[Eun-Ji] Prólogo

Os dias se passavam e Eun-Ji gostava cada vez mais de suas aulas com a senhora Bora e a professora de música. Era tudo tão maravilhoso e escondido, que as vezes ela se sentia uma criminosa, mas levando em consideração as várias vezes que teve que "ficar de castigo" talvez ela fosse mesmo um mau elemento. Se sentia triste com esse sentimento, mas tudo valia a apena quando ela entrava na sala música.
Obviamente sua mãe estava furiosa com o mau comportamento da filha na escola, só não era pior porque ela tirava boas notas apesar tudo. Mesmo assim, Jeong deu uma surra na última semana, quando ela foi para detenção pela última vez.

A senhora Bora fez a inscrição de Eun-ji em um concurso de talentos e convenceu a jovem a participar, ela relutou várias vezes por não se considerar pronta e por medo da mãe e dos avôs, mas acabou concordando. Seria divertido.

Diversão: pela primeira vez em sua vida ela conhecia a sensação dessa palavras. Estava feliz.
Como ela não tinha TV ou acesso a computadores - a não ser na biblioteca - ela não sabia muito bem o que estava acontecendo, só quando a senhora Bora mostrava vídeos no Youtube ou manchete nas revistas e jornais em seu celular é que ela sabia de alguma coisa.

- Ah senhora Bora - disse em uma das vezes que a encontrou pelos corredores da escola - acho que eles não vão me aceitar. Sou bem sem graça mesmo.

Os dias se passavam e os colegas de sala de aula não ajudavam em nada a estima da moça a se elevar. A cada dia pioravam as agressões verbais contra ela. O que ela tinha de errado? Seu cabelo e olhos claros? Seu pai morto e chinês? Sua religião bizarra? As Idols tinham cabelos bizarros e ela não precisaria pintar. Ela não era a única sem um pai, ter pais divorciados era muito pior. Ela não era a única mestiça na escola, então porque? Não entendia.
Há várias semanas vinha suportando aquilo e guardando para si, mas foi durante a aula de matemática que as coisas pioraram. Risadas e bolinhas de papel contra ela foram a gota d'água no momento e a jovem ruiva explodiu. Respirou fundo antes de se virar rapidamente e arremessar seu pesado caderno contra a cara de Jeannie e cuspir na cara de um dos garotos mais próximos que a perturbavam.

- Pára! - disse para a garota que ria. Como ela detestava quando perdia a calma daquele jeito, ela apenas saiu correndo da sala, sem esperar qualquer reação do professor e correu para o telhado do colégio, um bom lugar para ficar em silencio por alguns minutos. Precisava se acalmar.

- De novo! - socava sua perna - perdi a calma de novo. Por que... por que eles não me deixam em paz!?


Ela retirou do bolso do uniforme um recorte de revista tão amassado que quase não dava para ver a imagem, era de seu grupo favorito que a encantou na primeira vez que escutou uma música na vida. Rasgou a imagem deles de uma revista que estava na sala da senhora Bora, na primeira vez que foi para a detenção. Enquanto aguardava por ela, ela folheou a revista (que também foi a primeira vez que via uma revista de entretenimento) e leu uma nota sobre o grupo. Se encantou por conhecer o rosto de seus ídolos pela primeira vez. Rasgou a imagem e rapidamente o enfiou no bolso segundos antes de Bora entrar. Depois, quando já estava em suas aulas, Bora mostrou um vídeo deles em seu celular e definitivamente se encantou. Depois disso passou a se dedicar mais em suas aulas, sabia que se entrasse para o concurso poderia ter a chance de conhece-los pessoalmente.

- Eu vou conseguir - e guardou o recorte no bolso outra vez.

A senhora Bora tinha uma confiança extrema na garota e não importava quantas vezes ela demonstrasse insegurança, ela sempre estava lá, como a mãe que merecia ter, dando um sorriso misterioso acalentador e balançando a cabeça negativamente.

- Temos centenas de alunos nessa escola. Na minha vida, pode imaginar quantos mais eu pude encontrar. Acha que eu não saberia reconhecer uma pessoa especial quando vejo uma?


Era o que dizia. O que a orientadora sabia, mas a menina ainda não era capaz de entender, era o verdadeiro motivo de ser odiada na escola. Um deles atingia agora o nariz achatado de Jeannie, que soltou um berro, fazendo com que metade das cabecinhas que tinham se virado contra ela engolisse em seco. O batalhão pessoal da patricinha começou a gritar de forma estridente, massageando o próprio nariz como se tivesse acontecido com elas.

- AI MEU DEUS, NÃO

- JEANNIE

- PAREM JÁ COM ISSO! - o professor quase deixou os óculos caírem balançando o rosto para todos os lados tentando conter a algazarra, mas sua voz não era mais alta do que a do restante.

- Sua cadela!  - xingou a garota que sempre usava uma faixa de cabelo.

O garoto fez um gesto com a mão, para impedi-la, e seus olhos aterrorizados foram um prêmio delicioso para a personalidade explosiva da menina, pelo menos naqueles segundos. Os alunos em volta murmuraram estupefatos. Quando a garota passou pelo corredor, o próprio que tinha sido cuspido ainda tinha a mão no rosto, com profundo nojo. Seus amigos é que tiveram que apoia-lo e quando ela passou, sentiu que três deles se levantaram.

- QUER MORRER?-  ouviu o grito em suas costas.
- Senhorita Wong - chamou o professor, irritado com a baderna em sala.

E o último foi um grito do fundo da garganta que uma das meninas soltou de profunda raiva. Provavelmente era Jeannie, mas os pés dela não pararam. O corpo dela só lhe dava ordens imediatas e a adrenalina só passou quando ela estava sozinha.

Spoiler:

Se contassem para sua mãe o quanto um pedaço de papel era capaz de acalmá-la, provavelmente ela botaria fogo, alegando que era fruto de pacto, então fazia bem esconder seu tesouro consigo.

Ela teve todo o tempo do mundo para se acalmar lá em cima. Ninguém a incomodaria por ora. Mas quando finalmente deixou seu esconderijo, não demorou muito para que uma secretária a encontrasse.

- Senhorita Wong, pode me acompanhar, por favor?

Não era difícil imaginar que a orientadora gostaria de vê-la. A secretaria era uma mera estagiária e parecia bem aliviada em vê-la. Evitava demonstrar muito, mas estava preocupada. O motivo ficou evidente quando chegarem perto da diretoria. O professor de matemática estava de braços cruzados, em pé, na frente da senhora Bora, que o ouvia pacientemente, e os dois pararam de conversar quando a secretária bateu na porta e se curvou brevemente, apresentando a aluna rebelde.

A senhora Bora sorriu gentilmente, enquanto o professor de matemática, Gim Sang-chul, tinha uma mecha colada no rosto suado e parecia prestes a enforcar a garota, mas parecia esperar uma atitude em especial para fazê-lo.

As palavras da senhora Bora eram um bálsamo para Eun-Ji cada vez que ela falava que a garota tinha potencial. Ela sempre agradecia mentalmente, do fundo do coração. Suas bochechas vermelhas eram o agradecimento silencioso que a jovem não conseguia pronunciar.

"Obrigada por acreditar em mim, senhora Bora."

No alto da escola, as imagens do último desentendimento em sala de aula davam dor de barriga em Eun-Ji, que se contorcia em vergonha.

- Ooooh... eu sou horrível - dizia com tristeza na voz.

Como não poderia ficar lá para sempre, assim que se acalmou, a aluna "rebelde" desce as escadas e segue pelo corredor para seguir seu destino e ao avistar a secretária, ela suspira pesadamente.

- Claro senhorita - disse sem ânimo algum e caminhou atras dela, rumando à sala da diretoria - só queria que eles me deixassem em paz... é pedir de mais? Nunca fiz nada contra eles... errr... bem, quer dizer, agora eu fiz... mas antes nunca... - para não piorar sua situação resolveu calar-se.

Quando ela avistou o professor, a ruiva engoliu em seco e olhou para a orientadora, já sentindo o estômago balançar. Se sentia tão mal por decepciona-la, mesmo sabendo que era só na detenção que poderia ter suas aulas secretas, ela ainda se sentia mal por não conseguir controlar sua raiva. Não queria ser uma rebelde marginal que estamparia as páginas policiais.

Ao ver o sorriso da orientadora, o rebuliço de sua barriga diminuiu, sua vontade era correr e se esconder atrás dela, mas uma aluna exemplar não faria isso, então apenas se pôs ao lado dela e de frente ao professor.

- Senhor Gim, senhora Bora - falou com a voz trêmula sem encara-los, a cabeça baixa e as mãos para trás, assim que fez uma tímida inclinação. Já tinha como certo uma atitude hostil por parte do professor e apenas aguardou a bronca. Sabia que qualquer coisa que falasse só pioraria as coisas, preferia falar só quando tivesse a palavra.

A secretária timidamente cobriu a boca quando ouviu a garota reclamar e abafou um risinho. Era muito bondosa e dócil, pois ainda não tinha levado muitas broncas da direção. Claro, subordinada à senhora Bora, já era de se esperar que estivesse aprendendo sobre tolerância. Mesmo assim, era preocupada demais com o trabalho para não responder nada e não interferir. Ela apenas fez um gesto e logo se retirou, voltando para uma escrivaninha próxima e fingindo não ouvir a conversa.

O professor pareceu gostar da suposta submissão e respirou profundamente com o rosto retorcido,  o que deixou as veias do pescoço à mostra. Ele fingiu que a ignorava, passando o “bastão” para a orientadora, que fez uma mesura breve e começou a falar no tom de voz calmo de sempre.

- Senhorita Wong, o senhor Gim me informou do pequeno…

- Reboliço. Revolução. Intempérie - resmungou quase comendo as próprias palavras.

- Incidente em sua aula… - ela o corrigiu prontamente. - e que a senhorita precisou se retirar mais cedo.

- Como um caminhão vermelho dirigido por um touro - o senhor Gim quase cuspiu a frase, lançando à garota um olhar irritado.

- No entanto, como posso ver em sua ficha, houve uma considerável melhora em sua adaptação nos últimos tempos. Gostaria que explicasse para o senhor Gim o que aconteceu.

- Eu vi o que aconteceu. Essa… a se-nho-ri-ta Wong ATACOU um dos alunos. Com uma arma. E um cuspe!

- Senhor Gim, já conversamos sobre isso. O senhor disse que a aula estava silenciosa, correto? Então deixe que a pequena se explique

- Eu já disse que isso é um absurdo. Eu quero os pais dessa menina aqui agora

- Por favor, senhor Gim, eu creio que, como docentes, devemos dar um exemplo de serenidade e calma para nossos estudantes. Agora, por gentileza, senhorita Wong, pode nos dizer o que aconteceu?

Ao mesmo tempo que a presença da senhorita Bora acalmava Eun-Ji, a raiva do professor Gim a enchia de medo. A cada grito dele, ela se encolhia. Sabia que o que tinha feito não era certo, mas não imaginava que o professor ficara tão furioso. Ela sentia sua barriga revirar outra vez.

Tentou várias vezes falar o que aconteceu, mas estremecia às palavras duras de Gim, como se ela fosse um monstro... a "marginal da capas policiais". Por sorte, a grande senhora Bora estava lá e conseguiu uma brecha para que Eun-Ji conseguisse falar. De início gaguejou um pouco, mas conseguiu se manifestar:

- Eu... estava copiando o exercício... como o senhor pode ver... senhora Bora, no caderno... eu copiei, tá tudo lá - estava nervosa - a... a Jeannie estava falando coisas... zombando de mim... e ... estavam rindo de mim... começaram a jogar bolinhas de papel molhadas - ela passa a mão por uma mecha da ferrugem lisa de seu cabelo e ainda tinha uma bolinha presa e mostra para os professores - eu só queria que eles parassem. Estavam todos rindo e a risada ia aumentando... só... joguei sem nem pensar, não mirei nem nada... era só pra pararem e... eu não queria... eu não fiz nada para rirem de mim... eu não entendo... senhora Bora... - ela olha para sua orientadora, não implorando, mas tendo certeza que devia haver algo a favor dela, suas notas eram boas, sua vida escolar era impecável. Tinha esperanças que isso fosse levado em conta, já que Bora estava cuidando dela e ela sabia que a garota era boa aluna.
Eun-Ji rezava para que sua mãe não fosse chamada à escola. Seria o fim.

A senhora Bora ouvia a tudo como um maestro, concordando delicadamente com o rosto para que ela prosseguisse falando. Sua expressão tornava-se séria, chateada com a crueldade dos alunos contra a menina.

O canto dos olhos do professor pulsava, enquanto ele maquinava respostas para cada vírgula dela, mas esperava o momento certo até que ela tirou a prova final de seu cabelo.

A orientadora examinou a bolinha do cabelo enquanto Eun-ji terminava de falar. Sentia a angústia da menina em cada sílaba.

- O que está sendo relatado aqui é muito grave...

- De fato. Uma sucessão de loucuras que em outras épocas seria punida com suspensão! E não é a primeira vez! Eu mesmo me encarregarei de falar com a família da garota e--

A senhora bora respirou fundo enquanto ele falava e olhou o professor com uma severidade não conhecida pela garota.

- Professor Gim…. - começou ela, com a voz sempre tão calma agora com um tom grave.  O professor ajeitou a gravata, mudando o foco para a orientadora de repente, pego de surpresa. - Por acaso tem permitido a prática de bullying em suas aulas?

A expressão do professor mudou completamente. Sua cor foi sumindo.

- C-como assim? Senhora  Bora?

- O senhor acabou de dizer que não é a primeira vez. De fato, sabemos que a senhorita Wong vem enfrentando problemas de adaptação nos últimos tempos, mas vem evoluído muito. Por acaso o senhor está contribuindo para essa barbárie?

- O QU-- O-o que quer dizer…? Eu--

- Uma aluna sofria xenofobia em sua aula enquanto o senhor ignorava veementemente, colocando em risco a saúde mental da aluna e estimulando um comportamento em cadeia de selvageria. Sabe o quanto o bullying interfere no rendimento da escola como um todo. A direção não ficará feliz com isso!

- COMO? Mas isso… isso não faz nenhum sentido!

- Creio que a senhorita Wong deva desculpas por seu comportamento, mas sinto muito, terei que fazer um relatório sobre o incidente, senhor Gim.

- Mas eu….Isso não….

- Obrigada.

O professor lançou um olhar furioso para a menina. Ela tinha muita sorte pelas férias começarem em breve. Sem esperar nem ao menos o tal do pedido de desculpas, ele saiu bufando pelo nariz.

A jovem garota se sentia aliviada e forte quando via que a professora Bora acreditava nela e estava ao seu lado, mas ficou surpresa quando viu que aquela doce criatura também podia ser enérgica e intimidadora. Toda aquela situação parecia muito mais séria saída da boca da professora. Eun-Ji não tinha ideia da dimensão do problema pelo qual passava, apenas sabia que tinha alunos que não gostavam dela e, para piorar, agora tinha um professor para odiá-la também. Enrijeceu quando Gim disse que iria chamar sua mãe e num gesto involuntário abraçou a si, lembrando do quão severa sua mãe podia ser quando era contrariada, assim que sentiu uma saliência em suas costas.  
Viu o professor Gim partir furioso e só quando ele sumiu das vistas é que ela se voltou para sua orientadora e agradeceu.

- O... obrigada mais uma vez, senhora Bora - segurava as mãos nervosamente a frente do corpo, esfregando-as com força - desculpe por decepciona-la mais uma vez. Eu... perdi o controle de novo e agora o professor Gim me odeia. A senhora acha que os outros vão me odiar também? - foi uma questão temerosa. Ela ficou alguns segundos calada, mas queria perguntar algo:

- Senhora Bora, o que bulliyng? - era uma pergunta genuína. Uma garota que cresceu sem informação e que fazia poucos anos que convivia com pessoas realmente não fazia ideia da gravidade de certas brincadeiras maldosas no ambiente escolar - isso é muito grave?

Como sempre, as palavras doces de Bora tinham o poder de acalmar a aluna que sofria com seus próprios problemas. Ela sentou como pedido pela professora e começou a enrolar uma mecha de seu cabelo, como fazia sempre que se sentia ansiosa. Assim que a secretária se afasta, Eun-Ji abre um sorriso largo e sincero, pouco comum a ela  e que só duas professoras no colégio conheciam.

- Obrigada de novo, senhora Bora - disse, já com a voz mais serena e desacelerada - a senhora sempre me ajuda e é a única pessoa em quem confio. Na sua frente eu consigo pensar nas coisas erradas que faço. Eu sempre me inspiro na senhora... até eu bater em alguém - ela pára e fica com o rosto corado - então eu estrago tudo.

Realmente, essa professora era uma grande inspiração para a jovem, não era raro as vezes que ela pensava como seria bom ter uma mãe como ela; não que não amasse sua mãe, mas Jeong era uma pessoa difícil de lidar e ela era o único exemplo que tinha, além dos avós igualmente cruéis.

Depois ela ouviu muito atenta a explicação sobre bullying dada por Bora e refletiu a respeito: sim, aquilo era muito grave, e balançou a cabeça mostrando que tinha entendido.

- Ah, eu sempre me preocupo com os estudo, senhora Bora. Minhas notas são boas, até nas aulas de educação física eu melhorei - disse com orgulho - eu descobri tenho um bom condicionamento físico. Eu achava que era semelhante a uma porta - riu e começou a enrolar o cabelo com mais velocidade - acho que... nossas aulas secretas me ajudaram bastante com isso também - falou um pouco mais baixo essa parte. Ela começou a puxar com força a mecha do cabelo, coisa que a professora já sabia se tratar da ansiedade da garota que voltava - senhora Bora... será... será que na nossa próxima aula, a senhora poderia me mostrar mais um vídeo? Aí - e apontou - no seu celular? - ao final da frase havia um sorriso em seu rosto e expectativa em seus olhos.

Com tranquilidade Bora mostrou um envelope com uma estrela dourada, que ela pegou imediatamente. Olhou para ele sem saber do que se tratava, abriu e leu.

off: estou fazendo esse postzinho extra, porque eu deveria ter colocado ele antes

on:

conteúdo do envelope:

Ela leu com calma o comunicado, releu e por fim compreendeu a mensagem, mas não conseguia acreditar. Vários pensamentos passavam por sua cabeça, vários sentimentos dançavam em seu peito, tantas emoções fizeram com que Eun-Ji levasse quase um minuto para esboçar uma reação, tinha ficado parada, boquiaberta enquanto relia pela milésima vez a palavra "ACEITA". Ela não compreendia a dimensão que essa historia poderia ter em sua vida, mas saber que tinha sido aceita em algo a encheu de felicidade. Logo ela que até alguns anos atrás nunca tinha ouvido uma música, que até poucos meses nem sabia que sabia cantar, mal acreditava que a certeza da senhora Bora em seu talento resultaria em algo.

- É isso mesmo que eu entendi, senhora Bora? - finalmente falou, com a voz um pouco trêmula - eu fui aceita? Naquele  tal concurso que a senhora me inscreveu? Leia, por favor - e estende a carta a ela. Não queria se antecipar, mas um sorriso de alegria insistia em permanecer em sua face, agora rosada e molhada pelas lágrimas.

Infelizmente ela se lembra da barreira que seria sua família.

- Como vai ser? O que faremos? - ela lembra de sua mãe, ela jamais permitiria que Eun-Ji fosse, aliás, ela jamais suportaria a traição da filha - eu... não sei se devo... - agora ela parecia insegura e temerosa.

A senhora Bora estava sorridente conforme ela falava e guardou as respostas para observar a reação da garota diante do convite. Como imaginava, a garota tinha sido aceita. Podia ver em seus olhos. Ela teve toda a paciência didática para assentir a cada indagação. Por fim, segurou a carta e leu.

- Aqui diz claramente que a senhorita foi aceita. Sim, Eun-Ji Wong-shi, você está no programa

Em seguida, abriu outra gaveta e retirou uma caixa com lencinhos de papel, empurrando para ela. Era melhor vê-la chorando de felicidade, em vez de raiva ou tristeza.

- Vou escrever para a sua mãe e convidar a filha dela a ser monitora de um grupo de estudos durante as férias por suas notas altas. Acha que ela pode aceitar? Então estudaremos de fato, mas a sua apresentação. Vamos escolher a música e a melhor forma de apresentar.

Eun-Ji sabia que o ideal mesmo seria se fosse um grupo de orações da igreja dela, mas isso não estava em discussão.

- Estou do seu lado, querida. Pode me dizer o que o seu coração quer, não o que simplesmente deve. Não vou puni-la ou ficar chateada por algo que não deseja fazer. Eles também viram algo de especial em você, mas a escolha é completamente sua. Você quer participar?

Após ouvir as palavras de Bora, a garota pegou os lencinhos e secou o rosto, rindo sem parar, e ergueu a cabela espantada com a ideia de sua professora:

- Acho que ela não vai deixar, mas se a senhora insistir ela deixa - a mãe de Eun era muito resistente, mal aceitou que a filha fosse para a escola, mas já que ela estava lá espera que a filha fosse uma das melhores.

A menina ficou super animada pela ideia de ensaiar para valer, ela adorava cantar e dançar. Nunca tinha se sentido tão bem bem na vida, e mesmo indo de encontro à toda sua família, ela foi convicta em sua resposta à Bora:

- Claro que é o que eu quero, professora - pela primeira vez havia determinação em seus olhos - é o que eu mais quero, mesmo que minha mãe seja contra - e correu para abraçar Bora - muito obrigada senhora Bora, não sei nem como recompensa-la. Ah... a senhora gosta de bolinho? Sei fazer bolinhos e biscoitos - sorria enquanto aguardava a resposta dela. Sua mechinha de cabelo já parecia um dread de tão enrolado que estava.