A cachoeira rugia em seus ombros. A água gelada adormecia sua pele e encharcava seu gi¹. O jovem monge tremia de frio, suas juntas estavam endurecidas por passar tanto tempo na posição de lótus, mas ele sabia que a sua determinação estava sendo testada. Ele podia sentir os olhos cinzentos do Shihan² sobre si.
Tentou expandir sua mente para seus arredores. Sentiu a rocha nua e rude sob si. O cheiro doce de flores que a brisa da montanha trazia. Inspirou profundamente, e visualizou o ar entrando pelo seu nariz e inflando seus pulmões. Imaginou a cores para o ar puro se convertendo em hálito quente e então encontrando seu caminho de volta para o ambiente frio.
Abriu os olhos. Viu o Shihan de pé sobre o leito rochoso do rio. Seu Gi esfarrapado pelos anos de treino cobrindo o corpo sólido para um homem que já ultrapassava os cinquenta anos. Os cabelos muito grisalhos rareavam, mas os braços poderosos pareciam não compreender que a idade chegara.
-“Hajime”-³ decretou com sua voz grave e rouca. O mestre conseguiu sufocar a tosse que veio logo em seguida, mas Ikkyu lembrou-se da enfermidade que Shihan trazia nos pulmões. Os médicos não estavam otimistas, era o que os rumores diziam.
Engoliu em seco e ficou de pé, sentindo as pernas formigarem quentes conforme o sangue encontrava o caminho de volta para as veias de seus membros inferiores. E então assumiu a posição inicial do Kata.4
Uma pedra veio voando e o atingiu entre os olhos. O jovem monge perdeu o equilíbrio e caiu da base da cachoeira, atingindo o rio –e as pedras- abaixo. Mas embora tenha sofrido poucos arranhões e contusões superficiais, não se machucou muito.
-“MALDITO! Depois de tantas repetições, como ousa errar uma posição tão básica? Está brincando comigo?”- Shihan Matsuda era terrivelmente mau-humorado e exigente. Mas, aparentemente, suas exigências sobre o jovem Ikkyu eram maiores e seu humor era pior do que com todos os outros. Antes que o jovem pudesse se defender, o Shihan apontou para a base da cachoeira e decretou: “DE NOVO!”
O sol já morria no horizonte quando finalmente recebeu permissão para retornar ao mosteiro. Como havia perdido a hora de realizar as tarefas de limpeza, acabou recebendo obrigações de ajudar na cozinha, para os preparativos da janta. Isso basicamente significava passar horas cortando nabos. Pior de tudo, quem ajudava na cozinha comia por último. Foram horas dolorosas as que o jovem monge passou com o estômago roncando.
Bocejou enquanto andava pela varanda, mau-humorado pelo dia terrível. Foi quando ouviu algumas risadas baixinhas sufocadas e encontrou Shingo e Tenji se esgueirando furtivamente em direção ao muro. Quando Shingo viu Ikkyu na varanda, ergueu a mão, acenando e chamando.
Tentou expandir sua mente para seus arredores. Sentiu a rocha nua e rude sob si. O cheiro doce de flores que a brisa da montanha trazia. Inspirou profundamente, e visualizou o ar entrando pelo seu nariz e inflando seus pulmões. Imaginou a cores para o ar puro se convertendo em hálito quente e então encontrando seu caminho de volta para o ambiente frio.
Abriu os olhos. Viu o Shihan de pé sobre o leito rochoso do rio. Seu Gi esfarrapado pelos anos de treino cobrindo o corpo sólido para um homem que já ultrapassava os cinquenta anos. Os cabelos muito grisalhos rareavam, mas os braços poderosos pareciam não compreender que a idade chegara.
-“Hajime”-³ decretou com sua voz grave e rouca. O mestre conseguiu sufocar a tosse que veio logo em seguida, mas Ikkyu lembrou-se da enfermidade que Shihan trazia nos pulmões. Os médicos não estavam otimistas, era o que os rumores diziam.
Engoliu em seco e ficou de pé, sentindo as pernas formigarem quentes conforme o sangue encontrava o caminho de volta para as veias de seus membros inferiores. E então assumiu a posição inicial do Kata.4
Uma pedra veio voando e o atingiu entre os olhos. O jovem monge perdeu o equilíbrio e caiu da base da cachoeira, atingindo o rio –e as pedras- abaixo. Mas embora tenha sofrido poucos arranhões e contusões superficiais, não se machucou muito.
-“MALDITO! Depois de tantas repetições, como ousa errar uma posição tão básica? Está brincando comigo?”- Shihan Matsuda era terrivelmente mau-humorado e exigente. Mas, aparentemente, suas exigências sobre o jovem Ikkyu eram maiores e seu humor era pior do que com todos os outros. Antes que o jovem pudesse se defender, o Shihan apontou para a base da cachoeira e decretou: “DE NOVO!”
O sol já morria no horizonte quando finalmente recebeu permissão para retornar ao mosteiro. Como havia perdido a hora de realizar as tarefas de limpeza, acabou recebendo obrigações de ajudar na cozinha, para os preparativos da janta. Isso basicamente significava passar horas cortando nabos. Pior de tudo, quem ajudava na cozinha comia por último. Foram horas dolorosas as que o jovem monge passou com o estômago roncando.
Bocejou enquanto andava pela varanda, mau-humorado pelo dia terrível. Foi quando ouviu algumas risadas baixinhas sufocadas e encontrou Shingo e Tenji se esgueirando furtivamente em direção ao muro. Quando Shingo viu Ikkyu na varanda, ergueu a mão, acenando e chamando.
- Notas:
¹- Quimono. Vestimenta tradicional japonesa
²- Mestre. Um grau mais elevado que o professor ("Sensei").
³- "Começar"
4- Sequência de movimentos coreografados, simulando o enfrentamento de um adversário imaginário