Um sorriso felino se desenha no meu rosto. Ivano justificava sua estadia nos EUA, afinal.
Casualmente, busco uma taça em algum bar do apartamento, e faço um corte pequeno, mas preciso, em um dos pulsos, deixando verter algum sangue - mas não muito - nela. Ivano deveria saber que, naquele momento, tinha superado o desafio proposto e, como de costume,
merecia um pequeno agrado.
E que agrado melhor que a vida eterna?
Quando julgo que a taça estava suficientemente cheia, fecho a ferida com uma rápida lambida, e a ofereço ao carniçal.
- Compreendo, mestre Angelo. Para mantermos nossos negócios de fachada em ordem e fora dos radares das autoridades, podemos explorar uma estratégia de diversificação de ativos. Poderíamos investir em algumas empresas locais de pequeno porte, adquirindo participações que nos permitam influenciar os negócios e direcionar os lucros para nossos interesses. Isso ajudaria a justificar nossos ganhos e consolidaria nossa presença na área, criando uma fachada sólida.
Muito bem. Mobilize sua equipe para identificar empresas locais que possam atrair investimentos razoáveis sem levantar muitas suspeitas. Por ora, não quero que você atue diretamente, ou apareça de forma ostensiva. Nossos tentáculos precisam estar bem fixados antes que o pessoal daqui entenda quem está pagando a conta e o quanto custa não realizar lucro. Seja discreto.
Antes que ele tome o presente, recolho a taça, disparando ao servo:
Mas você só atentou a metade da questão...
Afastando-me de Ivano, procuro um sofá, confortável, no qual me sento, balançando a
vitae na taça, como que decantando um bom vinho.
E quanto aos nossos rivais? Quem são e qual o seu plano para que sejam menos incômodos?
Outra armadilha, desta vez um pouco mais cruel. Eu sabia que os sentidos do mortal ficariam aguçados com o mero cheiro do sangue, e sabia que Ivano gostava de se distrair. Será que ele manteria o foco e conseguiria a recompensa pelos bons préstimos? Eu estava curioso.
Independente do que ele respondesse, eu mesmo já tinha em mente que o caminho para lidar com a concorrência era me desfazer dela, e isso implicava em direcionar ativos
sujos, por meio de laranjas, à compra gradual de ações dessas companhias adversárias. Se as autoridades financeiras americanas estivessem desatentas, lentamente eu formaria o monopólio do que quer que fosse interessante nos EUA. Se, por outro lado, percebessem a movimentação estranha, uma fatia razoável dos ativos da concorrência estaria sob suspeita e o próprio nome empresarial delas, prejudicado.
Eu ganharia de qualquer forma.
Uma vez mais, antes que Ivano pudesse responder às minhas questões mais mundanas, continuo a conversa, agora sobre Valentina:
- Valentina Albertini é uma Hecatha, o que significa que ela pode ter conhecimentos e recursos consideráveis relacionados ao ocultismo e necromancia. Saber mais sobre ela pode ser desafiador, mas poderíamos investigar seus antecedentes e possíveis conexões na cidade para obter informações valiosas. Além disso, poderíamos tentar estabelecer uma rede de contatos discretos na corte, observando seu comportamento e movimentos de perto.
Hecatha, hein? Eu não gosto de me prender a estereótipos até ter certeza de que eles se confirmam. Vamos ficar de olho nas movimentações dela e em como podemos explorar qualquer brecha que ela deixe. Por ora, estou disposto a conceder alguns favores, tanto a ela quanto a qualquer outro nobre cidadão desta cidade.
Só então silencio, enquanto encaro Ivano - um tigre diante de um ratinho.