O primeiro som a atingi-lo naquela manhã cinzenta foi o da chuva na janela. Um tom repetitivo e constante, que parecia aumentar gradativamente conforme fosse tentado ser ignorado. Existia algo quase hipnotizante a respeito do som das gotas no vidro. Pareciam aos poucos atingirem níveis mais altos e depois baixos, como se tentassem ao próprio modo formar uma melodia. Ou talvez fosse só reflexo do efeito do ópio.
Porém, ao fundo, lá longe onde sua audição não queria levá-lo existia outro som. Esse estridente e pouco convidativo, nada harmonioso como o som da chuva. Esse era um som familiar, porém não amigável. O som do telefone. Quando conseguiu finalmente abrir os olhos, viu-se deitado de barriga para cima, observando o teto do quarto e teve consciência de que o telefone já estava no quarto ou quinto toque.
[...]
A voz do outro lado apresentou-se depressa, como um oficial da Scotland Yard e ele foi direto e simples: um novo corpo.
Um novo corpo poderia significar uma infinidade de coisas, porém não fazia mais de dois anos que o assassino de Whitechapel tinha parado de atacar e apesar de todos os esforços da polícia, sequer haviam chego perto de descobrir quem era. Um novo corpo queria dizer que ele tinha voltado a ativa? Talvez. A única verdade agora era que o trabalho chamava, como sempre fazia.
∆ MONA - FG