Capítulo 2 - Uma Viagem pela Escuridão

Sean manteve o olhar fixo enquanto caminhava, com o passo firme e silencioso, os olhos de tigre espreitando a penumbra da caverna. Sua mente estava um tanto agitada, dividida entre o sentido de dever para com a matilha e a consciência de sua própria natureza como Raksasha. Ele era o único entre eles que carregava esse sangue; sua essência misturava o poder das feras com a inteligência astuta dos antigos espíritos. Ser um Raksasha o separava de seus companheiros, mesmo quando ele se esforçava para se sentir parte do grupo. Ser o único homem-tigre no meio de uma matilha de lobos sempre o fazia questionar onde exatamente ele pertencia.

Quando Lynxs provocou, ele lançou um olhar avaliador, percebendo o tom brincalhão, mas também o entendimento por trás da pergunta.

— Escondidos? — Sean murmurou com uma nota de ironia, enquanto um sorriso sutil cruzava seu rosto. — Nunca me escondi antes.

Sua voz era baixa, nem notou que sequer era humana, mas cada palavra parecia carregar um peso, ressoando na caverna com firmeza. Havia algo reconfortante na sensação de prontidão ao redor e a lua que viu,mas suas palvras eram cheias de mentira. Ele estava sempre se escondendo em grupos e sempre mais sozinho do que nunca.

Enquanto Sean caminhava pela caverna ao lado da matilha, uma nova pergunta pairava em sua mente, mais forte que as outras. Ele se perguntava sobre Bastet, a deusa-gata do antigo Egito que Lynxs citou como sendo um tipo de raça, e se ela poderia ter alguma relação com Danu que sempre lhe foi curiosa.

Seriam essas forças distantes, de tempos e culturas diferentes, de algum modo conectadas? Bastet, com sua proteção e agilidade felinas, e Danu, com a força ancestral das águas e da terra… seria possível que ambas partilhassem alguma essência, algum elo secreto que ele, como se ele fosse um Raksasha e único homem-tigre entre os lobos, pudesse compreender?

O pensamento o inquietava. Seu olhar vagou até o gato de piche que se movia furtivo ao lado da matilha, quase como uma sombra viva. Esse felino parecia saber tanto sobre os Garou — os costumes, as hierarquias, as lendas — e ainda assim, permanecia estranho aos detalhes do mundo humano. Por que, afinal, um ser que parecia ter o conhecimento dos lobos não entendia o básico da vida humana? Como ele podia circular com tanta facilidade entre lendas e mistérios sobrenaturais, mas ficar em branco sobre coisas simples, como cidades, comida, ou até o que era um mercado?

Sean se perguntava se esse gato de piche também carregava em si um traço das forças de Bastet ou Danu, se talvez estivesse destinado a guiá-lo entre esses dois mundos que ele mesmo mal compreendia. Entendia que aquele felino estranho que foi achado pela ruiva certamente estava longe de ser uma fonte segura de conhecimento.

E simplesmente andava, tentando deixar os demais na frente, como sempre se ocultando sobre o que sentia diante de todos.

Sean sentiu uma ponta de ciúme ao ver Luke falar com Boudicca. Ele observava o grupo e o terreno à frente, com o olhar fixo em Lynxs, que até agora vinha mantendo um ar cauteloso em relação ao gato de sombras. No entanto, Lynxs não parecia assustado como os outros, pois normalmente era bastante treinado em ocultar o que sentia e alguma coisa na lua que viu ao brilhar parecia o ter feito ronronar como uma fera.

E felinos precisavam estar unidos, ao ouvir falar sobre Gaia da boca do companheiro de viagem, ele resolve aproximar dele para entender melhor o que esta havendo.

“Ei, Lynxs, você já enfrentou esse tipo de coisa antes, certo? Então… o que você sugere? Qual seria a melhor ideia pra passar por essas aranhas ?”

Comentando esperando alguma ideia da criatura para serem furtivos.

Sean, com sua característica calma que parecia indiferença ou preguiça, deu um passo à frente, sua voz firme mas respeitosa ao responder a Boudicca:  

— Entendo sua preocupação comigo, Boudicca, e sei que você quer tomar a dianteira para proteger a todos, especialmente a mim. Mas precisamos considerar algo importante.  

Ele olhou para Lynx, indicando o felino com um gesto de cabeça.  

— Lynx conhece esse lugar de escuridão melhor do que qualquer um de nós. Seus instintos, sua experiência aqui, são nossas melhores armas agora. Se vamos evitar as aranhas e encontrar um caminho seguro, ele deve liderar, e nós devemos seguir o ritmo dele.  

Sean inclinou ligeiramente a cabeça, seu tom suavizando enquanto tentava apelar ao lado racional de Boudicca.  

— Você é forte e determinada, e ninguém aqui duvida da sua capacidade. Mas liderar também significa confiar nas habilidades dos outros. Vamos deixar Lynx nos guiar por este território que ele entende tão bem.  

Ele fez uma pausa, os olhos buscando os dela, com um respeito inabalável em seu olhar.  

— Assim, poderemos cuidar uns dos outros como uma verdadeira equipe.  

Sean recuou um passo, esperando a reação de Boudicca, mostrando com sua postura que estava disposto a seguir a decisão dela, mas confiando em suas palavras para fazê-la reconsiderar que também Sean estaria ali para defender os demais. Na verdade sinistra que passava na  mente do rapaz é que ele talvez ele havia dito o mesmo que ela, mas pretendia incomoda-la e desestabiliza-la parecendo que ele não foi ouvido ao dizer algo diferente, mesmo naquele momento difícil queria quebrar com a submissão à ela ou ao policial que parecia querer se impor e fortalecer o "Poder Felino" mesmo com ela sendo gentil em seu juramento de defesa tanto quanto não fazer parecer para ninguém ali que ele era um mero fardo por seu tamenho.