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    02. O Demônio na Garrafa

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    Mensagem por Lnrd Seg Out 14, 2019 12:45 am

    02. O DEMÔNIO NA GARRAFA

    A fome devia ser enorme pra justificar aquele cachorro coberto de sarna lambendo o sangue do chão, ignorando o estrondo do tiro, os gemidos de agonia vindos do rapaz esquelético e os berros do senhor em frente ao carro com a porta da frente aberta: “... pra aprender a respeitar os outros, vagabundo!”. Uma música sobre “dinheiro” e “piranhas” escapava o veículo, trilha sonora daquela “cena”.

    Os pneus carecas da moto mal tinham parado de girar quando os primeiros celulares apareceram no cruzamento, aparentemente mais interessados em registrar a situação do que em ligar para uma ambulância ou qualquer outra autoridade.
    Por trás do capacete de tubarão, o garoto chorava e dizia coisas sem sentido, gritando pela mãe. O segundo disparo, finalmente, afugentou o cão de focinho empapado daquele mel avermelhado.

    Era uma esquina movimentada, apesar de ser um bairro residencial. Muros de condomínios eram as paredes de um labirinto monótono, tétrico. Ao menos era a visão de quem passava por ali de carro.

    Aquela cidade era a barbárie. 3,5 milhões de almas num assentamento denso, superpopuloso e dividido entre um universo paralelo artisticamente desenhado, uma dimensão descolada da maioria dos problemas comuns – invadida apenas pela violência fora de controle –, tendo como chave única dos próprios portais o dinheiro. E o resto.

    O que sobrava, apartado disso, o “mundo real”: favelas verticais e horizontais – se é que pode se considerar os blocos de precários conjuntos habitacionais como algo “deitado” – nos quais a disputa tanto pelo espaço individual quanto pela proximidade dos empregos sempre cobra um caro preço.

    Quanto mais oferta, menos o valor da vida no mercado.

    A transição entre as margens urgindo como um sonho comum para muita gente, um pesadelo de luta diária para boa parte, ou simplesmente um desejo abandonado para outro quinhão, “o inalcançável” para quem assim o conseguia ver. E a terrível obsessão para quem se deixa cegar pela sedução de um brilho mortal.

    Era domingo, o dia seguinte ao Encontro Anual de Vigilantes. No condomínio Rosa de Ouro, o delegado afastado Julian acompanhava um jornalístico local, entediado, com uma garrafa de uísque pela metade ao lado da poltrona.

    As outras, vazias, espalhavam-se pelo chão da sala.

    O vento agitava as árvores naquela noite, enquanto algumas nuvens, tapando a lua nova, jogavam um pano sobre a feiura daquela cidade.
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    Mensagem por Shmul Ter Out 15, 2019 3:21 pm

    Com o rosto e o ombro escorados na janela ensebada do “busão”, observou a presteza da polícia e do IML na ocorrência daquele bairro abastado. Assassinatos eram comuns no bairro de onde vinha, mas as autoridades não pareciam ligar muito pra isso.

    Trazia consigo na mochila parte de seu equipamento e os restos de comida do Encontro Anual de Vigilantes. Aquela era sua janta.

    Dois ônibus e 1 hora depois, Jack chegava enfim à entrada do condomínio Rosa de Ouro, como fora combinado na noite anterior. A demora condizia com a demanda do horário para aquele bairro mais abastado... de noite o proletariado voltava pros seus barracos nas periferias.

    Assim que desceu, procurou seus “aliados” fantasiados para continuar a investigação.
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    Mensagem por gaijin386 Qua Out 16, 2019 11:28 am

    Alchemist então pegou seu velho carro de meados dos anos oitenta que era temperamental para pegar e que vez por outra fazia barulhos, mas ao menos ainda rodava e foi em direção ao ponto de encontro. Ela estaciona em alguma esquina para esconde-lo e então vai encontrar com os demais integrantes que o Sr.Oculto indicou.

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    Mensagem por Lnrd Sáb Out 19, 2019 1:35 pm

    Distando poucos metros do ponto onde agrupavam-se, um táxi estacionou e, do interior dele, uma larga gargalhada ecoou. Não muitos instantes depois, alguém atravessava a porta e descia xingando, em visível irritação. O motorista limita-se a arrancar, pneus cantando, por pouco não resvalando no passageiro despachado.
    - Não diga que eu não avisei, babaca!

    Mesmo sem reconhece-lo, a Alquimista e o One-Punch poderiam facilmente deduzir que, seja lá quem fosse aquele, pretendia juntar-se ao time.

    Vestia um capacete um tanto exagerado, em cores difíceis de passarem desapercebidas. Mas aquilo não era tão anormal quanto se imaginaria: quase 99,9% de quem entrava para o mundo do heroísmo urbano escolhia uniformes e, por mais discretos que fossem, ainda eram coisas que se destacavam, ao invés de se camuflarem, na multidão.


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    Talvez bonés, óculos, maquiagens e cabelos fakes, roupas cambiantes etc. fizessem um serviço muito melhor se o intuito fosse a invisibilidade de um espião ou fugitivo.

    A figura era magra e tinha um jeito de caminhar pouco confiante. Vestia-se de forma estilosa, algo bem “street”, “techware”. “O... oi, gente!”, foi o que disse antes de, de maneira desconfiada, apresentar-se como “enviado” do Senhor Oculto. Ao mesmo tempo, tentava checar se aquelas eram realmente as pessoas que devia encontrar.


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    Não que, naqueles tempos, fosse comum esbarrar com grupos de gente mascarada simplesmente parada em qualquer esquina, de forma que era fácil deduzir que se tratavam dos contatos procurados. Porém ele parecia bastante cauteloso quanto a isso.  

    “Lorem Ipsum” fora como se apresentara.

    “É inacreditável”, dissera, explicando por alto o que ocorrera no carro. Aparentemente, a conversa que se iniciara uma exaltação a “caronas pagas tradicionais” em comparação a “aplicativos distópicos que roubam nossa privacidade” degringolara para uma briga: “Eu só tava tentando explicar como eles sabem de cada passo que a gente dá e usam nossas preferências até pra influenciar nossas decisões políticas”.

    Era o típico papo que, por mais que possuísse uma forte base na realidade, era prato cheio a imaginações mais fantasiosas e discursos exagerados.

    O taxista não devia ter levado muito a sério a conversa e a reação do vigilante não fora das melhores.

    Aliás, “o vigilante” era, naquela situação, uma dedução baseada na forma como se referia a si. Afora aquilo, não era possível nem saber o tom de pele de quem vinha ali, juntando ao fato de a voz de modulador disfarçar o timbre e o corpo não ser particularmente masculino ou feminino. Era um mistério.

    De toda a forma, avançaram em direção ao condomínio, anunciando-se na portaria vigiada por câmeras e armas, algum sistemas mais evidentes e ostensivos, outros mais sutis. Teriam tido muito problema para atravessar a entrada, uma vez que as regras do condomínio exigiam total identificação, mas por um acaso o (ex)delegado era também o síndico e aqueles fatos concediam-lhe certos privilégios.

    Tomaram o elevador até o 17º andar, a cobertura de uma das torres internas. Um garotinho passara uns 5 andares vidrado naquelas fantasias, que se refletiam inúmeras vezes nos espelhos do cubículo, e correra veloz porta afora quando o nível dele chegara, após ter uma “selfie” com o grupo veemente negada por Lorem Ipsum. “Podem rastrear nossos passos a partir desses pequenos detalhes”. Sobre as imagens que estavam certamente sendo gravadas do trio naquela viagem para cima, nada mencionara.

    Ao finalmente atingirem a porta do apartamento em questão e tocarem a campainha, foram recebidos por um “está aberta”, descortinar que revelara a cena algo deprimente de Julian algo desgrenhado, de roupão, e forte cheiro de bebida.

    Encarou as visitas, sem nada dizer.
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    Mensagem por gaijin386 Seg Out 21, 2019 7:12 pm

    Alquimista cruzou os braços e vendo aquele impasse mexicano começou a ficar nervosa, talvez fosse seu sangue eslavo que não famoso por paciência, mas então vendo que talvez fosse melhor tomar a iniciativa ela falou.

    -Viemos ajudar... Mas pra isso precisamos começar por algum lugar. Pode nos contar o que sabe e suas opiniões sobre isso?
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    Mensagem por Shmul Qui Out 24, 2019 2:45 pm

    Não estava acostumado aos bairros ricos da cidade, e aquele condomínio trazia certo desconforto. Sempre que esteve nestas regiões ele era encarado com desconfiança pelas pessoas, e hoje não era diferente... é verdade que ele havia vestido a fantasia ali na frente, antes de entrarem, e estava acompanhado de outras pessoas com trajes “peculiares”.

    Durante todo o trajeto até a cobertura da torre, olhou com desconfiança para aquele novo “vigilante” que surgiu de supetão. Não estava na reunião e ninguém o mencionou em momento algum. Para piorar, tinha a impressão de que o tal de Lorem Ipsum os colocaria em encrenca, e pelo corpo franzino e jeito inseguro não conseguiria tira-los de tal enrascada.

    Tudo correu estranhamente fácil até aqui, e encontravam-se constrangedoramente em silêncio, em pé no apartamento de Julian em meio às bebidas, até que a Alquimista tomou a frente.

    Acreditava encarava várias garrafas de rótulos caríssimos, e sentiu sua garganta secar. A vontade de tomar uma dose crescia em sua mente.

    Não acrescentou nenhuma palavra, e aguardou a resposta de Julian para a Alquimista.
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    Mensagem por Lnrd Sáb Out 26, 2019 12:29 am

    “Minhas opiniões sobre isso?", ecoou ele as palavras. "Acho que um homem deveria poder assistir os programas de domingo sem ser atrapalhado".
    O silêncio que seguiu à afirmação não foi amenizado pelo sorriso amarelo que abrira na sequência. Era um péssimo piadista e percebera aquilo, fazendo um gesto para que esquecessem.

    "Sabe qual a melhor parte de ser vigilantes?", perguntou retoricamente, apenas para responder ele mesmo. "Vocês não têm patrões. Não precisam preencher relatórios pra superiores. Fazem o que querem e, se fizerem merda, arcam com as consequências. Simples assim”.

    Levou à boca o vidro pesado do copo, bebendo outro tanto de álcool. As ideias pareciam um pouco desordenadas, mas mão ainda estava firme.
    “Um policial não. Sempre fazendo, ou deixando de fazer, porque mandaram. Ok, dão jeito em muita merda que a gente faz, mas, vez ou outra, você arca pelos erros dos outros. Sabe o pior? Não sei nem quem são os outros, nem quais foram os erros. Só sei que aqui estou. Processado por tráfico. Provavelmente vou preso. Ainda tenho armas, sabia?”.

    Dizendo aquilo, mostrara, num movimento nada seguro, que tinha um revolver entre ele e um canto do sofá. Quase como um pedaço de comida que tivesse caído lá. “Poderia acabar logo com isso, sabe? Um policial, um delegado não dura muito na prisão”.

    Virou o resto do copo, não fazendo nem careta para engolir aquilo. Talvez porque o produto fosse de muita qualidade. Talvez porque era apenas mais uma de muitas garrafas.

    Curiosamente, não parecia tão bêbado assim. Talvez estivesse bebendo devagar.
    E, pela quantidade de garrafas, devia ter começado faz muito tempo. Quando teria sido a última vez que levantara daquele sofá? Parecia não tomar banho faz tempo.
    - Sinceramente. Eu não sei o que achar. É uma queima de arquivo, mas eu não posso nem dar com a língua nos dentes, porque não sei com o que foi que me deparei... .

    Na TV, uma matéria já pela metade sobre um esquema criminoso no porto da cidade. Tráfico humano.
    “Sabe o mais curioso de política?”, prosseguira ele naquele modus operandi de perguntar apenas para falar o que pensava logo depois. “Tem gente querendo fazer o bem, mas esse bem acaba sendo ruim pra outras pessoas. E tem gente querendo só o mau mesmo, a não ser pra si. Desconfio que não tenha ninguém da primeira categoria em Santa Dômina. Por mim podiam fazer que nem o... qual era o nome mesmo? Não lembro. Aquele vigilante que explodiu com um monte de político. Gente inocente deve ter morrido, mas tão poucas que...”.
    - Começa assim. – Intrometeu-se o Lorem Ipsum, interrompendo a divagação que não parecia ter muita conexão com o que estavam fazendo ali – Você abre uma pequena “exceção”. Depois outra. Daqui a pouco... .
    - E o que mais se pode fazer? Olha pra essa cidade. Nenhuma ideia boa tem como dar certo. Não me espantaria se as pessoas cansassem e começassem a fazer justiça com as próprias mãos. Esses caras mesmos, os casos que caíram comigo. Aparentemente nada em comum entre eles, a não ser terem cansado de esperar por justiça. Não seria de se espantar, tirando o fato de minha equipe ter sido toda desmantelada por termos pego ambos os casos. Não faz sentido. Só não me espantaria se alguém estivesse convencendo pessoas revoltadas a fazerem esse tipo de serviço sujo.
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    Mensagem por gaijin386 Sáb Out 26, 2019 2:21 pm

    Se ninguém faz nada ... É assim que eles vencem então uma atitude por menor que seja já é um começo. Você não pode dar uma prensa mais dura em suspeitos ou aqueles que sabem, mas eu não assinei nenhum contrato sobre conversas mais convincentes" com meliantes, mas meu esquema é contra gangues de drogas quem sabe algum desses safados possa saber algo ou se você souber de alguém podemos convence-lo a colaborar.
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    Mensagem por Shmul Ter Out 29, 2019 11:30 am

    Procurava com os olhos por alguma garrafa que tivesse um resto de liquido. Aquela fantasia herculana o estava fazendo suar, ou seria seu organismo implorando por álcool?

    Vislumbrou o último gole do investigador, e como que saindo de um transe, desembestou a falar: - Se suas “ferramentas” para punir atos vilanescos forem malignas, não seremos melhores que nossos algozes, e estaremos proliferando o mal. – Talvez tivesse falado em um tom de voz acima do que o momento pedia. – É o que eu penso. – Ratificou encabulado – e dito isso, queremos resolver esse mistério, e prender o responsável por essas mortes e absolver o senhor, mas pra isso precisamos de sua ajuda, investigador.

    A coragem de Jack começara a se incorporar em seus discursos, o que era incomum. Parecia que estar em uma “missão” como um “vigilante” benfeitor estava mexendo com questões internas do boxeador.
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    Mensagem por Lnrd Sáb Nov 02, 2019 5:22 pm

    "Hum...", deixara escapar Julian, reflexivo. Levara uma mão ao queixo e erguera uma sobrancelha ao ouvir falar sobre "drogas". Algo chamara particularmente a atenção dele, afinal, era justamente uma acusação falsa nessa área que o tinha colocado naquela situação de desgraça. "Talvez... se eu pensar em algo...", disse, como se tentasse calcular uma forma de juntar forças com a Alquimista para solucionar a questão. Mas como? Uma estranha expressão pareceu cruzar a face dele, mas logo se dissipou. Talvez precisasse de tempo para um plano.

    O ex-delegado teve a divagação interrompida pela colocação daquele bárbaro de pé no meio da sala. Um sorriso abriu-se nos lábios daquele policial calejado.
    - Gosto de gente assim. Pensamento direto. Facilita as coisas... Só é uma pena que as coisas não podem ser assim o tempo todo... A vida é muito complicada, não? Ou será que a gente é que complica? – ele fez uma pausa, levantando-se e caminhando até o bar da sala – No meu posto, tinha que lidar com todo o tipo de caso difícil... Uns muito difíceis. Você sabe o que é olhar nos olhos de uma pessoa com a cara toda arrebentada que está pedindo pra você não prender quem cometeu o crime com medo de acabar na rua comendo lixo? Ou, espero que não estejam gravando isso, ter que fazer vista grossa pra uma... hum... “atitude incorreta” de alguém cujos outros 90% das atitudes são extremamente positivas? Não me orgulho, mas eu era justamente quem escolhia cortar um braço fora porque ele era a única coisa comestível ao redor... . O pior? Se você não cuidar muito bem do ferimento... pode acabar morrendo de qualquer forma... .

    Nesse momento, “Lorem” pigarreara, ajeitando-se no mesmo lugar.
    - Sem querer ofender, mas é que a gente veio aqui praquela coisa dos assassinatos e tal. Acho que é isso que estão te perguntando. Pode dizer alguma coisa sobre o assunto?

    Aquele atravessamento fez o homem parar, observar e sacar a tampa duma garrafa de boa vodka. “Copos? Gelo?”, perguntara às visitas enquanto enchia o próprio recipiente, disposto a “misturar” outra bebida. Então foi ele que pigarreou.
    - Sabe o que realmente acho? Que não temos nada e mãos. Sabe o que eu faço quando não tenho nada em mãos? Jogo uma moeda e decido se eu continuo batendo cabeça na esperança de que tenha algo a ser achado, se eu simplesmente espero até que um novo fato ocorra ou se eu provoco um movimento novo – Então, subitamente rindo, corrigiu-se – Foram três opções, né? Precisamos de moedas novas.

    Na sequência, o vigilante de capacete vermelho e branco soltou um sonoro “Quê?!?!”, como se não tivesse entendido bulhufas do que havia sido sugerido.
    - Imagina um psicopata. O mais óbvio é continuar investigando até que se ache algum indício, alguma prova. Se achar, ótimo! Mas e se não acontecer? “Caso arquivado”. As coisas só vão andar de novo caso, infelizmente, ele cometa um novo crime e tenhamos alguma coisa nova pra investigar. Mas aí estamos sempre “um passo atrasados” em relação a ele. Mas e se você montar uma armadilha e atraí-lo? Coisa de filme, sabe? Tipo se vocês anunciassem que estão investigando justamente esses dois casos e ficassem esperando que alguém viesse... bem... basicamente, matar vocês.
    - Eu voto pela Alquimista botar algo na bebida de quem mandou te processar pra saber porque fez isso ou quem mandou fazer isso.

    Aquela sugestão totalmente fora do rumo da conversa fez o dono da casa gargalhar alto. Parecia uma sugestão ridícula, mas... .

    Julian parecera pronto a dizer alguma coisa, mas fechou a boca e olhou com o cenho franzido para a TV.
    - Agora fodeu mesmo... .

    No noticiário, informações quentes sobre a declaração de greve da polícia. Aparentemente, uma negociação por melhorias de condições de trabalho terminara com uma troca de ofensas com o prefeito, o que levara à paralização.
    - Acho que vocês vão ter bastante trabalho sem a polícia nas ruas, viu? Quem sabe chegou a hora de mostrar todo o heroísmo de vocês.
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    Mensagem por gaijin386 Seg Nov 04, 2019 5:19 pm

    - Então creio que devemos encontrar alguma testemunha se é que existe alguma ou então achar algum informante que nos coloque na trilha... Será difícil, mas não impossível. Tem alguém para nos indicar que possa ser persuadido a dar com a língua nos dentes?
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    Mensagem por Shmul Ter Nov 05, 2019 9:31 am

    Assim que foi oferecido bebida, Jack já estava com um copo na mão. Vodka não era sua preferência, mas não negaria um gole daquela bebida cara.

    - Bem, se não tiver ninguém para nos indicar, podemos tentar fazer a tal da isca. Montamos um escritório de fachada com alguma publicidade estampada, “TIRAMOS VOCÊ DA CADEIA!”, com um de nós disfarçado de um Carlomagno da vida. – olhou com rabo de olho para os outros imaginando que a ideia não seria aceita - Eu vi algo parecido em um seriado – completou.

    - Além disso, talvez você mesmo, delegado, pudesse nos dar mais pistas e nos passar suas percepções quanto ao caso do açougueiro e a esposa, e do motorista que se enforcou. Talvez tenha deixado algo passar. Talvez a esposa e alguém dentro do manicômio. – deu um longo gole quase terminando seu copo.
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    Mensagem por Lnrd Ter Nov 12, 2019 10:35 am

    Distante daquela improvisada “entrevista” ao policial afastado – logo, longe dos esquemas de segurança de quem por ele podia pagar –, a mera menção à greve da segurança pública surtia resultados nefastos. Não importava o horário avançado dum domingo: não havia folga para intenções escusas.

    Um homem acabara de atirar na cabeça da ex-mulher a queima-roupa. Insatisfeito, com o fim do relacionamento, não se importara com o bebê – o filho dele – que ela banhava na hora, o qual agora afundava numa improvisada banheira.

    Dois viciados em plena euforia dalguma droga barata e altamente viciante invadiam a casa de um senhor solitário. “Quem está...” tentara perguntar ele antes de ser acertado na cabeça com uma barra de ferro. Agonizando, ainda acompanhara por um tempo a casa sendo revirada, até finalmente perder os sentidos.

    Sobre uma moto roubada, um motoqueiro e o carona pararam em frente a um bar da periferia. De capacetes, sacaram seus resolveres e dispararam mais de 20 vezes contra o interior do local, sendo impossível distinguir quem seria verdadeiramente o alvo e, por consequência, a motivação da ação.

    Aquela seria uma longa, longa noite de sangue nas ruas.
    E provavelmente não se resumiria ao epicentro pobre.

    À sala do policial afastado, o trio continuava tentando estabelecer uma rota de ação. Julian tinha o cenho franzido e encarava a Alquimista com súbita desconfiança.
    - Você não tá gravando isso para me incriminar, né? Só pra deixar muito claro que sou terminantemente contra ações ilegais ou qualquer tipo de tortura. Sou... bem, era um oficial da lei. Mas se fosse tirar satisfações com alguém, seria o promotor público, Antoine Elohin Varas. Afinal, foi ele quem moveu o processo em nome da administração pública da cidade.

    Ao contrário de se esclarecer, a situação se ramificava mais ainda. De três “entrevistas”, agora tinham um quarto nome.

    Na sequência, quando Jack fizera a sugestão dele, mas àquilo o ex-delegado apenas deu com os ombros.
    - Sinceramente, o que vocês vão fazer é mais problema de vocês. Não vou, nem posso, tomar parte disso. Na verdade, quando menos eu souber, melhor pra todo mundo... .

    Foi então que o novo companheiro de rua dera a opinião dele:
    - Espera. O delegado foi afastado porque descobriram que os dois casos caíram nas mãos dele. E se esse escritório começasse justamente a investigar esses dois casos? Podemos abordar a tal ex-mulher nos apresentando como advogados, não como vigilantes. E o mesmo com a clínica. Eu posso fazer uns cartões, um site e coisa desse tipo. Se tiveram acesso até a uma investigação policial, vai ser fácil notar a gente batendo nessas portas. Eu concordo com essa ideia – ver o Lorem aceitar a sugestão de Jack poderia inflar o orgulho do lutador, mas, de fato, o “capacete vermelho” havia acabado também de concordar com a sugestão de um interrogatório químico. Talvez, apesar de um aparente pensamento crítico-analítico, estivesse mais perdido que todos ali.


    Fosse como fosse, restava ainda a Julian tentar dar alguma informação que ajudasse aos próximos passos. E ele tentou o máximo que pôde.
    - Alexandre Ferreira, o assassino que morreu no manicômio, era do tipo “teorista da conspiração”. Havia bastante material pseudocientífico na casa dele. Essas coisas de antivacina, aviões soltando gás tranquilizante na população, governos roubando dados dos cidadãos... .
    - Mas eles roubam mesmo. Estão fazendo um banco de todas as nossas informações e, na hora que quiserem inventar alguma coisa contra você, não só vão saber contar a mentira da melhor forma possível como vão prever todos os seus passos.

    O homem, que levava um copo aos lábios, apenas interrompeu o movimento, como se paralisado com aquela informação.
    - Bem... Em suma, era o típico paranoico das redes. Não tive tempo de investigar, mas saber os grupos em que ele era inscrito seria interessante. E, claro, mais sobre a maneira como ele morreu. Testemunhas, câmeras e essas coisas. O trabalho que eu iria fazer antes de me pararem... .

    Na TV, as primeiras notícias de distúrbios começavam a aparecer. Pequenos incidentes com saques e até a movimentação de bombeiros para conter um incêndio suspeito.

    “Quanto ao açougueiro”, continuou o dono da casa, “bem, os ânimos estão muito alterados nos últimos tempos, não? A justiça não funciona, daí as pessoas começam a pedir por outras saídas. O homem era bastante ‘opinioso’ nas redes, sempre se metendo em discussões e indo a protestos. ‘Confronto direto’ parecia ser uma saída válida para ele... bem, parece que exagerou um pouco nessa tentativa de resolver as coisas com as próprias mãos”.
    - De qualquer forma, pode ser que alguém desses grupos tenha dado o tiro nele como uma queima de arquivo. Tentaria ver com a esposa... digo, com a viúva, se ela pode apontar mais direções.

    Aquela perspectiva era interessante, mostrando que a situação não era exatamente um beco sem saída. De fato, a polícia já havia recolhido as informações iniciais básicas, registrando aquilo que fosse “óbvio”. Mas não tivera tempo de seguir com as investigações.

    Era a hora de decidir o próximo passo.
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    Mensagem por gaijin386 Ter Nov 12, 2019 12:27 pm

    Claro ... Alexandre Ferreira ... Devemos olhar seu material e ver se conseguimos mais indícios e claro de quem andava e com quem conversava. O computador dele é um começo. Diz Alquimista.
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    Mensagem por Shmul Qua Nov 13, 2019 10:54 am

    Ficou animado que ao menos um dos presentes se interessou na proposta do escritório de advocacia de fachada, mas sua desconfiança para com o novo vigilante continuava a mesma.
    Como não teve aderência dos demais achou melhor não insistir.

    Quanta a sugestão de investigar Alexandre, teve outra ideia - Aurélius poderia fazer essa investigação nas redes sociais, ele é muito bom com essas coisas, e ficaria feliz em poder ajudar de alguma forma mais incisiva. Se conseguirmos o computador, também podemos contar com ele, eu acho.

    Com o foco na alquimista perguntou – Onde devemos ir primeiro? Na casa dele ou no manicômio?
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    Mensagem por Lnrd Dom Nov 17, 2019 5:13 pm

    O misterioso novato pigarreou, não como se simplesmente limpando a garganta. Parecia tentar sinalizar, de maneira nada sutil, algum incômodo.
    - De fato, eu sou muito bom nesse tipo de coisa. É claro, se preferir esse seu amigo... como disse o nome dele? Aurélio? Bem, se quiser chamar ele, não vejo problema. Mas eu conheço tudo de navegadores invisíveis, IPs falsos etc. Hoje você tem que ser muito precavido ou pode acabar se ferrando – Aparentemente, a paranoia dele em segurança digital não era exatamente uma “fobia tecnológica”. Talvez tivesse aprendido um ou dois truques em fóruns e pesquisas.

    De toda a maneira, realmente não parecia disposto a tomar a dianteira, seja por nunca ter encontrado aquelas duas figuras, seja por realmente não ser essa a praia dele. Pôs-se igualmente a esperar a resposta da Alquimista, jogando nas costas dela o peso de decidir qual seria o próximo passo – livrando-se assim da culpa por qualquer erro.

    Enquanto isso, Julian apenas observava aquelas visitas estranhas, voltando a encher periodicamente o próprio copo com bebida e gelo.
    - Bem, se me derem licença... gostaria de voltar a curtir meus últimos momentos de vida.

    Aquela frase cai de forma estranha e pesada no ambiente, vinda direto da boca de alguém que estava se entregando ao álcool e tinha uma arma à mão. “Digo, antes de ser preso”, complementara, sentindo o como aquilo soara suspeito.

    Na TV, as notícias pesadas eram substituídas por um apresentador canastrão fazendo suspense sobre algum assunto desinteressante qualquer. Poderiam, entretanto, esperar por mais notícias sobre a greve. Notícias sangrentas.
    - Me mantenham informado caso saibam de alguma coisa... . Mesmo que nada disso me ajude a me livrar das acusações... ao menos saberei em qual mina terrestre pisei sem saber.

    Afora eles, onde estaria o Senhor Oculto àquela hora? O Ranger teria decidido se juntado a ele na investigação? O que se dera da “Gata” e do cachorro que ganhara? Outros grupos estariam se preparando para ganhar as ruas naquela noite perigosa ou eram os únicos a ainda se importarem com alguma coisa?
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    Mensagem por gaijin386 Dom Nov 17, 2019 6:37 pm

    Ah quero ver o muquifo ... digo na casa do infeliz primeiro e fuçar por tudo ai sim podemos ir no manicômio.
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    Mensagem por Shmul Seg Nov 18, 2019 9:41 am

    – Me desculpe, eu não sabia que você é expert nessas coisas. Contamos com você, então. - disse para Lorem.

    As palavras de Julian deixaram Jack com mal estar. O investigador estaria morto em pouco tempo caso fosse para uma cela comum. – Por que o senhor não vem conosco? Não seria como se estivesse fugindo, pois ainda estaria na cidade. Lute com as armas que você tem, e com o tempo que ainda lhe resta. – tentou motivar Julian.

    - Esta decidido. Vamos para a residência, primeiro. Temos o endereço naquela pasta de arquivos? Eu vim de ônibus... – disse um pouco encabulado com sua miséria, esperando que alguém tivesse um veículo ou uma ideia melhor, do contrario gastariam bastante tempo para se locomoverem.
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    Mensagem por Lnrd Ter Nov 26, 2019 10:05 pm

    Julian abre a boca como se pensasse nalgo, mas logo em seguida a fecha, limitando-se a dar mais um gole na bebida. O que fosse que passara pela cabeça dele naquele momento, ficaria para sempre fora do alcance do grupo.

    Como sugerido, os arquivos, ou o próprio Senhor Oculto, facilmente teriam o endereço. Mas não fora preciso. O ex-delegado tinha-o próximo, numa agenda, junto de um número de telefone. Era ele, afinal, o investigador.
    - Por Deus, olhe a hora? Vocês não vão chegar na casa dessa infeliz no fim dum domingo pra perturbar, né? – dissera num tom de brincadeira, quase como se refletindo sobre a própria situação.

    “Acho que devemos marcar para amanhã”, sugerira Lorem ao confirmar a localização. “É passando o meu bairro, mas daqui é bem longe. A gente ia chegar tarde lá e...”. Dera mais um ou outro motivo para deixarem a missão para o dia seguinte.

    Como se aproveitando a deixa, Julian acompanhou o trio até a porta. Desejara boa sorte e, pelo que poderiam prever, precisariam dela. Bastante.



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