Prólogo - 1º Dia De Aula

Nuvens pesadas pairavam no céu sob sua cabeça, para Elizabeth aquilo simbolizava bem o passado conturbado em que foi criada. Ela morava junto de sua mãe no subúrbio de uma cidadezinha próxima. A vida não era fácil por lá, todos os dias Eli ajudava sua mãe com o trabalho de lavadeira na casa de limpeza local, então ela sabia como era difícil conseguirem se sustentar, principalmente porquê na maioria das vezes elas sofriam perseguições devido ao jeito diferente da garota. Ser uma Kemono em um vilarejo humano chamava atenção demais. Até quando a pequena Elizabeth saia para brincar na rua, ela escutava zombarias das outras crianças.

Gostava de pensar que sua mãe era um tipo de super-heroína, principalmente porquê, ao final do dia, ela sempre conseguia fazer com que sua filha se sentisse bem. Sua mãe lhe contava histórias sobre criaturas aterrorizantes, princesas e magos poderosos que derrotavam tudo e todos em seus caminhos a fim de salvar o mundo. Mas todas as suas histórias terminavam com uma mesma frase: Não importa o que aconteça, no fim sempre voltamos para casa. Pena que o mesmo não aconteceu com seu pai que, meses antes de seu nascimento, acabou desaparecendo após deixar sua esposa grávida para trás. Até hoje Elizabeth nunca conseguiu fazer sua mãe lhe contar o que aconteceu de verdade com ele.

Mas aquela não era a hora para pensar nisso, não hoje, não depois de descobrir que, assim como nas histórias que escutava antes de dormir, ela também era uma maga. Descobriu suas habilidades com magias por acaso quando, de forma bem sutil, apagou um lampião à metros de distância com seu sopro. Uma brincadeira de mal gosto? Talvez, mas ela já estava irritada com o velho que a ficava chamando de bicho. Céticos diriam ter sido o vento, sorte da garota que na ocasião o objeto se encontrava dentro da casa de seu vizinho que deve estar bravo até agora tentando recolher do chão todos os cacos de vidro de sua janela fechada.

Ali, mesmo naquele pátio lotado, Elizabeth ainda se sentia deslocada, principalmente por não conhecer ninguém e não ter experiências muito boas com outros adolescentes. Resolve ficar em um cantinho observando e esperando.

Elizabeth se encontrava completamente distraída, observando um inseto que passara voando ali perto, tanto que, ao ser interpelada por uma outra menina, ela acaba se assustando.

- Kyyaahh...

Elizabeth se vira e dá de cara com uma Kemono. Em um primeiro momento Eli fica sem reação, apenas analisando a garota, mas depois ela fala sem jeito.

- M-Me desculpa... Sou Elizabeth. E sim... P-Pode ficar por aqui, se quiser...

Era um tanto quanto visível que Eli estava sem jeito, sem saber o que fazer. Não tinha muitas amizades, pra falar a verdade a única pessoa que realmente conversava direito com ela era sua própria mãe. Elizabeth fica de cabeça baixa, mexendo na máscara que cobria sua boca.

- Não!! - Elizabeth se antecipa. - Eu só... Não estou acostumada com isso... Não tenho muitos amigos e... Bom... Vamos começar de novo. - A garota estende a mão esperando um aperto amigável. - Babi, não é? Prazer! Elizabeth, mas pode me chamar de Eli.

Mesmo por trás da máscara que cobria sua boca, era notável que Elizabeth estava sorrindo.

- Bom... Ansiosa pra saber como as coisas por aqui funcionam? Quer dizer... Olhando para todos eles - Eli passava o olhar pelos alunos que estavam chegando. - A maioria parece estar bem tranquilo, mas eu estou um pouco... Apreensiva, sabe?

Ela aguarda a resposta de sua mais nova amiga.

Elizabeth sorri de volta para sua mais nova amiga, aquilo até parecia um sonho, como poderia imaginar que de um dia para outro ela teria a oportunidade de estudar em uma escola de magia e, de brinde, fazer novas amizades? A garota sentia uma leveza dentro do peito que nunca tinha sentido antes.

De orelhas levantadas, sorridente e com o rabo balançando preguiçosamente, Eli concorda com a afirmação de Babi.

- Sim! Pode contar comigo também. - Ela olha na direção da escola. - Falando em aprendermos à controlar nossos dons... Como você descobriu que era uma maga?

Elizabeth aguarda ainda sorridente.

Elizabeth ri ao imaginar um cristal barulhento correndo atrás de Babi.

- Imagino!! Hahaha... - Ela então coça a cabeça com a pergunta da amiga. - Booom, digamos que no meu caso foi um pouquinho mais destrutivo que isso...

Ela olha para Babi e percebe que a garota esperava pela continuação da história. Eli então respira fundo e continua.

- Hmm... Bem... Tinha um senhor que morava próximo lá de casa e que, assim, ele não era nem um pouco gentil comigo. Em um final de tarde, voltando sozinha da escola, resolvi cortar caminho por entre as casas, pois havia um grupo de garotos do meu bairro mais para frente na rua que eu estava. Eles nunca foram legais comigo, sempre implicando, me xingando e rindo, pelo simples fato de eu morar em uma vila de humanos. Sabe? - Ela olha para ver se a garota estava acompanhando, em seguida continua. - Enfim... Estava me esgueirando, procurando um caminho diferente e, quando percebi, estava bem debaixo da janela do Sr. Kane. Ele sempre foi um velho rabugento e, na ocasião, vi pela janela que ele estava dormindo em sua velha poltrona, perto de uma lareira antiga. Próximo dele também havia um lampião, aceso, sobre uma pequena mesinha. Acho que de birra ou raiva, mas eu desejei que aquele lampião caísse no chão, só pelo fato de o assustar com o barulho e... - Ela faz uma pausa dramática. - Nada aconteceu. Hahaha... Mas naquele momento eu bufei decepcionada e, por algum motivo, meu sopro saiu tão forte que estourou a janela, apagou o lampião e virou a mesinha... - Mais uma vez ela olha para Babi, dessa vez com um olhar de arrependimento. - Tanto ele quanto eu me assustamos, foi uma bagunça só. Eu saí correndo e apenas consegui escutar o Velho Sr. Kane xingando e resmungando... - Eli faz uma careta amarga e começa a falar com a voz embargada, nitidamente tentando imitar o Velho. - Malditas crianças, vou jogar tantas pedras nas casas de vocês que um soterramento sentiria inveja, seus imundos!! - Ela então ri abertamente. - Hahahaha... Na hora foi assustador, mas lembrar agora até que é engraçado!!

Elizabeth fica mais sorridente.

A aproximação repentina do porteiro fez com que Elizabeth se assustasse uma segunda vez, de fato ela não era uma pessoa muito atenta com as coisas à sua volta. Mas, dessa vez, ao contrário de quando Babi a surpreendeu, uma sensação desconfortável tomou conta da Kemono. Institivamente, Eli cerrou os olhos com suas pupilas retraídas, abaixou as orelhas e sibilou na direção do intruso mostrando os caninos avantajados - Que permaneceram escondidos atrás de sua máscara. Os pelos de sua nuca se encontravam eriçados, mas, percebendo que se tratava de um funcionário, a garota logo tratou de se controlar e voltar ao normal.

- Desculpa... - Agora de olhos arregalados e pupilas dilatadas, a Kemono agarra o braço da amiga e a puxa para perto. Elizabeth parecia tentar se esconder atrás de Babi. Depois que o zelador terminou de dizer tudo o que queria, continuou. - S-sim... Nós já estamos indo.. Co-Com a sua licença...

E então ela puxa Babi para ir com ela.

Ao se afastarem do zelador, Elizabeth olha por cima do ombro procurando saber se ele estava à vista e depois sussurra no ouvido da amiga, ainda agarrada à seu braço.

- Credo... Não fui nem um pouco com a cara dele, você sentiu o mesmo que eu?

Ela segue com Babi pelo caminho que Sebastian havia indicado.

Power Up:

Os pelos da nuca de Elizabeth ainda estavam eriçados quando as duas entraram no auditório, como se um pressentimento ruim pairasse sobre sua cabeça. Eli preferiu não compartilhar essa sensação com Babi, já que as duas tinham acabado de se tornar amigas. Não queria encher a cabeça da outra com bobeiras sem sentido. Para Elizabeth o motivo dessa sensação ruim teria sido apenas o susto que tomou com a presença de Sebastian, supôs que esse mau agouro passaria se distanciando do porteiro.

Até que a Kemono estava tranquila e mais segura, mas isso antes de entrar no auditório. Ver todos aqueles alunos ali presentes deixou Elizabeth uma segunda vez desconfortável, ela nunca foi de frequentar lugares cheios e, por não ter amigos aonde morava, Eli nunca foi boa socializando com outros adolescentes. No mesmo instante que ela bate o olho em todos aqueles lugares, suas orelhas baixam, seu rabo fica imóvel e ela se certifica de manter-se próxima de Babi, deste vez sem segurar a amiga.

Nesse momento ela fala baixinho.

- Hm... Babi... Que tal ficarmos por aqui, no fundo? - Ela aponta para umas cadeiras vazias na Oitava fileira. - Assim, eu prefiro, até para não chamar atenção... Mas vou para aonde você preferir...

Ela espera a resposta da amiga pronta para segui-la à fileira que escolhesse ficar.