CRONOLOGIA: DO COMEÇO AO FIM DO MUNDO
Tudo o que sabemos a respeito do universo é o que está registrado nas bibliotecas dos malakins, no Sexto Céu e em suas dimensões particulares. Mas mesmo eles não sabem tudo. Apesar de sua erudição, os malakins são anjos comuns e nasceram com a feitura da luz. Os eventos anteriores ao fulgiston são puramente especulativos, mais teóricos que verdadeiros. Os únicos que poderiam fornecer um relato concreto sobre esse período são os arcanjos, mas eles não falam nada - na realidade, nunca falaram.
As descrições dos eventos posteriores à grande explosão são quase todas acuradas. Salvo pequenas lacunas, um erro de nomenclatura e uma ou outra data trocada, elas podem ser consideradas autênticas - pelo menos em sua maioria. PROTOUNIVERSO
O que existia antes da luz é um mistério e provavelmente sempre será. Os celestiais chamam esse período de protouniverso, tendo se caracterizado, ao que parece, pela ausência de tempo e matéria. É razoável supor que os "seres" de então fossem, portanto, desprovidos de forma e tamanho. Mais que entidades, eram conceitos, forças vivas que vagavam, simplesmente vagavam, ocupados (ou desocupados) com tarefas muito além da nossa compreensão.
Duas forças se destacaram em determinado momento: Yahweh, o regente da ordem, e Tehom, a entidade do caos. Como energias opostas, era natural que entrassem em conflito. AS BATALHAS PRIMEVAS
Tehom, que em certos textos é chamado de O Abismo, tinha outras forças sob seu comando, perfazendo um panteão de deuses caóticos, nomeados às vezes de "deuses-monstros", "deuses das trevas" ou "grandes antigos". Cinco deles se distinguiam como sua prole direta: Behemot, o Horrendo; Leviatã, o Monstro; Tanin, o Maléfico; Enuma, o Destruidor; e Taurt, o Faminto.
Yahweh, o Reluzente, alcunhado também de Altíssimo, fez nascer os cinco arcanjos para ajudá-lo nesse combate. São eles: Miguel, o Príncipe dos Anjos; Gabriel, o Mestre do Fogo; Rafael, a Cura de Deus; Uziel, o Marechal Dourado; e Lúcifer, a Estrela da Manhã.
Os pormenores desse confronto, intitulado Batalhas Primevas, são obscuros e seriam indescritíveis mesmo que fosse possível conhecer os detalhes. Sabe-se apenas que Yahweh venceu Tehom e assumiu o controle das duas províncias: a luz e as trevas. PRIMEIRO DIA: TEMPO E MATÉRIA
Finda a batalha, Yahweh dedicou-se a uma nova (e complexa) tarefa: a criação do universo. No primeiro dia da criação, surgiram o tempo e a matéria, o que permitiu o início da contagem das eras.
Com Tehom morta, teoricamente nada ameaçaria os primogênitos, mas Enuma havia escapado e desaparecido da vista de todos. Durante esse período, Yahweh e seus filhos percorreram a sombra do espaço, buscando espólios da deusa e caçando seus netos. Para os arcanjos, essa foi uma época de glória, quando só havia eles reinando no cosmo, e o amor do Criador por seus rebentos era único e exclusivo. SEGUNDO DIA: O FULGISTON
Uma vez criados o tempo e a matéria, as consequências seriam irreversíveis. As partículas que compunham o espaço se atraíram ao longo de bilhões de anos, tornando-se muito concentradas e ocasionando um estouro de proporções gigantescas. Os elohins defendem que esse movimento se deu de forma natural, segundo as leis físicas do universo, enquanto os malakins argumentam que tal atração foi um evento premeditado e arquitetado por Deus. Seja como for, os anjos surgiram no segundo dia da criação, como resultado dessa singularidade cósmica hoje chamada de fulgiston.
[...] Após o fulgiston, a matéria se expandiu rapidamente, criando "vincos" no espaço - algo semelhante a uma toalha que é arrastada sobre a mesa, formando rugas e "ondas" no tecido. Quando essas ondas se fechavam, surgia um bolsão , um universo em miniatura, às vezes com outros bolsões (ou níveis) internos. A esses ambientes chamamos de dimensões paralelas. Dotadas de leis físicas próprias, tais dimensões (ou esferas) seriam usadas como refúgio por anjos, deuses e uma infinidade de criaturas ao longo dos séculos.
Embora as origens do cosmo sejam obscuras, os malakins trabalham com duas hipóteses fundamentais: a primeira sustenta que o universo é linear e infinito, nasceu graças à vontade de Deus e continua se expandindo. A segunda afirma que o universo é cíclico e já está se retraindo, que a entropia apagará as estrelas e a matéria se condensará novamente para gerar um segundo (ou um terceiro, ou quarto) fulgiston - e assim por diante. TERCEIRO DIA: ESTRELAS E GALÁXIAS
Com os ofanins esquentando suas microfornalhas de luz, acendendo partículas e átomos, os ishins foram capazes de condensar a matéria numa substância chamada plasma. Com ela, criaram as primeiras estrelas, separando as trevas da luz, e assim começou o terceiro dia da criação. De repente, o espaço não era mais uma tela cinzenta: era um oceano de negritude pontilhado por manchas, traços, espirais e esferas coloridas, todos rodando em plena harmonia.
Os Sete Céus, uma ampla dimensão composta por sete níveis, foram tomados como refúgio pelos arcanjos e escolhidos para abrigar o palácio dos gigantes e o trono de Yahweh. Cada uma das sete camadas foi prometida a uma casta - à exceção dos elohins, que manteriam o controle sobre o universo comum - e seria entregue após a feitura do cosmo. QUARTO E QUINTO DIAS
À medida que as estrelas se condensavam, a matéria se solidificava em corpos tangíveis. No quarto dia da criação, os ishins começaram a trabalhar com as substâncias concretas, concebendo um sem-número de planetas, muitos dos quais seriam descartados e destruídos pelos hashmalins.
Um desses mundos tornou-se favorável ao surgimento da vida. Foi batizado por Yahweh de Éden, mas cognominado pelos arcanjos de Terra. Para os filhos diretos de Deus - para Lúcifer, principalmente -, a perspectiva de dividir o universo com outras formas conscientes era inaceitável, afinal eles tinham vencido os deuses primevos e não queriam mais concorrência. Os anjos, claro, são também conscientes, mas dotados de uma natureza específica que (em tese) os mantém rígidos em suas tarefas.
Não obstante o temor dos arcanjos, sob seus protestos e argumentos, Yahweh voltou sua atenção ao Éden e às criaturas que lá residiam. SEXTO DIA
À medida que novas formas de vida brotavam no Éden, crescia o interesse de Deus por esse astro tão peculiar. Enfim, na aurora do sexto dia da criação, surgiram os hominídeos, homens-macaco a princípio, que com o passar do tempo evoluíram à forma bípede. Esses "macacos bípedes" eram animais guiados por instintos selvagens, sendo porém mais inteligentes que os outros bichos com os quais conviviam. Os eridais se tornariam o ancestral comum das linhagens humanas, por isso são também chamados de primeira raça.
Não se sabe o local exato em que os eridais se reuniam no começo. Os enoquianos costumavam dizer que eles eram originários do Oriente Médio, enquanto os atlantes afirmavam que sua pátria natal era a ilha de Mu, localizada no Atlântico Norte. Nenhuma das hipóteses foi comprovada, porque os eridais eram nômades e se dividiram, espalhando-se através do planeta. Num evento chamado Grande Migração, um dos grupos se moveu para (ou permaneceu em) o Oriente Médio, e outro caminhou rumo à Europa Ocidental. SÉTIMO DIA
Transcorreram alguns milhões de anos, até que os eridais evoluíram, quase que simultaneamente, em outros três ramos: os atlantes, mais refinados; os homens, mais versáteis; e os neandertais, mais fortes. Maravilhado, Yahweh assistia a tudo com prazer e orgulho. Os seres humanos eram criaturas autônomas, só o que lhes faltava era a razão, a capacidade de controlar seus instintos. Foi então que Deus julgou seu trabalho concluído e partiu para o eterno descanso, não sem antes entregar parte de sua essência aos mortais, concedendo-lhes a alma e, por fim, o livre arbítrio.
O último desejo de Deus era que os celestes servissem e guiassem a humanidade, sem interferir em seu curso. Ordenou que Metraton reunisse um coro de alados - os sentinelas - para salvaguardar o planeta e também lhes ofereceu uma alma. Os arcanjos e os anjos comuns permaneceriam como regentes do universo, responsáveis pelas funções cósmicas para as quais haviam sido originalmente designados.
...
(Filhos do Éden: Universo Expandido - Eduardo Spohr e Andrés Ramos) |