JANE I
Do alto da janela de seus aposentos, Jane observava o movimento atípico que acontecia no grande pátio em frente aos portões do castelo. Os homens estavam fazendo os últimos preparativos antes de partirem para Porto Real. Ao longo de todo o dia, desde a hora em que chegou o corvo trazendo a lástima notícia da morte de Jon Arryn, o Castelo da Prata ficou em polvorosa. Tudo isso porque na carta com o selo real da Vossa Majestade havia um chamado para que Sor Leon fosse o quanto antes para a capital dos Sete Reinos.
Jane já fizera a sua parte em se despedir dos que iam embora, pelo menos aqueles aos quais se importava o bastante para isso. Era quase com um desinteresse completo que ela via os homens carregando os suprimentos para as carroças enquanto o Senhor Raymond Upton dava um demorado abraço em seu irmão. Além de Sor Leon, iriam para essa viagem a Senhora Shylla, o mestre de armas Sor Clark e a filha bastarda de Leo, Anabelle Hill, além de cerca de vinte homens para fazer a sua guarda, sem contar alguns escudeiros e criadas. As pessoas no pátio eram pontos pequenos da altura em que estava, mas Jane reconheceu a figura pequena e dócil de Raelly ao lado de Sor Leon. Então no fim das contas Shylla havia convencido a Raymond a deixar o seu caçula partir, com a justificativa de que seria uma boa oportunidade dele de conhecer Porto Real e a Vossa Majestade Robert Baratheon.
Era uma comitiva portentosa e Jane ouvira sussurros maliciosos pelos corredores do castelo de que não havia a necessidade deles irem em tantos. Alguns temiam que o castelo ficasse vulnerável sem a presença daqueles valiosos homens de armas, enquanto outros achavam que as coisas poderiam ficar bem monótonas e entendiantes.
- O seu tio está em seu melhor traje hoje. - A voz de Mirna Clifton quebrou os devaneios interiores de Jane e a trouxe de volta para o seu aposento. - Ele está radiante como o nosso brasão, minha senhora.
Mirna era a criada de Jane, uma garota magra, de nariz afinado e cheia de espinha no rosto. Ela não era das garotas mais bonitas do Castelo da Prata, mas a sua jovialidade e devoção atraía muitos homens velhos que a levavam para a sua cama. Era o que se dizia longe dos ouvidos de Jane, mas ela não precisava estar presente nessas conversas para saber o que os homens comentavam às suas costas. Mirna muitas vezes era incoveniente, como ela estava demonstrando nesse momento.
- Se me permite dizer, senhora, eu ouvi Harald afirmar hoje de manhã que o Sor León é o favorito para assumir a posição de Mão do Rei, agora que ela está vaga. Seria uma recompensa mais do que merecida por tudo o que ele fez por este reino.
O som dos pesados portões sendo abertas atraiu uma vez mais a atenção de Jane para o lado de fora. A comitiva liderada por Sor León finalmente se colocou em movimento enquanto um pôr-do-sol figurava para além das colinas, fazendo as águas do córrego brilharem em tons laranja-avermelhados.