Capítulo 2 - Uma Viagem pela Escuridão

Sean se sentia completamente desnorteado. O ambiente ao redor não fazia sentido algum – teias de aranha gigantes, cachoeiras misteriosas, e aquela sensação de que algo estava terrivelmente errado. Sua mente tentava processar tudo, mas havia uma lacuna imensa entre o que ele sabia e o que estava vivendo agora. E então, um flash de memória: acordar quase nu, seu corpo colado ao de Boudicca, que ainda parecia desacordada sob ele. Aquilo não podia ser real, mas ele sentia o calor da pele dela, o som de sua respiração.

Ele se forçou a focar no presente.

— Caiomhe, o que está acontecendo? Eu... eu não lembro de como chegamos aqui.
Tentava se controlar, apesar de voz estava carregada de confusão e um leve toque de pânico.
Apesar de sempre se mostrar indiferente, o que gerava na patricinha uma raiva aparente era como um deus tivesse concordado com ela o chamar de songo.

No fundo de sua mente, um pensamento persistente não o deixava em paz. Amber. Onde estava Amber? Ele se lembrava dela, mas os detalhes eram nebulosos. O que havia acontecido com ela? Ele tentou juntar as peças, mas tudo parecia escorregar por entre seus dedos, como um pesadelo que ele mal conseguia recordar ao acordar.

"Amber... onde você está?"

Sean pensou, enquanto observava o estranho cenário ao seu redor, tentando desesperadamente encontrar alguma lógica na loucura.

E a sensação de afeição pela garota que ele viu falecer diante de monstros sem sentido e esse policial estranho que apareceu e virou um monstro...
Mas... ele também não era um monstro?

Apenas esperava a garota descer e tentava não olhar pelos trajes sumários quando ela estava em caixas altas... tentava pensar com naturalidade, mas não conseguia, imaginava se era tudo um sonho que misturava um desejo por Amber e pela colega de sala... E se era real ou se não estava ainda dormindo em sua cama.

Mas havia dor... e seu corpo dolorido ele movia ignorando a insanidade e tentando saber por onde ir de acordo com o que Boudicca lhe dizia.

Sean observava Luke se transformar, seu corpo enchendo-se de músculos e pelos enquanto a figura monstruosa do lobisomem emergia. Ele sentia o impacto daquela mudança, mas seu foco estava dividido. Seus olhos, mesmo que de relance, procuravam Boudicca. Havia algo nela que o atraía, algo que o fazia querer estar ao lado dela, protegê-la, mas ele sabia que não podia demonstrar. Não agora. Não com Amber em sua mente.

Seu coração batia rápido, não só pelo que estava vendo, mas pelo conflito interno que o corroía. Estava cercado por lobisomens, cada um com sua própria força e instinto, mas ele era diferente. Sabia que podia se transformar em um tigre, sabia que tinha a força e a agilidade para proteger o grupo, mas também sabia que isso significaria perder ainda mais de si mesmo, de sua humanidade. E, talvez, do pouco que ainda restava de sua sanidade.

Ele olhava para os trajes rasgados de todos, inclusive os seus. Era um lembrete doloroso de sua fragilidade e do perigo constante em que estavam. O que restava de suas roupas mal cobria suas cicatrizes e músculos. O pensamento de se transformar o fazia hesitar; uma transformação significaria rasgar o pouco que restava de suas roupas, deixando-o ainda mais exposto – física e emocionalmente.

Sean sentiu o olhar de Boudicca sobre ele por um breve momento, antes que ela se afastasse. O comentário sarcástico dela sobre Luke ressoava em seus ouvidos. Ele sabia que ela era forte, que não queria mostrar fraqueza, mas ele podia ver a vulnerabilidade por trás daquela máscara de coragem. Queria ir até ela, queria dizer que estava ali para ela, mas as palavras não saíam.

Seu olhar se endureceu, decidido. Boudicca não precisava saber o que ele sentia, não agora. Precisava manter o grupo unido e focado. Com um suspiro, Sean se preparou, sabendo que, se fosse necessário, ele também se transformaria – não por Luke, não por Amber, mas por Boudicca, mesmo que ela nunca soubesse.

Ele ajustou o pouco que restava de suas roupas, sentindo o tecido contra sua pele como uma última linha de defesa antes do inevitável. E, então, ele começou a seguir o grupo, mantendo-se em forma humana, mas sempre pronto para deixar a fera dentro dele emergir, caso fosse necessário.

Ver Boudicca se irritar , de alguma forma , o motivava a continuar.
Simplesmente caminhou a frente dela, passando-a, sem responder nenhuma tentativa dela de tornar-se a grande líder.

Sean não dava simplesmente passagem, apenas ficava do lado dela sutilmente enquanto ela andava apressada, ombro a ombro mas a deixando pensar que comandava tudo, o que não lhe pareceu dificil.

—Relaxa, rainha... Só estou na dianteira, não estou evitando de te seguir...só de você se ferir... digo... Melhor eu ir na dianteira... Eu...Era maior que vocês...Não?

Comentava em um ato falho que deixava escapar que estava preocupado com ela, ainda tentando a acalmar ao mesmo tempo que ainda queria processar a condição que todos pareciam aceitar com naturalizade , mas ele mesmo começava a tentar questionar, aquele mundo era tão aleatório e o fato de que Boudicca parecia estar querendo chorar.

Ele não ficou perdendo tempo com apresentações com os dois não lhe eram muito familiares, até que Luke poderia ser parte de algum grupo de torcedores que ele não conhecia... Mas nada disso era relevante, eram todos monstros em um mundo sem sentido ou apenas estavam alucinados?

—Será que essas teias de aranhas ...quero dizer, vocês estão vendo a teia de aranhas ou é parte da alucinação? E são tantas teias e não vi nenhuma...quantas delas precisariamos para tanta teia?

Acreditava estar saindo para o mesmo porto, tempos depois pensou se de fato o que eram aquelas mudanças corporais todas, elas aliás continuavam acontecendo e o que mais deixava curioso. Em seu estômago o turbilhão de emoções conflitantes em querer irritar Boudicca e chamar sua atenção sem perder sua postura indiferente começava a se desmanchando em expressões mais empáticas com o grupo estranho com quem trocou golpes...

Golpes? Todos eles tinham garras, eram cães...E ele virou um Rakashasa...
E por que ninguém esta falando sobre a estranheza disso?

Ele apenas caminhava, pensando se talvez fosse o ideal fazer o mesmo e se modificar...
Certamente isso era algum tipo de espírito... Havia alguma coisa além da explicação das mentes inglesas e sua ciência industrial limitada.

Ele e os demais certamente eram Rakshasa (em português, raxasa) é uma raça de seres mitológicos humanoides ou espíritos malignos na religião Budista e Hindu.[1] O nome vem do sânscrito "raksha", pedir proteção, já que eram seres tão horripilantes que induziam, a quem quer que se deparassem com eles, a pedir proteção.

Em outro momento ele pensava se todos eram parte dos Tuatha Dé Danann, "o povo da deusa Danu ", que seus ancestrais contavam também habitam o Outro Mundo , mas interagem com humanos e o mundo humano. Eles são associados aos sídhe.

Ficava pensando se eles eram seres abomináveis, canibais e de mente perversa como Rakshasa que se alimentam de carne humana ou todos ali eram monstros ou meros Pokkies com habilidade de se transformarem e outras coisas...

Rakshasas se alimentam de carne humana e os Tuatha são seres com habilidade de resistir à morte em si por serem deuses...
Seriam todos eles... algo desse tipo?

Mas nenhum deles além de Sean era irlandes ou indiano...E Sean...era os dois... Seria aquilo alguma revolta espiritual diante da força inglesa e seu cristianismo em tentar deter as forças do sobrenatural das colônias onde seus pais nasceram?