O livro falava sobre um mago poderoso que ficou famoso ao ser o responsável direto pela derrocada de Aencar, o primeiro e único Rei dos Vales. O mencionado era Alacanther de Arrabar, uma figura que o necromante se interessou por estudar mais a fundo, pesquisando em bibliotecas de vilarejos próximos dali livros que pudessem dar mais informações sobre quem foi Alacanther. O título daquele livro estava desbotado, apagado pelo tempo, mas o conteúdo rico em história rendia uma boa leitura.
Pela descrição dos feitos de Alacanther, que ia desde uma simples invasão a um cemitério e a conjuração de um dracolich, Necross deduziu que ele também havia sido um necromante, e um dos mais poderosos que já ouvira falar. Havia um resquício do que foi Alacanther vivendo na mansão, um fantasma tão transtornado pelo tempo que se tornava uma tarefa impossível dialogar com ele de modo racional. E desde que os drows levaram o fantasma de Aencar, Alacanther passara a se achar o dono legítimo da mansão, criando problemas para Necross e os magos vermelhos que habitavam em outros cantos secretos da mansão.
Necross, sedento por conhecer mais sobre aquela figura, passava de página em página em grande velocidade, mergulhado totalmente na leitura do capítulo que falava sobre uma passagem na vida de Alacanther que ele pensava em se transformar em lich. Quando o mago pesou as consequências de tal ato, desistiu de tornar tal criatura, e foi então que ele passou a estudar outra hipótese: a de fazer um dragão se tornar um lich e agir sob o seu comando. A leitura do necromante foi interrompida ao ouvir a campainha em forma de sino anunciando a chegada de alguém. Visitantes nunca eram esperados ali, já que o lugar era considerado mal-assombrado.
A chuva caía pesada lá fora e muitas pessoas buscavam abrigo na Lua Crescente, a estalagem local da cidade. Por consequência disso, as mesas e cadeiras estavam lotadas e o barulho das conversas suplantava o som da chuva no ambiente externo. Grimlock e Janus haviam conseguido uma mesa só para eles aos fundos do estabelecimento.
Os dois haviam seguido por caminhos distintos com o término do torneio dos Vales, mas eles se reencontraram alguns dias atrás em Lua Alta. O mago não havia engolido a derrota para Zankharon. Após passar dias e mais dias trancado num quarto de uma estalagem em Vau Ashaben, Janus criou um desejo forte de vingança. Primeiro ele buscou saber a localização do castelo que o vencedor do torneio recebeu, e a sua animação melhorou ao descobrir que era num vale ali perto.
Ao chegar lá, se deparou com uma construção robusta de quatro andares e cercada por uma muralha de pedra de três metros de altura. Não havia nada de magnífico no castelo, mas a sua entrada foi proibida. Visitantes não estavam autorizados a entrar na parte interna da fortaleza, mas isso aparentemente não incluía gatos, e Alfador conseguiu entrar na parte interna do castelo. Assim como na visão de fora, não havia muito com o que se impressionar com a visão interna. A única parte movimentada de todo o lugar era o quartel, com o treinamento incessante de soldados.
O feral por sua vez havia retornado à sua tribo, nos Picos do Trovão. Ele relatou tudo sobre a missão que ele havia recebido e falhado em cumprir. Grimlock passou cerca de quatro meses em sua aldeia, até resolver retornar a Lua Alta e ter uma última conversa com o Lorde Ulath. Afinal havia chego o novo ano, o Ano dos Dragões Ladinos, o ano do despertar, e era provável que a cria de Tiamat finalmente desse a sua cara e atacasse o vilarejo.
O regente de Lua Alta, novamente, não deu muita atenção à isto, alegando que ele não poderia trabalhar com as previsões de um desconhecido e dizendo ainda não ter conhecimento de nenhum dragão vivendo nas redondezas. E então o feral se reencontrou com Janus, que havia retornado à Lua Alta, a primeira cidade pela qual eles combateram no torneio.
Naquele momento, na estalagem da Lua Crescente, Grimlock pensava que já era hora de se despedir de Janus e voltar para a sua aldeia, e Janus pensava em alguma nova estratégia para parar Zankharon. Uma figura se dirigiu à mesa. Era Arthminos. Os dois tiveram um bom relacionamento com o barão desde a final do torneio. Arthminos havia se mostrado um aliado útil, concedendo informações e auxílio, principalmente à Janus, que o buscara algumas vezes para conversar. Arthminos, assim como Janus, também queria parar Zankharon.
- Amigos! – saudou Arthminos, retirando o chapéu com a pena da cabeça para cumprimentá-los de modo cortês. - É sempre uma alegria revê-los, mesmo com o mundo parecendo prestes a desabar lá fora. Posso me sentar com vocês para bebermos um ou dois drinques, e talvez, tratar de um assunto que acho que é do interesse mútuo de nós três?
A oficina não tinha um grande movimento. As ferramentas e peças de metal que Shaíra produzia eram suficientes apenas para ela e Mirabelle levarem uma vida humilde em Essembra, a capital do Vale da Batalha. Nenhuma das duas se importava realmente com isso, pois os anos que elas passaram presas no háren de um senhor ainda estavam gravados em suas mentes como um lembrete do que era ter uma vida degradante.
Shaíra havia chegado aos Vales na época que um grande torneio estava sendo organizado. Campeões de vários cantos do mundo vieram até os Vales para competir ou para assistir aos duelos. A pedido de Mirabelle, que queria muito acompanhar o evento, Shaíra arranjou um tempo delas irem até Vau Ashaben, o vilarejo que receberia a final do torneio. O momento mais impactante do embate foi quando um dragão apareceu vindo do céu derrotou um dos participantes que duelava e levou o corpo para longe, onde provavelmente foi devorado.
Elas voltaram para Essembra e a vida pacata que levavam logo depois que o torneio acabou. Shaíra produzia uma peça em sua oficina quando Mirabelle voltou com as compras do dia. Ela parecia bastante animada.
- Olá – cumprimentou, agraciando Shaíra com um beijo em sua bochecha. – Consegui a comida para o nosso almoço. Você não vai acreditar, o Hirnan tá vendendo os seus cavalos por apenas 50 moedas de ouro. E a gente sabe como os cavalos dele são bonitos e saudáveis. Já o Olho Vigilante tá distribuindo canecas de cerveja de graça hoje, dá para acreditar? Mas o melhor de tudo, eu soube que o dono da Casa das Velharias tá pensando em se mudar daqui.
A Casa das Velharias era uma concorrente à oficina de Shaíra, e por estar ali há bastante tempo já fez o seu nome na redondeza, de modo que as pessoas preferiam comprar os materiais ali do que com Shaíra.