O Renascimento da Fênix

Anaru, sem estar preparado, tomou um choque de realidade e precisou se esforçar para lembrar o motivo de estar ali. Sua infância foi boa - ele viveu bem, teve seus pais, seus amigos e pessoas gentis ao seu redor - mesmo quando foi encontrando no mar, os pescadores no navio mercante não eram exatamente carinhosos, mas foram educados. Por fim, quando adotado pelo sr. Kido, viveu em sua propriedade por algum tempo e apesar de tudo - também era uma vida boa. Aprendeu muito e era bem tratado, tinham brigas entre os garotos - mas não havia rancor ou ódio entre eles, todos eram garotos e se testavam o tempo todo, ele tinha consciência disso. Se alguém simplesmente não quisesse se envolver em nada, era fácil, bastava não se envolver e seria deixado em paz.

Mas ali, vendo como foi recebido por Guilty - na Ilha da Rainha da Morte - sabia que teria dias péssimos e não duvidou das palavras que ouviu, que desejaria morrer - pois só de estar ali, o pensamento passava por sua cabeça. Antes de responder, pensou em tudo o que passara até então e por qual razão decidiu seguir esse rumo. Tinha de encontrar Mahuika. Seu corpo repleto de cicatrizes devido às queimaduras do magma eram um lembrete constante do que lhe ocorrera há tão pouco tempo, o calor da ilha não o deixava esquecer e doía mais nos pontos queimados.

- Sou Anaru, mestre Guilty. Vim para a ilha para encontrar Mahuika.

Pensou em muita coisa antes, mas não pensou exatamente na resposta e assim que a última palavra saiu de sua boca, na língua de seu povo, arregalou os olhos e mesmo com todo o calor do local, congelou. Os garotos na propriedade do sr. Kido caçoavam dele pelo modo como chamava a Fênix, mas não imaginaria qual seria a resposta de Guilty - então, tentou, o mais rápido que pôde, corrigir o que tinha acabado de falar.

- Fênix! Encontrar a Fênix!

Que situação horrível. Cerrou os punhos enquanto ouvia Guilty falar. Não tinha intenções de enfrentar Ikki, ainda mais que aquilo não parecia um treinamento - ele queria que os dois se espancassem e o derrotado ainda seria punido. Tentou racionalizar em como seria possível que Mahuika ficasse sob a responsabilidade de Guilty e em um local tão horrível - o pássaro de fogo que tinha como base principal renascer e trazer de volta a esperança não poderia ser baseado somente em ódio. Relaxou as mãos enquanto o pensamento a respeito da situação saía de sua cabeça e respirou fundo. Encarou Ikki de volta e também, confuso com a situação, não partiu para o ataque.

- ... você só vai olhar enquanto a gente se bate?

Talvez discutir com Guilty ou questionar seus pedidos não fosse o melhor dos caminhos a seguir, sabia muito bem que poderia morrer ali - poderia morrer naquela ilha sem ter nada como ameaça, mas certamente ele fazia com que as coisas tivessem uma dificuldade a mais. De qualquer forma, não estava condicionado a simplesmente atacar um outro ser simplesmente por comando. Ainda mais considerando o discurso inicial, não considerava Ikki um inimigo até então, por mais que as ameaças de Guilty fossem sérias e pudessem lhe causar problemas.

Não era uma tarefa tão complicada assim sentir ódio de Guilty. Não era um sentimento que estava tão acostumado, mas ele não parecia fazer nenhum esforço para que se tivesse aversão de sua pessoa, não estava esperando por isso - quando pensou em um mestre, estava imaginando alguém pelo qual pudesse criar laços, mas como poderia criar qualquer tipo de relação com um alguém tão contrário? Pensou que talvez sua motivação para obter a armadura de Fênix não fosse forte o suficiente, se era isso o que seria necessário para obtê-lo. Queria ter o encontro com Mahuika e entender o motivo de sua vila ter sido destruída, queria ser um cavaleiro e fazer parte de tudo aquilo, mas tinham pessoas com motivos muito mais fortes que os dele, provavelmente e que já estariam indo pra cima de seus oponentes sem nem pensar no que pudesse acontecer. Levando isso em consideração, talvez fosse melhor lutar. Se fosse perdesse, manteria sua honra da forma que pudesse. Se ganhasse, faria o possível para que o adversário pudesse manter-se forte até o fim.

- Certo, vamos lutar.

Afastou as pernas, abrindo-as em um raio grande. Um dos joelhos estava flexionado e o outro, esticado junto com a perna - ergueu as mãos até média altura do corpo e semi fechou as mãos, como se fizesse garras. Era um pouco do que havia aprendido em sua ilha, seria carregar um pouco de suas tradições para essa provação. Olhou Ikki com um fraco sorriso no rosto, convidando o seu oponente para o combate.

Embora tivesse decidido lutar, não saberia dizer exatamente em qual seria o nível daquele combate - certamente não queria lutar como se sua vida dependesse disso, por mais que as palavras de Guilty tivessem esse tipo de justificativa. Sentiu o golpe em seu peito, não estava esperando por isso, mas foi o que ele próprio decidiu. Fechou o rosto e os punhos - trouxe uma das mãos fechadas contra o braço de Ikki logo após o impacto, um golpe contra seu braço - não tinha a intenção de lhe causar dano, mas de vencer uma disputa. A intenção seria de afastar seu golpe, caso tivesse sucesso em seu acerto. Com isso, saltaria para trás, tomando alguma distância.