Ato III - O Último Confronto

O grupo desce a escadaria da torre. É uma descida mais longa do que o previsto, como se tivessem descido dois andares de uma vez. Lá embaixo eles veem um típico quartel anão, com a colunata de pedra dando o tom da arquitetura. Eles reparam que há várias portas e saídas, mas o que chama a atenção é num setor onde a parede foi completamente demolida.

- É por aí que os duergars passaram – grunhiu Baraz ao notar o rastro dos cinzentos. Um outro rastro - este visível por todos – representava alguma criatura grande, mas não reconhecida por Baraz ou qualquer um dos outros. – Com certeza foi esta criatura que escavou o túnel. Vamos!

Sob a liderança de Baraz, o grupo adentrou o túnel. Tochas foram acesas para iluminar o caminho e todos seguiram atentos. O túnel se deu numa espécie de vastidão subterrânea. Quilômetros de terra à vista sem algum ponto de referência além da rocha em que pisavam. Até o teto estava acobertado pela distância e escuridão que rodeava o grupo. O avanço era lento, cuidadoso e cheio de expectativa. Baraz ia à frente seguindo os rastros dos anões. Um ou outro começava a acusar o cansaço da caminhada quando eles alcançaram uma espécie de plantação de fungos. Normalmente os fungos constituíam o principal alimento dos povos subterrâneo, e sendo assim, não tardou muito para eles avistarem uma cidade. Na verdade, tratava-se de uma pequena vila. As casas eram espaçadas e pequenas, construídas de pura rocha. Notou-se que aquela vila devia ser de um povo pequeno, do tamanho de um halfling ou de um gnomo. O grupo caminhava por entre as casas até avistarem os inimigos mais à frente.

Seis duergars rodeavam Kaladzan, Ruína de Gigantes, outro herói amaldiçoado dos anões do Salão de Mitral. Atrás desse seleto grupo, um monstro se destacava pelo seu tamanho e sua aparência: à primeira vista assemelhava-se a um besouro gigante, com uma cabeça pequena e redonda com um par de mandíbulas espessas; ao mesmo tempo, pela sua forma corcunda de estar de pé, parecia um gorila enorme, com placas protetoras de quitina recobrindo quase todo o seu corpo; seus olhos eram algo digno de nota, pois ele tinha dois olhos grandes e arredondados como um besouro e mais um pequeno par de olhos entre os maiores. O duergar a frente do besouro também tinha uma forma particular e única, pois sua pele na verdade eram escamas negras e translúcidas, com duas asas saindo-lhe às costas que mais se pareciam com uma massa de sombras agourentas.

Ao lado do besouro gigante e do duergar escamoso, estava o último dos heróis anões, Yurric, o Ancião, sendo guarnecido por dois duergars. Yurric estava de costas para o grupo e ele parecia estar trabalhando num feitiço. A sua frente havia um buraco extradimensional de um branco puro como a neve, e a cada segundo parecia que o buraco aumentava de tamanho.

O mais adiantado do grupo era Baraz e ele estava a uns nove metros dos primeiros duergar à vista. Antes que pudesse agir ou até mesmo dizer algo, a ordem de ataque veio do ser escamoso lá atrás, no idioma dos anões.

- Eles são os protegidos da Senhora Alustriel, matem-nos a todos! - sua voz parecia ter saído das profundezas de uma caverna, e os duergars, além de Kaladzan, ergueram suas armas, prontos para o embate.

Os demônios eram familiares à Johan, e aquele que estava no comando da operação dos duergars certamente não era um deles. Suas escamas negras e principalmente o formato de suas asas obscuras diziam ao cavaleiro que se tratava de um meio-dragão oriundo do Plano das Sombras. Uma criatura tão perigosa quanto um demônio. Darksol também percebeu o parentesco da criatura com os dragões.

O Filho da Ruína ordena os passos do grupo antes que pudesse fazer qualquer relação da natureza do meio-dragão, e Frafur é o primeiro a investir, guiando sua poderosa montaria no meio das casas e acertando um golpe violento na cabeça do primeiro cinzento à sua frente. O duergar ainda estava consciente quando Felpudo enterrou suas presas nele e acabou com a sua vida.  

Drago Barbalarga queria arranjar uma maneira de alcançar rapidamente o besouro gigante, mas o único jeito seria abrir caminho pelos duergars combatentes. Ele avançou girando o seu malho e de forma impiedosa esmagou a cabeça de seu oponente, que logo seria substituído por outro duergar. Eunsech e Nerók atiraram suas flechas contra os cinzentos, enquanto Darksol subia no telhado de uma das casas dos gnomos e disparava uma rajada em Yurric, visando deter sua conjuração. O raio acertou as costas do mago, mas não foi o suficiente para atrapalhar a sua concentração. Ele estava focado no que fazia e o buraco do portal aumentava a cada instante.

- Não os deixem chegar próximos do portal! – gritou o meio-dragão para em seguida gesticular em direção aos dois duergars que estavam mais próximos dele e que portavam armas de longa distância. – Vocês dois aí, cuidem do kobold! Esse grupo não irá atrapalhar os meus planos de vingar a morte de meu pai! Bruenor há de morrer por minhas mãos e o Salão de Mitral há de ser uma vez mais a nossa casa.

Duas setas vieram zunindo por sobre as casas e Darksol apenas teve o trabalho de se agachar para se livrar delas. Em seguida, Nevasca e Sophia avançaram uma atrás da outra. Nevasca se embrenhou numa luta contra um duergar, dando-lhe dentadas e rasgões, e Sophia não conseguiu atacar o seu inimigo, pois ele tinha acabado de tombar perante Frafur. O cinzento que tentava se livrar das garras de Nevasca acertou uma martelada na boca do animal, e um segundo duergar surgiu atacando a companheira de Sophia, mas desta vez Nevasca se desviou do martelo. Belediel recuou um passo e disparou com o seu arco, mas a falta de prática fez que errasse o tiro. Johan e Baraz tomaram caminhos opostos, tentando pegar os flancos dos cinzentos, e Tom lançou uma magia não bem aceita pelo cavaleiro; quando Johan sentiu seu corpo formigar e começar a crescer, ele conseguiu resistir a tempo de parar os efeitos da magia de Tom.

Um cinzento ocupou o lugar daquele morto pelo Drago e atacou o goliath com o martelo de guerra, acertando bem no centro de seu largo peito. Um segundo cinzento percebeu o avanço de Johan e investiu nele, também acertando seu golpe. Kaladzan, por sua vez, escolheu Frafur como alvo. O herói dos anões carregava uma arma poderosa; na parte de cima era um machado, e na parte de baixo uma lança. Frafur já havia visto esta arma entre outros de sua raça. Kaladzan golpeou primeiro com a lâmina do machado, para em seguida enterrar a ponta da lança na perna do barakor. Ele repetiu o movimento duplo, mas agora Frafur conseguiu se defender dos ataques.

Sob uma nova ordem do meio-dragão – desta vez num idioma desconhecido -, o besouro gigante lentamente começou a avançar pelo campo de batalha.