que se chocava com o calor de seu corpo o deixando esbaforido em poucos metros como se o cansaço fosse triplicado durante o trajeto. No meio do caminho começou a sentir as suas extremidades queimando, sendo estas as pontas dos dedos, nariz e orelhas, trazendo um mal estar que conflitava com seu objetivo, cogitando inclusive voltar para se agasalhar melhor, porém uma vida estava em risco, o possibilitando avançar com a designação de estar realizando um propósito maior. Ao chegar no Elysium, rapidamente desceu as escadarias para o subsolo, onde pode avisar Durval sentado enquanto lia um livro e escrevia em um pergaminho quase que simultaneamente, molhando a ponta de sua pena em um potinho de tinta. O homem se espantava com o alarde de sua chegada e primeiramente se atentou ao seu trabalho para se certificar de não borrar nenhuma página antes de recepciona-lo. Todavia, neste meio tempo as mãos do Flambeau já estava a vasculhar o depósito de Vis tentando adivinhar o que Roxana precisava para salvar a vida de Aysha, uma vez que ela não havia mencionado que tipo de Vis ela requisitara, sendo assim pegou o que acreditou ser necessário para essa tarefa. Sem entender o que estava acontecendo, reagindo ao Dom de Flamarion, Durval se pronunciava um tanto quanto nervoso, não querendo criar problemas.

Durval:

-- Não está tentando pegar algo sem permissão está? Me refiro a essa urgência toda, pelo menos me deixe listar aqui o que o senhor está retirando do estoque, por favor, é só o meu trabalho zelar pelo controle do que se passa por aqui...

Enquanto isso, no templo, os olhos de Aysha começavam a expelir uma mucosa esverdeada e uma bile escorria de sua boca e nariz, tendo seu corpo ainda trêmulo e respiração fraca. Roxana mantinha toda atenção sobre ela, fazendo o possível para mantê-la estável enquanto os materiais necessários não eram providenciados, inclusive usando o balde com água e o pano deixados por Gertrudes e Matilda para que pudesse limpar as secreções e controlar a febre. Albam também não ficou parado mediante toda aquela situação e logo se retirou tentando obter maiores detalhes, e assim foi capaz de encontrar Niels apreensivo no pátio central, andando de um lado para o outro. Ao ser questionado, o jovem normalmente extrovertido agora o respondia de forma tensa.

Niels:

-- Ninguém invadiu meu lorde, apenas algumas fechas voaram pelo muro e Lady Salazzar foi abatida em seu retorno... Mas agora os homens correram para lá e as moças pro outro lado.

O menino parecia meio confuso mas se mantinha em alerta sem entender direito a dimensão do perigo que ainda poderia estar presente. No entanto apontou as direções para Albam, facilitando o direcionamento de suas buscas durante o efeito da magia que conjurava. Sua pupila se expandia deixando o olho completamente tomado por um brilho animal, o possibilitando enxergar muito longe com acuidade em ambas as direções indicadas. Onde o menino havia apontado que os homens seguiram, fora capaz de observar os portões fechando atrás de Domor, Sir Pontius e Peter que seguiam remando num bote iluminado com uma lamparina como de costume, todos partindo de Avalon. Já para outra direção foi capaz de ver Irina, Matilda e Gertrudes correndo juntas, porém Gertrudes tropeçava e caia enquanto as outras duas continuavam correndo e desapareciam na névoa. Mesmo embora estivesse agasalhado, os efeitos da estiagem de inverno causava um desconforto, o deixando arfando com as bochechas e a ponta do nariz rosados com a pressão ar em baixa temperatura do lado de fora, causando um pequeno sangramento em seu nariz. O jovem via aquele sintoma mundano nessa época do ano e interpretava como se fosse os efeitos revés de sua magia, o fazendo apontar para as gotas de sangue assustado e te chacoalhava sessando o efeito da magia para dizer afoito.

-- Lord Pekham pare! Por favor pare com isso, está exigindo muito de sua saúde, veja, está sangrando!

Enquanto aguardo pelo vis para o ritual, mantenho Aysha o mais estável que posso com cuidados paliativos. Olho ao redor, procurando por alguém próximo e digo:

- Você. Não é adequado que a sodale precise se recuperar no salão do templo e às vistas de todos. Verifique se não há alguma câmara vazia por aqui que possa servir de leito temporário para Aysha.

Retorno minha atenção ao que estou fazendo e entoo mentalmente algumas palavras do ritual, ensaiando os próximos passos do processo. Tento falar com Aysha.

- Você consegue me ouvir, Aysha? Está consciente? Mantenha-se firme e em breve vai estar nova em folha.

Se ainda houver alguém presente no salão eu digo:

- Alguém viu Estace? Não o vi hoje de manhã e gostaria de me certificar que ele está bem. Verifiquem se seus outros conhecidos estão bem também. No mais vocês podem procurar o que fazer, porque não precisamos de uma platéia aqui.

Coragem era o mote do Gales, daí a imprudência de alguns de seus atos. Ele é um domador do calor, logo aquele frio podia ser facilmente contornado, mas procurou resistir ao nevoeiro gélido, conjurando proteção ao frio caso acreditasse ser muito necessário.

Na cabeça de Flambeau, não havia necessidade de perguntar qual o tipo de VIS era necessário, visto que todo Magi era um Catedrático, e ele possuía foco nos estudos de CREO, que dizem respeito às curas.

- Permissão? – bradou antes que Durval completasse sua frase – Sou Flamarion, ungido no fogo de Hermes Trismegisto, senhor de direito das terras de Caermanther, O escolhido dos Flambeau para Avalon, Domador do FOGO! Seu trabalho é fazer o controle quando possível, e esta é uma emergência – e após pegar as Algas Avermelhada (CORPUS) e as Ovas Douradas (CREO), percebeu que havia exagerado – Me desculpe, Duraval... fui desrespeitoso, mas estamos sendo atacados. Você não consegue ouvir as trombetas daqui de baixo? Peguei as Algas e as Ovas de sapo.

Voltou correndo o mais rápido que pode, levantando parcialmente sua camisola de ceda para que não atrapalhasse suas passadas. Quando chegou ao Templo, ofereceu suas instalações provisoriamente, mesmo sabendo que era algo raro e complicado de se fazer entre os Magis – Bem, meu laboratório está pronto para um Ritual, acredito. Ela repousaria nos meus aposentos até que um outro seja adequado para ela aqui no Templo.

Roxana conseguia fazer com que alguns servos passantes lhe ajudassem a mover com cuidado o corpo exausto de Aysha. Os efeitos imprecisos eclodindo nos sintomas que a Maga moribunda apresentava nunca antes haviam sido contemplados pela curandeira nem mesmo em suas leituras mais exóticas de medicina, neste momento era como se estivessem correndo contra o tempo.

Na friaca ao lado de fora o rosto alvo do jovem Niels ruborescia com o comentário do Magus, mas infelizmente não parecia ter muitas informações úteis do que estava ocorrendo e nem mesmo onde Vougan poderia estar, apenas informando algo que Albam ainda não tinha total conhecimento de como funcionava.

-- Meu senhor... Minha senhora Lady Salazzar é nosso único ''pombo correio'' ela que ia e vinha com as informações até o vilarejo, eu realmente espero que ela melhore logo... Mas até lá posso buscar alguém capacitado para fazer o serviço! Conheço todos do concílio, desde os mais fortes como Domor quanto os mais fracos errr como eu.

Flamarion deixava o bibliotecário de queixo caído com seu ímpeto, deixando-o para trás com diversas dúvidas que não poderiam ser respondidas naquele momento. Sua camisola já estava toda suja com a lama que era arremessada alguns centímetros do chão pelo seus pés ligeiros. Chegava ofegante respirando aquele ar seco que provocava sangramento nasal. Sua pele tremia feito vara verde despido de vestimentas apropriadas para enfrentar aquele clima gélido. Mas assim que via os servos seguindo as ordens de Roxana, com os Vis requisitados em sua posse ele rapidamente dava sua permissão para que Aysha fosse tratada em seus aposentos, sendo levada as pressas para sua cama ainda bagunçada. Os servos saiam as pressas com medo do caminhar daquela situação deixando apenas os Magi no templo, onde as portas eram fechadas para que o calor da lareira pudesse tornar aquele ambiente frio em algo mais aconchegante.

Respiro aliviada quando Flamarion chega esbaforido com o vis requisitado. Os servos rapidamente se dispersam, sem que eu tenha tempo de agradecê-los. Escuto o pedido de desculpas de Flamarion e respondo:

- Tudo bem. Eu já estou acostumada.

E então, já posicionando o vis e todo o material necessário para o ritual eu completo.

- Eu também peço desculpas por… err… por estar aqui no que deveria ser seu espaço privado. Vou te orientar durante o ritual, seu auxílio será útil, mas pode ir trocar suas roupas e se preparar, se quiser, enquanto adianto tudo.

Já com tudo preparado, inicio o ritual de desenvenenamento, com o auxílio de Flamarion. A situação é um pouco constrangedora… performar um ritual no sanctum de outro magus e ainda usar esse magus como assistente de laboratório… mas não havia tempo para pensar nessas trivialidades.

OFF::

Você assiste como pode a realização do ritual, seguindo a liderança de Roxanne. Uma brisa fria parece invadir seus aposentos por frestas invisíveis nas paredes, trazendo o aroma de flores que é o sigilo da maga.

O ritual é muito bem sucedido e poucos minutos após sua conclusão, Aysha desperta de sua febre. Ela olha ao redor da cama, atordoada, e então, reconhecendo seu rosto e o de Roxanne, ela tenta se levantar dizendo com uma voz rouca:

- Estamos em perigo. Seremos atacados.

Ela pigarreia e sua cabeça cambaleia um pouco, mas ela consegue se sentar na cama com algum auxílio de Roxanne, que te olha com uma expressão preocupada.

- Quanto tempo… o que aconteceu… por que eu estou aqui?

Pergunta Aysha, agora com a voz limpa.

Albam: