Os três grupos da caçada se juntam sobre a neve inesperada que enchia o chão em todas as direções. A estrada era um fio inconstante de luz em um mar de escuridão. A lua não aparecia no céu. As respirações formavam nevoas congeladas no ar. Os pés esmagavam os cristais de gelo frescos que afundavam muito. Os pés gelados mesmo dentro de botas boas. O ronco dos trovões distantes. As luzes de Dover a distância. O Mar longe demais para ser ouvido, mas o vento que vinha dele trazia o seu cheiro mesmo no frio congelante.
Os carros tinham ficado para trás cheios de tudo que alguém pudesse imaginar que fosse útil. Parentes tinham ficado para trás dentro deles. Alguns urathas os assistiam enquanto os grupos iam até os forasteiros. Quatro dos que caçam nas sombras já tinham o ritual preparado, um deles entoava palavras na primeira língua. Os outros três ensinam rapidamente o que cada uratha devia fazer. Era da natureza daqueles reunidos serem parte dos rituais.
A escuridão em volta deles fervia com terror. Os espaços entre os pensamentos eram tão escuros quanto o espaço entre as estrelas seriam. Dúvidas se espremiam entre as inseguranças. "Quantos vão morrer?" O irmão ao seu lado parecia procurar a mesma coisa. "Quem vai voltar?" Cada face ali queria retornar para aqueles que amavam. "Quem vai vencer?" Será que os outros tinham se planejado para a derrota deles? Iriam ficar? Fugir? "Quantas coisas iriam lutar junto com os puros?" As imagens de horrores sem nomes se formavam um atrás do outro. Dúvidas.
Além do que os olhos podiam ver era escuridão e medo.
As alcateias tem os últimos momentos para se despedir dos seus guerreiros enquanto cada um deles toma seu lugar no ritual. Cada abraço pode ser o ultimo. Cada separação permanente. O vento uivava entre eles espalhando frio. Úmido e congelante. Lagrimas e sorrisos queimavam rostos hesitantes ou completamente entregues. As emoções cordas retesadas entre eles vibrando com emoções grande demais para um corpo só.
O uivo dos lobos corta a noite e os urathas correm deixando marcas na neve. O espaço distorcido entre cada passo que levantava gelo. Um risco que todos tomavam juntos. Uma fila de carne e fúria levantando neve até os guias se separarem. Os grupos se separarem. Os músculos queimam com o esforço. As pedras escorregadias escondem quedas fatais. Quedas capazes de moer ossos e separas espinhas como uma criança descuidada despedaça um peixe bem cozido.
As luzes de Sparhall estão a frente dos olhos. A cidade distante com suas luzes fortes de aparência quente. Mais uma mentira daquela noite cheia de véus. Espelho e fumaça. Sombras longas e profundas. O outro lado agitado em uma guerra de proporções inesperadas. Caos estremecia a Sombra. Antecipação do que ainda estava por vir no mundo da carne.
Os lobos param. As patas firmes. O corpo quente e suado esfriando depressa.
"É tarde demais para entender isso." Era Nestor. Ele sabia que todos estavam esperando. Todos queriam falar também. "Aqui é onde a gente começa." Antes mesmo de dispensarem o que Caça nas Sombras ele já não estava em nenhum lugar.
"Vocês vão começar sem mim." Ele caminha enquanto fala, cada passo deliberado. Lento. Fazia a fera inflamada no coração dos outros tremer de raiva. As luzes da cidade brilhando nos olhos. "Eu vou fazer minha parte aqui. Vocês sabem a onde ir." Sabiam mesmo, tinham discutido isso antes mais do que qualquer um deles queria.
Rail e Shawn correm na frente. Eles tinham sabiam o caminho o tanto quanto poderiam. Amy e Connor esperam contando as respirações. Jenna aguardava atrás da sua alfa com as garras furando o chão de novo e de novo. Dentes expostos em um rosnado baixo. Ash andava de um lado para o outro. Cada passo uma batida de uma música que só ela ouvia. Era hora. Eles correm. Nestor fica para trás e é fácil saber o porque. O céu se ilumina com relâmpagos minutos depois. Nas ruas a névoa fica ainda mais densa. A chuva começa antes mesmo de eles alcançarem a fronteira com os puros. Dois grupos correndo para o mesmo lugar.
Todos podiam ouvir o helicóptero de resgate lutando contra a fúria do vento, a promessa de uma tempestade. Contra todas as expectativas a lua tinha arranjado um espaço no céu pra brilhar como fogo prateado nos olhos dos urdagas. A presença de Agdamos era inebriante. Era quente e encorajadora. Fazia as sombras assustadoras nada mais que inconvenientes. Fazia dos Anshega algo tão esperado quanto o enlace de amantes.
A civilização estava perto demais. Debaixo das patas podiam sentir que o concreto tomava o espaço da grama congelada. Era hora de mudar de estratégia. Era onde o perigo realmente começava. A fabrica de sapatos era cheia dos vigias deles. Podiam derrubá-los e ter certeza de mais alguns minutos fora do radar. Podiam ignorá-los ou até dar a volta para tentar continuar incógnitos. Eram um contratempo, não mais que isso. Uma pedra no caminho deles.
"Acho que dá pra passar sem ser visto." Shaw dizia como um lobo faria.
"Melhor nos livrarmos deles agora do que dar as costas para treinarem tiro ao alvo." Ash queimava de raiva.
Connor tinha ficado com decisão. Eles discordavam, uma balança parada esperando qualquer toque para se mover.