O dia estava úmido e a cerveja quente.
O Punho Sangrento, no Distrito das Docas, estava cheio. Marinheiros, prostitutas, estivadores e mercenários se acotovelavam nos bancos que corriam as paredes da taverna. O barulho era grande e havia de tudo. Alguns marinheiros sulistas entoavam uma canção de Calimshan em sua língua natal, mercenários jogavam dados entre berros e xingamentos e a risada de meia dúzia de putas podia ser ouvida acima de todos eles. Dois estivadores diziam que haviam ido falar com umas das moças primeiro e que tinham o direito de levá-la para o quarto antes do outro, e a discussão acalorada logo se tornou uma briga. Canecas ainda cheias e pratos ainda repletos de comida voaram quando um deles caiu sobre uma mesa, transformando a briga em uma confusão generalizada. Tudo só se acalmou quando um dos estivadores foi jogado na rua, inconsciente.
Além dessas pessoas, havia outro tipo que frequentava o Punho Sangrento. O tipo de pessoa aonde Fred Pinga Cana se enquadrava. Larápios, punguistas, enganadores e falsários. Todos também tinham seu lugar n'O Punho Sangrento. Fred sabia que devia controlar seus dedos dentro da taverna. O halfling já tinha visto homens acabarem inconscientes na rua ou perderem os dedos e, às vezes, a mão por roubarem quem não deviam. O lugar, apelidado pelo bardo Talashamber da Chama Tabard de “Deus da Guerra Vigilante” – apelido sarcástico dado por causa dos clérigos de Tempus que vivem em um quarto escadas acima, curando os brigões do lugar e usando como referência dois heróis de Águas Profundas – faz jus ao nome que tem e muitas pessoas aprenderam a evitar o lugar.
A maresia era forte ali, o cheiro de água salgada, o ruído das gaivotas. Fred estava em sua terceira caneca de cerveja e estava sentado junto de Tom Fala Breve, um homem que perdeu a língua após beijar a filha de um nobre de Cormyr, Syrio Nefhal, um homem que dizia ser um assassino de renome do sul, e Claude Baixo, um brutamontes nascido nas docas com uma dezena de dentes a menos na boca. Não havia um assunto, e os quatro bebiam lado a lado, comentando algo que acontecia, uma mulher que passava ou qualquer outra banalidade. O movimento de pessoas era grande, os bancos estavam sempre ocupados e o movimento de canecas vazias e cheias era maior ainda.
O bar ficava no centro do Deus da Guerra, um quadrado feito de balcões, e atrás dele sempre esta Uglukh Vorl, o meio-orc dono do lugar. Fred já o tinha visto em meia centena de ocasiões e se acostumado com sua cara feia. Olhos verdes pequenos e estreitos sob uma testa proeminente, cabelos castanhos, grossos e embaraçados e uma boca grande demais com os caninos inferiores saltando por cima dos lábios. Em dias normais, Uglukh estaria apenas lavando seus copos, secando o balcão e dando ordens, mas hoje ele estava apontando para Pinga Cana. O meio-orc conversava com um homem baixo e robusto, careca e de rosto liso. Ele parou do outro lado da mesa, na frente de Fred e dos outros três.
- Fred Pinga Cana? Meu nome é Garth e eu tenho uma proposta de trabalho para você - Garth se vestia de maneira simples. Um gibão de couro fervido sobre uma camisa de algodão branca, calças de couro e botas de montar. Uma espada descia pelo flanco esquerdo e um punhal pelo direito - Você quer conversar aqui ou ir para outro lugar?