por Guilix Seg Nov 05, 2018 8:19 pm
4h da manhã. Seu corpo está deitado na cama, mas sua mente viaja longe. Um misto de euforia e ansiedade a impedem de dormir em paz, seria pedir muito?
Hoje seria um dia importante. Mei se formaria na academia com um desempenho impecável. Nota perfeita. Comportamento impecável. Um histórico irrepreensível. Com certeza, um dos melhores cadetes que pisaram na academia.
Como sua mente não parava, resolveu levantar mais cedo, tomou um banho, preparou algo quente para beber e sentou-se em sua escrivaninha. Se ela buscava paz, ouvir uma música relaxante e olhar algumas anotações poderiam trazer tranquilidade a um coração ansioso. Ao som de Golberg Variations de Bach, a moça começa a folhear alguns de seus esboços de protótipos. Estava ansiosa em poder dedicar-se totalmente a suas invenções e isso trazia para ela certo conforto, pois não precisaria mais se esforçar tanto para manter aquele rendimento acadêmico.
A manhã chegou, Mei se arrumou e detalhista e perfeccionista como era, deixou tudo primoroso. O cabelo estava caprichadamente penteado, seu uniforme alinhado e os sapatos engraxados. Mei estava, como sempre, impecável. Sua mãe acordou um pouco depois de Mei já estar pronta. Preparou o café, colocou a farda de oficial e partiu com a filha para a federação. Suas palavras eram vazias e banais, mais elogios e demonstrações de orgulho. Mei já sabia todas aquelas coisas e ouvi-las não fazia diferença.
A jovem já conhecia a federação. Sua mãe ia para lá todos os dias e Mei a acompanhava de vez em quando quando criança. Chegando lá, seu coração estava palpitando pouco mais do que o normal, mas a jovem tentava apenas manter o sorriso e a calma.
- Para onde será que você vai ser designada? - perguntara a senhorita Huan, sua mãe para sua filha. - Acho que vai por aqui trabalhando em algum laboratório de testes. Aquela seu escudo pode salvar vidas.
Mei não sabia o que responder. E ela odeia não ter as respostas.
A cerimonia se iniciou. Algumas histórias foram contadas. Pessoas importantes falaram para inspirar os jovens, blá blá blá. Mei ficou distraída a maior parte do tempo. Os outros cadetes estavam felizes, se abraçavam e comemoravam. Bom, ela tinha sido perfeita em tudo, na verdade, em um quesito ela falhara totalmente, foram anos sem criar laços, e ela não sabia até que ponto isso poderia prejudicá-la.
Perto do encerramento, Mei e alguns outros cadetes receberam uma carta. Alguns instantes depois, Capitão Kirk diz que ela seria designada a uma função na nave USS Smolensky. Mei não queria isso, então no instante em que ouve essas palavras abre a carta rapidamente, passa os olhos procurando as palavras relevantes até que algo se destaca:
Engenheira-chefe
Mei pisca algumas vezes e tenta reler, confere seu nome, o cargo designado, confirma isso, dez, quinze vezes. Realmente a carta dizia aquilo. Engenheira-Chefe de uma nave estelar. Para muitos seria um sonho. O ponto máximo de uma carreira de sucesso, mas ela não queria sucesso, queria apenas ficar em sua zona de conforto.
Mei se levanta e começa a se encaminhar para o local que o capitão orientou, apressa o passo e toma a frente dos colegas para tenta dar uma palavrinha com o capitão.
-Senhor, com licença... Senhor... Acho que houve um erro. Estou designada para ser engenheira-chefe, mas acho que esse cargo não aproveita meus verdadeiros potenciais.
Mei sente que o capitão ignora sua indagação, respondendo-a apenas com um sorriso.
Na verdade não era um erro. Na verdade seu treinamento ainda não havia acabado. Ela ainda tinha muito o que aprender, e mal sabia ela que fazer parte da Frota Estelar poderia moldar drasticamente cada aspecto de sua vida.
Um pouco atônita, Mei entra por último na nave auxiliar e se senta próxima a porta. Seus olhos se perdem ao longe buscando alguma explicação.
Ela ouve os outros se apresentando e fica em silêncio. Não queria tomar iniciativa agora. Só queria voltar para o começo do dia, para sua escrivaninha, para sua música...