[Yuki] Prólogo

Faltava pouco para as férias e a temperatura já estava agradável como pedia o verão. Os alunos estavam desmotivados e não custaram a abandonar as classes quando o sinal foi ouvido.

Enquanto os grupinhos de amigos começava a se aglomerar, Yuki era praticamente despercebida, por colegas que, se não eram super educados com ela, pelo menos não eram sempre agressivos - exceto quando os pais pediam para que ela ajudasse no cais por meia horinha antes da aula ou quando algum de seus colegas a via com roupas de trabalho.

Em geral, era tratada como um pobre cachorro sarnento, que apesar de ter algum traço de fofura, não era muito bom de se ter por perto. Assim, não era difícil participar de conversas dos outros por osmose, capturando trechos do mundo secreto alheio.

Dessa vez, quatro colegas de sala já tagarelavam animadas a sua frente sobre o reality show da Shine Bright Entertainment, o programa para o qual tinha enviado uma pequena ficha há algum tempo, mas até agora não havia nem sinal de que eles haviam recebido.

- Não acredito, Euntak! Você foi mesmo chamada?

- Um olheiro encontrou meus vídeos na internet. Vou me apresentar na semana que vem.

- Mas já? Eu ouvi dizer que as inscrições estão abertas ainda. Poxa, eu pensei que ainda tinha chance

- Definitivamente não. Você acha? Essa história de inscrição é a maior mentira.

- Pois divulgaram que havia audições abertas na Europa! Eu vi um vídeo de uma garota que falava seis idiomas. Vocês viram isso?

- Não, mas eu vi uma menina daqui que tocava guzheng!

O quarteto se misturou ao restante dos alunos que saía pelo grande portão da escola para voltar para casa. Um pequeno burburinho se fazia ali sobre o rapaz montado em uma bicicleta que ela prontamente reconheceu.

- Dongsaeng! - chamou Tae-gyu assim que seu rosto despontou. Parecia urgente, porque ele tinha aparentemente acabado de sair do cais e ainda cheirava um pouco a peixe. O burburinho, aliás, era sobre isso, e sobre ela, mas ele não parecia se importar nem um pouco.

Off: muito fofa!!

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Tae-gyu sorriu diante da animação da menina com o tênis simples. Sua resposta não ajudou muito na decisão. Era um rapaz que tinha um estilo bem básico de se vestir.

- Preto fica bonito, mas o branco também... Talvez o branco apareça mais? - riu - - Eu não sei. Escolha algo que você realmente goste. Branco então? Yeppŭda (Bonito/lindo). Será esse.

O vendedor subiu novamente as escadas para pegar uma caixa fechada do estoque.

- Fico feliz. Bem, eu acho que... eles vão acostumar.

Pareceu pensar um pouco na reação dos pais. Eles eram uma boa família, mas eram um pouco ariscos quanto a exposição. Não acreditavam muito nessas empresas de música e na fábrica de idols. Achavam que o caminho para o sucesso estava em estudos completos que eles não tiveram. Tinham muito medo que a garota acabasse como eles, ainda que não se colocassem como vítimas e sempre transmitindo um estilo de vida digno.

- Mas não se preocupe com isso, certo? Quando abeoji vê-la na televisão eu tenho certeza que tudo vai mudar.

- Qual a forma de pagamento? - o vendedor interrompeu, com medo de perder a venda. Tae-gyu respirou fundo e foi com ele até o caixa, onde contou as notas da carteira. Tinha juntado dinheiro de troco por bastante tempo para complementar.

- Vou querer para presente.

O vendedor suspirou de novo, cansado de tratar bem aquela dupla, mas pelo menos estava vendendo. Ele recebeu o dinheiro com umma cara estranha, provavelmente por identificar o serviço do rapaz ao entrar em contato com sua mão, mas estava no fim. Ele embalou os tênis da menina e os acompanhou até a porta, saudando-os.

Tae-gyu deu a sacola para a garota e parecia um pouco emburrado, mais ou menos como quando estava atendendo algum cliente chato, mas isso levou só alguns instantes até voltarem para a bicicleta.

- Uau. Eu fui o primeiro a dar um presente para a grande estrela Yuki-'chan'.  Yuki unnie. Sarangheyo. - ele brincou com outra voz, imitando o jeito das fãs de idol.

- Muito bem. Vamos à praia. Voltamos para o jantar com as boas notícias.

O rapaz pedalou com cuidado, para que a menina pudesse levar o presente sem ter problemas de equilíbrio. Ao chegarem perto da orla, seu ritmo diminui mais, para que a paisagem alaranjada pudesse ser apreciada. O dia sorria com vigor para sua nova vida. Ao estacionar a bicicleta, ele sentou-se na areia coberta pela camisa de cima, observando a irmã com um sorriso no rosto e pensando que tudo valia a pena. Ela pôde ficar o quanto quisesse.

Quando chegassem em casa, que não era muito longe dali, os pais se entreolharam primeiro porque ela carregava um presente. Depois, por causa da notícia. A mãe começou a chorar muito e o pai ficou sem reação e foi o primeiro a fazer as perguntas mais práticas, como o dia, como funcionava isso, quem ia levá-la, como ficaria o cais. Tae-gyu se prontificou a cobri-la e também a levá-la até o local. A mãe a abraçou forte e foi seu jeito de dizer "parabéns" sem palavras. O pai ainda ficou confuso, mas assentiu e não reclamou, o que era um jeito de aprovar também. Por sua conquista, a garota pôde repetir o kimchi naquela noite.

Só restava a ela atender às expectativas e dar o seu melhor, ensaiando sua apresentação que lhe tiraria do anonimato.

- FIM DO PRÓLOGO -