por Sllaker Seg Jan 29, 2018 1:06 am
Snake manteve-se firme enquanto o velho Jack apontava a pistola em sua direção. Não era a primeira vez que ele se encontrava na mira de alguém — nem a última —, mas era algo difícil de se acostumar. Por mais valente que um homem possa ser, ele não está vivo se não tremer ao encarar o cano de uma arma. E, em conjunto com o olhar fuzilante do velho Jack, era difícil saber o que iria lhe matar primeiro. Diante disso, por mais tentador que fosse, abdicou de tentar contra-atacar naquele momento. Era preciso seguir o plano. Havia outros parceiros envolvidos nisso e qualquer passo errado poderia atrair atenção indesejada. Snake estava ciente disso, mas parou para pensar de que forma iria convencer o orgulhoso Samuel, que havia sido arrastado e jogado ao relento como um saco de lixo.
Uma leve chuva começou a cair naquele instante. Nessa merda de cidade, até o tempo é inesperado e imprevisto. Há quem brinque que não se deve esquecer de duas coisas ao se sair de casa: sua arma e seu guarda-chuva. Há, inclusive, alguns mais religiosos que afirmam que as frequentes chuvas não passam de pingos que precedem o dilúvio, que virá para purificar a cidade. Pessoalmente, Snake acreditava que a chuva só vinha por um propósito: limpar o sangue que é derramado, diariamente, nas ruas dessa selva que alguns ainda persistiam em chamar de cidade.
Os resmungos do Samuel lhe chamaram a atenção. Ele estava enfurecido e determinado a matar o Jack e qualquer um que entrasse em seu caminho. — Vou matar o fela da puta! Estão comigo ou farei sozinho? — Ele pergunta, batendo com a arma no peito de Snake. Samuel era do tipo que age primeiro e pensa depois. Para ele, não há nada que não possa ser resolvido com um bom derramamento de sangue. Snake não o julgava. Quando foi necessário, Samuel sempre cumpriu com o seu dever dentro da gangue. Apesar disso, tentou persuadi-lo de esquecer aquela afronta. Apenas por enquanto. Não que o velho Jack merecesse qualquer misericórdia, mas há um objetivo maior que deve ser priorizado. — Samuel... — Ele fala, encarando-o nos olhos. — Lembre-se do que viemos fazer aqui. Temos que seguir o plano. Maze e Denis dependem de nós. Se matarmos esse filho da puta, a polícia vai se meter e o Sindicato vai descobrir o que estamos fazendo. Esse otário vai ter o que merece, mas tudo ao seu tempo. — Ele repete, mas dessa vez num tom mais baixo. — Tudo ao seu tempo.
Um bandido ou golpista é, por definição, um otimista teimoso. Pois, não importa quão impossível um plano possa ser, ele sempre vai acreditar obstinadamente no seu sucesso. Mas, infelizmente, acreditar nunca é o suficiente. É preciso agir, fazer acontecer. Afinal, a única coisa que cai do céu — e disso ele sabia muito bem — era chuva.