The wheel breaks the butterfly
Every tear, a waterfall
In the night, the stormy night
She'll close her eyes
In the night, the stormy night
Away she'd fly"
Paradise - Coldplay
Sienna
Quando aquele dia amanheceu, Sienna que tinha tido uma noite problemática graças a tempestade, tinha uma sensação esquisita de que algo estava fora do lugar mesmo que não conseguisse definir exatamente do que se tratava. Ela também encontrava-se preocupada com sua irmã gêmea, que até o momento não tinha lhe dado notícias ou qualquer coisa do tipo. E a casa parecia em um silêncio quase sepulcral. O que era estranho para aquela hora da manhã. Quando reuniu vontade de realmente levantar da cama, Sienna foi cuidar da higiene pessoal, antes de dirigir-se ao salão onde a família fazia as refeições.
Lá, ela pode encontrar o pai e o irmão, assim como alguns associados da família que viviam pelos arredores – alguns faziam parte da matilha do irmão de Sienna – era estranho ver a cadeira de Aimee vazia, mas por algum motivo estranho Sienna estava começando a se acostumar com aquela ideia. Não conseguia imaginar como a irmã ia fugir daquele casamento sem fazer algo muito drástico e que a prejudicasse.
Mas o que a estava preocupado naquele momento não eram esses pensamentos… Era a calmaria que seu pai parecia deter diante de mais uma fuga da jovem Aimee… Normalmente empregados e subordinados estariam se movendo de um canto para o outro para descobrir onde Aimee estava àquela hora, mas nos dias que antecederam a ‘fuga’ da jovem, ninguém fez absolutamente nada.
- Não acho que sejam uma boa ideia vocês ficarem zanzando nas fronteiras com o Norte. – Disse o pai de Sienna para seu irmão. - Vocês bem sabem de quem são àquelas terras e bem sabem que ela não gosta muito que fiquem fuxicando por lá. E além do ma... – Mas sua fala foi subitamente interrompida pela entrada de um dos criados da casa, o sujeito andou até os dois homens e cochichou algo em seus ouvidos.
- Deixem passar. – Decretou o irmão de Sienna e o homem se retirou. Houve uma troca muito rápida de olhares entre os dois. As coisas voltaram levemente ao normal, enquanto Seamus perguntava a Sienna como ela se sentia naquela manhã e etc, etc.
O café da manhã estava correndo relativamente bem, quando o sujeito que entrou a poucos minutos retornou, e anunciou.
“- Senhora Mayla “A-Grande-Caçadora-Cinza.” - O sujeito mal acabou de falar e uma mulher entrou na sala… Ela não se vestia exatamente como uma nobre; sua camisa era algo bastante rústico aparentemente feito em casa e meio medieval, a saia parecia feita de peles de animais e as botas amarradas com tira de couro, pareciam ser feitas de pele de cervo… Ela era alta (cerca de 1.77m) tinha os braços fortes e os cabelos loiros trançados, atrás dela vinham mais dois sujeitos, mas que ficaram a alguma distância da Cria de Fenris, que encarava o irmão de Sienna com sangue no olhar. A mulher trazia um saco de couro numa das mãos, e ele parecia molhado ou viscoso, era difícil decidir. Na cintura, tinha presa uma Klaive.
Ela enfiou a mão dentro do saco e de lá tirou uma cabeça de cervo que ainda sangrava e jogou na mesa do café da família, na direção de Aeron, que junto com o pai se levantou surpreso.
– Isso é um aviso de A-Dama-da-Guerra-rhya. – Falou Mayla, Sienna já tinha ouvido aquele nome na época em que sua mãe ainda era viva. A-Dama-da-Guerra era uma Ahroun Cria de Fenris que dominava a maioria dos Caerns da Alemanha e também tinha dedos nos Caerns ao Norte da Irlanda. Era uma mulher temida e respeitada não apenas entre os Crias, mas também entre outras Tribos, tinha sido grande amiga de sua mãe. Mayla continuou.
- Por respeito a memória e aos feitos de sua mãe, não é sua cabeça ai e agora. Mas se você e sua matilha continuarem insistindo em enfiar seus focinhos em nossas fronteiras e assustar nossos Parentes, você será morto. E essa frágil aliança desfeita. Esse é o primeiro e último aviso, Presas-Perfurantes. Nossos Parentes não são para seu entretenimento. Se você quer brincar de bonecas, use os seus. – Mayla cuspiu no chão e deu-lhes as costas, os outros dois acompanharam ela…
Seu irmão, cabeça quente moveu-se, mas foi contido por dois membros da sua própria matilha. Seamus gesticulou e alguém apareceu para tirar a cabeça de cima da mesa. Ele lançou um olhar para Aeron, mas não disse nada.
“- Sienna, venha comigo por favor, querida.” – Disse o homem, movendo-se para fora da sala. Tinha perdido todo o apetite afinal de contas. O homem andou pelos corredores da mansão, e dobrou em uma das muitas salas de leitura por ali, indicou que Sienna sentasse e ele o mesmo o fez. ”- Sinto muito que tenha tido que presenciar isso, seu irmão às vezes é...” – Gesticulou com uma das mãos, não terminando a frase.
”- De qualquer forma, preciso que você faça um favor para mim. Andei refletindo e acho que preciso abordar nosso… Porém com Aimee de maneira diferente. Acho que vocês duas se entendem melhor, então você poderá ser minha diplomata nessa história.
Ele acendeu um charuto e aguardou.
(…)
It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh, take me back to the start
Aimee
Ela tinha demorado para pegar no sono, àquela noite. Depois de todas as coisas que haviam ocorrido e pelo fato de não conseguir parar de pensar em como sua irmã, provavelmente estava amedrontada diante da tempestade que caia. O sono demorou para chegar, porém eventualmente ele veio, e como sempre, carregado de seus mais profundos pesadelos.
Quando acordou naquela manhã cinzenta de Bray, Aimee sentia-se muito cansada. Seu espírito estava esgotado e seu ânimo tinha lhe abandonado quase por completo. Ela demorou a se levantar da cama e talvez só o tenha feito porque o estômago exigia isso, já que estava faminta. Aimee teve algum tempo para se arrumar e descer para tomar o café.
O lugar que tinha escolhido era pequeno e acolhedor. Tinha um ambiente vintage bastante agradável. O salão onde estava sendo servido o café da manhã era pequeno, mas muito organizado, limpo e decorado. Haviam além de Aimee apenas duas pessoas ali. Uma delas chamou bastante a atenção da Parente Prata, simplesmente pelo modo como vestia-se. Era uma jovem magra, de pele branca e cabelos escuros. Seu visual remetia a uma rebeldia estilística: cabelo raspado nas laterais, piercings, roupas escuras, maquiagem pesada. Ela estava observando um tablet e com fones de ouvido, parecia absorta em seus próprios assuntos.
Aimee serviu-se do que queria e procurou uma mesa para se sentar. A jovem Parente teve alguns poucos minutos de sossego solitário, então alguém puxou a cadeira frente a ela. Talvez para seu espanto era exatamente a menina rebelde que Aimee tinha observado ao entrar.
- Eu conheço você. – Disse ela, num Irlandês carregado de um sotaque de outra língua. Russo, talvez? – Você é irmã daquele Bettencourt, não é? Eu conheço você porque minha irmã pôs seu irmão pra correr daqui com o rabo entre as pernas.” – Ela deu uma risada e moveu a cabeça em negativo.
- Sasha Smirnov. É estranho ver um de vocês aqui, sinceramente, considerando o fato de que seu irmão não é bem-vindo. – Sasha se recostou na cadeira, dando uma olhada em volta muito breve, depois moveu os ombros de leve. Não se interessava muito por aqueles assuntos de família e afins, mas informações eram sempre informações. Aimee sabia quem era os Smirnov. Eram Senhores das Sombras, e junto com outra família, dominavam alguns poucos condados da Irlanda, e Wicklow era um deles – onde Bray estava e onde Aimee tinha ido parar – ela provavelmente tinha se esquecido desse detalhe. As famílias não se davam muito bem há alguns anos e o temperamento do seu irmão não tinha ajudado já que o jovem tinha se metido em alguma confusão por aqueles lados e gentilmente convidado a não retornar mais.
O que talvez fosse bom, já que se ele não podia ir ali… Queria dizer que não podia ir atrás dela.
Mas ela podia ficar?
Sasha lançou um olhar na direção de Aimee, ela se recostou na cadeira de novo. – Então, porque a Princesa tá fora do palácio?