CENA EXTRA 01 Tipo: Médio Previsão: 4 rodadas (8 postagens)
23/02/2016
A cozinha da mansão Seo seguia uma linha americana. Havia, obviamente, um salão para servir o jantar para vinte pessoas, mas a cozinha em si tinha um balcão onde alguns banquinhos ficavam logo na frente. Seria o tipo de cozinha ideal para uma família que gosta de ter refeições informais, mas que também gostam de ficar um tempo juntos.
O ambiente acompanhava uma cor que denotava poder, ainda mais pela linha inox que havia tanto nos utensílios quanto nos eletrodomésticos em si. Qualquer um era capaz de se maquiar no reflexo que a geladeira emitia, por exemplo, pois era tão limpa e perfeita que mais se assemelhava a um espelho.
A cozinha era um dos lugares que Hyemin mais gostava na casa, principalmente agora que estava aprendendo a cozinhar com mais destreza, visto que seu interesse pela área vinha aumentando. As amigas do colégio tinham elogiado bastante uma receita “fácil” de brownie que ela tinha aprendido num tutorial do youtube. Outro motivo que talvez a fizesse gostar da cozinha, também fosse quando o pai dela simplesmente trocava o terno pelo avental e se apoderava daqueles facões para fazer cortes precisos e perfeitos nos legumes. Sung-Ki sempre se empolgava e fazia um banquete apenas para ele e Hyemin.
Porém, todos os banquetes dele vinham acompanhado de um assunto sério. Era quase que a cobrança por um momento feliz.
Aquela noite parecia uma dessas especiais: o pai havia chegado do trabalho mais cedo com algumas compras específicas do mercado. Ele mesmo ir ao mercado já era um grande espanto, mas ele agia de modo normal, como se não fosse nada demais. Não demorou para que ele trocasse o terno pelo avental e ligasse a música ambiente numa rádio que não tinha pop e sim umas músicas alternativas. Dobrava as mangas da camiseta social e vestia o avental, deixando o terno e a gravata de lado.
O pai a encarou, do outro lado da banca. Via aqueles olhinhos concentrados e até mesmo arregalados no que ele fazia e esboçou um sorriso no canto dos lábios.
- Gostaria de me acompanhar, Senhorita?
Deu um passo para o lado, oferecendo um lugar ao lado dele e puxando uma peça inusitada debaixo da bancada. Um avental lilás com margaridas brancas desenhadas acima do bolso. Esperaria que a filha desse a volta para acompanhá-lo e a ajudaria a colocar o avental.
- Estava com vontade de comer um Japchae e frango frito, mas não pensei no doce. O que a senhorita sugere? Ouvi dizer que está quase abrindo uma browneria de sucesso no colégio.
Ouviu dizer.
Isso era algo tão positivo, porque o pai raramente dava esse tipo de abertura ou demonstrava que estava atento a cada passo que a filha dava na escola. Aquilo só indicava o grau de importância que ele dava à Hyemin, ainda que nas pequenas coisas.
O pai parecia tranquilo e sincero em suas palavras e ações, de modo que um pequeno sorriso apareceu no canto dos lábios dele enquanto a música ambiente tomava conta da cena.
- Eu ia falar sorvete porque é mais fácil, mas está frio pra isso.
Hye Min já tinha tentado treinar a mente para esperar uma conversa séria, chata e possivelmente desagradável quando o pai a convidava para a cozinha, mas a ideia era sempre tão empolgante que ela só conseguia se concentrar nas atividades divertidas, como ver o pai de avental, sua expressão calma e concentrada enquanto fazia algum corte ou mesmo o sorriso por si, discreto, que ela gostava de admirar em silêncio, para não estragar o momento, que ela captava como se fosse um segredo dos dois.
A menina aguardava geralmente em um banquinho da cozinha, ora pensando qual seria o teor da conversa, ora ansiosa para o retorno do pai para passarem um tempo de qualidade juntos. Ajudava a separar os utensílios e preparar a bancada de trabalho. Depois, olhava atenta cada movimento, aprendendo um pouco mais de cozinha e aproveitando o momento íntimo entre pai e filha. Era tão importante para ela que uma das primeiras peças completas que teve o empenho de aprender a costurar tinha sido um avental de cozinha para o pai, que apesar de ter suas falhas de acabamento de uma iniciante, embrulhou carinhosamente e resolveu entregar como presente de aniversário. Uma peculiaridade que ninguém fora daquela casa poderia imaginar, acreditando, talvez, que apenas os objetos mais caros seriam dados como presente a um CEO.
Surpresa, mas nem tanto, sorriu satisfeita, praticamente pulando do banquinho e se aproximou do pai, deixando que ele amarrasse o avental em suas costas. Era um carinho tão bobo que tinha o valor de um abraço.
- Brownie! Com calda - falou sem pestanejar. Afinal, era seu doce mais elogiado até o momento. Inventou a calda naquele dia, para que não parecesse tão simples. Sentia-se orgulhosa de ter a incumbência de preparar a sobremesa dos dois. Sorriu sem jeito e corou com os elogios. Era incrível ouvir o pai falando dela daquele jeito, com alegria e reconhecimento. Enchia-se de felicidade e até ficava um pouquinho sem jeito.
- Ah, eu venho praticando e… Na verdade acho que é bem gostoso sim! Espero que goste. - começou tímida, mas tinha confiança na sua habilidade culinária. Era sim o melhor brownie das meninas daquele ano. Queria acreditar nisso, pelo menos, e não hesitar sobre isso para o pai.
- Pode colocar sorvete de creme com o brownie. Fica gostoso. Mesmo com o frio. Vou pegar os ingredientes - a garota praticamente saltitou na cozinha, sorrindo boba para si mesma.
Então sua “fama” boa estava nos ouvidos do pai. Isso lhe dava uma alegria sem tamanho. Era por esse motivos que ela raramente iniciaria uma conversa séria por conta. Ficava distraída demais com aquele tipo de atitude.
Sung-Ki arqueou uma das sobrancelhas, meneando positivamente e fazendo sinal para que ela se aproximasse da bancada e tomasse o espaço que precisasse para si. Como ela ficou com a parte da sobremesa, ele continuava se dedicando ao prato principal. Apesar de reconhecer o talento da filha, preferia que ela ficasse com espátulas e batedeiras do que com facas afiadas. Era um pai protetor, afinal.
- Sinto muito por não ter experimentado ainda, Min-Ah. - Disse de modo carinhoso. - As viagens foram um pouco cansativas e só pude acompanhar as noticias através de sua tia. - Encarou. - Ainda bem que agora posso, finalmente, experimentar essa iguaria, não é mesmo?
Sorriu para ela e se inclinou um pouco na direção dela, dando um beijinho na cabeça. Era bom para a menina saber que, mesmo à distância, ele se preocupava com a vida escolar dela. O pai era frio, na maioria das vezes e do ano - esses momentos de ternura e confraternização não eram tão frequentes quanto os dois gostariam. Geralmente ele estava muito ocupado ou a época simplesmente não era boa e ele se recolhia, criando uma parede que não permitia que a menina ultrapassasse.
Não era saudável, ele bem sabia. Mas como costumava dizer para si mesmo: estava fazendo o que podia.
Porém, agora, era um momento só deles. Onde podiam somar suas habilidades na cozinha e se exibir, de certa forma, uma para o outro. Sung-Ki tinha um olho na panela e outro no facão enquanto fazia cortes precisos e perfeitos. Mas também olhava, vez ou outra para a filha, certificando-se de que estava tudo bem. Quando terminasse de colocar sua parte e só faltasse a fritura, ele voltaria a atenção para ela. Estava limpando a mão no avental que ela tinha costurado para ele. Mesmo que a cena fosse um tanto quanto inacreditável para alguém que visse, ele usava aquele adereço com muito orgulho.
- E então, Min-Ah? Não tive tempo ainda de conversar sobre a mudança de escola, mas...O que achou? Sua tia já levou para conhecer a WangJo? - Virou-se um pouco melhor para encará-la. - Nós estudamos lá também, é uma tradição da família. - Justificava-se. - Você demorou um ano a mais porque parecia gostar do seu antigo colégio e achei melhor assim. Mas agor aque já tem 13 anos, achei um bom momento. Só fico um pouco ansioso sabendo que será a primeira vez que estudará com meninos também.
Na verdade, ele manteve Hyemin um ano a mais no colégio para meninas porque a achava muito nova e não queria que ela interagisse com meninos cheios de hormônios ainda. Porém, Chun-Ja o convenceu a não ser tão super-protetor e que logo ela teria que encarar esse tipo de situação. Fora que se ela soubesse que já tinha um noivado à vista - nada confirmado, apenas conversas informais dentro da família - ela certamente ignoraria a existência de qualquer menino.
Só era um pouco difícil para o pai tocar em assuntos tão...femininos.
Por isso cozinhar ajudava a unir as pessoas, principalmente quando envolvia esse tipo de conversa.
Hyemin balançou a cabeça negativamente, com um sorrisinho fofo nos lábios. É claro que ficava muito triste de ficar sozinha, especialmente quando estava realmente sozinha, mas tinha aprendido a entender que era seu trabalho. Pelo menos, quando ele voltava para casa e ficava com ela, era como se nunca estivesse longe, então ela aproveitava cada momentinho que tinham juntos e cada pequeno gesto como se fossem frequentes. Isso poderia lhe trazer problemas futuros, mas uma menina de 13 anos não tinha como saber, muito menos o pai.
- Tudo bem, appa. Eu sei que o senhor é muito ocupado. Então não se preocupe pois vou me esforçar para que esse seja meu melhor brownie da vida!
O sorriso aumentou, assim como o brilho nos olhos com aquele beijo na testa. Sentiu-se completamente empolgada para fazer uma tarefa perfeita. Tinha valido a pena ter treinado tanto antes. Agora poderia mostrar já um bom resultado para o pai.
Por isso, além do tablet, a menina pegou um caderninho sujo escondido atrás do aparelho. Aquele bloquinho tinha receitas à mão, ou melhor, anotações importantes, nas quais colocava seus verdadeiros segredos que vinham da boca de sua professora e de aprendizados importantes após falhas. Releu com atenção, mas sabendo que era um pouco desprovida desse talento, fez isso três vezes, para ter certeza das quantidades. A maior parte de seus erros ficava na falta de atenção à receita inicialmente, mas depois sua intuição cuidava de por em prática o talento.
A garota cantarolava baixinho, em seu próprio mundo, misturando a massa de chocolate feliz demais com o momento que estava dividindo com o pai. Por mais que fosse uma verdadeira patricinha, na realidade a menina era muito simples de ser agradada.
- Hã!? A Wangjo? - foi tirada de seu momento devaneio, com o canto da bochecha sujo de açúcar. - Ah, parece legal. Ela me mostrou um monte de coisa no site também. - Não estava dando a devida importância para o colégio. Afinal, sua amiga mudaria de escola assim com ela, então estava tudo bem. Começou a colocar a massa na forma e isso drenou toda sua concentração até voltar a falar, agora sim mais animada. - Eu vi que a escola é enoooooorme!! E tem clube de Moda e de Culinária. A tia disse que vou poder continuar no Tênis também, como ela! - sorriu satisfeita. - Ela me disse também que o senhor até fazia parte do Grêmio! Parece bem chato... - fez um biquinho. - mas combina muito com um CEO! - remendou.
Já estava distraída colocando gotinhas de chocolate por cima da massa quando ouviu mais explicações e justificativas. Não estava achando ruim a mudança, então nem se preocupava muito com aquilo, mas achou muito bonitinha a preocupação do pai sobre sua convivência com meninos. Achava engraçada, pois não estava pensando em nada daquilo ainda.
- Appa! Em que o senhor está pensando? - riu em tom de bronca, mas a forma envergonhada que ela virou para cuidar do forno mostrava que ele a tinha feito pensar a respeito.
Do jeito que era imaginativa, já começava a associar sua nova vida aos doramas e filmes que gostava de assistir. A garota nova na escola que chamava atenção de todo mundo. Quem sabe poderia encontrar um oppa?
De repente, alguém que fosse tão legal quanto Park Hyun Hee, que era o garoto mais velho que tinha proximidade. Ou quem sabe um príncipe completamente gentil e adorável, saído direto de um dorama, que ela ouvisse a música tocando toda vez que ele anda até ela e seu rosto muda completamente e… Sorriu. Poderia até ser uma boa ideia. Mais importante: tinha que gostar de sua comida e ser tão legal quanto seu pai, para que no futuro fosse um homem lindo e adorável como ele! Se não fosse tão incrível quanto seu pai, nem valeria a pena prestar atenção. Agora… o que estava fazendo mesmo? Piscou algumas vezes e olhou para o pai, com medo de ter feito algo estranho ou perdido alguma conversa naqueles momentos de fantasia.
Diferente de Hyemin, Sung-Ki conseguia fazer muitas coisas ao mesmo tempo e sem deixar nada sair do controle. Por isso ele não tinha problemas em conversar e manter a atenção no que estava fazendo com o facão ou o que estava na panela. Porém, ele conhecia as limitações da filha e, por isso, por um bom tempo, a cozinha foi dominada por um som ambiente - o spotify estava aleatório porque o pai sabia que Hyemin não gostava das músicas dele só. Então, ela também poderia mudar, caso quisesse.
Quando ele terminou o preparo e a parte de cozimento, bastava apenas a fritura. Hyemin ainda parecia um pouco enrolada com o brownie - não por falta de habilidade, mas por conta dos processos. Então, ele simplesmente foi lavando a louça e começando a puxar assunto enquanto organizava o balcão. Era o tempo dela ler três vezes a receita e misturar com toda aquela dedicação que tinha com as coisas que realmente gostava. Ao achar que ela poderia dar alguma atenção, perguntou sobre WangJo.
Um sorriso escapou dos lábios dele ao ouvir a resposta distraída e o silencio posterior. A menina aind anão conseguia se dividir e foi o tempo dele conseguir dar a volta e colocar um copinho de cristal com chá gelado de cranberry e água com gás para si. Sentou-se de frente para ela, nos bancos do outro lado da bancada americana e observou o que ela fazia, como se estivesse aprendendo a fazer. Quando ela conseguiu falar, Sung-Ki voltou a atenção para ela e riu do comentário sobre o Grêmio.
- Pois saiba que os outros clubes são existiriam se não fosse pleo Grêmio. Não era lá muito democrático, na minha época, mas só os filhos herdeiros 1 entravam mesmo lá. Não sei hoje em dia... - Ponderou. - Nem todos que estavam lá, deviam estar, sabe? Não tinham talento, só queriam impressionar os pais. E, na minha concepção, você tem que fazer clubes que gosta. Por isso eu também era de Culinária e Natação.
Cruzou os braços, fazendo um bico no canto dos lábios enquanto se lembrava de sua época. Acabou relaxando e olhou para a filha quando ouviu aquela pergunta. Hyemin tinha percebido que ele não queria falar de clubes. Na verdade, o assunto dele era outro, mas não sabia como começar. Sua filha era tão...menina ainda.
Mentira.
Não era.
Já estava virando uma moça feita. Ele que não tinha aproveitado todos os segundos como deveria. Era o preço da ausência: o tempo passava muito rápido e agora quando se dava conta, sua Hyemin já estava com 13 anos. O nascimento dela seria comemorado em pouquíssimos dias, numa festa surpresa que Chun-Ja vinha trabalhando. O rosto dele foi ficando um pouco mais sério - mas não aborrecido - tinha um pouco de tristeza e ansiedade ali.
Piscou novamente ao ver que ela o encarava e esticou o braço, limpando o pó do rosto dela com um pedaço de guardanapo. Aproveitou para fazer um carinho na região.
- Só estava pensando como você cresceu...Foi bem rápido, Min-Ah. - Suspirou, deixando os ombros caírem um pouco. Recuou o braço e mordeu o lábio internamente. - Devo reconhecer que é quase uma mulher feita e isso muito me preocupa. Você já teve eventos e encontros com meninos, mas agora passará a conviver com eles. Alguns mais velhos. E eu preciso que você seja mais esperta e não se deixe levar pelas emoções ou encantos momentaneos...
Agora sim tinha conseguido começar seu discurso. O final dele é que não estava muito certo. As palavras seguintes doeriam nele, porque se lembrava do que seu pai costumava dizer.
- Você é uma herdeira e não pode ceder a investidas de garotos que não estejam à sua altura. Ainda mais agora que... - Franziu as sobrancelhas. - Sua tia e eu estamos começando a pensar num possível pretendente. Claro que não irei adiante se você não gostar dele, até porque, um noivado desse porte só pode ser oficializado quando você estiver com 17 anos. Mas...Estou conversando com Wang In-Na sobre uma possível aliança entre as família e, bom, o filho mais velho dela é Solteiro. Ele tem 23 anos, são 10 anos de diferença e é óbvio que eu não quero intimidades entre vocês, mas...
Pigarreou, franzindo as sobrancelhas bem, bem desconfortável.
- Mas se tudo der certo, vocês estarão com o compromisso oficializado em Janeiro de 2020. Mesmo que ainda faltem 4 anos, você...precisa se preparar e ignorar as eventuais distrações que WangJo tenha. Você...consegue me entender?
Esperava que a filha não o odiasse por isso. Pois, de certo modo, ele já estava traçando o futuro dela, sem nem ao menos dar a opção dela escolher de verdade. Rejeitar o noivado era o máximo que ela poderia, mas cedo ou tarde, ele encontraria outro.
Com o forno ajustado, Hyemin já não tinha mais com o que se distrair. Virou para observar o pai diretamente na bancada, com aquele ar infantil que tanto trazia conflito para a mente do senhor Seo.
Fez um biquinho. Naquela época se considerava bem esperta! Não pensava nunca em meninos, só na figura sem rosto que ela esperava que viesse para salvar seu coraçãozinho de princesa Disney. A verdade é que mesmo em eventos, ela sentia como se nenhum garoto fosse interessante, somente o príncipe encantado imaginário que ela tinha inventado para si desde algum tempo.
Não estava entendendo onde ele queria chegar, mas era um papo bem constrangedor para ter com o pai. Era o sonho de toda menina conhecer um oppa para ser cuidada, pelo menos era o que achava, por causa dos doramas. Claro que podia acontecer de mudar de escola e encontrar o seu. Era assim nas histórias. Mas não estava esperando nada disso.
- Eu sei, appa, não se preocupe... - falou amorosa e um pouco envergonhada, embora tivesse o rosto levemente aborrecido. A conversa daquela vez era sobre ciúmes do papai e garotos?
Mas o pai conseguiu surpreendê-la com sua declaração. A garota arregalou os olhos pela franqueza que ele lhe dizia aquilo. Não é como se estivesse procurando namorar alguém “inferior”, mas isso a incomodou um pouquinho. Bem pouquinho. Ficou constrangida e alarmada, como se tivesse sido uma indireta bem mandada, mas não tinha por que sentir-se culpada, tinha? Não tinha feito nada de errado, nem gostava de ninguém…
Assentiu, respeitosa, mas a conversa estava longe de acabar. Hyemin ergueu o rosto para paralisá-lo boquiaberta, piscando várias vezes. Nem disfarçava o quanto aquela história de noivado era completamente nova e absurda para ela.
Pretendente?
Como assim?
Ela se imaginou jogada em uma carruagem de Joseon e entregue de presente a um velho com roupas nobres, mas isso sumiu quando ele disse que não seguiria se ela não gostasse dele. Como é que podia gostar de alguém que ela nem conhecia????
Então o cenário mudou um pouco. Um jovem de 23 anos. Ela agora chegva em um salão e encontrava um homem de costas, bem vestido e com um bocado de flores em volta. Ele virava o rosto mas então… era horrendo!!! Fez uma careta.
- Appa! - protestou.
Como podia fazer isso? Logo estavam falando que não era para namorar ninguém então jogavam uma pessoa para ela? Um VELHO de 23 anos. Como assim???? Fez um bico maior.
- Mas appa, eu nem conheço esse menino… - ela ignorou o fato do rapaz já ter mais de 20 anos. Tinha medo sincero que ele fosse um esquisito. Não conseguia lembrar do rosto do filho da família Wang….Wang? Eles eram tipo… muito importantes, não eram?
- Aigo… Wang In Na, o senhor quer dizer….?
Agora estava em uma carruagem de Cinderela e chegava ao palácio, todos os presentes aguardavam por ela e a reverenciavam com respeito. “Senhorita, por aqui, por favor”. Então ela encontra o príncipe de costas, que perguntava “Então, o que quer fazer hoje, minha noiva?”
Abriu mais a boca, mas balançou a cabeça. Foco!!!! Nem sabia qual era a cara daquela criatura. Ainda assim, o pai demonstrava que não queria que ela se relacionasse com outros garotos por causa dele. Ela não teve a maldade de perceber que desde o começo a conversa tinha sido sobre isso, então apenas devolveu a pergunta, um pouco incerta.
- Quando… quando eu vou conhecê-lo? - perguntou meio desconfiada, com as bochechas infladas. Não confiava na escolha do pai para homens. Mas a tia estava envolvida nisso, havia uma esperança no fim do túnel e, na realidade, ela seria a mais responsável por animá-la em relação aquilo.
O incômodo de Hyemin não foi interpretado da mesma forma que ela tinha pensado. O pai estava achando que era o natural sentimento de não concordar imediatamente com uma decisão tão...definitiva assim. Lembrava-se bem de quando era mais novo, assim como Chun-Ja e nenhum dos dois pareceu feliz com a situação.
E bom...O resto era história.
Agora no papel de pai, patriarca, herdeiro e dono de uma forturna, ele tinha mesmo que pensar no todo. Era estranho como conseguia compreender a postura do pai. Ele estava certo, no fim das contas, não é? Não tinha como dizer isso a ele, mas se tivesse escutado antes, muita coisa teria sido evitada.
Inclusive...Hyemin?
Engoliu em seco, não gostando do rumo que sua mente tomava. Piscou algumas vezes e encarou a filha de novo. Sabia que ela tinha amizades masculinas e que já tinha convivido com um menino de uma "casta" inferior. Mas não tinha sido nada além de amizade, né? Chun-Ja falou demais naquela época, dizendo que Hyemin seria influenciada pelo menino. Pelo sim, pelo não, ele também aproveitou uma oportunidade de ouro para a mãe do menino e agora tinha certeza de que ela estava melhor no Japão.
Retornou à realidade ao ouvir o comentário da filha.
Os dois eram bem parecidos nesse quesito, mesmo que a mente tivesse outra forma de viajar. Enquanto Hyemin lidava com cenas de romance, dorama e desenhos, ele pensava em números, probabilidades, dados. Mas era uma certa forma de viagem, né? Parecidos demais.
- O que? - Perguntou ao ouvir o protesto. - Não o conhece, mas o conhecerá em breve. Não faltarão situações para isso, ainda mais agora que já tem 13 anos e pode participar de mais eventos com sua tia.
Começava a tirar o corpo fora, porque ele não tinha tempo para esse tipo de entretenimento, por isso as coisas ficavam por conta de Chun-Ja. Fora que era difícil não saber quem os Wang eram: simplesmente a família mais rica e influente da Coréia do Sul. Bastava fazer uma pesquina na internet que acharia matérias, rostos, ligações, empresas. Mas a resposta anterior dele parece ter sido o suficiente, pois Hyemin começava a voltar aos fatos.
- Como disse, sua tia deve apresentá-los em breve. Ele deve retornar mês que vêm do intercâmbio que está fazendo na Europa.
Infelizmente, ele não retornaria a tempo do aniversário de Hyemin, mas talvez ela achasse bom saber que estava na Europa. Isso indicava que era aplicado, inteligente, que falava outras linguas! Mas será que seria bonito? Talvez se fizesse uma busca simples, conseguisse ver. De todo modo, o pai começou a preparar a frigideira para o que faltava da receita dele. Agora que tinha falado tudo o que queria, se sentia melhor para retomar os planos.
Já Hyemin tinha a certeza de que a cozinha servia como uma forma de notícias estranhas chegarem até seu conhecimento.
Hyemin não teve o conforto que queria do pai. Evidentemente, pois tudo que ela precisava era da voz da tia dizendo para não se preocupar, pois o jovem Wang era tudo aquilo que ela estava imaginando e muito mais. A ansiedade foi crescendo no peito. Agora queria, para ontem, conhecer esse garoto, mas parte dela queria passar longe dessa tarefa. Vai que ele era todo errado? Não queria já fechar o coração aos 13 anos de idade por causa de uma pessoa aleatória. Por que tinham decidido sem falar com ela? E se de repente ela se apaixonasse por alguém no caminho? Sim, porque, principalmente nos doramas, era só ficar noiva de alguém que o amor verdadeiro aparecia no caminho. Riu sozinha pensando nisso. Que bobagem!
Além disso, tinha acabado de conhecer Wangjo e agora sabia bem quem era aquela família: a verdadeira realeza da Coreia do Sul. Lembrava-se vagamente de uma mulher que era amiga de seu pai. Sabia que só poderia ser Wang In Na pois ela tinha uma aura inconfundível perto de si, algo um tanto assustador, mas impossível de se ignorar. Lembrava de ter ciúmes daquela mulher perto de seu pai, ainda que a achasse como uma verdadeira rainha de desenho.
O pai começava a ser sem graça de se conversar. Nessas horas, queria mesmo uma figura feminina para falar das coisas que importavam. Poxa, era só isso que ele tinha a dizer sobre seu provável futuro marido? O bico voltou para a cara, ansiando ver a tia logo para saber de todos os pequenos detalhes mais importantes do mundo que só ela poderia lhe fornecer.
- Está bem…. - baixou o olhar, um pouco desanimada, mas então ouviu “Europa” ecoar em sua mente. Piscou. - Europa? - entreabriu os lábios de novo.
Um príncipe internacional! Verdadeiramente um príncipe da DISNEY. O coração até acelerou um pouquinho. Havia esperanças naquele homem, que pelo menos era inteligente. MUITO MAIS INTELIGENTE QUE ELA, que patinava eternamente no inglês. Essa não! Como conseguiria casar com uma pessoa TÃO fora de sua realidade? Ela mal escrevia bem em coreano, como é que ia namorar alguém que falava todas as línguas do mundo? Era tudo muito bom para ser verdade. Ela precisava ver uma foto daquele garoto… .quer dizer, homem.
- Ahn… tudo bem, appa, eu espero - virou o corpo, para observar o forno e olhou de banda para o pai. Abaixou-se na frente do eletrodoméstico e sacou o celular de dentro do bolso da roupa.
Mordeu o lábio e iniciou o navegador, impaciente.
Wang… Família Wang….
Arregalou os olhos.
Ah, ufa. Era só o patriarca.
OK. Aqueles eram os irmãos… foto de evento ..uhum… Wang In Na e seus filhos participam de...
- WA!!! - soltou um grito e cobriu a boca.
- Jinjja??? - sussurrou para si mesma, corando violentamente. Percebeu que tinha sido bem escandalosa e virou o rosto com um sorriso. - Está tudo bem appa! Eu achei que tinha esquecido uma coisa!! Hahah… - pigarreou e voltou a se curvar sobre o celular, para esconder o que estava fazendo.
- Wang Miwoo foi flagrado na noite de sábado no centro de ... blablaba… não me interessa e...Aigooo…
- Aigooo... Ottokee!?!?! - sussurrava enquanto seus dedinhos rolavam pelas fotos.
Seu coração batia muito forte. Seria esse o destino? Um homem lindíssimo, com porte de nobreza, inteligente, gentil, educado e ainda aprovado por sua família? Era inacreditável! Aquele rapaz… tão maravilhoso…
Então viu uma foto curiosa. Era a capa de uma revista coreana. Os braços dele estavam à mostra e um pouquinho mais do que isso era revelado. Seus olhos aumentaram muito.
O coração da menina esquentou tanto que de repente o timer do forno apitou e ela voltou para a realidade num baque, tossindo alto. Desligou o forno e se levantou, engasgada e morrendo de vergonha de ver aquele tipo de coisa na internet, meteu o celular no bolso e se encostou na bancada, atrapalhada. Recorreu ao chá de cranberry, dando um gole muito generoso na bebida gelada para conter aquele calor interno. Abriu um lindo sorriso para seu pai e fez um sinal de que estava tudo bem, seguido de um coraçãozinho com os dedos e um sorriso gigantesco. Fingia que era por causa do brownie.
Colocou a luva e foi retirá-lo do forno, enquanto a mente viajava para outros tipos de lugares. A imagem do homem de costas em sua mente foi se moldando. Ele se virava, agora com o rosto de Miwoo. “O que foi, meu amor, você parecia hesitante…” Então ele se aproximava dela. “Venha”, dizia oferecendo-lhe o braço. Os dois desciam por uma escada gigantesca da mansão Wang e todos lhes esperavam no andar de baixo. Ela usava um vestido rosa cheio de babados e ele a farda do Príncipe Encantado.
“Saranghae, Minah…”, sussurrava para ela, enquanto ela repousava seu rosto no peito de seu marido.
Hyemin encostou os cotovelos no balcão, sonhando acordada. Seus lábios respondiam sem som ao “Saranghae” de seu amor. Notou de repente que estava na cozinha, PERTO DE SEU PAI e sacudiu a cabeça rapidamente, morrendo de vergonha. Então riu feito uma doida.
- Waaa… e não é que deu certo mesmo? - sorriu para o doce, algo que não conseguia mais parar de fazer. Ela fez novamente corações para seu papai querido. Que ideia maravilhosa eles tiveram! Mas agora tinha que se esforçar. Será que Wang Miwoo gostava de brownie? Precisava fazer o melhor de todos! Já que não falava inglês ou qualquer coisa, então deveria ser a melhor esposa. A mais bonita, a mais charmosa, a mais princesa e talentosa! E nisso ela tinha certeza que conseguiria se empenhar. Tudo para que seu futuro marido olhasse para ela da mesma maneira que ela olharia para todas as suas fotos disponíveis na internet.