Interior do Avião

Finalmente era a hora de reencontrar pessoalmente rostos conhecidos que não via a anos. Esperava vê-los dentro do avião, mas acabei por encontrar Mariana e Gláucio  na fila de embarque.

- What's up bitches! Há quanto tempo? Como vocês estão? - Acenei aproximando-me.

Abracei e beijei o rosto de Mariana. Pelos céus, ela estava mais bonita do que antes e eu parecendo uma moleca. Logo foi a vez de Gláucio. O tio continuava sendo... o tio. Parecia a mesma pessoa de antes.

Sentei-me entre Mariana e Gláucio. Na real, eu gostaria te ter ficado na janela para poder apreciar a bela noite, mas não quis perguntar se queriam trocar de lugar. O lado bom é que era mais fácil manter minha atenção para ambos.

Infelizmente nem tudo era flores. O que eu imaginava que seria uma viagem de velhos amigos compartilhando de suas historias e botando o papo em dia. Logo se deparou com diversos inconvenientes. A criança atrás de nos parecia não ter pais para tentar acalma-la, o filme do passageiro ao lado, por algum motivo, estava a me incomodar e o tio acabou levando a pior. O peso pesado do assento da frente ia fazer a viajem para o tio ser extremamente longa.

- Sou só eu ou vocês também estão sentindo uma vibe tipo Premonição? - Sorrio nervosa. - Se começar a tocar dust in the wind, eu juro que vou fazer um escândalo aqui. - Olho a minha volta. - Estão vendo algum um oito zero em algum lugar? - Faço uma careta mostrando a língua.

No fim, acabei brincando com a situação para não acabar causando desconforto aos meus amigos. No entanto, não podia mentir que estava angustiada com algo. Apesar de não saber sua causa.

Vestiu-se de frente  para o espelho, para ter certeza de que estava tudo combinando. Queria parecer bem... Não via a Lana há tanto tempo! Já o Gonzales não via desde que ele largou a terapia, deixando ela sozinha naquelas sessões intermináveis. Nem uma mensagem, nenhum e-mail, nada... resolveu sumir no mundo.

Estava quase atrasada... tinha passado algum tempo encarando a parede após o banho. Tinha alguns sentimentos mistos sobre a viagem que faria com Lana e Gonzales... Nossa, já fazia tanto tempo... Logo que surgiu a ideia de viajarem juntos, encarou apenas com a alegria de rever velhos amigos, mas o que os unia são era apenas amizade. Era como uma cicatriz na alma. Mas devia encarar como uma oportunidade de melhora também.

Chegou no Aeroporto e andou apressada até a fila do embarque, e logo viu que os dois chegavam no mesmo momento. Se aproximou e retribuiu o abraço e o beijo da Lana.
"- Eeeei! Você tá gata, Lana!!" - Deu um sorriso animado. Não lembrava de serem tão amigas antes, mas era uma alegria enorme rever a ruiva.

Logo se virou para Gonzales e deu um soquinho no ombro dele, com cara zangada.
"- E você, seu puto! Sumiu e não deu mais sinal de vida... Devia te esganar!"
Deu um abraço nele. Também sentia como se ele fosse um amigo de longa data, e de repente sentiu como era bom estar com os dois ali.

Quando entraram no avião, colocou a bagagem de mão no compartimento e sentou-se no corredor.
"- Gente, vou sentar aqui pra não ficar incomodando vocês pra ir no banheiro..." - Sorriu e colocou o celular em modo avião. Tinha receio de ficar perto na janela e do que poderia ver por ela.

Odiava aquela confusão de viagem... gente inconveninte, criança chorando... mas logo se distraiu com o agouro da Lana. A olhou pensativa por alguns segundos, e depois deu um sorriso sem graça e olhou para Gonzales também.
"- Eu espero que não..."

"- Eu espero tanto que ficar cercada pela natureza seja legal... A cidade anda meio deprimente, cheio de cinza pra todo lado..."
"- Nâo que eu goste muito de natureza, mas uma mudança de ares parece tão legal!"
"- Espero que o lugar seja mesmo feito nas fotos..." - Sorriu.

Encarei o menino por alguns segundos. Seu semblante parecia familiar, só não me recordava onde já havia o visto. Enfim, sorri para o mesmo antes de sentar-me em meu lugar.

E perdida em meio as cenas do filme, só voltei a mim quando o tio pediu para trocar de assento. Atônita, demorei alguns instantes para assimilar tudo e então respondê-lo:

- Claro. Vai ser legal ir na janela. - Sorri me levantando.

Assim que me ajeitei, empurrei sutilmente o banco. Mas, visto que algo no tipo não era efetivo... Levei as costas da mão a boca e assoprei com força:

- PPPLLLLUUUUUUUU...

O som alto ressoou pelo avião. Se não fosse o suficiente para fazer o gorducho se mexer, eu prosseguiria assim que os demais passageiros olhassem em minha direção.

- Não bastava invadir meu espaço com o banco... - Digo em tom aborrecido.

Era divertido ver que as pessoas estavam bem. Talvez isso ainda fosse um sinal do distanciamento. Pois, assim que essa onda de novidade passasse, eles voltariam ao velho stress de antigamente.

Por fim, apenas afivelei os cintos e aguardei o avião levantar voo.

Mariana olhou o menino chorando por algum tempo... a familiaridade que ele trazia fazia um frio súbito percorrer sua espinha.
Era como se fosse uma lembrança ruim, mas esquecida, que se tornou apenas uma sensação.
Afivelou o cinto e fechou os olhos em uma respirações profundas e ritmadas, como tinha aprendido nas tantas terapias em que esteve... Suas mãos estavam frias e sua pele estava arrepiada com o calafrio que sentia.

Quando essas sensações a abandonariam? Será que isso aconteceria algum dia?

Olhou para o lado e viu a mudança de cadeiras entre Glaucio e Lana, dando um sorriso nervoso para eles, tão desfarçado quanto podia.

"- Achei que você ia dar um shoryuken na cadeira da frente... Mas não é tão valente sem a sua toa..." - Parou, sem entender porque estava dizendo aquilo...
"- Só não vá roncar e babar no meu ombro." - Avisou.

Colocou seus fones de ouvido e colocou nas orelhas para tentar abafar os barulhos do embarque ao som de Aerosmith.
Assim, ouvindo música, observou brevemente as pessoas no avião...
Alguns tranquilos, outros também nervosos e desconfortáveis...
Assim, seguiu pensando na vida, entre pensamentos aleatórios e flashs de coisas que não parecia ter vivido, mas que mesmo assim a perturbavam...

...

O som alto do sopro de Lana foi como um despertador, que acorda assustando.
Olhou para Lana segurando o riso quando entendeu a situação...
Percebeu então que ela não era a única ali que tinha problemas...

Decidiu que era melhor não se deixar distrair tanto assim, e no celular abriu o app de Candy Crush.