noite era de lua cheia, bem alta e clara em pleno verão. Eram 19:00 e ainda havia uma imensa quantidade de pessoas andando pelas ruas, como se aquela cidade jamais parasse. Luminosos piscavam, música ecoava no ar, instrumentos rugindo e o falatório sem fim de pessoas era o que diariamente ecoava pelas ruas da cidade. Lojas, armazéns, bares, clubes, padarias... tudo quanto era comércio ainda estava aberto naquele horário e não precisava nem ser alta estação ou período de férias para tal. Sempre cheia de visitantes e moradores locais, as ruas estreitas não tinham descanso nunca. Os bares e casas noturnas trabalhavam já a toda velocidade naquela hora da noite na Bourbon St. Ainda nem era Mardi Gras e a cidade já estava ceia de pessoas e tudo funciova a pleno vapor. O cidade tambem possuía outros tipos de atrações apreciados por muitas pessoas: a comida creoule, procurada por muitos. A fama do famoso Gumbo, Po Boy's, Jambalaya e Beignets havia cruzado o país e agora muitas pessoas desbravavam a noite da cidade procurando por algum desses práticos típicos e um bom drink para beber em meio à toda aquela agitação, música e show de luzes. A medida que as pessoas andavam pela cidade, os diferentes cheiros iam atraindo pessoas para as diversas diversões que poderiam imaginar, desde a comida, desde os drinks exóticos, desde as belas mulheres até o cheiro de produtos e frutos do mar frescos que vinham do grande mercado da cidade. Boatos do ocorrido cruzaram o país para todos os povos, desde humanos, vampiros, lobisomens e bruxos, o que acabou trazendo alguns curiosos à cidade e também outros que haviam chegado à pouco tempo e é onde o ilustre e famoso ator/ filho do prefeito, o jovem Alastair Blac se encaixa. Há 2 dias havia regressado à cidade e percebeu algumas mudanças desde a última vez que esteve por aqui...
O relógio já marcava as 19:00 horas, há quanto tempo exatamente estava dormindo afundado no conforto de sua cama ao lado de uma garrafa de bourbon? Não sabia, metade da noite anterior havia aproveitado em alguma club local desfrutando dos prazeres que New Orleans poderia lhe dar, a outra metade passou com duas pessoas, não se lembrava do rosto nem de um e nem da outra, mas sabia dizer com toda certeza que tinha na vida que a noite havia sido sensacional e não só pra ele. Um sorriso abria-se em sua boca, só com a vaga lembrança passando pela sua mente de uma noite que nunca voltaria, de qualquer jeito, havia dormido o dia inteiro, estava com as energias revigoradas, não imaginava qual seria o seu próximo passo, mas tinha que começar de algum lugar.
Home sweet home...
Levantou-se, o corpo ainda sentia os efeitos de seu embalo das últimas 24 horas, tomou um banho, se arrumou colocando um terno preto, daqueles refinados. Não era exatamente um cara "refinado", mas gostava de sentir-se bem consigo mesmo e naquele momento, sentir-se bem era vestir-se do melhor jeito que conseguia. Com a sua carteira em um bolso, arrumava o cabelo, passava um perfume, guardava sua carteira e se preparava, essa noite seria diferente das outras, era hora de se mexer. Saia na rua e já era bombardeado pelo festival de cores que aquela cidade proporcionava, Alastair ainda não sabia dizer o que era, mas aquela cidade tinha algo que atraia, que o instigava a querer aproveitar tudo o que tinha direito, até os seus mais profundos pecados, não era o simples fato de ele ser um nativo dali, acreditava que o mesmo efeito que ele sofria, era a mesma coisa que acontecia com os turistas.
Conforme andava sentia o som do jazz passar por todo o seu corpo causando uma estranha e gostosa sensação de nostalgia, foi ali que soube, muitas coisas haviam mudado por ali, mas no geral a essência daquela cidade era a mesma.
Desde que chegou, tinha poucas pessoas que já havia visto, se duvidar, apenas uma, Jace Wayland, o sheriff local e seu amigo de tempos desde que era apenas uma criança, um rapaz que em tempos normais não recusaria uma noite de farra com Alastair, principalmente depois do mesmo ter passado 8 anos fora de sua cidade natal, mas as coisas agora eram diferentes e o rapaz sabia disso. Será que havia perdido o seu amigo? Ou algo a mais estava acontecendo?
Talvez agora seja a hora de refazer uma visita até a delegacia, se as coisas mudaram, eu preciso saber antes de encontrar com meu pai, vou usar essa noite de base pra botar as minhas informações em dia. Jace sequer falou direito comigo no outro dia, a situação deve estar bem pior do que eu imaginava... Bom pra mim.
Caminhava com as mãos nos bolsos, seu olhar inspirava confiança e seu sorriso de canto de boca era charmoso e sedutor, encarava as pessoas sem dó de incomodar, afinal conhecidos era o que queria encontrar. Em determinado momento passou os olhos rapidamente pelos estabelecimentos espalhados pela rua, acabou indo em direção à um que especialmente parecia ter como especialidade seus bons drinks, porém não viu o nome. Despreocupado sentou na frente do balcão que separa o bar do garçom, e então esperaria que alguém viesse atendê-lo. A noite estava só começando e não achou que perderia muito tempo ali.
— Garçom, água tônica com gim, por favor.
Talvez fosse interrompido, talvez não, de um jeito ou de outro seus olhos passariam ao redor de todo o estabelecimento procurando por algum conhecido e também pelo lado de fora antes que pudesse seguir seu caminho.
epois de se arrumar todo engomadinho como gostava de andar, Alastair partiu para a noite apesar de ainda ser 19:00.
Muitas coisas passavam pela sua cabeça, mas inicialmente beber um drink seria uma ótima opção já que estava bem preocupado pela noite anterior ter apenas esbarrado com Jace e o sherife não ter dito absolutamente nada. O ideal então para que o rapaz pudesse começar bem a noite era beber algo bem agradável ao paladar.
Entrou em um bar qualquer por onde passou, sentou-se ao balcão e pediu um Gin com tônica ao garçom que trouxe rapidamente.
Não havia analisado direito, mas aquele bar era um local bem agradável de se estar, com uma música ambiente típica da cidade e ainda não estava cheio naquelas horas. Algumas pessoas estavam sentadas em mesas conversando, bebendo e também comendo enquanto alguns garçons iam e vinham do local trazendo pratos, bebidas, máquinas de cartão... e a noite estava apenas começando.
Então, sem ele perceber, alguém atrás diz debochando:
- Gin e tônica? é mesmo a sua cara tomar uma cafonice dessas... kkk
Era aquele loiro que fazia as mulheres suspirarem e os inimigos tremerem, Jace, o Sherife da cidade de Nova Orleans, amigo de infância de Alastair e algo que o rapaz não sabia ainda, um dos vampiros mais temido e odiado de todos...
Quem sabe naquele momento os dois não poderia conversar um pouco melhor do que aquele breve encontro de antes?
Os dois se abraçam após uma ausência de anos e então Jace pede um copo de bourbon para o garçom e se senta ao lado do colega, meio que olhando para os lados, d costas para o balcão, com os cotovelos apoiados no balcão alí atrás.... o seu jeitão de sempre, de poucas palavras, sorrisos sacanas, uma ou outra piadinha e de olho nas belas mulheres.
- E então.. tá de passagem senhor famozinho ou voltou pra ficar?
O clima no bar era bem amistoso e aconchegante, havia passado certo tempo até que Alastair finalmente tomasse ciência disso. A música que tocava era típica daquele lugar e o jovem ator conhecia muito bem, costumava ouvir sempre que estava sozinho em sua jornada "solitária" e queria sentir um gostinho de casa.
— Sharon Jones e the Dap-Kings. — Riu sentindo o gostinho da ironia que estar naquela situação causava, falava sozinho usando um tom baixo que apenas ele poderia ouvir. — This Land Is Your Land nunca fica velha e de certa forma não está errada, estou voltando, papai.
Aproveitou então seu drink sem pressa, por algum motivo era o tipo de cara que sentia prazer em degustar as coisas, a grande quantia de dinheiro que acumulou no decorrer do tempo nunca havia mudado esta característica sua. Aquela sensação a cada golada que dava na bebida era indescritível, estava distraído quando de repente ouviu alguém por trás chegando de surpresa, seu pescoço virava com rapidez buscando reconhecer quem se atrevia a atrapalhar seu tempo só, sorriu com a baita surpresa que havia recebido.
— Se não é Jace Wayland, o primeiro e único. Talvez eu deva parar de investir nesse tipo de bebida e tomar o que você toma, haha. Você parece exatamente o mesmo desde que eu fui embora...
Pensou em chama-lo de "vampirão", mas em seu íntimo sabia que Jace não era um daqueles e provavelmente nem sabia da existência dos mesmos e se soubesse, pra que se complicar? Deu um abraço em seu amigo e então se ajeitou em sua cadeira sentando numa postura reta, via Jace também tomar seu lugar e fazer o seu pedido com certa atenção.
Bourbon, tão previsível e ainda quer falar de mim... Pensou consigo mesmo enquanto soltava uma risadinha canalha.
A pergunta de seu velho amigo entretanto lhe remexia por dentro causando sem desconforto, mas não transpareceria o nervosismo, não era o tipo de cara que podia se dar ao luxo de fazer algo assim como transparecer o que estava sentindo, então sorriu.
— E quando é que eu voltaria pra esse fim de mundo pra uma viagem de campo? Haha, dessa vez eu estou de volta de vez e é pra ficar. — Tomava um gole de sua tônica fazendo uma breve pausa, notava os gracejos com as mulheres do bar, "não mudou nada", pensou consigo mesmo e então retomava a fala. — Você viu o que está acontecendo com a cidade, Jay? Eu não sei exatamente o que é, mas algo me parece estranho, me parece errado, me diz que eu não sou o único que se sente assim... É por isso que eu resolvi ficar de vez, está na hora de assumir o que é meu por direito e do "papai" se aposentar. O que exatamente está acontecendo aqui?
depois de tanto tempo de ausência, as piadas do humano ainda divertiam Jace bastante. - Que bom que decidiu ficar mas... Quanto assumir os negócios... Eu acho melhor vocês conversarem. Não tenho nada a ver com isso...
Por mais que tivesse um jeito mais descontraído de ser, esse jeito nele não passava de um grade teatrinho que ele fazia na frente do humano em algumas situações. O seu real jeito de ser fugia bastante de toda aquela amizade, risos e brincadeiras. Quem sabe algum dia Alastair não descobriria como Jace realmente era... mas por enquanto melhor não... Jace volta a bebericar um pouco de bourbon e dar mais uma olhada no bar como se não pudesse ficar ali muito tempo, mas queria ficar, afinal faz bem uma mudança de ares, ficar um pouco longe dos problemas e de muitas vezes todo o stress que Alec impunha em algumas situações.
- Se eu vi o que está acontecendo na cidade? Mas o que está acontecendo na cidade que eu não sei? Você sabe de alguma coisa? Você está sentindo alguma coisa? Eu acho que você precisa de mais um copo dessa sua bebida de riquinho aí.. ahahahaha...
Riu e fez cara de desentendido. Jace sabia muito bem disfarçar e enganar as pessoas, então naquele momento não seria muito diferente, mas talvez não fosse 100% convincente com Alastair, porque o garoto o conhecia, mas certamente iria conseguir engana-lo pelo menos 90%.
- Está tudo normal até onde eu saiba: turistas pra cá e pra lá, música, bebida... Nem parece um ano de crise, porque a crise nunca chega à Nova Orleans. Mas vamos falar de mulheres... e aí... tem alguma aí na parada?
E ele começava a desconversar, o que sempre fazia para que assuntos chatos não chegassem a vez. Isso sim era uma característica dele, afinal se não estavam em uma situação forma, para que falar de assuntos chatos?
O tempo ia passando e já fazia cerca de 3 horas desde que Alastair sai de casa, desde que chegou ao bar, começou a beber, encontrou com Jace, conversa vai e conversa e vem. A noite estava chegando no seu auge quando uma explosão na rua, perto de onde estavam, alterou toda a calmaria daquela noite. Um carro havia explodido e começou a queimar, em chamas bem altas e alaranjadas.
A explosão fez com que copos e garrafas estourassem nas bandejas e prateleiras e com toda aquela bagunça que havia se instaurado, todos correram para as ruas, para ver o que acontecia.
Jace estava estranho, a carreira de Alastair fora de New Orleans não era sem motivo e ele sabia disso, ser um ator se tratava de captar a essência de outro ser humano e reproduzi-la com perfeição como se fosse a sua própria. Aparentemente o loiro também sabia disso, o jeito que ele agia e falava, como se estivesse evasivo, tentando desviar do assunto, quem era aquele na sua frente? A intimidade que tinham estava lá, era claro pra quem visse e por mais que o tom dele fosse convincente, algo parecia errado aos outros do rapaz.
Talvez eu tenha feito algo... Não, Jace é o tipo de cara que falaria na minha cara se estivesse chateado com alguma coisa relacionada a mim. Enquanto o loiro falava, Alastair o observava com atenção tentando ler cada uma de suas ações, o copo que ainda estava pela metade passava na frente de seu rosto, enquanto apreciava o cheiro da bebida. Que caralhos tá acontecendo aqui que você não quer me contar, Jay? Eu sei que eu não estou paranóico. Já que era por aquela direção que o loiro queria ir, não havia muito o que fazer.
— É verdade, palhaço. Talvez eu esteja bebendo demais e vendo demais. Esquece o que eu falei. — Se Jace prestasse a atenção, provavelmente notaria um pequeno descontentamento vindo de Alastair. O jovem ator sabia disfarçar suas emoções bem quando queria, apenas quando queria, talvez mostrar-se insatisfeito faria com que o amigo soltasse alguma informação que pudesse estar segurando.
A conversa seguia por um ritmo mais padrão, o que não era o desejo de Alastair, mas manteria o clima bom em consideração aos velhos tempos.
— Sempre tem alguém na parada, você sabe. Digamos que agora eu estou focando em expandir os meus horizontes e me libertando dos meus limites. — Riu só de lembrar da noite passada, “prostituto” e “prostituta” era como lembrava deles, apesar de terem dito os seus nomes, não se lembrava do que não era importante e eles, não eram. Entretanto, o que eles podiam fazer, ah... Isso os tornava valiosos. — Ficar em coleira não é pra mim, ainda mais no showbiz, sabe como é, né? Eu não posso dar um passo em falso que já tem 550 paparazzis na minha porta questionando minha vida. Confesso que parte de mim sente saudades do velho eu.
A conversa continuava fluindo de maneira natural, o que não significava que Alastair estava confortável, muito pelo contrário. Tinha ciência de que o amigo era ocupado e provavelmente aquele era o tempo livre que tinha pra por as conversas em dia, mas já havia desperdiçado dois dias, aquela noite com certeza não estaria na conta.
— Jay. — Sua intenção seria interromper a conversa, o que ele não esperava era que o destino já tinha algo programado. A explosão que vinha transformava a calmaria num completo caos, no momento da explosão Alastair abaixava-se para se proteger das vidraças, estava surpreso. Nada como aquilo havia acontecido antes. Antes de tomar qualquer atitude, olhava mais uma vez nos olhos de Jace. — Realmente, tá tudo normal, né cabeção?
Então, se o amigo precisasse, o ajudaria a levantar e então daria mais um olhar sério e determinado nos olhos do sheriff garantindo que Jace entendesse o recado, não desistiria de descobrir o que estava acontecendo e então partiria na direção da rua pra entender o que aconteceu.
ealmente Jace podia perceber todo aquele descontentamento e insatisfação tanto no tom de voz quanto no rosto do humano. Isso era até perceptível pelo pulsar das veias em seu maxilar e perto da curvatura do pescoço. Ele beberica então um pouco do seu bourbon, pois sabia que ainda não era hora de dizer e também de fazer nada. Não era nem lugar e nem sua função de fazer isso. O prefeito Blac é que precisava cuidar daquilo, quando chegar o momento certo.
Além de tudo isso, Jace sabia que, por mais que o rapaz estivesse mostrando descontentamento, tudo podia parecer uma grande incenação, já que estava lidando com um ator e pelo que suas lembranças se recordavam de Alastair, havia também várias coisas diferentes naquele humano, então estavam meio que quites. Um fingia que o outro não estava fingindo mas estava e parecia que estava tudo certo, aparentemente.
- Eu posso imaginar... Kkkk tanta fama e sem poder encher sua cama por conta dos paparazzi.. Mas que deprimente essa vida...
Não dava para negar que aquela explosão havia pego tanto Jace quanto todas as outras pessoas daquela rua de surpresa também, mas o que se podia esperar? Era New Orleans... Tudo pode acontecer nas noites em New Orleans. Então, Jace pegou o amigo pela mão rapidamente e o puxou para fora do estabelecimento. Lá fora se podia ver um carro em chamas no meio da rua, proveniente de alguma explosão, decido ao barulho que todos ouviram minutos antes.
Não era possivel ver de qual era o tipo de carro e nem a placa, mas parecia ser pequeno e popular. Para bom entendedor, parecia que aquilo havia sido feito com o propósito de isolar a rua e também aquele bairro, causando um grande tumulto e talvez tirando o foco de algum outro lugar para aquela região ao invés disso.
Carro Em Chamas:
Havia ainda muito fogo, com chamas bem amarelas e vermelhas queimando bem altas. Havia alguns carros com os vidros estilhaçados pelo asfalto e calçada, provavelmente devido a explosão. Lojas e restaurantes tiveram janelas e portas de vidro estouradas também e havia muita confusão e fumaça pelo local. Pessoas chorando, gritando... Um verdadeiro chaos.
Aquela rua não era muito estreita mas também não era muito larga como uma autoestrada. Haviam carros parados dos dois lados e mesmo assim ainda havia bastante espaço para os carros circularem na rua em duas faixas.
Na porta do bar onde a dupla estava, pessoas corriam de um lado para o outro preocupadas e aflitas com aquela situação, pois haviam pessoas machucadas sendo até mesmo atendidas na calçada. Outras eram transportadas nos braços de alguns para outros cantos ou até mesmo para dentro de casas, bares e até restaurantes. Uma loucura.
Ambulâncias tinham sido chamadas e algumas pessoas com poucos ferimentos simplesmente corriam e fugiam. Jace achou melhor pegar o amigo pelo braço e leva-lo embora dali para um lugar mais seguro, como por exemplo a casa do prefeito.
Aparentemente não foi tão dificil assim sair daquele lugar. Apesar da hora da noite e da movimentação de pessoas, Jace conseguiu ir puxando Alastair para uma rua paralela aquela, onde havia um carro esperando por eles: um Sedã Buick GNX de 2 portas, equipado com motor V6, um dos carros clássicos e ligeiramente antigos da Chevrolet.
O Carro do Jace:
Rapidamente empurrou Alastair no banco do passageiro e saiu de lá o mais rápido que era possível, fazendo atalhos pelas pequenas ruas em volta, o suficiente para conseguir pegar um bom caminho que não tivesse pessoas correndo desesperadas e até mesmo bem longe de onde ambulâncias poderíamos estar estacionadas para ajudar os feriados. Vai que tudo aquilo era alguma emboscada? Não podiam correr esse tipo de risco então a melhor das hipóteses era levar Alastair de volta para casa, a única que ele conhecia...
A Casa do Prefeito:
Cerca de 15 minutos depois, finalmente chegaram a uma bela casa, bem afastada do centro da cidade. Era em um bairro que parecia bem calmo e tranquilo, sem falar de que era um lugar que trazia muitas lembranças para Alastair, tanto boas quanto ruins e era um lugar onde fazia vários anos que não pisava, a casa de seu pai, o Prefeito Blac.
Jace rapidamente estacionou o carro na porta da frente da casa e foi saindo. Abriu logo em seguida a porta do passageiro para Alastair poder sair e disse poeticamente:
- Welcome home...
Um segurança estava na porta principal daquela casa. Não tinha nenhuma expressão em seu rosto, nem de alegria e nem de tristeza, absolutamente nada. Pareciam as feições de uma estátua, fixas e imutáveis.
Já dentro da casa, parecia que nada havia mudado. Os móveis continuavam os mesmo, brancos e límpidos, como se fossem novos, as mesas, cristaleiras e aparadores, do mais original mármore carrara que poderia ser encontrado.
Os bibelôs também se mantinham os mesmos: pequenas estátuas de camponeses com animais, cinzeiros com os mais variados desenhos, potinhos com decorações orientais e fotos, algumas fotos do prefeito em situações solenes, apertando a mão de alguns famosos e no fundo em uma das salas principais da casa, um imenso quadro de família onde temos o prefeito, sua bela esposa falecida há muitos anos e o pequeno Alastair ao lado deles, em um belo jardim ao fundo. Era uma pintura antiga, cheia de saudades e recordações.
Nada parecia ter mudado naquele lugar, nem mesmo o cheiro de lavanda e capim-limão que o lugar emanava, bem como Alastair podia se lembrar. Havia também uma senhora que Alastair conhecia muito bem e que o recepcionista sorridente, mas parece que não ia muito com a cara de Jace. Seu nome era Rose.
Jace se aproxima da mulher, tira do bolso do casaco de couro preto que usava um envelope branco bem simples e lhe entrega. Parecia que a senhora já estava bem acostumada com aquilo. Coloca então o tal envelope dentro de decote de suas roupas, perto da alça esquerda do sutiã e então Jace então se retira do lugar.
O clima seguia descontraído, porém com uma leve tensão. Que bosta. Pensava consigo mesmo, a ideia de não conseguir na relevante era frustrante, mas não se daria por vencido, sua hora eventualmente chegaria, só não era naquele momento.
— Deprimente é ficar enfurnado nessa cidade, já parou pra pensar que você vai morrer aqui e tem um mundo de possibilidades lá fora? — Alastair, acima de tudo era sincero naquele momento. Quando era jovem optou por fugir, cresceu sozinho, viveu sozinho (até agora), se apaixonou, se desiludiu, conheceu lugares que queria e viveu sonhos bobos que todos queriam ter. A vida simples podia ser o bastante para as condenadas almas de New Orleans, mas pra ele não. Era como era, fazia o que fazia e estava satisfeito com isso.
O acidente era de fato um choque, mas mais chocante ainda era a petulância do sheriff ao puxa-lo pro lado de fora, se não fosse sido pego de surpresa, talvez xingaria o rapaz num clima amistoso que só eles tinham, mas não era o momento.
― Poderia ter sido pior. ― Comentava Alastair usando um tom dos bem humorados enquanto encarava o carro, mesmo assim o jovem humano prestava atenção no máximo que conseguisse, é claro, aquela era New Orleans e qualquer coisa poderia acontecer, mas justo quando ele estava com o sheriff? Poucos sabiam que tinha retornado, mas alguém poderia estar no encalço de Jace. Ali tinha coisa, pelo menos era o que seus instintos diziam com todas as forças. ― Hey, Jay, você não acha que d ―.
Enquanto observava o caos se instaurar, Alastair estranhava a atitude do amigo que lhe puxava para longe do local. Jay sempre havia dedicado ao seu trabalho e o cumpriu com zelo, aquela atitude protetiva não era condizente com o homem que ele conheceu e só serviu gerar descontentamento e mais desconfiança para o rapaz.
Achar o carro dele não era difícil, mas lidar com a situação sim, aquilo já estava ficando ridículo.
― Que porra tá acontecendo com você, Jay? ― Seu tom era calmo, mas o estresse era óbvio se o vampiro o encarasse. Limites, era a palavra chave do momento. ― Tem algo que você quer me contar? Existe motivo pra esse seu surto de me puxar e jogar no carro e ainda deixar os cidadãos da cidade pra trás como se não fossem nada? Você é a porra de um policial Jay, dá pra me explicar o que está acontecendo aqui? Eu não estou te reconhecendo.
O resto do caminho Alastair seguiria em silêncio, aquela noite havia ido na mais completa e oposta direção que esperava. Talvez não soubesse direito o que era isso que tanto esperava, mas sabia que não era aquilo, definitivamente. Enquanto iam pra sei lá onde, Alastair observava Jay de canto de olho, ainda era possível confiar no amigo?
Não demoravam pra chegar em casa, mas não era a casa de Jace e nem o apartamento de Alastair, não, era muito pior.
― VOCÊ TÁ LOUCO? ― Jace abria a porta para que Alastair saísse e ali era a primeira vez que Alastair surtava perdia a paciência desde que havia chegado na cidade, aquilo não era de seu feitio, mas até onde iria ir aquela situação? Segurando a onda, respirava fundo e juntava as duas mãos na frente do rosto, como se estivesse fazendo algum tipo de oração (mas era apenas um movimento normal mesmo). ― Me desculpa, Jay, eu só estou tentando entender e você não está me ajudando, sinceramente...
Saindo do carro do amigo, que parecia ter um objetivo claro ali, ficava um pouco emburrado, mas seguia em frente com um leve frio na barriga. Dentro da casa nada havia mudado e aos olhos de Alastair, isso era assustador. Seu pai era um tradicionalista, isso sempre foi claro.
Essa característica ele herdou da minha mãe.
Pensava sozinho enquanto recordava das mais diversas experiências que já havia vivido ali, tanto tempo havia se passado e ainda assim parecia que tinha saído de casa a passava os olhos por cada canto de sua antiga casa, muitas coisas chamavam sua atenção, mas nada mais do que o quadro que imponente adornava a sala trazendo uma imagem clara de sua família.
Uma bela família, se é que podemos nos chamar disso. Incrível.
Riu sozinho, não sabia se era felicidade ou desgosto, provavelmente o segundo. Tinha muitas opiniões, muitas ideias, lembranças e sensações relacionadas aquela família, com certeza chegaria o momento que elas seriam expostas, mas aquele momento não era agora. Jace havia acabado de ter uma interessante interação com a mulher e se prepara pra sair, Alastair pegava no braço do amigo. Precisava dar um recado antes que se separassem e que finalmente pudesse cumprimentar a recepcionista devidamente.
― O que foi isso, Jay? ― Algo aconteceu bem debaixo do nariz de Alastair e ele não iria ignorar. Continuava o que tinha pra dizer. ― Eu não sei se você ainda me vê como a criança que você tem que cuidar, mas as coisas mudaram. Eu posso não ter um ancião com cara de jovem igual você, mas do mesmo jeito que eu te respeito como um velho amigo, eu apreciaria se você fizesse o mesmo, principalmente depois de hoje. ― Soltava então, se virando contra o rapaz. ― Pode ir, você parece ter mais assuntos pra cuidar, mas a gente vai não terminou essa conversa, Jay.
Então seguiria até a recepção e cumprimentaria Rose. Recepcionaria a mulher com sorrisos e beijos e muito bom humor, nem parecia a mesma pessoa chateada de dois segundos atrás.
― Dona Rose, a senhora não mudou nada. ― Dizia enquanto lhe dava um abraço apertado. ― A senhora está bem? O mongo do meu pai tá por aí? Ele está te tratando bem?
ra bem difícil de acreditar que tudo aquilo estava acontecendo justo agora, mas tudo o que Jace tinha em mente naquela noite era de relaxar um pouco, mas agora tinha que cuidar do jovem e frágil amigo humano. Não podia negar que as coisas não costumavam ser assim e estava começando a se irritar com aquela mudança na calmaria da noite. Tudo aquilo estava bem longe do que ele havia planejado e esse tipo de situação o deixa irritado.
- Não Alastair, não! eu não sou a droga de um simples policial para o seu governo. Sou o que pode se chamar de detetive mas a coisa é complicada... Bem complicada... Merda Merda Merda Alastair! Eu te explicarei em breve, mas é melhor levar você pra outro lugar...
Até que por desgosto do humano chegaram nesse outro lugar. Infelizmente Jace realmente não poderia dar muitas explicações... Ainda... E quanto mas o jovem humano insistiu, mas Jace cerrava os dentes para se conter. Aquele tipo de dúvida que o humano tinha era coisa para o prefeito resolver, não era mesmo nada da sua conta, caso contrário falaria demais e não estava muito afim de ouvir Alec e todo aquele bla bla bla de sempre...
- Aqui não é lugar para isso... Entra logo sem resmungar... já disse que depois vamos conversar...
Quando pretendia se retirar do local depois do que precisava ter feito, Alastair ainda queria que ele esclarecesse certas coisas e ser pressionado não era algo que aquele vampiro gostava e se manter no controle mediante certas situações não era bem uma de suas qualidades, tanto que chegou a olhar o humano de forma ameaçadora, enquanto ele segurava em seu braço. Se seu olhar pudesse falar ele diria talvez: “como ousa me pressionar, inseto mortal..” mas ele nada disse, ainda...
Alastair não conseguiria reconhecer o amigo, pois ele o olhava com uma frieza de dar arrepios. Seus olhos haviam se arregalado um pouco mais do que o e costume, de forma ameaçadora. Por entre os lábios, era como se as presas que antes se mantinham discretas tivessem triplicado de tamanho, se tornando ameaçadoras como nunca antes.
Seus conhecimentos eram muito bons, porém incompletos ainda. Desde sua infância, tinha sido instruído sobre a organização da cidade, sobre a existência de vampiros, lobos e bruxas, como se aquilo fosse algo relacionado à coisas de família. Sabia que não era coisa que podia ficar comentando com alguém e tinha que respeitar, pois até onde convivia, todos agiam de modo tranquilo com ele, como se apesar dessas diferenças fossem pessoas acima de tudo, porém a coisa era um pouco diferente. Sabia também que entre si não se gostavam muito, mas viviam em paz pois a maioria dos seres humanos desconhecia tudo.
Não ficou chocado quando aprendeu que o amigo era um vampiro, mas via que haviam pessoas que o chamavam pelo nome, outros por sheriff e outros por detetive. Isso sempre foi algo bem confuso para qualquer pessoa que visse de fora, ainda mais porque o cargo de detetive era sua máscara, porém como vampiro que era, ser sheriff não era lá muito bonito de se ver e Alastair nunca havia visto o amigo em nenhuma situação ameaçadora perto de si, afinal do jeito que tudo lhe foi explicado foi da forma mais parecia com conto de fadas possível por conta da idade do rapaz.
- Uma criança será sempre uma criança e ancião ou não, sua segurança ainda é minha função agora deixe de ser mimado e fique aqui quieto, que alguém precisa trabalhar, como acabou de dizer que eu não faço.
E antes que a situação piorasse, simplesmente saiu. A governanta pigarreou uma vez para chamar a atenção de Alastair, que foi logo lhe abraçando.
- Ah menino... que saudades de você... Eu estou bem e você sabe que seu pai me trata muito bem... do jeitinho dele... mas e você... como você está... por onde tem andado? eu vejo você ás vezes em filmes na tv.. no cinema....
Ela faz uma pequena pausa quando ele pergunta sobre o pai. Parecia que sempre que se falava naquele bendito prefeito era sempre um assunto bem delicado a ser tratado.
- Ah menino... seu pai está em uma reunião no escritório... em breve ele deve terminar... pois já está todos lá há mais de uma hora... mas venha para cozinha comer alguma coisa enquanto isso... você está tão magrinho... eu fiz aqueles beignets bem gostosos... venha venha...
Então a Dona Rose saiu empurrando Alastair para aquela cozinha que lhe era tão familiar de tantos anos, com utensílios pendurados pelas paredes, armários altos, fogão de pedra, forno a lenha... Aquela grande mesa no centro da cozinha cheia de temperos, uma grande cesta de frutas e outra com tomates, limões e cebolas... do jeitinho que ele podia se lembrar. O cheiro no ar era uma mistura de lenha com farinha de pão fresco, frutos do mar e coentro.
- Sente-se aqui menino.
Ela aponta um banco em frente da grande mesa de centro e coloca na frene dele um prato com meia dúzia de beignets do tamanho da palma da mão de Alastair. Eram bem docinhos e bem recheados, como ela costumava fazer. Não podia faltar todo aquele açúcar de confeiteiro em cima deles. Tinham acabado de sair da fritadeira então ainda estavam bem quentinhos.
Os acessos de raiva de Jace eram definitivamente algo pra se preocupar, algo em Alastair lhe dizia isso, talvez em seus olhos fosse o mesmo que ver um homem forte em total fúria, todos sabem que uma coisa dessas é difícil de lidar e ele sabia que precisava baixar a bola. Sua verdadeira arma era a sua boca, o jeito que agia e falava, era assim que conquistaria tudo o que queria, havia sido descuidado mas isso não aconteceria de novo.
A aparência de Jace mudava trazendo uma feição do amigo que nunca tinha visto antes, instintivamente seu pé direito dava um passo para trás, conhecer pela teoria era bem diferente do que ver ao vivo aquilo que sempre ouviu falar em mitos e coisas do gênero, por mais que seu exterior transparecesse controle, por dentro, era um pouco desesperador.
A última frase de Jace entretanto fazia com que o rapaz rangesse os dentes e fechasse os punhos, quando o mesmo se virou pra ir embora.
Só o fato de você me falar isso, já prova que não existe muita diferença entre uma criança e um ancião, filho da puta...
Com a atenção na governanta, que à muito tempo não via, o clima pesado aos poucos se esvaía dando lugar a um clima mais ameno e receptivo, Alastair com certeza ficava feliz na presença da mulher.
― É bom que ele te trate mesmo, fico feliz que a senhora esteja bem. ― Soltava a mulher e sorria igual um bobo. ― A senhora tem visto por onde eu ando, desbravando o mundo, aprendendo coisas novas e agora pronto pra dar uma parada, afinal, minha casa precisa de mim.
Seus olhos percorriam novamente todo o local com uma feição um tanto maravilhada, a mulher podia deduzir que ele poderia estar falando de sua própria casa ou ainda de New Orleans, seja o que fosse, a volta dele chegava pra estremecer aquele lugar. Ao ouvir sobre o paradeiro do pai, uma ideia surgia na sua cabeça, enquanto a mulher o empurrava tentava pedir a fala, mas ela era rápida e ligeira. Ao receber o prato na mão, o apoiava sobre a mesa.
― Obrigado dona Rose, por mais que eu queira MUITO provar os seus beignets, eu preciso ver meu pai, espero que a senhora entenda. ― Com um sorriso no rosto se afastava da mulher antes que ela quisesse o obrigar a ficar. A casa era a mesma, então com certeza sabia onde ficava o escritório e assim que o encontrasse, abriria a porta sem sequer bater. ― Olá papai, estou de volta. ― Com um sorriso malicioso no rosto encararia todos os presentes. ― Olá senhores, desculpe interromper, é que eu já não vejo meu pai a anos e sinto que ele queria muito me ver. Aliás, não brigue com a dona Rose, ela tentou me segurar mas eu fui mais rápido.
Seus braços estavam abertos (como se estivesse se preparando pra dar um abraço) e em seu rosto tinha mais empolgação do que nunca.
ona Rose estava realmente bastante feliz ao ver o seu menino alí de volta ao lar depois de vários anos. Agora ela já era um homem feito. Nem parecia mais o menino pequeno e franzinho que corria sempre para a barra da saia dela até a cozinha para roubar alguma coisa para comer entre um ou outro intervalo entre seus estudos. Bons tempos aqueles, mas talvez agora as coisas sejam melhores do que antes.
Dessa vez, Alastair pretendia mesmo falar com seu pai e não se incomodou muito quando ouviu que ele estava em uma reunião com pessoas importantes. Mesmo tendo ouvido tudo isso, foi como se nada importasse para ele depois do que havia visto acontecer com seu amigo e a cena no centro do distrito Francês então, por mais que Dona Rose fizesse de tudo para que ele não fosse ao escritório interromper o pai, ele foi lá mesmo assim. Provavelmente a governanta Rose iria levar algumas broncas devido as atitudes imprudentes de Alastair.
Chegando simplesmente na frente daquelas duas imensas portas duplas do escritório, que devia caber pelo menos umas 20 pessoas, ele abriu e entrou sem pelo menos bater na porta. Ele estava em sua casa, mas bater na porta de qualquer forma era sinal de uma boa educação e respeito, mas o que será que ele tinha em mente quando resolveu fazer aquilo?
Havia exatamente 20 pessoas alí dentro, incluindo seu próprio pai, atrás de uma grande mesa de mogno escuro no meio daquele lugar suntuoso, que mais parecia uma imensa biblioteca por conta das prateleiras de livros ao redor do local.
Dentre os presentes haviam homens e mulheres, das mais diversas idades, todos bem vestidos com roupas sociais para os homens e belos vestidos sociais para as mulheres. Estavam realmente trajados para uma reunião formal, ou até para uma enterro, pela predominância na cor preto.
Quando aquelas portas se abriram, um grande barulho de ranger de dobradiças com mais aquela madeira maciça simplesmente ecoou pelo lugar. Naquela sala, todos se viraram para a porta assim que ela foi aberta. Alguns tinham achado aquilo como uma grande ameaça e se prepararam para sacar armas. Outras pessoas continuaram simplesmente sentadas, com ums terrível feição de reprovação. O prefeito Blac pareceu furioso mas não podia deixar aqueles sentimentos de querer matar Alastair vir a tona em meio ao contexto atual.
Alastair deu então aquele discursinho após a interrupção da reunião. Alguns dos presentes tiram baixinho, outros olharam com uma cara de profunda decepção. E então o prefeito simplesmente disse em um tom sério e sem delongas.
- Sente-se Alastair. Depois conversamos.
E pretendia seguir a reunião normalmente, apesar do tipo estranho de gente que havia naquela sala. Alastair não reconheceria ninguém que estava por lá, a não ser Alec, que já havia visto junto com Jace algumas vezes.
Todos falavam sobre alguns acontecimentos e algumas coisas que ele não fazia ideia, já que havia chego a pouco tempo. O assunto era bem estranho, pois todos falavam sobre negócios das mais diversas fontes da cidade e também sobre o quanto uns não deviam colocar os dedos e nem dar opiniões sobre os negócios dos outros. Alec observava e nada dizia. Ele fazia mil análises primeiro antes de se pronunciar sobre qualquer coisa. Para evitar maiores problemas, o ideal seria é que Alastair nem abrisse sua boca para falar nada, já que a postura de alguma presentes era de cometer alguns assassinatos ali.
Ao entrar na sala, seus olhos passavam por cada uma das 20 pessoas que ali estavam, percebia a reação de cada uma, não conseguia evitar de deixar escapar o sorriso no canto da boca. É claro, seu pai queria mata-lo, é claro também, todos ali estavam em guarda e preparados pra arrancar sua vida, mas por favor, um pouco de diversão não mata ninguém. Olhando os rostos de desaprovação, no fundo não o incomodava e também não se surpreendia com a maneira lixo que o pai o recebia. Fazia quantos anos que não se viam? Não se lembrava ou só tinha preguiça de contar, de um jeito ou de outro sabia em seu coração que aquele não era seu pai, pelo menos não o mesmo pai desde que sua mãe havia falecido.
― Calma, sr. Blac, vou tomar o meu lugar.
Procurando então alguma cômoda em que pudesse se apoiar, cruzava os braços enquanto continuava encarando seu pai e os outros presentes ali, entretanto, se não encontrasse nenhum lugar que pudesse se apoiar, apenas ficaria no canto perto da porta em pé. Ao olhar pra cara de Alec, se o rapaz o olhasse de volta daria uma piscada com um sorrisinho canalha.
Apesar de nunca terem conversado, tinha a impressão de que aquele homem o odiava e se não odiava, pelo menos tinha alguma espécie de receio em relação a ele. Mas não deixaria que isso o afetasse.
O decorrer da conversa era estranho e Alastair fazia o seu melhor para entender do que falavam. Sabia exatamente do que se tratava aquela reunião e quem seriam aquelas pessoas, representantes... Representantes de facções que frequentavam sua casa desde sempre, apesar de considerar antiquado, Alastair adorava, pois significa que seu pai sairia um pouco do seu pé pra lidar com questões mais importantes. A única coisa que estranhava, era o fato de Cláudia não estar ali. Quando era menor vivia correndo pela casa ou simplesmente fazia seus afazeres e era inevitável não dar de cara com algumas figuras e Cláudia era uma delas. Uma mulher gentil e misteriosa de quem Alastair pouco lembrava, mas que sempre o tratava bem. O que teria acontecido para aqueles novos rostos substituírem os antigos? De qualquer jeito, mesmo que não entendesse o que falavam, com toda certeza pegaria trejeitos e veria como lidavam uns com os outros, inclusive o seu próprio pai. Para o que tinha planejado, precisava aprender e não via oportunidade melhor.
É melhor eu ficar assim mesmo por enquanto. Ser destroçado por um vampiro ou lobisomem não é o ideal para agora.
siruação tensa que havia se formado quando Alastair entrou naquele local não suavizou muito, mesmo depois que ele acabou se instalando em um canto da sala, perto da porta. Aquele pessoal simplesmente não estava acostumado com a presença dele alí nas reuniões, outros nem o conheciam, uma vez que já fazia vários anos que havia saído da cidade. Outros no entanto o conheciam mas não lembravam que o jovem que havia saído da cidade já havia se tornado aquele belo homem. A fama de Alastair não era algo que iria impressionar muito os membros presentes, pois havia alí desde humanos, quanto vampiros, bruxos e até lobisomens e o tipo de fama que Alastair tinha, para a maioria deles era algo fútil. Um ou outro até poderia se interessar, ter pensamentos quentes, impuros talvez ou dependendo da criatividade, algo até animalesco e nojento, mas não a grande maioria.
Sentado sem seu canto, o jovem artista pensava em seu pai por alguns instantes, e no quanto aquela recepção havia se tornado desagradável. Em parte poderia ser pelo fato que o prefeito havia mudado significativamente desde a morte da esposa, ou aquela recepção fria poderia ter sido apenas equivocada, devido a situação do momento. Alastair não iria saber a não ser que perguntasse ao pai quando o clima estivesse melhor, caso contrário poderia continuar com todas as caraminholas do mundo em sua mente. Será que a relação de ambos havia realmente se desgastado até aquele ponto ou será que tudo foi apenas uma coincidência da situação dramática e formal da reunião?
Em meio as observações daqueles presentes, Alastair encontrou os olhares de Alec. O vampiro se mantinha quieto, cheio de postura naquela reunião, mas as vezes olhava para o humano. O mais engraçado é que aparentemente Alec parecia, como Jace também, um jovem de cerca de 30 anos, da mesma forma que Alastair também era jovem e com a mesma idade que os vampiros aparentavam. Muitas vezes, quando se aparenta menos idade do que se tem realmente, outros seres passam a não conseguir te levar muito a sério e como fazia pouco tempo que Alec havia se tornado o responsável pelos vampiros daquela cidade, estava enfrentando problemas com a sua autoridade, o que dava problemas o bastante para Jace com isso, sem falar no fato de que ainda não havia nominado nenhum senescal para substituir sua antiga posição. Talvez Jace precise se desdobrar e ficar com ambas as posição, mas nada era certo ainda. Será que ele pretendia nomear alguém ou apenas continuar tudo como está? Isso ainda era um mistério para todos.
O jeito que Alec o olhava não era de ódio e nem de desprezo, era apenas um olhar curioso com a entrada do jovem naquela reunião. Se Alec fosse bom em demonstrar reações, ele teria dado risada bem baixinho com aquilo, mas não era típico dele demonstrar nenhum tipo de emoção, nem um sorriso e nada do tipo. Parecia que suas expressões faciais eram sempre as mesmas. Apesar disso, não deixava de hora ou outra dar uma olhada curiosa para Alastair e com certeza as olhadelas iriam deixar o humano bem curioso também, afinal eram olhadas daquele vampiro o qual ele não conhecia muito, mas que cresceu vendo junto com Jace hora ou outra. Quais seriam suas intenções? Estava olhando para ele porquê e pra quê? Claudia era a antiga regente/ príncipe da cidade. Ela era uma mulher que se preocupava muito com sua máscara e, diferente do que o que muitos anciãos faziam e também agiam, ela se preocupava em demonstrar certas reações como se fosse nada mais e nada menos do que uma humana comum. Ela sorria, ria, brincava, mas quando precisava ser brava e enérgica ela também era. Talvez isso teria ocasionado sua morte. Ninguém saberia dizer, mas Alastair sentia falta de sua presença alí naquele local. Por que?
Ele sabia bem que tipo de seres estavam por alí, apesar de não conseguir apontar quem era de qual raça exatamente e por isso lembrava muito de Claudia, de quando era pequeno e andava por todos os cantos de sua casa e até mesmo ria e brincava com ela. Havia momentos que ela visitava a casa do prefeito, tomava chá com o menino e todos da casa, chegava a brincar de pega pega com ele e até passear no jardim. Havia momentos também que em meio as brincadeiras ela sorria e ria. Parecia gostar muio de crianças e de estar com elas, mas pela sua condição não era possível te-las. Quando em algum momento ele se machucava, ela o ajudava e fazia comentários de tipo "já já passa... fica tranquilo.. vamos entrar e colocar alguma coisa em cima disso..."
A imagem da bela loira de cabelos cacheados e olhos azuis profundos estavam sempre associadas a coisas boas. Mesmo sendo vampira ela nunca passou mal quando viu o menino se cortar com os acidentes e escorregões em meio as brincadeiras. Suas feições jamais mudaram com ele, mesmo com o cheiro de sangue que muitas vezes invadia as narinas da vampira após as peripécias do menino. Já que tinha nutrido essa imagem de alguém que sabia que era vampira em sua mente, teve um grande choque de realidade e começou a rever muito os seus conceitos com a atitude de Jace naquela mesma noite, há pouco tempo atrás. Isso fazia com que o rapaz fosse pouco a pouco considerando outras coisas e amadurecendo um pouco mais mediante ao que aprendeu a vida toda. Até que ponto ele não precisaria estudar tudo de novo, dessa vez sobre uma perspectiva mais real de como as coisas realmente eram?
Havia uma outra pessoa que olhava Alastair de forma curiosa também, mas ao invés de um homem como Alec, dessa vez era uma mulher e por sinal, uma morena de cabelos ondulados, olhos e cabelos castanhos e lábios bem vermelhos.
Ela o olhava também de forma curiosa, porém estava meio que sorrindo de canto nos lábios, como se estivesse pensando coisas, ainda mais que pela aparência de Alastair, deixar os pensamentos fluírem e talvez certas vontades brotarem era algo bem comum. Só bastava, talvez concretizar isso, não é?
Durante a reunião a mente de Alastair visitava diversos lugares, mas no geral, focava nos olhares e sentia o peso que estar ali causava. Era visível o clima abalado daquelas facções, quando alguém como ele que representava perigo algum era tratado com tanta rispidez, mas não se abalava e logo ainda achava algo mais interessante para pensar, Alec. O rapaz era bonito, Alastair lhe dava isso, apesar de nunca ter entendido porque o rapaz não ia com a sua cara. No final, se era pra dar uma diagnóstico, gostava daquela atitude. Tanto para homens quanto para mulheres, o que lhe atraía em ambos divergia, quando se tratava de homens, gostava daquela postura de quem pouco se importa, de quem é irritado e é facilmente provocado e no que se tratava de mulheres, sempre preferia aquelas que exalavam confiança, firmeza e beleza, do tipo que sabiam o que queriam e não hesitavam em lutar pra conseguir.
De qualquer jeito, era intrigante para Alastair ver que o rapaz lhe retribuía, na mesma medida em que levantava suspeitas sobre quem ele era, afinal, assim como Jace, não havia UM traço de seu rosto que havia mudado em todos aqueles anos, se não soubesse melhor a história daquela cidade, acharia que ela havia parado no tempo.
Durante a primeira olhada, Alastair lhe retribuía com uma piscada discreta, durante as próximas, apenas encararia de volta, porém sem nada expressar com o rosto, nem gracinhas, nem gracejos, nem qualquer tipo de palhaçada, apenas sério, tentando desvendar o que se passava na cabeça daquele homem, entretanto, entre devaneios, sua mente também passeava por outros lugares.
ANTES
Uma criança corria energética pela casa, seus olhos esbanjavam a mais completa completa e satisfatória alegria, o garoto parecia estar fugindo de alguém.
― Nãããão, por favor, nããão, dona Claudia. ― Implorava enquanto ao mesmo tempo morria de rir. A mulher não demorava para alcança-lo e pega-lo no colo enquanto o enchia de cócegas. ― Eu vou morrer, por favor paraaaaa. Hahahahaha.
A mulher parecia divertir-se tanto quanto o pequeno e só parava quando percebia algo chegando, o pequeno observava sem entender a recente seriedade da mulher e quando se preparava pra implorar para continuarem a brincar, ou via uma voz ao fundo, uma voz que conhecia muito bem.
― Já chega, Alastair. Você tem suas obrigações, vá conclui-las.
― Mas... Pai. ― Mesmo com uma cara manhosa, bastou olhar nos olhos de seu pai para entender que ele não diria duas vezes. Cabisbaixo se levantava e preparava-se para continuar suas tarefas. Assim que passava pelo pai, ouvia.
― Dê o seu melhor pra concluir suas tarefas, pequeno, assim continuamos mais tarde e você vai poder deixar o carrancudo do seu pai cheio de inveja porque vai estar se divertindo e ele não.
Alastair então olhava pra trás, dessa vez com um sorriso atentado direcionado à Claudia e fazia um sinal positivo com a cabeça. Mostrava a língua para o pai antes que corresse de vez se perdendo nos infinitos cômodos daquela casa deixando os dois pra concluírem o que tinham pra fazer.
AGORA
Será que Claudia se aposentou? Eu não ouvi o nome dela nessa reunião ainda, então ou ela decidiu parar, o que eu acho difícil, afinal estamos falando de vampiros e sobrenaturais ou ela... Droga. Eu tenho muito pra descobrir ainda.
Era nesse momento que os olhos de Alastair encontravam também o olhar curioso de uma das moças que estavam ali no recinto, ela era linda, tanto quanto Alec e chamava a atenção do rapaz com um simples olhar. Alastair tinha um objetivo claro ali, mas mesmo assim isso não impedia sua mente de imaginar as mais diversas coisas que poderia fazer, fosse com o ele, com ela ou com os dois. Não sabia quanto havia se tornado um "player" como estava sendo naquele momento, mas definitivamente não reclamaria. Enquanto intercalava seus olhares, sorria de volta demonstrando seu claro interesse em seja lá o que estivesse acontecendo.
A reunião finalmente acabava e antes que todos pudessem encher a casa e dificultar a lomocação, Alastair era o primeiro a sair da sala, passava pela recepção e acenava mais uma vez para a governante se a mesma estivesse ali e então se colocaria perto da porta, mexia em seu celular fingindo estar distraído e assim continuaria até que a moça que lhe encarava fosse passar por ele.
― Hey... ― Esperaria ela lhe dizer o próprio nome enquanto a encarava, olhava fundo nos seus olhos com um sorriso malicioso. ― Prazer... Allison. Eu sou o Alastair. Escuta aqui, você vai me passar o seu número agora ou vai esperar eu implorar mais um pouco?
Estendia então o braço entregando o celular pra moça, com certeza queria estender mais aquela conversa, mas aquele não era o único peixe que o rapaz queria pescar. Esperando a resposta da moça, se aproximaria mais dela e então quando estivessem bem perto um do outro, pegaria o celular de volta.
― Eu acabei de retornar e voltei pra ficar. Acho que vamos nos dar muito bem, sabia? Boa noite, senhorita Argent.
Despedia-se enquanto recostava novamente na parede ao lado da porta, estava satisfeito com a primeira interação, mas parte dele sentia que a próxima seria mais difícil e justamente por ser mais difícil, sentia que aquilo deixava as coisas mais excitantes. Esperaria mais um pouco, Alec com certeza estava se esforçando para criar uma impressão, já que se despedia de todos e aproveitava pra bater um papo, era um saco esperar o rapaz, mas Alastair torcia para que a esperava valesse a pena. Quando finalmente o mesmo se aproximasse, puxaria assunto.
― Você não parecia tão falante e social assim antigamente, quando me enchia de olhares furiosos quando eu estava com o Jace. ― Desencostando então da pilastra, também aproximasse de Alec, não era uma aproximação ameaçadora, mas curiosa. ― Eu nunca percebi antes, mas tem algo cativante em você que não sei dizer exatamente o que é, Alec Lightwood. Por que você me deixa tão curioso assim?
Observando o rapaz mais de perto, notava sua beleza incomum, se não soubesse que Alec era quieto e talvez quebrasse o seu braço a qualquer vestígio mínimo de intimidade, definitivamente teria investido, limitou-se a tentar não causar estranheza e irritação no rapaz que estava tão curioso pra conhecer.
― Nós deveríamos sair qualquer dia. ― Encarava então os lábios do rapaz, era difícil se concentrar. Optava por lidar com a situação da maneira que lidava com tudo tradicionalmente, com um sorriso canalha e seu olhar penetrante. ― A menos que eu esteja sendo inconveniente agora. Eu estou sendo inconveniente, Alec?
aprecia que aquela reunião não ia chegar nunca ao fim, até que finalmente como que por mágica das bruxas presentes, os assuntos polêmicos terminaram e puderam todos deixaram aquele imenso salão, prontos para voltarem as suas vidas. As horas daquela noite parecia que passavam bem rápido e muitos dos presentes tinham assuntos a cuidar. Alguns membros chegaram até a olhar os relógios disfarçadamente algumas vezes, pois preferiam estar em qualquer outro lugar ao invés de as vezes cumprirem com certas formalidades.
Por mais incrível que pareça, por mais que todos os presentes não nutrissem muito amor entre si, conseguiram permanecer naquele salão por algumas horas em grande paz. Algumas fantasias foram trocadas graças alguns comentários feitos, mas sem atitudes assassinas. Claudia ficaria bem feliz com aquilo se estivesse viva...
Primeiro saiu do salão para grupos de lobisomens, depois todos ao bruxos e bruxas e depois todos os vampiros e vampiras, porém assim que Allison passou por Alastair, ele foi logo falando com ela, perguntando o nome depois o número de telefone. Para o número de celular ele passou o aparelho para ela adicionar o número. Para não atrapalhar a saída de todos os outros, ela se posicionou ao lado dele enquanto digitava o número.
- Seja bem vindo de volta, Alastair Blac. E tenha uma boa noite... – responde ela de volta após entregar o celular e se retirar do salão, indo atrás de seu grupo. Agora Alastair ia partir para a interação com Alec, que estava para ser a mais difícil de todas, já que parecia que o vampiro não gostava muito de conversar...
Alec estava cumprimentando alguns dos presentes ainda, porém Alastair se aproximou quando apenas havia Alec e um outro rapaz, que tinha uma postura de segurança. Os outros vampiros se reuniam fora do salão, ainda trocando algumas palavras com o prefeito, que lhes oferecia pelo menos uma taça de vinho sinto.
Assim que o filho do prefeito se aproximou, Alec o olhou de cima a baixo. Não sabia se era petulância, curiosidade ou o que, mas parecia que no humano queria conversar com ele. Será que ele era realmente uma boa e divertida companhia como Jace já havia comentado antes? Quem sabe... Mas não ia ser mal educado de não responder ao que o rapaz havia perguntado. Quem sabe aquilo não era já uma conversa?
- Eram outros tempos, outras épocas... Cativante eu!? Deixo você curioso? Kkkk...
Realmente aquilo estava parecendo uma conversa, que até fez o vampiro a dar uma leve risadinha em um tom de voz baixo. Alastair iria ficar bem surpreso em ter conseguido aquele tipo de reação, mas naturalmente acabou conseguindo. Talvez Alec estivesse mais aberto para conversar e ter uma interação quase humana do que ele imaginava.
De dentro do paletó, Alex retirou uma espécie de carteira pequena e preta. Parecia ser uma pequena carteira própria para guardar cartões. De dentro ele tirou um e entregou para Alastair. Naquele cartão havia o nome de Alec, um número de telefone para contato. Havia também escrito o nome de uma profissão que não parecia muito com aquele vampiro: corretor imobiliário. Não era algo que ele tinha orgulho, mas era o que sabia fazer: negociar.
Agora Alastair já tinha o telefone de Alec e antes do vampiro se retirar do local ele diz só para provocar:
- Me liga se não for conversar a noite toda com seu pai...
Após tal conversa, Alec simplesmente se retira do salão com o seu segurança. Alastair estava agora ao lado das portas do local e sozinho, pois até o próprio pai havia saído dali sem falar mais nada com ele depois do que havia acontecido. A conversa entre Alastair e Alec não durou muito. Foram poucos minutos, mas minutos o bastante para que todos já tivessem se retirado. O que será que ele ia fazer agora? Encontrar com o pai no segundo lugar mais popular as casa (a cozinha no caso) ou iria quem sabe mandar uma mensagem para Alec ou para aquela bruxa?
Alastair observava cada uma das pessoas que saíam da sala, fazia questão de decorar cada rosto, cada gesto, cada atitude tomada por eles, pois sabia que no futuro seus caminhos eventualmente se cruzariam. Ele ainda não sabia dizer quem era os lobisomens, bruxos e vampiros, mas com certeza conheceria seu rostos e se lembraria daqui pra frente.
O encontro com a bruxa de fato era engraçado, ela tinha um jeito desprendido que Alastair ainda não sabia porque, mas o cativava. Por algum motivo ao ouvir a moça dizer o seu nome ficava surpreso, esquecia-se por um segundo de que era famoso e que New Orleans ainda ficava na Terra e não em um universo alternativo cheio de demônios. Antes que a moça saísse, olhava nos olhos dela e manda uma piscadela.
― Nos vemos por aí.
A conversa com Alec a principio parecia que seria um tanto quanto desconfortável, ver o "segurança" do lado era intimidador, mas não era isso que o impediria, ainda mais agora que notava que o rapaz o respondia e parecia mais aberto do que ele esperava.
― Eram outros tempos e outras épocas, com certeza, mas algumas coisas não mudam. E sim, você me deixa curioso... Eu só não consigo entender o porquê.
Era sincero nas suas palavras, mas pelo menos nas ações conseguia disfarçar, porque de fato estava surpreso com o feedback positivo dado por Alec e não ia reclamar. Gostava daquela interação, gostava do desconhecido, ainda mais se o desconhecido parecesse com aquilo... Ao receber o cartão lia e não evitava, dava uma risada. Não era uma risada ofensiva, era mais compassiva.
― Corretor imobiliário. Isso é... Surpreendente, porém eu ainda não descarto a ideia de você ser um assassino de aluguel.
Alec então se retirava deixando uma provocação que fazia com que Alastair o olhasse com mais curiosidade, porém admitisse o erro.
― Ok, essa eu mereci.
Mas ainda vai ter mais um retorno... Alec Lightwood.
Virando-se então, percebia-se só, sem pestanejar seguiu até o segundo andar em busca de seu pai.
quela conversa com Alec havia sido curta porém se grande impacto, talvez para Alec que havia falado com Alastair pela primeira vez em décadas. Talvez fosse pela função que o vampiro tinha na atualidade ou talvez ele tenha sentido vontade para fazer isso. Alastair jamais iria saber qual seriam os motivos por que aquela conversa havia acontecido naquele momento e não antes.
Alastair havia ficado bem surpreso com a profissão humana que o vampiro exercia nas suas horas vagas. Definitivamente Alec mais parecia um assassino de aluguel com a sua postura distante e fria, mas na verdade poderia ser apenas uma grande timidez.
Alec reagiu bem ao comentário, tanto que achou um pouco de graça e até riu um pouco, mas se retirou do local com a promessa de que eles iriam se ver em breve. Talvez naquela mesma noite, talvez em outra noite, mas agora com o contato do vampiro, o humano poderia livremente ligar para ele.
Após o vampiro ter se retirado, não sobrou muita escapatória do que fazer. Alastair precisava muito conversar com o prefeito e isso não podia esperar aparentemente. Já que estava só no salão não poderia deixar de procurar aqui pai no segundo andar da casa.
O prefeito estava em sua sala de descanso. Estava levemente recostado sob um sofá com a chaise. Aparentemente parecia exausto com aquela reunião que havia acontecido, até que o filho chegou. Ele não abriu os olhos logo que Alastair entrou no recinto mas abriria assim que ele começasse a falar.
- Não sabia que havia voltado...
Assunto era algo que ambos nunca tiveram por muito tempo, mas talvez tinha chegado finalmente o momento de que algumas coisas precisavam ser ditas, mas ele não estava com humor.
Reuniões no geral eram bem estressantes mas aquelas em específico deixavam o prefeito pior ainda, tanto que ele respondeu fundo antes de falar com o filho para não esbravejar mas não teve muito sucesso e acabou despejando sua raiva e o pior, sem ao menos se levantar.
- Você não podia ter entrado daquela forma. Está achando que a situação da cidade é teatrinho? Ou um filme que você atua e que nada ruim vai acontecer jamais? Claudia já morreu por conta disso... Você quase estragou tudo.
O prefeito voltou a respirar fundo e a se refazer, tentando não explodir demais com o filho. Então em um belo esforço de humanidade, ele simplesmente se levantou e abraçou Alastair, como um pai que sente saudades do filho após uma longa ausência...
A conversa com Alec ainda estava fresca na mente de Alastair, que enquanto desfilava por sua antiga casa visitava memórias e memórias de seus tempos vividos ali, conseguia ouvir ele mesmo pequeno correndo e gritando pelos corredores, passava os dedos pela madeira do corrimão e parecia que estava revisitando sua infância. Estar ali com certeza trazia muitos sentimentos a tona.
De qualquer jeito, quando finalmente entrou na sala onde estava o seu pai, sinceramente não sabia o que esperar, havia um frio na barriga e uma certeza de que se houvesse um confronto não abaixaria a cabeça, mas no final das contas tudo é imprevisível, inclusive também era aquela situação. Ao entrar Alastair se aproximou da janela e lá ficou, evitou encarar o pai, depois de ter fugido, que cara tinha?
― Eu cheguei faz pouco tempo, ia aparecer aqui só pela manhã, mas o Jay me arrastou pra cá, insistiu pra que nós dois conversássemos.
Após responder o pai, o silêncio reinava, queria conversar com o pai, tinha objetivos claros, mas como faria aquilo? O surto do pai vinha em seguida e Alastair continuava impassível, era o esperado, infelizmente, entretanto não respondia, deixava ele soltar tudo o que estava preso, o abraço entretanto o surpreendeu. Um tanto chocado, seus braços lentamente se levantavam retribuindo, mas antes que que continuasse, se afastava do pai e voltava a encarar a janela.
― Tem um número de coisas erradas que eu não deveria ter feito e ainda assim... Eu fiz. Qual o pior que poderia ter acontecido? Eu morrer? ― Olhava então cima do ombro. ― Estou ciente.
Virava-se então de vez e encostava na parede olhando o pai diretamente nos olhos dessa vez mais sério.
― Então a velhota se foi mesmo... Alguma ideia de quem fez isso? ― Se referia a mulher daquele jeito como uma expressão de carinho. Também sabia a posição que Claudia ocupava naquela sociedade e que muito menos morreria de causas naturais. ― É por isso que o Jay está daquele jeito então... De qualquer jeito, sr. Blac, se algo ruim tivesse que acontecer, teria acontecido e eu seria a menor das suas preocupações. A relação entre todas estas facções já está quebrada, eu estar aqui, invadir ou não, não muda isso, o senhor deveria saber disso nessa altura do campeonato.
Naquele momento, uma preocupação que nunca teve antes surgia pela sua mente. Não hesitava em perguntar.
― Talvez pareça petulante da minha parte perguntar isso, mas... Quando você se for, o que acha que vai acontecer aqui? A menos que você tenha a pretensão de se tornar um "noturno", o que aconteceu com Cláudia pode acabar colocando um alvo nas suas costas, já pensou nisso? Pode não parecer, mas mesmo após todos esses anos eu ainda me preocupo com você.
conversa com o prefeito estava ligeiramente complicada e tomando rumos diferentes de ambos os lados. O prefeito era duro com suas palavras e ao mesmo tempo tentava demonstrar carinho e afeição. Ele gostava muito do filho, mas não era uma pessoa boa em lidar com sentimentos e saber se expressar através deles. Alastair não sabia muito bem o que esperar e também levava toda a conversa para o seu lado mais imprevisível, tanto que acabou não reagindo muito bem ao abraço do pai. Aparentemente parecia também que sentimentos era um taboo que Alastair não queria nem tocar e que devia ter lá seus problemas e dificuldades também.
- Só o fato de você ter corrido risco de vida já é bastante arriscado... você ainda acha pouco?
Como estava correndo tentando fazer mil coisas e dar conta de tudo, ele nem sabia que o filho havia chegado há algumas horas e que inclusive já havia até saído com Jace. Provavelmente ele iria perguntar ao Jace sobre isso futuramente...
- Ninguém sabe quem matou Claudia. Isso é o que estamos investigando, por isso, todo cuidado é pouco.
Por mais que Alastai achasse que a relação entre todos estava destruída, as coisas não estavam exatamente desse jeito. O grande problema que havia no momento era Alec conseguir forçar sua autoridade ser aceita, assim não haveria mais fofoquinhas e incidentes. Talvez ele começaria a fazer com que todos o aceitassem na base da força e da dor, mas ele ainda ponderava sobre o assunto.
- Quando eu me for, você vai fazer a sua parte no equilíbrio, Alastair. Você vai dar continuidade a tudo isso, ajudando a manter todos os clãs em harmonia política, principalmente o que diz respeito ao banco de sangue, ao açougue e a casa de peixes. Tudo fluindo muito bem.
O prefeito deu uma risadinha abafada com a suposição de virar um vampiro.
- Eu duvido que algum dia alguém queira que eu seja um vampiro. Sou velho demais para isso... kkk
E mais uma pausa foi feita antes do prefeito voltar a falar mais uma vez.
- Eu também me preocupo com você e te peço para não invadir mais nenhuma reunião. Você pode participar de todas a partir de agora, mas sem invadir nada. Está bem assim?
A conversa com o prefeito estava melhorando um pouco a medida que ambos iam falando as coisas, mas será que seria necessário que toda aquela conversa continuasse mais? Ou será que Alastair poderia simplesmente se retirar e quem sabe marcar alguma coisa ou com Alec ou com Allison.
Seu pai era uma pessoa difícil, Alastair sabia disso, aquele encontro não era o que ele esperava, mas era definitivamente melhor que nada. Ele sabia que o pai se importava com ele e dava o melhor para ser a melhor pessoa que podia, mas ainda assim, era um relacionamento difícil. A preocupação do pai também lhe soava inocente, é claro, não queria morrer, mas se havia voltado para aquele lugar, tinha sempre que estar preparado para o pior. Em respeito a ele preferiu ficar em silêncio.
Em relação a Cláudia, Alastair já esperava uma resposta daquela, mas ainda era um choque saber que aquilo havia acontecido com alguém como ela. Pensou em perguntar sobre os possíveis suspeitos, mas sabia que não conseguiria nenhuma resposta decente.
― Só há resultados quando há riscos... Enfim, ela era uma mulher excepcional, infelizmente sua memória só existe na minha infância. Eu adoraria conhecer ela nos dias atuais.
Quando o pai o respondia sobre o que acontecer quando ele se for, Alastair virava-se de frente pra ele e lhe olhava nos olhos.
― Nem brinque com isso. Eu pretendo assumir sim, mas não será por conta da sua morte, vai ser por aposentadoria.
Mesmo com o prefeito quebrando o gelo sobre se tornar um vampiro, Alastair não ria, continuava pensativo, só se pronunciando novamente quando o prefeito lhe pedia pra não invadir mais nenhuma reunião.
― O senhor faz parecer como se eu fizesse isso sempre, foi só o meu retorno. Fique tranquilo. Agora estou indo, pai... Tenho mais coisas a fazer. Vou aguardar as instruções no meu celular sobre a próxima reunião, deixei meu número com dona Rose. Até depois.
Então, sem nada mais falar saiu de casa, tomou o celular nas mãos e mandou uma mensagem para Alec.