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    [Prólogo] - Samuel Khan

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    Mensagem por Rosenrot Qua maio 17, 2017 7:53 pm

    “I want to hide the truth
    I want to shelter you
    But with the beast inside
    There’s now here we can hide
    No matter what we breed
    We still are made of greed
    This is my kingdom come
    This is my kingdom come”

    Imagine Dragons - Demons



    [Prólogo] - Samuel Khan Bray-610



    Bray era uma cidadezinha pouco interessante em muitos aspectos: não era tão charmosa como Dublin, que ficava a algumas horas dali – e nem tão famosa –, mas era um bom lugar para passar desapercebido, para somar a multidão e deixar-se levar pela maré. Bray não era sua casa – na verdade, ultimamente nenhum lugar era sua casa –, mas por enquanto servia, por enquanto ainda não sentia uma estranha e quase pungente vontade de correr dali, de deixar tudo para trás e ganhar o mundo. Talvez fosse se acostumar a Bray, quem sabe? Era uma possibilidade. Haviam muitas possibilidades das quais tomou posse quando resolveu fugir. Sua vida era um mar de possibilidades, igual ao litoral do qual gostava tanto de olhar.

    Ali era o mais próximo ao que podia se considerar ‘centro’ de Bray, onde estavam os bares, restaurantes, lojas, hotéis e todo o movimento de inda e vinda. A maior parte do resto da cidade eram bairros residenciais, dos quais Samuel costumava evitar perambular; aquelas pessoas tinham uma postura meio negativa com sua presença perto das casas delas, era como se ele fosse tóxico, às vezes, na maior parte do tempo, preferia se sentir invisível, porque era menos irritante se sentir invisível do que se sentir como se possuísse alguma doença contagiosa. Alguns eram mais gentis, outros simplesmente o ignoravam. Tinham os rudes. Não era nada tão drástico como em outras cidades que tinha passado. Samuel aprenderá que quanto maior a cidade, mais invisível ele se tornava. Dublin tinha sido uma prova disso. Agora Bray tinha um pouco dos dois. O centro tinha aquele ar de ‘cidade-quase-grande’, onde as pessoas se misturavam, festejavam e eram mesquinhas como só as pessoas sabiam ser, mas também tinha o clima agradável e a gentileza de cidades pequenas.

    Bray era boa nesse sentido, e estava ali apenas há alguns meses. Talvez acabasse ficando, talvez não. Como é que ia saber? Às vezes se perguntava se ainda procuravam por ele. Era possível, mesmo que achasse que não com tanto afinco como da primeira vez. Mas não queria pensar nessas coisas,  pelo menos não agora. E foi ai que ela cortou seus pensamentos pela metade.

    ”- Hei.” – A voz lhe chegou, enquanto ele observava o litoral. ”- Você está me ouvindo?” – Era Emma. Ela era uma garota legal, ele achava. Emma parecia realmente preocupada com muitas coisas que a maioria das pessoas não se preocupavam. Eles tinham se conhecido em um momento esquisito, quando ele tentou furtar sua carteira, mas Emma parecia mais esperta – e atenta – do que a maioria das pessoas e o pegou no flagra. Mas em vez de gritar, chamar a polícia e qualquer coisa assim, ela lhe convidou para tomar um café, e eles sentaram perto do litoral, igual hoje, e conversaram e começaram a ficar amigos. Ou algo próximo a isso. Ela lhe encarou com aqueles olhões azuis, Emma usava pouca maquiagem, sua beleza era natural e espontânea. “- Eu tenho que ir trabalhar.” – Avisou ela, segurando um copo de café, Emma lhe trazia um sanduíche e um copo de café todo dia, antes de ir para o trabalho. Ela trabalhava como veterinária, ele sabia disso por que às vezes Emma o pagava para fazer serviços pequenos no seu consultório. Ele sabia que Emma poderia fazê-los sozinha, mas também sabia que ela fazia isso para lhe dar algum dinheiro e alguma esperança de que as coisas poderiam mudar.

    Mas as coisas nem sempre mudavam, não era? Emma talvez não compreendesse isso. “- É bom você ficar longe de confusão. – Falou ela, arrumando a bola no ombro. “- Sean não anda de muito bom humor ultimamente, viu?” – Sean era outro sujeito engraçado que ele tinha conhecido ali. Ele era um policial. Mas um policial esquisito, Sam tinha ouvido a respeito da esposa de Sean, e achava que talvez esse fosse um dos motivos pelo qual o cara sempre parecia deprimido ou simplesmente fora do ar. Era como observar um boneco de cera, às vezes, mas Sean era um sujeito legal, apesar de ser um policial, tinha livrado a cara Sam uma ou duas vezes, mas era bom não forçar a barra, era? Nunca era.

    “- Sam, você foi ver aquele cara que te falei? No centro de acolhimento? Você prometeu que ia, Sam e é bom você ir. Não vai querer me ver irritada.” – Emma piscou um dos olhos, era difícil para Samuel imaginar aquela mulher irritada. “- Não estarei aqui hoje na hora do almoço, tenho que ver uns cavalos lá pros lados Roundwood, então vê se procura o Sean pra ele te dar alguma coisa para comer ou passa no centro de acolhimento.” – Ela suspirou, os olhos passeando pela praia deserta por um momento, Samuel se perguntava se ter uma irmã mais velha seria mais ou menos daquele jeito. Por fim, Emma olhou para ele e depois acenou se despedindo.

    Então Samuel começou refletir mais uma vez.

    Ultimamente ele andava tendo uns sonhos esquisitos. Não eram exatamente pesadelos, por que não tinha nada de assustador naqueles sonhos, mas parecia que era o mesmo sonho todos os dias, sem muitas mudanças. Ele sonhava que estava andando numa estrada, mas não conseguia ver o que tinha dos lados – eram borrões que pareciam árvores – e quando olhava para trás não via nada, assim como não via nada na frente. Constantemente, durante o sonho, Samuel ouvia o barulho de asas batendo, mas quando olhava para cima, o céu era escuro, sem lua e sem estrelas. Então uma coruja piava e Samuel acordava.

    Ele teve aquele sonho mais uma vez, na noite passada, a diferença era que dessa vez a coruja parecia mais perto do que de todas as outras vezes em que tinha sonhado com aquilo e agora, mesmo acordado, tinha a sensação esquisita de que alguma coisa estava olhando para ele. Igual no sonho, como quando ele olhava para cima, depois de ouvir as asas, mas não via nada.

    Emma já tinha se afastado e ele quase não conseguia mais vê-la, enquanto a jovem atravessava as ruas em direção ao seu carro estacionado do outro lado. Aquele papo de centro de acolhimento não lhe agradava nem um pouco. E se fosse igual ao orfanato? Ou pior? Mas Emma tinha garantido que eles só iam tentar arrumar um lar temporário para Samuel, talvez uma escola e um emprego de meio período, para ele aprender alguma profissão…

    Bom, ele meio que tinha uma profissão, não era? Não era? Mas Emma era uma garota legal, talvez tentar… Talvez não fosse tão ruim, e se o cara que ela tinha dito fosse legal igual a ela as coisas poderiam ser melhores do que ele esperava que fosse e de qualquer modo, se nada desse certo, provavelmente descolaria no mínimo um almoço. Era uma das muitas coisas para se pensar naquele início de dia.
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    Mensagem por Zer0 Sex maio 19, 2017 7:24 pm

    Samuel agradeceu Emma pelo café enquanto ainda mastigava seu sanduíche. Ela era uma pessoa rara que conseguia apaziguar a decepção que o garoto sentia com a sociedade. O que ela fazia não era mera caridade, não eram trocados arremessados apenas para que ele saísse de perto, a veterinária realmente via em Khan um ser humano com sentimentos, sonhos e motivos. 
     
    Guardou um pedaço de sua refeição em sua mochila, por mais que tivesse almoço garantido, tinha o costume de, sempre que conseguia, guardar um pouco pra depois. Caminhou pela orla pensando na proposta de Emma. "Centro de acolhimento". Qual seria a diferença disso para um orfanato? Samuel sabia na pele que os planos criados por pessoas bondosas, muitas vezes são executados por gente pior. 
     
    ... 
     
    Andando pelas ruas, o garoto invisível escolhia sua próxima vítima. Olhou para uma senhora velha, ela não conseguiria correr atrás dele, mas também não devia ter muita coisa. Talvez aquele senhor de terno? 
     
    Então uma sensação ruim o envolveu. Existia uma veterinária que lhe pagava comida todas as manhãs, que se importava com ele. Samuel realmente ia ignorar toda a confiança que lhe era depositada? O menino pegou uma pedra no chão, apertou-a com força até o punho tremer e então arremessou-a em um muro. Odiava que lhe mandassem fazer alguma coisa, pior, odiava quando conseguiam mandar nele sem mandar nele. 
     
    Devia estar próximo da hora do almoço, era hora de ir encontrar os patetas do "centro de acolhimento" e pegar um almoço grátis. E talvez, se as coisas corressem bem... Não! Era somente por causa da comida grátis! A esperança estava morta, e ele também estaria se continuasse acreditando nessa besteira.
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    Mensagem por Rosenrot Sáb maio 20, 2017 3:28 pm

    As ruas enchiam e esvaziavam numa velocidade impressionante, nas manhãs de Bray. As pessoas saiam de suas casas e se dirigiam aos seus trabalhos, escolas e afins. O centro tomava uma vida que à noite, geralmente não tinha. Muitas coisas passavam pela cabeça do jovem Samuel, após a partida de Emma e as suas opções em relação ao resto do dia. Seu primeiro instinto, claro, tinha sido manter sua rotina. Enquanto se misturava as pessoas que constantemente lhe ignoravam, Samuel travava sua batalha pessoal.

    Naquele dia, porém, um lado havia vencido e convencido pelas palavras da jovem Emma, resolvera ir ao tal lugar – claro, em sua cabeça apenas pela comida e talvez um banho -, fosse pelo motivo que fosse, aquilo o irritava um pouquinho, o modo como estava fazendo o desejo de outra pessoa.

    Mas que mal poderia ter, afinal?

    (…)

    [Prólogo] - Samuel Khan E61b1e10



    O lugar era um pouco mais afastado do centro da Bray e Samuel teve que dar um jeito de chegar lá. As ruas ali eram claramente mais residenciais do que comerciais. A maioria das casas pareciam vazias, provavelmente porque seus proprietários estavam fora ou trabalhando ou estudando. Não importava. As sombras das árvores caíam na rua, e o silêncio era o companheiro de Samuel, naquele momento.

    Quando finalmente chegou no endereço dado por Emma, o jovem encarou uma casa de dois andares meio rústica, sem um jardim na frente, mas aparentemente com um quintal ao fundo. Havia uma placa na porta e um cartaz ao lado de uma árvore, indicando que naquele local se oferecia ajuda a jovens em situações de risco. Bastava entrar e pedir.

    Samuel pode ver alguns jovens saindo do local, conversando sobre o dia que começavam. Carregavam mochilas nas costas e rumavam em direção o ponto de ônibus ali perto. Ele ficou parado na entrada, pensando se deveria ou não entrar. Mas já estava ali, que mal poderia fazer?

    A porta abriu com um som de sino tocando, e ele pode vislumbrar o hall de entrada: haviam bancos nos cantos, onde alguns garotos em situação semelhante a dele estavam sentados e aguardando. Também um balcão, com um computador, telefone, alguns panfletos, um pote com biscoitos. Do lado esquerdo tinha um bebedouro e do direito, uma máquina de café. Tudo de graça e a vontade.

    Atrás do balcão, estava uma moça de aparência mediana. Não era exatamente feia, mas Samuel já tinha visto gente mais bonita. Ela levantou o olhar para ele, observando-a rapidamente. Porém, Samuel sabia que Emma tinha lhe dito para procurar um tal de Jonas Smith. A garota atrás do balcão aguardava, que o jovem falasse algo.
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    Mensagem por Zer0 Sáb maio 20, 2017 5:09 pm

    Samuel sentiu todos os músculos enrijecerem quando o sino tocou. Sempre que uma ação sua causava um som, a ação tinha dado errado. Seus sentidos entraram em alerta e o garoto rapidamente correu os olhos pelo local. Bebidas, outros garotos, a recepcionista... Ninguém pareceu lhe dar atenção especial, estava tudo bem. 
     
    -Eu... - A voz de Khan saiu rasgada e falhando, a última vez que falara foi para agradecer Emma há algumas horas, pigarreou – Me falaram pra encontrar um cara. O nome era Jonas Smith. 
     
    Samuel não conseguia tirar os olhos dos biscoitos, então sem pensar caminhou até eles, abriu o pote e já estava com a mão dentro quando olhou para a mulher que o atendia, esperando algum gesto de permissão, afinal, ele era um "pobre garoto buscando um lar" e blá blá blá.  
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    Mensagem por Rosenrot Seg maio 22, 2017 10:45 am

    Lá dentro, o ambiente era levemente agradável. Ainda que fora dos padrões que Samuel julgasse ‘seguro’ para ele. Haviam cartazes nas paredes, anunciando atividades ou oportunidades de empregos. A recepcionista levantou os olhos para Samuel, quando ele começou a falar; caso olhasse por detrás do balcão veria que antes da chegada dele, a moça estava preenchendo o que pareciam fichas.

    - Aguarde um momento. – Disse a jovem, numa voz quase robótica, enquanto retirava o telefone do gancho. - Há café, água e biscoitos. Você pode se servir a vontade. Há um banheiro ao fundo também, caso queira tomar banho ou usá-lo.

    Pelo jeito que falava, era possível que aquela jovem repetisse aquele discurso muitas vezes no seu dia. Ela digitou alguns poucos números no telefone e falou com alguém muito rápido, antes de devolvê-lo ao gancho e voltar sua atenção as fichas. Samuel teve que esperar alguns minutos, quando um sujeito finalmente apareceu vindo de uma das portas dos fundos, ele trocou olhares com a recepcionista que apontou a caneta para Samuel.

    O jovem Jonas se aproximou e estendeu a mão para ele. - Jonas Smith. – Ele disse, parecia um sujeito simpático, vestia-se de forma bastante simples: uma camiseta, calça jeans tênis. - Posso ajudar em algo?
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    Mensagem por Zer0 Seg maio 22, 2017 2:34 pm

    Samuel encheu a mão de biscoitos e socou-os em sua boca sem pensar duas vezes. Estavam meio murchos, mas é claro que o garoto nem reparou a diferença. Lutava para mastigar a quantidade enorme de farelos em sua boca quando o tal Jonas apareceu e lhe estendeu a mão. 
     
    Aquilo era raro, Khan não sabia a última vez que tinha lavado as mãos, evitava até mesmo contato corporal com Emma e Sean, embora os dois claramente não ligassem para sua higiene, o menino sabia que isso era algo para ser levado em consideração. 
     
    Apertou a mão do homem, porque deixá-la no ar seria ainda pior. Porém ainda lutava para mastigar seus biscoitos. Uma pasta enorme havia se formado e era difícil de engolir. A cada mastigada o tempo passava e Jonas continuava olhando para ele, esperando uma resposta. A cada mastigada, Samuel pensava: na próxima eu engulo. mas parecia impossível! 
     
    Até que o garoto finalmente conseguiu mandar pra dentro com um sonoro barulho que parecia de desenho animado. Então disse, afobado e envergonhado: 
     
    -Emma, ela mandou... Quer dize, pediu. Que eu viesse te encontrar, disse que 'cê podia me ajudar.
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    Mensagem por Rosenrot Ter maio 23, 2017 12:54 pm

    Jonas parecia um sujeito simpático a primeira vista. Ele era jovem – talvez uns 20 anos? - e assim como Emma, tinha aquela aura bondosa em volta de si. Quando Samuel parecia meio atolado com os biscoitos na boca, Jonas se afastou e pegou um copo com água e ofereceu para o jovem, mas fora isso aguardou pacientemente que Samuel terminasse de travar sua pequena batalha com os biscoitos na boca.

    – Acho que lembro dessa conversa. – Comentou ele, quando Samuel citou Emma, ele moveu uma das mãos e convidou o jovem Roedor para caminhar pela área da casa. – Veja bem. – Começou, passando por uma das portas na direção do quintal na parte de trás da casa. – Não somos uma instituição governamental. Vivemos de doações e da boa vontade de voluntários. O que fazemos aqui é fornecer abrigo, alimentação, educação e ajuda na busca de empregos para jovens em situação de risco, sejam os que moram nas ruas ou tem problemas em casa. Em alguns casos oferecemos advogados e apoio psicológico também. – Fez uma pausa leve, indicando que seguissem um pequeno caminho de tijolinhos ao lado de uma horta.

    - O que tentamos fazer é dar ao jovem uma oportunidade de reconstruir a vida e toda essa baboseira que você provavelmente já escutou em algum lugar. – Riu-se de leve. Ele abriu a boca para falar algo, mas foi subitamente interrompido por uma gritaria e correria que vinha da frente da casa e de sons de tiros. A porta por onde Samuel e Jonas tinham saído para o jardim se abriu bruscamente e a recepcionista que o atendera passou correndo por ali, ela gritava algo como ‘ele tem uma arma, ele tem uma arma’ e corria para atrás de Jonas.

    Jonas se pôs na frente da jovem moça e de Samuel, esticando os braços como se assim pudesse protegê-los. A porta se abriu mais uma vez e um homem saiu dela – Samuel conhecia aquele tipo de pessoa, era uma merda de um traficante – ele apontou a arma para Jonas. Mas segurava um dos meninos da recepção pelos cabelos junto ao corpo.

    - Escuta aqui ó branquelo. ‘Cê tu não me falar onde eu acho aquele merdinha do Maxwell eu vou mandar esse aqui pra acertar as conta com o Criador e depois vou mandar tu e esses dois ai de brinde.

    Jonas moveu as mãos devagar, para a frente do corpo, e pediu calma para o sujeito com a arma.

    - Por que você não deixa eles três irem e nós conversamos sobre isso? Podemos resolver sem ferir ninguém. – Disse Jonas, ainda usando o próprio corpo para proteger a recepcionista e Samuel, o traficante riu e colocou a arma no pescoço do menino que chorava. - Ok, ok. Vamos fazer assim… Você solta ele e me pega no lugar, ok? – Dito isso, Jonas começou a se afastar, indo na direção do traficante que olhou com desconfiança para a situação, mas também andou na direção de Jonas e quando ambos se aproximaram, o traficante soltou o garoto e segurou Jonas contra o corpo, virado na direção dos três: Samuel, a recepcionista e o jovem recém liberto.

    O tempo parecia parado, o ar parecia pesado quando Jonas moveu os lábios sem som, mas foi claro o que ele disse: corram. A primeira a correr – na direção contraria – foi a recepcionista, o traficante ergueu a arma, meio surpreso para acertá-la, mas Jonas também se moveu, entrando em uma luta corporal contra ele. Um tiro foi disparado, mas impossível saber se tinha acertado alguém. O jovem antes refém também correu, batendo no  braço de Samuel para que ele também o fizesse.

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    Mensagem por Zer0 Ter maio 23, 2017 7:23 pm

    Samuel congelou no lugar por alguns instantes, o ex-refém bateu em seu braço, lembrando-o da realidade. O garoto se sentiu compelido a ajudar Jonas na luta corporal e imobilizar o traficante. Mas ele tinha uma arma, ninguém é burro o suficiente para ir bater em um cara armado. Dãã. 
     
    Sam seguiu a recepcionista e o menino, já que não conhecia o restante do terreno, porém sabia que devia se desvencilhar da turba o mais rápido possível, então assim que encontrasse um lugar onde pudesse se esconder, faria-o. 
     
     Sentiu-se mal por ter abandonado o Jonas, mas ele que pediu para que fugissem. Se tivesse pedido ajuda, é claro que Khan o teria ajudado. Teria? Era tarde para filosofar sobre o leite derramado.
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    Mensagem por Rosenrot Qui maio 25, 2017 12:00 pm

    “Where were you
    When everything
    was falling apart?”
    You Found Me – The Fray



    Costuma dizer que é da natureza humana tentar sobreviver a todo custo. Costumam dizer que, às vezes, frente a frente com algo muito maior do que você se julga capaz é possível aflorar um lado seu que está ali, oculto, sujeito a segredos, um lado que talvez nem mesmo você conheça. Dizem muitas coisas sobre o que não conhecemos. Mas há muito além do véu.

    Quando Jonas disse para que correrem e assim eles fizeram, o homem entrou em luta corporal contra o sujeito armado. Era difícil dizer se tinha sido ou não uma boa ideia. Quer dizer, como pensar a respeito daquilo no instante que se transcende a todas as coisas que aconteceriam em seguida? Talvez dali uns anos, quando todos os envolvidos parassem para pensar a respeito do dia em questão, talvez viessem a jogar alguma luz sob outras perspectivas.

    Mas agora havia apenas uma: a adrenalina. Fato era que a jovem recepcionista conhecia muito melhor o lugar que ambos os garotos que de maneira instintiva, a seguiam. Era um quintal grande, onde aparentemente fizeram umas hortas e alguns pequenos jardins. Notável era também que o terreno começava em uma rua e terminava na rua de trás àquela; havia um portão no final do quintal murado.

    Samuel nunca chegaria àquele portão. Claro, ele ainda não sabia disso.

    Houve dois tiros.

    Bang, Bang.

    Então um rosnado.

    Inferno, era mesmo um rosnado? Samuel não sabia. Seu corpo gelou dos pés à cabeça num instante. Como se o inverno inteiro houvesse baixado sobre ele num respirar. Os outros dois pararam também, os olhos arregalados, exceto pela recepcionista. Ela parecia… Ela parecia familiarizada com aquele som, seu olhar pairou sobre os dois garotos. Ela correu, ah, céus, ela sabia que tinha que correr e suas mãos alcançaram o portão, destravando-o. Vão!!!! Samuel pode ouvi-la gritar, mas era muito, muito longe – o outro rapaz foi, claro, se moveu mais rápido do que uma barata correndo de uma enchente -, mas Samuel estava congelado.

    Isso tem que começar em algum lugar

    A recepcionista gritou mais uma vez, mas Samuel não escutou. Sua mente estava muito, muito longe. Por um instante breve, ele sentiu todos os sentidos do seu corpo se ampliarem de maneira absurda; podia ouvir os ganidos, rosnados. Podia sentir o cheiro de sangue fresco no ar, podia ver muitas e muitas cores brilhantes.

    Isso tem que começar em alguma hora

    E Samuel viu o momento em que o corpo do traficante foi jogado contra o muro e a coisa que tinha jogado ele de pé sobre as patas, as garras vertendo gotas grossas de sangue. A coisa olhou para ele. Tinha dentes enormes, um focinho protuberante e olhos amarelos.

    Que melhor lugar que aqui?

    E a coisa era assustadora. Parecia uma besta saída de histórias de terror e ele sabia que a coisa tinha matado o homem e Samuel não conseguia se mover e não conseguia parar de olhar para a coisa.

    Que melhor hora que agora?

    A coisa deu um passo na direção de Samuel.

    Então Samuel não viu mais nada.

    (….)

    A primeira mudança nunca é simples, você vai ouvir isso da maioria dos Garou com quem conversar. A primeira mudança na maior parte do tempo é uma experiência traumática e às vezes, mortal para àqueles ao seu redor. Talvez a sorte de Samuel tenha sido Jonas. Ou a sorte de Jonas tenha sido Samuel, é difícil dizer.

    (….)

    Samuel sentiu algo devastador crescer dentro de si, algo que pulsava em seu sangue como fogo, correndo por cada pequeno centímetro do corpo do jovem. Algo que estava levando embora sua visão e sua consciência. Seus dedos se tornaram maiores, garras saltaram para fora das unhas, seu corpo estalava – e doía no processo – enquanto os músculos se esticavam e cresciam, as roupas se rasgavam. Pelos tomavam conta da sua pele, sua mandíbula deslocava-se e tornava-se um focinho, com uma boca repleta de dentes afiados. Ah, e ele sentia força.

    Não apenas força. Ele sentia Fúria. Uma Fúria constante, avassaladora, sua visão era vermelha de ira, sua vontade era única e universal: ele precisava matar. Samuel não estava mais ali, qualquer vestígio de sua consciência tinha sido tomada pela Fúria. A sensação era poderosa; sentidos melhores, força maior, mas não tinha nenhum controle aquele respeito. Pensava e era controlado unicamente pela Besta, a Fúria era sua única companheira naquele instante. Então a fera que um instante atrás era Samuel avançou para cima da coisa.


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    [Prólogo] - Samuel Khan Empty Re: [Prólogo] - Samuel Khan

    Mensagem por Zer0 Sáb maio 27, 2017 7:42 am

    Gritei de dor enquanto sentia meus músculos se esticarem de uma forma que eu acreditava ser impossível, mas justamente quando achei que iriam arrebentar, se fortaleceram. Meu ossos se deslocavam em meu corpo, meus pelos e unhas cresciam e não havia uma única parte do meu corpo ou mente que não sentisse a dor. 
     
    Tentei lutar contra a ira e a dor que se apossavam de meu corpo, mas foi em cão, sabia que era algo muito maior que eu, vinha de dentro, me engolia e possuía. Por alguns segundos me senti fraco, incapaz, amedrontado do que poderia acontecer, mas esses eram apenas alguns resquícios de um garoto que partia desse mundo. Todos esses sentimentos fracos e patéticos foram brutalmente destruídos pela ira e pelos sentimentos animalescos que se despertaram de um lugar oculto em minha mente.  
     
    De repente uma onda de estímulos sensoriais me atingiu. Eu conseguia ouvir alguns carros à distância, meus olhos fitaram em minha frente a criatura semelhante a mim, eu sentia o cheiro da recepcionista humana atrás de mim, mas o que realmente arrancou o resto de consciência que ainda restava foi o odor do sangue do traficante que havia sido exterminado por aquilo que Jonas se tornara. 
     
    O cheiro de sangue despertou memórias reprimidas da cabeça do patético menino humano que um dia eu havia sido. A vida nas ruas o havia esmagado, destruído e drenado toda a humanidade que restava nele. Confrontando a lei da natureza, o lobo dentro dele havia fugido de todos os desafios que Gaia havia botado em seu caminho. O Frenesi era só uma questão de tempo. 
     
    Sentia o cheiro de um bosque não muito longe, a natureza me chamava como uma mãe chama um filho. E eu atenderia ao chamado, destruindo qualquer coisa que me impedisse.  
     
    Um novo odor entrou em meu fuço. Medo. A humana perto de mim suava de tensão, eu conseguia ouvir seus dentes rangendo uns contra os outros. Aquele medo patético atiçou ainda mais minha ira, como uma caça que foge de um caçador. Sem entender os limites do meu corpo, acertei a garota com as costas de minha mão (ou pata?). Como uma boneca de pano, ela flutuou no ar antes de colidir contra o chão.  
     
    Me virei novamente e fitei Jonas, que se aproximava cauteloso. Não haveria luta, haveria um massacre. Eu destruiria aquela criatura, pois não havia nada mais poderoso do que eu. Espumando de raiva, me botei em quatro patas e investi, obedecendo todos os impulsos que me empurravam a fazer isso.
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    [Prólogo] - Samuel Khan Empty Re: [Prólogo] - Samuel Khan

    Mensagem por Rosenrot Sáb maio 27, 2017 10:51 am

    As coisas naquele estado aconteciam em um ritmo frenético demais para se parar pra pensar. Quando Samuel acertou a mulher, a fera frente a ele urrou com ira e avançou. Não era algo que ele pretendia prolongar por muito tempo – e nem podia, dada as circunstâncias –, pois sabia que logo toda aquela confusão chamaria atenção desnecessária. Era uma matemática simples: ele precisava derrubar Samuel antes de qualquer um chegasse.

    Samuel, consumido pela Fúria era um adversário forte, mas não esperto. A Fúria não deixava que você raciocinasse, não lhe deixava pensar em seus movimentos ou consequências. Samuel era forte, claro, como todo Garou, mas era cru como todo filhote, e Jonas não. Jonas era um Garou já sabido. A vantagem estava do seu lado.

    Ele acertou Samuel pelo flanco e o derrubou no chão, era uma questão simples de imobilização. E então de concentração…

    Jonas já tinha feito aquilo antes, só precisava de um pouco de… Concentração. O Garou que era Jonas forçou o jovem Samuel contra o chão de maneira brusca e então… A Fúria de Samuel foi se esvaindo aos poucos (Dom Acalmar), como se fosse sugada ou levada para outro lugar. A Fúria começava a deixar seu corpo e isso não era dolorido como da primeira vez, mas era cansativo.

    Samuel começou a se sentir sonolento, tonto e meio fora de si e em um momento, estava apagado.

    (…)

    Quando acordou naquele fim de dia, Samuel estava num quarto bem arrumado e com o cheiro bom. Estava limpo também – parecia ter tomado banho – apesar de não se lembrar disso e usava roupas limpas. Ao lado da cama estava sua mochila com suas coisas e uma bandeja com água e alguns sanduíches estavam numa mesinha ali perto. Pode ver pela luz que entrava na janela que a noite começava a chegar.

    Alguém bateu à porta e a abriu, Samuel tinha leves flashs de memória a respeito do que tinha acontecido mais cedo. Era Jonas quem entrava o homem sorriu de leve e puxou uma cadeira, para se sentar próximo ao jovem.

    - Bom, vamos pelo mais fácil… Do que você se lembra?
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    [Prólogo] - Samuel Khan Empty Re: [Prólogo] - Samuel Khan

    Mensagem por Zer0 Dom maio 28, 2017 9:32 pm

    Um pouco de dor de cabeça e dores musculares no corpo todo. Samuel tinha dúvidas se aquilo havia sido o pesadelo mais real ou a situação mais surreal que já teve. Quando Jonas entrou na sala, teve o alívio de poder ter sua dúvida respondida. Pelo jeito que o homem fez sua pergunta era claro que tudo havia sido real. 
     
    -Jonas, nós somos... O que nós somos? Eu lembro de... Oh não! A recepcionista, ela não está morta né? Eu não quero ser preso Jonas! 
     
    Pensamentos de dúvida e confusão misturando a agonia de estar na fronteira de um mundo novo e desconhecido com agonias de uma criança das ruas se embaralhavam em sua mente, deixando Samuel sem saber com o que se preocupar mais.
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    [Prólogo] - Samuel Khan Empty Re: [Prólogo] - Samuel Khan

    Mensagem por Rosenrot Seg maio 29, 2017 1:48 pm

    - Acalme-se. – Disse o Filho de Gaia, ao sentar-se ali, próximo ao jovem Samuel, compreendia as dúvidas: não era fácil ser um filhote, ser um filhote perdido era ainda mais difícil. Jonas suspirou de leve. - Sim, está. Ela ficará bem. – Ia acrescentar que os Theurge da Seita estavam cuidando dela… Mas acho que era informação demais para uma única manhã.

    - Somos o que nosso povo chama de Garou, Samuel. Fomos abençoados com o poder de Luna para lutar por sua causa. Infelizmente eu não tenho como responder todas as suas dúvidas porque há coisas sobre você que eu também não sei. Mas alguém que chamei até aqui será capaz de fazê-lo. – Ele calou-se por um momento, enquanto esperava a enxurrada de perguntas que sentia vir em sua direção, Jonas era um sujeito bastante calmo, pelo visto.

    Então, devagar, Jonas começou a explicar.

    Ele falou sobre as Treze Tribos, sobre cada peculiaridade, sobre a Guerra, sobre a Nação. Explicou sobre Gaia e sobre como os Garou ‘funcionavam’, suas peculiaridades e tudo mais. Buscou ser o mais enfático possível a respeito da Gaia, assim como também passou pelos Augúrios e o resto. Também falou sobre os Parentes – e Samuel descobriu que tanto Emma quanto Sean eram ‘Parentes’ - e que o significado disso ia muito além da mera compreensão.

    Quando Jonas terminou de explicar tudo, já estava chegando à tarde daquele dia.

    – Acho que seria bom comermos alguma coisa. – Comentou Jonas, se levantando. - Um colega vai passar aqui para dar uma olhada em você, para descobrirmos de que Tribo você faz parte e qual seu Augúrio e ai eles vão te levar até sua Tribo e eles vão te ensinar o que tem que ser ensinado.

    Jonas e Samuel desceram as escadas para um cômodo que parecia algo como uma cantina e alguém serviu para eles um almoço simples, mas gostoso. Passaram o resto da tarde conversando, quando finalmente o tal amigo de Jonas chegou. Eles se recolheram novamente no quarto onde Samuel estava antes e lá o sujeito fez umas coisas esquisitas – que ele chamava de Ritual – e pode dizer que Samuel havia nascido na Lua dos Ragabash e que pertencia aos Roedores de Ossos.

    OFF:

    Depois de algum tempo de conversa, Samuel foi levado para uma volta pela cidade de Bray e ele retornou ao centro onde estava tão acostumado, lá, Samuel e Jonas caminharam por ruas que Samuel não se lembrava de conhecer, mas que tinham uma aparência tão familiar de decadência e descaso. Eles pararam frente a um beco, onde dois moradores de ruas estavam conversando, Jonas se aproximou e falou com eles e depois chamou Samuel. Ambos entraram no beco e lá desceram por um bueiro, usando a escada para o que parecia uma galeria de esgotos.

    Lá em baixo, onde havia o que parecia uma ‘pequena comunidade’ de moradores de ruas, que transformaram as galerias numa espécie de lar – alguns espaços eram preenchidos por papelões e afins para formarem paredes – Samuel descobriu que eram Roedores de Ossos e seus Parentes e após algumas conversas, ele foi deixado ali, Jonas não pertencia aquela Tribo, apesar de ser bem visto.

    Lá, Samuel conheceu outros Garou e um sujeito chamado Ronny “Rói-com-Rancor” era um Ragabash como ele e Ronny seria o novo mentor temporário de Samuel. Ronny reforçou as histórias das Tribos para Samuel, mas acrescentou seu ponto pessoal de como lidar com cada um. Particularmente ele não gostava apenas dos Senhores das Sombras e dos Presas de Prata, mas tinha motivos para isso e só.

    Ronny lhe levou para a Umbra, junto de um Theurge para lhe ensinar sobre os Espíritos, sobre os Dons e tudo o mais. Ronny também lhe ensinou um pouco sobre explosivos, sobre sobreviver e todas essas coisas que achava que um Ragabash deveria saber.

    Conforme os dias iam passando, Samuel era mais inserido no ambiente Roedor, em como eles eram unidos uns aos outros. Em como se ajudavam e cuidavam uns dos outros. Ronny era um bom professor. E fazer parte de tudo aquilo estava sendo cada vez mais… Interessante. Talvez pela primeira vez, Samuel se sentisse bem-vindo em um lugar, entre aquelas pessoas. Ronny também explicou sobre a ‘política’ Garou e falou sobre a Seita e os Caerns que faziam parte dela. Explicou a Samuel que Bray era um território comandado pelos ShL, mas que as ruas eram dos Roedores, era importante salientar que não deveriam arrumar problemas maiores do que poderiam resolver.

    Uma mão lava a outra, as duas lavam o rosto.

    Era final de tarde, quando Samuel, Ronny e Amylee sentaram-se para ver o pôr do sol. Amylee era uma Theurge e tinha ajudado Ronny a ensinar as coisas que Samuel precisava saber sobre a Umbra e os espíritos. Era uma menina magrela, de cabelo crespo e olhos escuros, que tinha uma animação em excesso. Ela colocou um radinho de pilha ao seu lado e o ligou no volume mais alto que a bugiganga conseguia tocar, tocando Give It To Me da Madonna. A garota se levantou, cantando e dançando a música.

    Ronny revirou os olhos. Resmungando um “que visão do inferno”, mas voltou sua atenção para Samuel.

    - A Assembleia é amanhã à noite. Pronto pro Ritual de Passagem moleque? – Perguntou, dando uma mordida no sanduíche.
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    Mensagem por Zer0 Ter maio 30, 2017 7:29 pm

    As últimas semanas de Samuel haviam sido as melhores de sua vida. Experimentava uma coisa que nunca antes tinha sentido. O sentimento de união. Todos aqueles Garou lhe ensinando e transmitindo conhecimento sobre a sociedade da qual fazia parte. 
     
    Assim que descobriram seu augúrio, Rony insistiu em sua função como um humorista ácido e contestador. Dizia que apesar de ser rebelde, Khan era muito fechado e, por isso, não desempenharia bem seu papel. Recebendo a crítica com desagrado, o garoto começou a tirar as grossas blindagens que havia colocado em seus sentimentos. 
     
    A medida que o treinamento passava, Samuel ficava mais imprevisível e explosivo, tanto no sentido mental, recheando suas falas de piadas direcionadas a tocar em uma ferida aberta (ás vezes, sentia-se o diabo necessário), quanto em explosões reais, aprendendo que tudo pode ser perigoso, se misturado com as coisas certas. 
     
    Aprendeu também sobre as formas em que podia se transformar e divertia-se muito com elas. Sempre havia tentado imaginar todas as coisas que um cachorro poderia fazer e, bem, muitas de suas dúvidas envolvendo o mundo canino foram respondidas. A propósito, é muito mais legal tomar água na forma lupina. 
     
       Gostava muito dos ditados dos Roedores, eram cheios de conhecimento que, um dia, poderia ser botado em prática. Por exemplo: "Não confie em ninguém, mereça a confiança de todos" ou o também "Se o osso é muito grande para sua boca, talvez não seja seu osso". 
     
    A parte que botava um pouco de angústia no jovem filhote era a Umbra e seus espíritos. Já achava que era diminuto em relação ao mundo, ao descobrir esse segundo plano da existência, sentiu-se poeira. Não confessava para ninguém, mas sempre que possível tentava evitar esse mundo espiritual. 
     
    O Ragabash se sentia bem com os outros, era como uma família enorme. Uma família que ele nunca teve e por muito tempo rejeitou. Gostaria de poder ficar ali para sempre, aprendendo e fazendo loucuras com os outros de seu Augúrio, mas o dia da Assembéia se aproximava e Samuel tinha um teste importante a frente. 
     
    Foi mergulhado nesses pensamentos que foi surpreendido pela pergunta de seu mestre. Respondeu meio distraído pela voz desafinada da Theruge. 
     
    -Claro que estou. Digo, eu aprendi tudo que poderia aprender desde que comecei meu treinamento. O que eu não aprendi foi mal ensinado... Na verdade, eu não consigo entender uma coisa. Eu já não sou parte de vocês? Por quê eu preciso de um Rito de Passagem?
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    Mensagem por Rosenrot Qua maio 31, 2017 2:50 pm

    - Porque os velhos gostam de fazer as coisas ao estilo dos velhos. - Respondeu Ronny, cuspindo alguma coisa e voltando a comer, a Theurge parou de dançar e cantarolar, respirando fundo.

    - Você não entra por exercito e ganha uma patente mais alta só porque entrou pro exercito, né bonito? - Falou ela, daquele jeito que tinha de dizer as coisas. - É isso que cê vai fazer, ganhar uma patente. Ganhar um posto, deixar de ser um filhotinho fedido e passar a ser um Cliathzinho fedido.

    Amylee voltou a mover os ombros, sentando-se também. - Não é pra provar que cê é um de nós. É pra provar pra Luna que cê tá pronto pra lutar por ela.

    - É isso aí também, que a fedorenta disse. - Completou Ronny, dando de ombros. - Melhor a gente por o pé na estrada, porque essa assembleia é do outro lado da cidade lá no meio do mato.
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    Mensagem por Zer0 Qui Jun 01, 2017 9:35 am

    Samuel suspirou meio aborrecido. Gostaria de poder discutir, teimar, dizer aos seus mestres que as tradições são estúpidas, mas no fundo sabia que estava errado. Aquele ritual era tão importante para ele quanto havia sido o seu treinamento. 
     
    Levantou-se vagarosamente aproveitando cada segundo que ainda tinha naquele local e então estendeu a mão para que Ronny fizesse o mesmo. 
     
    -Não temos por que esperar então, ó mestre fedorento. 
     
    Olhou então para Amylee e disse: 
     
    -Obrigado, por tudo. Tente não se perder na Umbra, fedorentelha.
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    Mensagem por Rosenrot Qui Jun 01, 2017 11:37 am

    - Veja só isso. - Disse a jovem Theurge, que parecia bastante propensa ao mau humor súbito. - O sujeitinho chegou ontem e já tá achando que pode com a gente, Ronny.

    Ronny moveu as sobrancelhas, como quem diz 'deixa ele, deixa ele', e se levantou, aceitando a mão de Samuel para isso, os dois se despediram de Amylee e se afastaram. Inicialmente pegaram carona na estrada aqui e ali - Ronny era bom de lábia - e conseguia com facilidade a ajuda de uns caminhoneiros e afins.

    Como Ronny tinha dito... O lugar era longe e eles perderam boa parte do dia - e da tarde - indo de uma carona para a outra, a última tinha sido a traseira de uma caminhonete de um senhor que estava indo para os lados que eles iam. Ronny tinha baixado o chapéu e tirado um cochilo. E mais e mais iam se afastando da cidade.

    Quando finalmente desceram perto de um parque nacional, Ronny guiou Samuel para dentro do parque e depois para dentro de lugares que os humanos não tinham a menor consciência de existir. Era meio dúbio as sensações para os dois Roedores. Eles se sentiam bem porque era um local puro, um local onde os espíritos e a mãe Gaia estava presente, mas se sentiam estranhos por estarem fora da cidade.

    Pediram passagem em suas formas esquálidas lupinas e as receberam. Ronny guiou Samuel por entre a floresta e pelo modo como corria ficava claro que já tinha estado outras vezes ali. Quando chegaram a clareira onde a maioria dos Garou estavam, Samuel pode ver a grandiosidade do que aquilo se tratava (Descrição no  outro tópico).

    Ronny voltou a sua forma humana, limpando as mãos nas roupas. Ele deu uma olhada em volta, como quem procura alguma coisa.

    - Veja bem.- Disse ele. - Nessas festas é sempre bom procurar os Fiannas ou os Crias. São os que bebem melhor e comem melhor. Aqueles ali... - Apontou Ronny, para um pequeno grupo. - São os Crias de Fenris dessa Região. Eles tem um Caern lá pros lados de Slaheny River Bog, o velho de cabelo longo e cicatriz na cara é o Ancião deles, Erik "Justiça-Primeva", um Philodox. Ele, junto com o Roderick "Verdade-Mal-Intencionada" de Bray e a Sussurra-no-Vento daqui e A-Dama-da-Guerra e o Guardião-dos-Registros formam o conselho de Anciões da Seita. Aquela ali... - E indicou uma jovem de cabelos vermelhos e cara pintada. - É Aine "Antes-que-Anoiteça", filha da chefia desse lugar, os outros com ela não faço a menor ideia. Mas vamos lá dar um oi. - E se moveu na direção da jovem Aine, que tinha em sua presença mais três pessoas, duas moças e um rapaz.

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