– Não se preocupe, querido… – Fiorella colocava uma das mãos no antebraço de seu companheiro e se aproximava levemente do ouvido deste, segundos antes da chegada do quarto componente d'A Família – Um pouco mais de sujeira não nos fará mal!
Logo Anita chegava e mal conseguia disfarçar seu nervosismo dos demais, principalmente de Nikolai. Mas a giovanni aos poucos parecia ir se acalmando e retornando ao seu sereno estado de costume. Dava alguns últimos tragos em seu cigarro e, antes mesmo que este chegasse ao meio, o esmagava contra o fundo da porcelana cinza do cinzeiro utilizado pelo colega que também era fumante.
– De fato, Nikolai, uma conversa para mais tarde.. – apontava para as laterais do palco, onde uma movimentação parecia acontecer – Parece que a ação vai começar! – finalmente acomodava-se, sentada junto aos demais.
Num gesto sem muita razão, o necromante vira rapidamente a cabeça para os fundos do salão e percebe que, praticamente no começo do conclave, Rocco entrava acompanhado por uma meia dúzia de membros e arrumava um lugar relativamente próximo aos demais giovannis. Notando o olhar de Nikolai, este dava um leve aceno, mas logo se voltava para Giulia, que lhe cumprimentava e tomava um lugar a seu lado.
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– Os Tremere? – bebericava um pouco de seu copo – Não posso dizer o que aconteceu exatamente, ou quem são os culpados. Mas, um pouco de prudência seria bom, principalmente ao levantar possíveis acusações ao Clã Tremere – uma resposta esquiva – Acho que aquilo ali pode responder sua pergunta quanto ao conclave… – mudava de assunto apontando para uma agitação que acontecia ao lado do palco, como se estivessem preparando o momento de levantar as cortinas – Acredito que devamos tomar nossos lugares – a italiana dizia e já se punha a andar.
Logo Giulia sumia entre os presentes, provavelmente indo ao encontro dos demais giovanni que a pouco haviam entrado na suntuosa galeria subterrânea. Ginger se via outra vez sozinha e com uma rápida passada de olhos pelo local podia concluir que Ingrid ainda não devia ter chegado; a cainita sentia-se compelida a sentar, como todos os outros ao seu redor começavam a fazer, e ao menos que quisesse permanecer sozinha o lugar mais “acolhedor” parecia ser ao lado de alguns brujahs conhecidos na penúltima fila.
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– Bonsoir, ma petit – a familiar e acolhedora voz ao outro lado da linha respondia – Vou bem, e a senhorita? – continuava em francês.
Aos poucos, Claire e Marie iam se aproximando da casa noturna que servia de fachada para o Elísio. Os poucos cainitas do lado de fora pareciam todos se apressando em entrar, talvez o conclave estivesse prestes a começar.
– Estou no local da reunião – a voz de Pearl saía baixa, graças ao péssimo sinal no subsolo – Creio que começaremos em alguns instantes! – alertava, confirmando a intuição da malkaviana ao ver outros vampiros se adiantando – Bem, o sinal está péssimo e você parece estar num lugar infernalmente barulhento; entrando na boate, espero. Enfim, encontre-me aqui embaixo numa das primeiras fileiras da direita! – esperava alguns instantes pela confirmação – Até logo, querida!
Situado entre dois tradicionais bares da cidade estava a Masque Rouge, com sua imponente fachada remanescente da colonização francesa parecia rodeada de um número muito maior que o costumeiro de frequentadores, com dezenas de grupos reunidos às portas, pessoas brotando dos quatro andares de sacadas e uma quilométrica fila. Claire e Marie logo apresentavam seus nomes ao carniçal responsável pela entrada VIP e tinha sua entrada liberada.
Após passarem entre um sem fim de mortais que dançavam em êxtase ao som da música eletrônica, a brujah e a malkaviana passavam por mais um carniçal e, por fim, tinham acesso ao mezanino privado cercado por vidros fumê que impediam o som de entrar. No ambiente reservado, um jazz suave preenchia o ar e as poltronas de couro dispostas ao redor de seis grandes mesas de madeira pareciam ter sido desocupadas a muito pouco; o ar era uma mistura de fumaça de charutos e perfumes caros, confirmando tal suposição. Logo após essa antessala, vinha uma imensa escada ligada ao primeiro nível inferior da construção.
– Cheio… – a brujah resmungava para si mesma enquanto entravam na gigantesca galeria que sediava o conclave – Desnecessariamente cheio…
Claire, do topo da escada, avistada Pearl numa das primeiras filas do salão, rodeada por alguns cainitas, mas com dois assentos vagos a sua esquerda; como se já soubesse que sua pupila viria acompanhada da inseparável amiga. Amiga que, por sua vez, se apressava em puxar a malkavian até os lugares; o conclave parecia prestes a se iniciar.
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– Qualquer ladainha dessa em francês pra você também! – ouvia a voz do senescal se perdendo aos poucos no corredor, conforme esse se afastava em passadas vigorosas.
Novamente, era apenas Maurice e sua “amável” guia. Esta logo se adiantava em seguir na direção oposta a que o irlandês tomará, obrigando o gangrel a segui-la. A porta fechava-se sozinha após a saída de ambos.
– Ya!? – a alemã virava-se rispidamente para o cainita ao seu lado, como quem dizia; “você realmente está puxando assunto?” – Como diabos espera que saiba!? – virava-se carrancuda outra vez para a frente.
O resto do caminho era silencioso; com a harpia cortando rapidamente qualquer tentativa de conversa. Logo se embrenhava por uma imensidão de corredores labirínticos ascendentes e saia para o ambiente bem mais iluminado e fervilhante da galeria superior. Maurice agora via-se abandonado pela guia, que seguia de volta por onde haviam vindo sem ao menos se despedir, e ao seu redor meia dúzia de carniçais pareciam conferir alguns últimos detalhes na mesa de som ao lado do palco. O gangrel imaginava que fosse hora de se sentar; o único rosto conhecido numa olhada rápida pelo salão estava sentado desacompanhado na primeira fila, e lançava um leve aceno convidando-o a tomar o lugar vago ao seu lado.
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“Vai levar alguns minutos; nada conclusivo na surface, vou vasculhar a darknet.” era o que dizia a tela do smartphone do nosferatu. Costumeiramente, era difícil encontrar qualquer coisa de membros com mais de três décadas de abraço na surface web; esses raramente eram chegados a qualquer tipo de meio digital.
– O que!? – o toreador engolia em seco e lançava a pergunta de forma retórica, mais para ganhar tempo de raciocinar sobre o assunto – Não consigo pensar em nada que possa chegar a me prejudicar.. – Mentira – Mas nunca se sabe; ambos eram próximos a mim e já compartilharam muito da minha vida pessoal! – dizia de maneira polida, porém hiperativa, com ares de quem não queria se estender muito num determinado tópico.
O clima desagradável logo era quebrado com a nova série de perguntas, que Louis tratava de responder da melhor forma que podia. Vincenzo logo tratava de se desculpar – com direito a toda dramaticidade dos italianos – o melhor que podia por ter feito uma pergunta como estas para um informante, concordava com o princípio de proteção a fonte.
– Quanto ao Príncipe… – a justiçar dava um leve acesso de tosse, chamando a atenção para si, e interrompendo o falatório do companheiro – Eu trato com ele; você se importa de lidar com o desagradável senescal, Vincenzo?
– De maneira alguma – o toreador respondia distraído, consultando o rolex em seu braço – Bem, creio que devemos ir. Louis, acompanhe Luna a um dos camarotes e irei encontrá-los após a abertura do conclave – já se levantava, abotoava o terno grife e caminhava até a porta – Até breve! – despedia-se dos dois ocupantes da sala de longe, com um leve aceno, e saia pelo corredor deixando a porta aberta.
– Bem… – a malkaviana se punha de pé da poltrona num salto e abandonava o livro jogado sobre a mesa temporária de Vincenzo – Vamos, Louis! – passava pelo lado do nosferatu, tocando-lhe o ombro num convite para que este a seguisse.
A cainita de aparência púbere ia andando descalça pelos corredores, com o semblante fechado como se amarrasse em sua cabeça todas as informações que acabará de receber. Vez ou outra ela deixava escapar um ou dois sons incompreensíveis, mas pedaços de frases desconexas e sem sentido aparente transpareciam que Luna parecia conversar com alguém; as vozes em sua cabeça, talvez, quiçá a lendária Rede de Loucura.
– Aqui estamos! – interrompia subitamente o estranho “silencioso” após subirem uma escada circular construída dentro de uma das paredes, empurrava a porta na frente dos dois revelando um amplo camarote – Acomode-se, Louis – ela mesma se deitava num divã.
O camarote era amplo e luxuoso; dois divãs intercalados por três poltronas forradas em fino linho carmesim posicionavam-se próximos a um parapeito alto. Lá embaixo, uma multidão de cainitas acomodando-se em seus lugares. Uma mesa com algumas taças de vitae posicionava-se estrategicamente a frente dos assentos.