- Cabra, tome jeito e tento que hoje o padre não tá prassuas graças.
Tinha que trabalhar - era sem outro jeito para ganhar um sustento, às vezes não tinha como dar golpe para arranjar comida, ou se tinha - não tinha mais quem acreditasse. Jônisson já tinha fama de desacreditado em Moxotó e em tudo que era canto, sabiam quem era o moço. Arrumou emprego ali na igreja mesmo, onde condenado e boa gente não tinha diferença, era tudo o mesmo rebanho - mais ou menos, mas no geral, era sim. O padre era boa gente e sempre acolhia, sempre tinha um pão amanhecido e um pouco de café para oferecer, além do teto. Não dava pra dormir no relento com os bichos picando e azucrinando na cabeça. O sacristão, Enrico, era seu companheiro de trabalho na maioria dos dias e o que mais fazia, o que mais gostava de fazer, na verdade - era reclamar.
- Num guento essa vida não e ocê ajude, viu. Dá pra fazer tudo sozinho, não.
Era bom nisso. Em reclamar. Jônisson era bom em contar história e o sacristão era bom em reclamar, fazia tanto que às vezes nem sabia mais do que estava reclamando, só abria a boca e falava de qualquer coisa que fosse, saindo dele - parecia sempre reclamação, mesmo que não fosse - mesmo que não tivesse motivo. O trabalho junto do sacristão era relativamente simples, coisas gerais da igreja - coisas que apareciam e precisavam de um jeito - tinham que dar um jeito, simples. Agora, precisavam organizar um punhado de roupas que a esposa do Coronel de Sá tinha doado e seriam repassadas aos pobres (que era quase todo mundo da cidade) na próxima missa.
- Veja sóocê. Trabalhando aqui debaixo do sol enquanto o povo só vem pra missa e já sai de roupa nova, num podia ajudá? Podia, num podia?
Tinha que trabalhar - era sem outro jeito para ganhar um sustento, às vezes não tinha como dar golpe para arranjar comida, ou se tinha - não tinha mais quem acreditasse. Jônisson já tinha fama de desacreditado em Moxotó e em tudo que era canto, sabiam quem era o moço. Arrumou emprego ali na igreja mesmo, onde condenado e boa gente não tinha diferença, era tudo o mesmo rebanho - mais ou menos, mas no geral, era sim. O padre era boa gente e sempre acolhia, sempre tinha um pão amanhecido e um pouco de café para oferecer, além do teto. Não dava pra dormir no relento com os bichos picando e azucrinando na cabeça. O sacristão, Enrico, era seu companheiro de trabalho na maioria dos dias e o que mais fazia, o que mais gostava de fazer, na verdade - era reclamar.
- Num guento essa vida não e ocê ajude, viu. Dá pra fazer tudo sozinho, não.
Era bom nisso. Em reclamar. Jônisson era bom em contar história e o sacristão era bom em reclamar, fazia tanto que às vezes nem sabia mais do que estava reclamando, só abria a boca e falava de qualquer coisa que fosse, saindo dele - parecia sempre reclamação, mesmo que não fosse - mesmo que não tivesse motivo. O trabalho junto do sacristão era relativamente simples, coisas gerais da igreja - coisas que apareciam e precisavam de um jeito - tinham que dar um jeito, simples. Agora, precisavam organizar um punhado de roupas que a esposa do Coronel de Sá tinha doado e seriam repassadas aos pobres (que era quase todo mundo da cidade) na próxima missa.
- Veja sóocê. Trabalhando aqui debaixo do sol enquanto o povo só vem pra missa e já sai de roupa nova, num podia ajudá? Podia, num podia?