O ar frio do exterior teve um efeito animador na jovem, que ainda estava perturbada pela profecia que fizera mais cedo. Olhando ao redor ela teve a impressão de que a luta havia cessado. Viu Flamarion sair correndo do templo em direção à torre e presumiu que estivesse indo buscar Roxanne para tratar de algum ferido. Resolveu caminhar na direção contrária.
Quando chegou aos limites fortificados do concílio encontrou alguns concilianos de guarda, soube por eles que, de fato, os inimigos haviam recuado, e sentiu-se segura para se afastar um pouco mais, caminhando pela beira pantanosa do lago tomando cuidado para não enlamear demais as suas botas ou escorregar. Sentia-se um pouco aérea, talvez pelo choque dos acontecimentos logo pela manhã.
Em pouco tempo avisou uma ilhota surpreendente seca e repleta de arbustos floridos, que conseguiu acessar cruzando um cabo estreito margeado por juncos. Sentou-se sobre uma pedra suja, mas seca e começou a dedilhar distraidamente a lira até que viu, a alguns passos de distância, algo brilhando entre as plantas da ilhota. Deixou a lira de lado e se aproximou um pouco. Pareciam casulos de lagarta, mas emitiam uma tênue luz prateada. Irina recordou vagamente que os magi haviam comentado que esses casulos eram importantes e precisavam ser recolhidos. Aproximou-se mais de um deles, avaliando se poderia pegá-lo e então viu uma pequena criaturinha de rosto enrugado sorridente e movimentos agitados colhendo o casulo segundos antes que ela pudesse fazer isso. A criatura anfíbia a encarou com um sorriso infantil e arteiro, mas definitivamente inofensivo, e então saiu correndo às gargalhadas esgueirando-se pelos obstáculos no caminho.
Enquanto isso, após a chegada de Roxanne e a estabilização da maga Aysha, Matilda começou a se sentir de pouca utilidade no templo. Pouco após a saída de Flamarion decidiu ir ver por si mesma em que pé estavam as coisas.
Caminhou com passos seguros até a entrada do concílio e verificou que tudo parecia bem. O arqueiro Peter estava um bocado afastado mais à frente, mas sua postura parecia despreocupada e a estudiosa sentiu-se segura para permanecer ali.
Admirou o lago enevoado por alguns momentos, procurando qualquer sinal dos agressores, e então viu mais ao longe a menestrel Irina caminhando distraidamente pelo pântano. Começou a andar lentamente em direção a ela, que havia seguido para uma pequena ilhota florida e então, quando estava na metade do caminho, percebeu que a menestrel estava sendo seguida pelo que pareciam duas crianças com roupas engraçadas.
Instintivamente apertou o passo. Pensou em gritar um aviso, mas receou que isso pudesse atrair a atenção indesejada dos perseguidores para si. Considerou então retornar e pedir por ajuda, mas não tinha certeza se era necessário. Viu então que Irina havia se distraído com alguma coisa e se aproximado de um arbusto. Uma das crianças que a seguia se aproveitou desse momento para pegar a lira da artista e sair correndo.