A Matilha

Com um olhar inflexível, os Garou se estabelecem como um predador de ponta, fazendo com que humanos ou animais se acovardem ou se submetam. Outras criaturas sobrenaturais são menos propensas a ceder, mas mesmo elas podem ser abaladas pelos olhos ardentes de um lobisomem. Um lendário espírito de lobo concede este Dom.


Sistema: Este Dom pode ser usado em qualquer humano ou animal, dentro de dois metros, com quem o Garou possa estabelecer contato visual. O Dom é bem-sucedido automaticamente em humanos e animais mundanos e faz com que o alvo saia do caminho do lobisomem enquanto desvia os olhos, se não rastejar completamente. Criaturas sobrenaturais e humanos cientes dos Garou e seus poderes não são afetados, a menos que o jogador ganhe um teste de Carisma + Honra vs Compostura + Determinação. Um sujeito pode ser alvo deste Dom apenas uma vez por cena, e o Dom não pode ser usado durante um conflito físico. Este presente pode ser usado de qualquer forma

O usuário do Presente paira sobre o assunto e faz uma pergunta, sua voz infundida com ameaça e a promessa de punição rápida. Pelo cheiro do sujeito, o usuário pode dizer se o sujeito acredita em sua própria resposta ou não. (Observe que a vítima ainda pode se recusar a responder.) Um espírito de verdade concede este Dom.


Sistema: : Nenhum teste é necessário para um humano que desconhece os Garou ou seus poderes. Outra criatura sobrenatural ou um humano com experiência anterior do Garou pode tentar resistir ao efeito, caso em que o jogador do usuário deve vencer um teste de Carisma + Glória contra Compostura + Subterfúgio.

Os danos sofridos em combate corpo a corpo pelos Garou redundam em seu agressor, administrando justiça instantânea. Um espírito de ouriço concede este presente.

SISTEMA: Ao receber dano de uma briga ou ataque corpo a corpo, o usuário pode fazer um Teste de Fúria para causar imediatamente dano superficial igual à sua Glória no atacante. O dano não pode exceder a quantidade sofrida no ataque original.

- Tá bom. Não precisa ficar nervoso. É só um registro pra você pegar sua licença de detetive, tá? Normal. E... parabéns pelo cargo, cara!

- Ah, de boa. Valeu! É que não gosto muito de ser o alvo das perguntas. – Caleb disse enquanto dava um meio sorriso que logo se desfazia.

O responsável pelo registro continuava:

- Nome?

-Caleb Gylleham. – nome de fachada. Ninguém se deu o trabalho de lhe dar um nome completo. Para viver entre essa galera da cidade, se virou para arranjar um.

- Idade?

-Vinte. – respostas não tão verdadeiras que estavam na ponta da língua.

- Olha, vinte e poucos anos é bem novo pra sua profissão! Como é que você chegou aqui tão rápido?

Caleb deixou um risinho fugir. Imagens de sua infância apareciam em sua mente. Pareceu viajar por alguns minutos.



Lembrou-se de como nasceu e logo fora arrancado dos braços de sua mãe. Como em um sonho ruim, lembrava-se dos gritos e uivos de sua genitora e das outras Fúrias Negras. Sentia o odor de suor e choro enquanto sua mãe era assassinada e ele, poupado em uma tribo que matava quase todos nascidos de sexo masculino.

Poupado ainda pelos feitos de seu pai. Um Garou que ele sequer sabia o nome, que tinha uma linhagem de sangue forte. Caleb sempre ria de desgosto ao lembrar disso. Em uma Tribo de Fêmeas, fora o homem que o salvou da morte. Nem sequer um homem, mas a história que ele trazia.

Por conta dos pecados de seus pais, desde muito cedo aprendeu a se virar. Aprendeu a como não ser tão odiado por pessoas que pareciam detestar tudo que ele não podia mudar: sua circunstância de nascimento e seu sexo. Francamente, que mundo de merda. Sorte a dele que ele era inteligente e sabia viver nesse mundo de merda. Pelo menos era esperto o suficiente para não ser tão odiado. De fato, por ser considerado um fardo, muitas pessoas contavam as coisas para ele. Quem iria se importar com o que um Impuro ouvia ou sabia? Não naquela Matilha. E pra sorte delas, ele guardava segredo. E descobria muitas coisas juntando alguns segredos com outros segredos. Encontrava o que não podia ser encontrado, juntava os pontos e ajudava como podia. O trabalho dignifica o homem. Nesse caso, deu uma vida menos pior a Caleb.

E foi nessas conversas secretas e ligação de pontos que conseguia contatos com as mais variadas pessoas, desde viciados e prostitutas a pessoas de altos escalões.  A vida era isso. Os iguais se ajudavam e o ódio se espalhava por quem era diferente. A gente tenta disfarçar, mas é algo inerente a qualquer animal. Os inteligentes sabem fingir melhor.

Por fim, acabou por dar o fora assim que houve sua primeira transformação. Virou-se pelo mundo dos humanos. Pelo menos lá eles não odiavam com tanta facilidade. Não os como ele.

Conheceu gente doida e gente interessante. Gente feia e bonita. Gente que o ajudou a chegar onde estava e gente que atrapalhou.

E até hoje, andava por aí pelo mundo dos humanos. Também visitava ainda sua antiga casa. O lar é o lar ainda, por mais odioso que fosse. Sentimentos eram coisas estranhas mesmo.

Tentava apenas achar um motivo para viver naquele mundo. Entender porque essa merda toda aconteceu justamente com ele.



Ouviu alguém pigarrear.

O cara ainda olhava Caleb, esperando resposta. Este apenas sorriu e coçou o nariz, pensando que a resposta era outra ironia.

-Vamos dizer que tenho bom faro.