[Lars-Friehba] Bairro Mercante

Arca do Violino

Aventura 3 - Terceiro dia

Hellen Moritz

A ladina viu o rosto de Zingner se contorcer um pouco. Aparentemente aquele assunto era algo incômodo para ele. - Eu sabia que uma hora ou outra ia chegar na superfície. Achei que iria demorar mais, mas tudo aconteceu em menos de 3 anos. - Ele falava olhando para o tampo da mesa, sem olhar para Hellen. Parecia algo saudoso, nostálgico.

- Quando estive em Lars-Gaehlia vi uma criatura terrível. Achei que nunca mais veria algo do tipo depois que vim para a superfície. Mas ela estava lá. Andando pelas ruas como a peste espreita pelos becos. - Zingner fez uma pausa. Seus olhos correram pelo mezanino até encontrar o garçom. Fez um gesto e logo estava sendo trazida bebida para os dois. Era um destilado forte. Aguardente. Hellen não costumava beber aquelas coisas, mas se faria de rogada. - Antes de vir embora eu busquei saber mais. Dizem que um homem no Dédalo Mendicante teve acesso a um livro. No outro dia ele estava louco. Um dos professores da Universidade foi até lá junto com guardas. Creio que toda essa desgraça se deve a esse e outros livros que ensinam coisas que não deveriam nem existir. - Neste momento seu olhar era duro como pedra. - Só posso concluir que a Universidade está envolvida com isso até o pescoço. Coisas estranhas tem acontecido em Lars-Verumdor também, não sei se você sabe... Os dois lugares que a Universidade é mais presente. Mas é questão de tempo até tomar toda essa ilha.

Ele tomou o copo nas mãos, olhou no fundo dele como se procurasse ver algo além da bebida e então virou-o todo na garganta. A ladina pode sentir na sua própria goela o álcool descendo veloz, quente e forte. - O que me preocupa é que você disse que viu algo assim aqui... - O olhar cor de fogo daquele homem pareceu cercar Hellen. - Conte-me o que sabe.

Arca do Violino

Aventura 3 - Terceiro dia

Hellen Moritz

Quando Hellen pergunta se Zingner sabia daqueles monstros, ele bate o copo na mesa. Era um sinal para que servissem mais, pois logo alguém chegou preenchendo-o. - Meu povo vive no subterrâneo. Aliás... Vivia. Esse tipo de demônio começou a aparecer por lá tem alguns anos. Resistimos o tempo que deu. Alguns povoados foram destruídos. Outros ficaram vazio por causa de peste. Eu fui um dos que fugi para a superfície antes que fosse tarde demais. - E aquilo parecia explicar porque Hellen nunca havia visto alguém como ele.

- Sobre a Universidade, eu acho que ela está envolvida por conta dos acontecimentos do Dédalo. - A verumdiana contou-lhe sua incursão nos muros da Universidade e aquilo parecia corroborar a idéia de Zingner. - Eu procurei saber se em outros lugares algo assim aconteceu. Alguns viajantes vindo de lá, por Iv-Mael contaram de uma doença estranha que tem matado os animais menores. Outros rumores tem a ver com mortes estranhas e órgãos faltantes... O que é real e o que é rumor, não sei dizer. - Ele fez uma pausa. - Mas creio que a Universidade tem a ver com tudo isso.

No que ela contou dos demônios no Templo da Mãe do Mundo, ele recostou-se na cadeira. Parecia enfraquecido ao ouvir aquilo. - Isso quer dizer que também chegou aqui... Quem é seu amigo? - Virou o conteúdo do copo, da mesma maneira que havia feito da outra vez. - Você está disposta a fazer algo sobre isso, Hellen?

Arca do Violino

Aventura 3 - Terceiro dia

Hellen Moritz

Zingner demorou a responder a pergunta sobre seu povo. Estava claro que era algo que lhe marcava e doía ainda. - Esses demônios espalham caos, doença e morte. Eu sou um gnomo. Meu povo sempre viveu no subterrâneo, por isso você nunca deve ter visto um. Saímos de lá porque esses demônios começaram a aparecer. No subterrâneo a Universidade não existe, embora alguns professores descessem até lá ocasionalmente para fazer seus estudos. - Olhou para o fundo do copo, talvez calculando se ainda poderia beber outro copo daquele sem cair embriagado.

- Eles começaram a aparecer há três anos e desde então só piorou, até que tivemos que fugir. Achamos que eles ficariam confinados no subterrâneo, mas pelo visto eles já encontraram um meio de aparecer aqui também. - Largou o copo na mesa, visivelmente convencido que não aguentaria beber mais um. - Eu não teria muitas esperanças com seu colega, Hellen. Quase ninguém sobrevive aos encontros com os demônios. Eles não querem que ninguém sobreviva. - Ele pigarreou. - Iremos procurá-lo, mesmo assim.

Ele se levantou, descendo da cadeira era difícil vê-lo por cima da mesa. Ele arrodeou-a e foi parar diante da ladina. - Creio que seja mais que negócios, seja a própria sobrevivência. Vamos nos preparar para isso. Se de fato a Universidade estiver envolvida nisso, eles devem estar facilitando a vinda desses seres. Precisaremos pará-los. - Estendeu a mão para Hellen, esperando seu aperto de mão.

Fim da Aventura 3 para Hellen Moritz

O Porão

Aventura 4 - Primeiro dia

Hellen Moritz

O Porão era a 'casa' de Zingner. A liderança dele emanava daquele local que ficava sob um armazém. A entrada do Porão se dava por um beco estreitíssimo que as pessoas evitavam sequer entrar. Para as 'pessoas certas' da ladroagem era, contudo, o caminho perfeito. Já fazia três meses desde que Hellen se encontrara com o gnomo na Arca do Violino. Naquele tempo ela se tornara uma ladra ainda mais completa. Dominava praticamente todas as artes criminosas e se especializara especialmente em entrar em lugares e levar aquilo que quisesse. Ao mesmo tempo, o problema que eles estavam envolvidos parecia somente piorar. Os rumores de infestação de demônios pareciam ser cada vez mais frequentes e mais confirmados. Coisas estranhas acontecem em lugares diferentes. Sóis negros, pestes, fome e sede... Johas parecia ter deixado de ser a ilha da prosperidade e da bem-aventurança.

Zingner estava de pé bebendo alguma coisa. Ele estava coberto até os olhos, da mesma forma que Hellen o conheceu. A ladina porém já havia convivido com ele bastante tempo para saber que ele estava preocupado. Ele virou o copo e então dirigiu-se à verumdiana.- Hellen... As coisas pioraram. Muito. É como se uma sombra maligna cobrisse esse mundo.  - Ela sabia. Na realidade, em Lars-Friehba as coisas pareciam estar sob controle. Exceto... Exceto por uma estrela que havia aparecido no céu. Que parecia estar cada vez mais próxima, dia após dia. Eles se atentaram a isso quando recebiam as notícias de todos os cantos e nada parecia acontecer em Friehba. Os religiosos diziam que era porque aquela era uma terra devota e sagrada e que por isso o mal que assolava o resto de Johas, descrente e corrupta, não atingira aquela terra. Hellen e Zingner sabiam que o motivo não poderia ser esse. - Chegou um bilhete de Lars-Verumdor. Acho que você quererá saber.

Puxou de um dos numerosos bolsos de sua roupa pesada um papel já judiado. Mostrou a ela, que, embora não fosse alfabetizada, reconhecia que estava escrito ali o dialeto secreto usado pelos criminosos em geral. - Diz que algo começou com os alunos da Universidade. Começaram a perder o juízo. Depois isso foi se alastrando para as pessoas comuns. Agora Lars-Verumdor parece um hospício a céu aberto. - Ele levantou as lentes escuras do seus óculos de minerador, deixando aparecer seus olhos cor de rubi.

Voltamos @shamps a satanagem está no ar

O Porão

Aventura 4 - Primeiro dia

Hellen Moritz

- Que nem a igreja saiba? - Zingner coçou o queixo tentando imaginar onde poderiam encontrar essas informações. Seu rosto logo pareceu se iluminar com uma resposta, que ele não tardou a compartilhar: - Veja! Lars-Friehba não tem uma sede oficial da Universidade, porém, há alguns professores e estudiosos aqui, especialmente de religião e políticas. Eles são mau vistos pelos outros docentes, como estudiosos de falsas "ciências". De qualquer forma, eles tem uma pequena biblioteca onde se reúnem e estudam.

A biblioteca que Zingner falava estava localizada na Baía Flimaek, um pequeno bairro ao norte, que era também o bairro portuário, onde atracavam os barcos vindos de Lars-Gaehlia ou do sul da ilha de Johas. Era um bairro pequeno e denso, pois de certa forma, tudo que não era templo ou comércios estava ali enfiado. As casas de governo, um ou outro restaurante, casas de pobres e depósitos das coisas mais diversas. - Mas eu duvido muito que abram a porta para nós. Só os docentes ou alunos com cartas de recomendação entram lá, é quase um clube.  - Finalizou suas ponderações. Sabia que aquilo não seria problema nenhum para Hellen. Ainda mais ela que tirou um livro maldito do próprio escritório de Dohr Jaereo.

As ruas da baía

Hellen Morritz

Narração continuando aqui.

O Bairro Mercante

Aventura 5 - Primeiro dia

Hellen Moritz

A cidade ainda estava acordando. O sol estava começando a surgir. Haviam escolhido esse momento para partir pois assim não ficariam sob a luz estranha daquela estrela. Hellen tinha recebido há dois dias a confirmação de um de seus subalternos que a estavam esperando em Lars-Verumdor. As notícias não era boas, dois terços do seu bando havia "desertado". E com isso queria dizer que estavam irreversivelmente loucos. Porém, os que ainda estavam são continuavam firmes. Aquilo ia bastar. Teria que bastar.

A ladra estava na soleira da porta. Logo sentiu um vulto atrás de si e se virou para ver o sacerdote do Rei de Chifres, John Richard. Atrás deve vinha Zingner, como de costume, completamente coberto sob roupas pesadas. - Vocês deveriam fazer o mesmo e se vestir como eu. Soube que mais ao norte um sol negro apareceu, além dessa estrela que surgiu aqui. São os presságios da chegada. - Seus olhos rubros eram duros como pedra. Ele cobriu-os com os óculos de metalúrgico. - Iremos seguir por terra, o que quer dizer que o colega sacerdote pode ir na frente, pois entraremos pela floresta. - Continuou o gnomo. John Richard pigarreou e respondeu: - A Floresta Alta também está estranha. Plantas e animais maiores do que seu tamanho natural. E pensar que as coisas lá começaram com pequenos animais morrendo. - Zingner xingou. - Parece que não temos sequer uma opção simples. Hellen, você acha que devemos cruzar a floresta, ou ir pelo litoral? Acho que vamos demorar demais se formos pelo litoral. É um terço mais longe. - A pequena comitiva estava pronta para sair.

Por dentro da mata

Hellen Moritz

Narração continuando aqui.