Os mensageiros haviam chegado na noite anterior.
Ninguém sabia qual era o assunto, mas todos sabiam de onde eles vieram. Atravessaram mar e terra desde Encontro Eterno, o refúgio dos elfos depois do êxodo que levou toda a raça a deixar o continente. Não era preciso ser um bom observador para notar que Evereska tinha ficado amplamente ansiosa para saber qual motivo teria trazido os mensageiros depois de tanto tempo de isolamento entre o reino insular e A Última Cidade.
Ian Dee, é claro, era um dos curiosos mas, ao contrário dos outros, o jovem elfo estava prestes a decobrir o teor da mensagem ou, pelo menos, o mago tinha esse palpite. Tirado de seu quarto quando o céu ainda estava negro e repleto de estrelas, Ian foi escoltado até uma sala de audiências privada e discreta de uma casa afastada. A decoração era simples e era possível notar que muitos móveis ali tinham séculos de idade, e conservá-los por tanto tempo era um feito notável. O dono daquela casa não era qualquer pessoa.
Por mais que o mago perguntasse o que estava acontecendo, nem uma palavra lhe foi dirigida além de “tudo a seu tempo” e “tenha paciência”. Apesar da cortesia, Dee sentia os olhares acusadores dos três elfos que o escoltaram, olhares que traziam o preconceito implícito pela nova condição de Ian.
Não foram todos que verbalizaram o repúdio pelo renascimento do elfo como um dragão, mas nenhum morador de Evereska conseguiu esconder o olhar. Os elfos são uma raça orgulhosa, e Ian ter escolhido renascer como um servo de Bahamut foi muito mais do que qualquer um, especialmente os mais velhos, poderia suportar e, por causa disso, o mago tinha que conviver todos os dias com os olhares, julgando-o e acusando-o.
Ian Dee foi convidado a se sentar em uma cadeira confortável e solitária que ficava de frente para uma mesa alta e imponente, o que por si só demonstrava de forma muito clara a situação em que o mago se encontrava. Havia uma confortável poltrona do outro lado da mesa e, na parede acima, um grande quadro cobria quase toda a parede; um elfo altivo e nobre estava sobre um belo cavalo branco e um espada descia dos céus para sua mão. Abaixo do quadro, uma espada repousava em ganchos de ferro negro. Um carvalho de respeito surgia do solo dentro da sala, e o elfo supôs que a casa fora construída ao redor dele. Não havia como negar que o perfume da terra e da árvore eram agradáveis.
Um dos guardas anunciou a chegada daqueles que tinham acordado o elfo e ordenou que Dee se levantasse. O mago não conseguiu esconder a surpresa quando viu que Lorde Erlan Duirsar em pessoa entrou na sala, acompanhado por um N'Tel'Quessir de cabelo castanho escuro, mas com as têmporas grisalhas e com outros fios cinza surgindo aqui e ali. Apesar de saber que alguns N'Tel'Quessir se orgulham de suas barbas, este não tinha nenhuma. Ian pode notar que o rosto dele era de certa forma diferente de outros que o mago já tinha visto. Mais... delicado, talvez.
Lorde Erlan se sentou na poltrona e o N'Tel'Quessir ficou ao lado da porta, atrás de Ian. Lorde Erlan Duirsar era um elfo que impunha respeito com sua mera presença. Alto para os padrões de sua raça, muito belo e bem constituído, Lorde Erlan era conhecido por sua eloquência, pulso firme e senso de dever. Já era possível ver fios prateados entre seus longos cabelos dourados, mas seu rosto ainda era belo como na juventude e os olhos transbordavam em experiência e um pouco de sabedoria.
[Espruar]- Bom seja o nosso encontro, que exista luz para os nossos corações e nossas espadas embainhadas, nós mantemos paz em nossas mãos e sua luz guia-nos.
Lorde Erlan acenou com a mão.
- Deixem-nos - Os três guardas partiram – Iandan Dee, serei breve pois tempo é algo que nós não temos neste momento. Como sabe, mensageiros chegaram ontem durante a noite e a mensagem que eles trouxeram não era boa. De alguma forma que ainda não foi descoberta, um livro foi roubado de Encontro Eterno, um livro que não deveria ter, de forma alguma, ter deixado a ilha. O roubo foi executado à duas dezenas e o paradeiro dos ladrões não é conhecido, mas temos certeza de que eles estão em algum lugar no Norte e talvez não deixem a região. É sua missão encontrá-los e recuperar o livro.
Lorde Erlan deu um instante para Ian absorver a informação.
- Talvez você esteja se perguntado o motivo de eu mandar um mago inexperiente atrás de um artefato que aparenta ser importante. É seu direito saber. - Lorde Erlan deu um longo suspiro, como se o que estivesse prestes a dizer o incomodasse muito - Há muitos anos, antes da fatalidade que os levou aos reinos de Arvandor, seus pais estiveram envolvidos em um evento que poderia ter tido consequências fatais, mas graças aos esforços de Anorieuilos e Irpadordra, além de outras bravas pessoas, tudo foi impedido à tempo. Se estes ladrões conseguiram entrar e sair de Encontro Eterno, então talvez eles conheçam muito bem o nosso povo, o que me deixa com poucas opções de elfos para esta missão, mas você é um rosto desconhecido. Além disso, imaginei que talvez você gostasse de conhecer mais sobre os feitos de seus pais. Apesar de inexperiente e de sua... condição, você é um dos nossos, por isso confiável e à altura do que precisa ser feito. - Lorde Erlan cruzou as mãos sob o queixo. - Este livro precisa ser recuperado, Iandan. Temos um palpite de qual será o próximo passo destes ladrões e para onde irão agora, e é para lá que você deverá ir. Quão bem você conhece o Norte?