“Hum... na verdade não esperava voltar... não por
esse caminho”, respondera com uma piscadela de olho. Aquele momento divertido esvaíra-se em seguida, quando aquele nome fora novamente evocado. “Nahhh”, deixou escapar numa interjeição de desagrado, mordendo o lábio inferior – não uma
verdadeira mordida, apenas um pequeno pressionar com os dentes – enquanto adquiria uma expressão reflexiva, senão triste. “Uma... ex-amiga”.
Inadvertidamente, Ezra havia entrado num assunto tenso e delicado, porém inevitável, do tipo que em algum momento precisaria ser explicado ao neófito. Entretanto, a julgar pela demora no início da resposta, parecia ser um cujo ponto inicial é difícil de escolher.
Optara por voltar
bastante no tempo.
- Nos últimos... hum... quase
600 anos, vivemos uma aliança de clãs. O objetivo dela é... – um rasgo de sarcasmo cortou a face do vampiro, como se estivesse falando uma opinião amarga cujo brilho tentava-se deter com uma peneira velha – ... olha, o objetivo é manter o poder, né? Sempre.
De onde estavam, ainda era possível ouvir o barulho das festas no prédio anterior reverberando entre as construções, mas não era um som exatamente alto, amaciado pelo vento que corria.
- Ok, na verdade tava rolando uma grande rebelião dos vampiros “jovens” da época, isso
no meio da inquisição... Tipo um prato cheio pros humanos acabarem com a gente. O negócio foi sentar todo mundo junto pra acabar com a treta da gente e focar na “sobrevivência da espécie”. Daí inventaram a Máscara e blá blá blá. Até aí tudo bem, mas nem todo mundo concordou com isso... ou concordou, mas não quis se submeter. É tudo sempre sobre poder, né?
O lugar não era uma “cobertura” propriamente dita, daquela donde pessoas milionárias cospem sobre as cabeças de passantes. Era simplesmente o teto geral do condomínio, com alguns varais de roupa limpa balançando, sujeira de pombo, canos expostos e equipamentos de manutenção, provavelmente esquecidos dalguma obra anterior.
- Nós somos a
Camarilla, seja bem-vindo – naquele instantes fugaz, ignorando que fazia dois segundos parecia ele estar bastante tenso, fez uma grande reverência, acompanhada de um gesto como se abrisse uma porta imaginária, imitando um mordomo que convidasse Ezra a entrar - ... mas eu já expliquei isso? Não? Desculpa, às vezes fico meio
confuso porque não é a primeira vez que tenho que explicar isso.
Aquelas derivas discursivas e mudanças sutis de temperamento... era um professor “diferente” do que se podia esperar numa organização de hábitos tão permanentemente efetivos – como o assassinato.
Fosse o que fosse, finalmente começara a dar informações mais precisas, explicando
no que o rapaz havia se metido: uma sociedade de vampiros que se sustentava no combate a inimigos internos e externos para, sob tal justificativa, sustentar a centralização do poder.
Ao menos na opinião dele.
Uma que talvez fosse
perigosa para um novato repetir por aí.
- Nosso grupo é o maior e mais poderoso, mas houve racha recente... bem, muitas mudanças complicadas. O clã
Gangrel nos deixou faz 20 anos. O
Brujah... bem, considerando que eles eram justamente a vanguarda daquela rebelião e que muitos sempre permaneceram como anarquistas... Bem, finalmente saíram, faz 7 anos... Elijah-Iisa era uma amiga.
Era óbvio que havia algum drama pessoal em jogo, mas uma informação final jogou as coisas noutra direção. “Bem, e ela é
um pouco esquentada. Não recomendo bater de frente se alguma vez encontrar com ela”.
Toda aquela conversa havia desviado-os da missão de extração designada pela Camarilla. Dando conta disso, Gábor resolvera voltar a colocar-se em movimento, procurando ao redor a saída do terraço.
A porta que levava às escadas não estava longe, madeira pintada numa tinta branca velha que, por conta dos anos de Sol constante, estava bastante descascada. Ao alcançar a maçaneta metálica, o invasor noturno soltou uma expressão em desagrado. “Ah... trancada” – aquilo parecia não estar nos planos dele.
- Spoiler:
Como é um teste simples, pode considerar o pulo bem sucedido.