- Corre e dá um pulão! O mais longe que conseguir! O maior ganha!
Era um punhado de moleques, entre os 10~12 anos de idade. Estavam ao redor de um trecho de rua que seria pavimentada, a base tinha sido feita com pedras britadas e uma areia cinza colocada por cima das pedras. Tinha um pedaço já asfaltado e esse pedaço à fazer. A brincadeira consistia em usar aquele ponto como uma área de salto, como se fossem atletas olímpicos. Era uma região humilde e qualquer tipo de diversão, era diversão.
Um deles saiu correndo, saltou antes de pisar na areia e caiu quase no fim. Torceu as pernas e capotou pra frente. Um salto bem distante.
- Boa! Muito bem!
Gritaram alguns deles ao redor. Mais outros seguiram, uns com melhores e outros com piores resultados, ninguém estava realmente medindo. Era uma questão de show, quem mais fazia estardalhaço ao cair era mais aplaudido e ovacionado. Até que chegou a vez de Mike.
Tomou distância. Puxou ar nos pulmões e desatou a correr feito um doido, desesperado. Saltou e seu pé de base escorregou numa pedrinha no chão, perdeu o equilibrio e tentou achar o chão no ar, mexeu as pernas mais rápido do que podia, dobrou os joelhos e os meteu na areia cinza - afundando e chegando nas pedras pontudas que faziam a base do pavimento. Sentiu a dor latejante subindo pelas suas pernas, tronco até chegar em suas têmporas e então um silêncio ensurdecedor.
Não houveram aplausos e nem gritos de seus amigos, caiu com os olhos fechados e só depois que abriu, viu seus joelhos feridos e manchados de sangue - curiosamente, o sangue estava mais escuro do que o normal, quase preto.
- Puta que pariu, Mike... Cê explodiu, viado!
- Merda, merda!
Segurava a cabeça e andava de um lado para o outro. Um garoto de 15 anos não deveria ter muitos problemas, mas todos já tivemos essa idade e problemas são problemas, independente do que fossem para os outros, cada um tinha seus próprios demônios e lidava da forma que conseguia com eles. Estava apaixonado, esse era o seu problema. Não só estar apaixonado, mas ter tentado e não conseguido um relacionamento imaginado, sua cabeça fervia e parecia que o mundo ia acabar, qualquer um que olhasse de longe saberia que não era o fim do mundo, tão pouco seria para tanto sofrimento esse tipo de acontecimento, mas para um adolescente e na pele de quem sofria, era.
- Desgraça!
Socou a parede num ato impensado e ao mesmo tempo, no momento do impacto, seus olhos lacrimejaram e ficaram vermelhos. Estava frio, mas sentiu um filete quente de sangue escorrer pelos nós dos dedos. Se arrependeu na mesma hora do que havia veio e enfiou a mão no meio das pernas, segurando a dor e o grito abafado.
- Burro!
Tirou a mão do meio das pernas e a balançou, tentando fazer a dor passar. Uma gota de sangue se desprendeu de sua mão e ele viu aquele ponto vermelho se transformar em algo incandescente, como se fosse aceso numa temperatura muito alta e se chocar contra a parede mais próxima, ocasionando uma pequena explosão. Caiu de bunda no chão e ficou olhando a fumaça subir do local explodido, boquiaberto.
- Merda... Merda...
- Eu preciso ir embora, cara.
Estava tonto, tinha bebido demais e o som das batidas da música eletrônica o fazia piorar. Tinha saído do trabalho na sexta-feira e depois de muito beber, resolveu ir com os amigos em uma balada. O que ele não faria normalmente, se estivesse com um pouco de consciência - mas, juntando a insistência dos amigos e as grandes quantidades etílicas que havia consumido, pareceu uma boa idéia. Mas tinha chegado ao seu limite e era hora de partir. Tinha um longo caminho para a casa e no horário em que estava, não teria transporte fácil, também não tinha dinheiro para um táxi - então, era melhor caminhar.
Saiu do local, deixou o barulho da música para trás e o impacto do vento gelado em seu rosto o fez acordar um pouco e recobrar sua consciência. Puxou o casaco para junto do peito, juntando um pouco do calor e seguiu caminhando. Teria pelo menos duas horas de caminhada até sua casa.
- Ei, que horas são, amigo?
Depois de alguns minutos - ouviu. Eram dois homens que se aproximavam de Mike. Não deu atenção e continuou caminhando, apertou o passo. Não tinha muito o que perder, mas estar em uma situação que em que poderia ser assaltado fazia o coração bater mais rápido.
- Ei, amigo!
"Merda", pensou. Apertou ainda mais o passo e logo estava correndo e sendo perseguido pelos dois homens na mesma velocidade. Tinha dificuldade para seguir a corrida dado seu estado físico e perdia espaço a cada segundo.
- Moleque! Pára agora!
Não ia parar, de jeito nenhum. Correu e correu o mais rápido que pôde, mas não via que se chegavam cada vez mais próximos. Aumentava as passadas e sentia o ar frio entrar rápido pela sua boca, atingindo o pulmão em golpes. Aos poucos, acostumou-se e melhorava os passos - começava a ganhar distância. Sorriu. Apertou ainda mais a corrida e saltou.
Uma pedrinha.
Pisou, correu no ar, tentou achar o chão, dobrou os joelhos e caiu com eles no asfalto. Como tinha acontecido há 8 anos atrás. Sentiu a mesma dor, idêntica.
- Filho da puta. Moleque, filho da puta. Eu mandei você parar e o que fez, continuou correndo? E agora? O que a gente faz?
Cada um segurou em um dos ombros. Mike despencou a cabeça, exausto e com dor. Eles o ergueram e revistaram rapidamente seus bolsos, tiraram o celular e a carteira e guardaram, então enquanto um o segurava, o outro socou com força o seu estômago, o fazendo cair no chão mais uma vez. Então tomaram seu caminho, afastando-se de Mike.
- ...
Subiu um ódio pelo mesmo caminho da dor, levantou-se com dificuldade e viu o jeans, na região do joelho todo sujo de sangue. Um sangue escuro. Passou as duas mãos nos joelhos e as manchou com o líquido que saia de suas veias, levou as mãos ao algo e sem saber realmente o que ia acontecer, as trouxe para baixo com velocidade e força, mirando nos dois assaltantes.
Diversas gotículas incandescentes cruzaram o caminho entre Mike e os dois e ao atingir os dois, assim como tudo ao redor causaram diversas pequenas explosões.
- Mutunas, claro.
O policial deu um trago no cigarro enquanto observava a cena toda destruída e dois homens mortos. Tudo estava envolto em fita amarela impedindo a entrada de civis e outros policiais e detetives iam de um lado para o outro coletando provas e verificando cada ponto da cena.
Preencha algumas informações sobre o personagem. A CD representa a dificuldade em obtê-las:
- CD < 10: Foi demitido e causou problemas em seu trabalho por negociar dívidas muito mais vantajosas para os devedores do que para a empresa.
- CD > 10: Passou alguns meses em um reformatório, quando era mais jovem.
- CD > 15: Foi criado pelos seus tios, não conhece seus pais - a história é que morreram, mas nunca foi atrás ou questionou.
- CD > 20: Informações sigilosas, como quanto dinheiro o personagem tem no banco e se já esteve ligado a grupos de criminosos.
- CD > 25: Os maiores segredos e informações que, em geral, apenas o personagem sabe.