Dr. Cap. Eduardo Ruy Barbosa – [Kether]

Após sua chegada ao Brasil, quando Yumi ainda estava grávida, ela estabeleceu a diretriz de quando seu primogênito nascesse, ele não receberia cuidados de ninguém que não fosse seus próprios pais.
Seus principais motivos, fora devido a atual situação do país e a alta patente de seu marido, onde Yumi preferiu chegar em um consenso de que seria mais seguro se assim fosse.
No entanto, algo inesperado aconteceu...

Nos últimos meses Yumi foi incumbida em uma missão secreta da Cabala dos Tecnomantes, tirando uma licença da faculdade na qual lecionava para que todos os dias pudesse se dedicar ao máximo para fins desconhecidos nos quais parecem ser inviáveis de sequer consegue imaginar. Devido sua esposa ser versada na Arte do Spiritum, logo foi consagrada em sua Cabala, pois tal vertente é extremamente rara no meio dos tecnomantes, que embora sejam uma poderosa Cabala de Mistérios, ainda assim possuem grande dificuldade em reproduzir as Arte Herméticas, visto que seu Paradigma os direcionam muitas vezes á utilizar como auxilio do intermédio de suas Artes certos aparelhos para conduzi-las. Ainda em Massachusetts, o uso da maestria dela em Spiritum foi crucial para que tivesse qualquer chance de recuperar o artefato da Quinta Dimensão, o que a concedeu o grande renome de ser intitulada de ''Viajante Dimensional'', sendo a única Tecnomante no Brasil capaz de realizar tal feito.

Seu trabalho ficou conturbado com as manifestações dos estudantes que começavam a aumentar e preciosas pistas de suas investigações eram ameaçadas pelos anarquistas.
Todavia, seu mentor não lhe dava descanso, encaminhando um fax diariamente contendo notas de sua pesquisa para que fosse avaliado, pois aparentemente ele possuía grandes planos em uma nova invenção, mas suas teorias de ''Vórtex Atemporal'' eram difíceis de se compreender no papel e facilmente seria tida como insana se analisada com seriedade.
De qualquer forma, Eduardo custava ter um tempo si e cuidar de seu filho apenas acarretava em diminuir ainda mais as chances de organizar todo aquele trabalho fragmentado, para fosse possível conciliar seus respectivos andamentos.

Era um sábado 22:33, a terra da garoa enfrentava uma noite fria e chuvosa, porém, no conforto de sua casa, o casal Ruy Barbosa brindava taças de vinho durante o jantar.
Enquanto isso, o pequeno Ichirou dormia tranquilamente em seu berço, trazendo tranquilidade aos seus pais, que podiam desfrutar de sua intimidade juntos, para então dormirem sem qualquer sombra de preocupação.

Entretanto, no meio da noite, a chuva engrossava e um forte clarão seguido de um estrondo trovejante acordava Eduardo no susto. O relógio da cômoda apontava para direita indicando 3:48 da madrugada, e Yumi já não estava mais em sua cama. Só foi preciso alguns segundos para tomar o fôlego antes que pudesse ouvir vindo do quarto ao lado, o choro do bebê que se iniciava.

Eduardo preguiçosamente sai da cama e olha a hora mais uma vez, era hora de dar mamadeira para o pequenino Ichirou. Ele segue até o quarto do filho primogênito e verifica-lhe as fraldas.

"Nada ainda... Mas daqui a pouco..."

Ele pega o filho no colo e para que ele parasse de chorar, Eduardo começa a balançar levemente um pouco enquanto segue até o carrinho de bebê. Ele põe o filho do carrinho quando ele fica um pouco em silêncio. Segue então para a cozinha e esquenta a mamadeira em "banho maria" e dá para o filho comer. Depois de botar Ichirou para arrotar ele o coloca novamente no berço até que ele voltasse a dormir.

Demorou um pouco mais do que ele pensava. Mas daria tempo para tomar um banho e começar a ler o material que seu mestre havia lhe enviado. Durante  o banho rápido ele se mantinha atento todo o tempo para ouvir qualquer ruído do quarto do filho. Então ele pega no escritório da casa os papéis de sua pesquisa. Olha ao redor em busca de algum bilhete de Yumi para ele.

"Espero que esteja em segurança." - pensa.

A criança parecia apenas ter se assustado com o som do trovão, mas logo se tranquilizava com a presença paterna, sorrindo de alegria ao vê-lo, enquanto estendia os braços como se pedisse colo. Após o banho maria, Eduardo gotejou o leite da mamadeira sobre o peito de sua mão e pôde ter a certeza de que estava na temperatura ideal para amamentar seu filho.
Afoito, o bebê agarrava a mamadeira de maneira firme, e a tomava com vontade, arregalando bem os olhos enquanto saboreava o leite. Assim que Ichirou estava terminando de mamar, seus olhos iam diminuindo pouco a pouco á pestanejar, até que não demorou a pegar no sono novamente. Foi então que Eduardo teve espaço para que pudesse ter sua higiene pessoal sem se preocupar com o bem estar de seu filho.

Já arrumado, Eduardo chega em seu escritório e começa a analisar o vasto acervo recente que seu mentor havia lhe encaminhado, e após algumas horas lendo e relendo, pode constatar que aquilo estava completamente fora de cogitação, pois em sumo se tratava de uma teoria de viagem no tempo. A muitos já era sabido, que mesmo com o intermédio da magia, existem certos aspectos da realidade que são imutáveis e que não há como acessar... Mas ainda assim, sua memória lhe trouxe rumores que outrora ouvira nos salões do elísio, a respeito de magos da antiguidade que já obtiveram tal poder, mas por conta de sua periculosidade, seu conhecimento fora completamente destruído e atirado ao oblívio conforme o passar dos séculos. Todavia, antes que pudesse esboçar qualquer reação ao ter finalmente compreendido o tema do projeto de Jonh Nash, uma tênue ruptura se iniciava em pleno ar em frente á mesa de seu escritório. Era raro ver aquele dom tão precioso e avançado de sua esposa sendo utilizado, no qual á possibilitava transitar entre o mundo físico e a Quinta-Dimensão, visto que ambos sabiam dos perigos ameaçadores que se encontravam do outro lado.

Rapidamente micro-pixels saiam da disforme ruptura e tomavam uma forma aparentemente intangível de Yumi, materializando-a milésimos de segundos depois. Para sua surpresa, a expressão dela era de grande temor, olhando aflita diretamente em seus olhos e dizendo com grande pesar e preocupação. -- Onde está Ichirou!? Precisamos tirá-lo daq... O choro do bebê a interrompia, tornando sua expressão ainda mais desesperada, fazendo-a se virar instintivamente em direção á porta.
No entanto, quando começou a dar os primeiros passos apressados, o choro era subitamente extinguido, como se tivesse sido ''Desligado''.
Neste momento, em prantos ela caia de joelhos no chão de taco do escritório, simultaneamente com uma pequena peça metálica triangular com símbolos estranhos, que tilintava quicando algumas vezes ao atingir o solo, enquanto sua esposa murmurava seus lamentos entre soluços lacrimosos.  -- Po..r que..? Isso... Eu não...pude
Desolada e com o corpo trêmulo, suas lágrimas percorriam rapidamente pela sua face, pingando seu sofrimento sob si mesma.