Mahendra caminhava pela até o acamado, chamando-o pelo nome e tocando em sua mão. Pela primeira vez, parece que o homem percebia que havia mais alguém ali, então começava a balbuciar palavras desconexas, onde era possível entender coisas como: "La Brea", "A escuridão" e "O levou".
A investigadora o olhava nos olhos e se concentrava para sintonizar-se com a Sinfonia Universal. Talvez por sua fome de justiça, sua conexão com a Sinfonia era tal que sua Ressonância atingiu o ápice de seu potencial. Mahendra não apenas podia decifrar verdades de mentiras, ela podia ver todas as coisas como elas realmente o são.
Como que em um transe, Mahendra sentia o cenário à sua volta mudar. Agora ela estava em um ambiente totalmente diferente, em uma área pantanosa, acompanhando dois policiais em uma investigação. Eles não podiam vê-la ou tocá-la e nem ela poderia interferir com o que já havia acontecido, mas ela tinha uma visão completa do que havia ocorrido, como se estivesse não apenas assistindo, mas interagindo com um filme.
A dupla se aproximava de um enorme lago, composto não de água, mas de uma estranha resina negra, semelhante a piche. O lago borbulhava enquanto a fumaça que expelia se juntava à névoa à sua volta.
Porém, algo parecia se mover no lago. Ambos os policiais olham, discutem entre si, enquanto algo semelhante a uma enorme bolha se formava na beira do lago, próximo a eles. Um dos policiais se afastava, mas o outro ria e o chamava de covarde, então se abaixava, pegava um galho do chão e tentava cutucar a estranha bolha que parecia viva.
A partir daí, as coisas ficam realmente estranhas, pois assim que a bolha "estoura", uma espécie de tentáculo viscoso e negro, de aparência líquida, sai do lago e agarra o policial com o galho na mão, puxando-o para dentro.
- Trilha sonora:
O policial desaparecia dentro do poço negro, enquanto seu parceiro gritava em desespero e se aproximava do poço, até perceber que a tal "criatura" que parecia feita do próprio piche, rastejava para fora em busca dele também.
Uma criatura amorfa de pura escuridão estendia seus tentáculos, laçando o policial antes que ele pudesse correr. Ela o puxava para dentro de si, queimando sua pele e absorvendo sua Essência, e repentinamente, eles eram conectados. Ele podia "ler" os pensamentos da "coisa", embora eles fossem tão alienígenas a ele que isso abalasse sua psique.
Mahendra, porém, conseguia entender melhor que o pobre mortal. A "coisa", apesar de disforme, já teve milhares de rostos, todos inexpressivos. É a morte encarnada, é um barão do inferno. Mais velho que a humanidade. Glug (nome adotado pela entidade demoníaca devido ao som gorgolejante que suas vítimas proferem logo antes de morrerem), é um barão da morte. Ele reside aqui desde a Era do gelo, capturando mamutes, Smilodons e homens igualmente.
De alguma forma, Glug há muito descobriu como transformar o próprio breu do pântano em sua Veste física. Ele já foi adorado por antigos povos indígenas locais até a chegada dos colonizadores espanhóis, que perceberam haver algo de maligno no local, chamando-o de "La Brea" (algo como "o breu" ou "a escuridão") e decidiram evitá-lo, até os tempos modernos, onde o homem decidiu fingir que o sobrenatural não existe e, absorto em um materialismo fútil beirando o doentio, apenas pensa na expansão de suas próprias cidades.
Mas a criatura ainda espera. Sem olhos para ver ou ouvidos para ouvir, o mal ainda pode sentir o movimento do mundo ao seu redor. Desviando sua consciência para a superfície de seu lar, ele estende a mão em antecipação, pronto para receber seu novo tributo. Muitos anos se passaram desde sua última grande refeição. Ele ousa esperar que hoje seja diferente, ousa esperar que sua presa dê um passo longe demais, enquanto a humanidade volta a se aproximar de seu terreno.
...
E assim, Mahendra saia do transe enquanto o paciente ficava mais agitado, então os seguranças entravam, pedindo que ela saísse e enfermeiros tentavam acalmá-lo.