[Do I Wanna Know?] - Samuel

Samuel acordou como já tinha acontecido centenas de vezes. Estava no chão, largado como uma boneca de pano, sua cabeça girava e pulsava. As consequências de uma noite de bebedeira nunca mudariam.



Foi então que sentiu o cheiro, ou melhor, a ausência de qualquer odor. Pôs-se de pé rapidamente. "oh não, não, não!" Olhou para suas patas, eram garras enormes e afiadas. Não era possível! Ele havia ficado para o lado de lá, estava preso na Umbra.



Seu coração começou a ribombar dentro do seu peito, seus pelos se eriçaram enquanto o medo penetrava em sua mente. Desespero, ansiedade, tudo mexia com a mente do jovem roedor que se via novamente sozinho.



-Pessoal! Alguém!



Não ouviu resposta lágrimas começaram a encher seus olhos, seus pensamentos eram nublados por seus sentimentos, estava prestes a perder o controle e agir como uma besta quando ouviu alguns risinhos.



Levantou a cabeça, buscando a origem do som e encontrou aquela... coisa grudada na árvore. Por que não havia prestado mais atenção nas lições com Amylee? Talvez tivesse alguma dica preciosa que pudesse salvar sua pele.



"Bom, se essa mulher de madeira quisesse me matar ela já teria feito. Eu espero." Começou a se aproximar devagar da harpista e disse sem jeito, como um moleque de 15 anos chamando uma menina para dançar:



-É... Muito bacana essa música, viu dona. Eu gosto muito dessas notas... musicais. Enfim, rola de você me mostrar a saída? Eu estou só de passagem aqui.

O Roedor ficou contente com os risinhos da entidade. Aquele era um passo importante, não gostava de gente que tentava matá-lo no primeiro contato. Porém quando ouviu aquele idioma incompreensível sentiu o desespero percorrer seu corpo em uma série de arrepios. Respirou fundo e fechou os olhos, pelo menos a garota o entendia, uma via de mão única era melhor do que via nenhuma.



-Me desculpa, eu não entendo o que você diz, sou apenas um Ragabash. Minha matilha serve a Rainha do Inverno, mas eu acabei me desvencilhando deles. Você consegue me ajudar? Há algo que eu possa dar em troca.



Se havia aprendido algo com os Garou é que nomes tem pesos e importâncias Esperava que o de sua matrona tivesse peso suficiente para bancar suas apostas.

Samuel se controlou para não dar um tapa na própria testa quando a mulher de maneira começou a falar novamente. Ela não ouviu uma palavra do que ele disse? Por que ela não tentava fazer uma mímica ou algo parecido? Mas então ela apontou para uma bifurcação atrás do garoto.



O Roedor sorriu, a cada desafio concluído ele estaria um passo mais próximo de casa e um passo mais longe dessa paranoia.



- Que Gaia abençoe seus caminhos. - Disse o Garou, ele não tinha certeza se aquilo era algo correto para se falar, mas haviam problemas maiores do que a etiqueta ao se comunicar com meninas pinóquio das árvores.



Caminhou a passos largos para a bifurcação. Aguçou todos os sentidos, refinou seus radares, deveria haver alguma coisa que diferenciasse as trilhas, alguma pista deixada por seus companheiros, algum sinal. Era isso que ele foi treinado para fazer, era um batedor, devia ver coisas que os outros não viam, sentir cheiros que os outros não percebiam. Porém ele foi treinado no mundo real, no mundo espiritual as coisas podem ser meio... ilógicas.



Caso as trilhas fossem exatamente iguais, iria para a esquerda, mas antes marcaria uma árvore com suas garras. Não ficaria andando em círculos.

Ao ouvir o sussurro da criatura, Samuel apertou os dentes. Estava em completa desvantagem: não conhecia um inimigo que o conhecia; Não via um inimigo que o via.



Apesar de todos esses problemas, o Roedor não se submeteria. Uma vida inteira nas ruas ensinou que aquele que se submete, cedo ou tarde é esmagado. Ou, na linguagem das ruas, quem se abaixa demais mostra o c*.



-Eu acho que você não veio aqui só para brincar de assombração. Me poupe dessas merdas mentais e fale o que tem para falar. - Disse o garoto, tentando manter a voz firme.

Samuel ouviu a pergunta com atenção. Espíritos pareciam ser fãs de Enigmas por alguma razão, por que eles não eram úteis de uma vez? Tinham que ficar com esses mistérios malditos.

Repetiu o Enigma algumas vezes em sua cabeça. Ele não sabia a resposta, seu senso de lógica não era dos melhores, ainda mais com tantas coisas ilógicas acontecendo. Estava tentado a seguir seu nome Garou e mostrar pra essa loucura que ninguém sai ileso contra Pavio-Curto... Pavio-Curto...

O garoto sorriu, não sabia a resposta, mas tinha uma maneira brilhante de descobrir.

-Meu nome é Pavio-Curto, dos Roedores de Ossos. Qual é o seu nome?

Ha! Aquele espírito idiota nem ia perceber quando falasse a resposta do enigma. Samuel era um gênio.