Hoje o dia havia amanhecido estranhamente silencioso.
As aves, os cervos, os ursos, as lobos, as lebres. Todos estavam quietos demais. Até mesmo Caninos Cinzentos estava mais quieto hoje. As árvores, que sempre dançam sob o vento da manhã, estavam imóveis, assim como o ar. Nem uma leve brisa era sentida. Era como se a natureza estivesse preocupada com algo e não tivesse tempo para ser ela mesma.
Apesar do dia ter amanhecido estranho, Kórdan tomou seu desjejum despreocupado. Enrolou seu cobertor e preparou-se para partir. O druida tinha um longo caminho para percorrer. Em dois dias será o equinócio de outono, e as celebrações serão feitas na clareira conhecida como Os Olhos de Selûne, às sombras do Vovô Árvore e muito ao norte de onde Kórdan estava. Jogando o cobertor nas costas e usando sua lança como um cajado, Kórdan segue para o norte com Caninos ora ao lado do druida, ora longe de sua vista, correndo pela floresta.
Caminhando a quase uma hora ao lado da Corredeira do Unicórnio, com suas águas claras se tornando cristais sob a luz do sol, o druida havia se esquecido do estranho silêncio dessa manhã, maravilhado com a floresta que o cercava, com as cachoeiras da Corredeira e com a imponência dos Montes Estelares à Noroeste. Kórdan então se lembrou do dragão verde que dormia nos Montes e que acordou recentemente, e um frio percorreu sua espinha. O druida apertou o passo, levando os dedos à boca em um assobio para chamar Caninos.
O caminho aqui era agradável, mas difícil. Valas e depressões eram constantes, e em alguns pontos, e pedra lisa era um convite para um mergulho na Corredeira. Kórdan seguia com passos firmes, ainda sem sinais de Caninos. O lobo provavelmente encontrou algo que atraiu sua atenção. Seguindo para o leste, Kórdan contornaria os Montes Estelares, seguindo entre ela e a Floresta Atroz, para então seguir em uma linha quase reta rumo ao norte, até Os Olhos de Selûne.
Depois de longos minutos de subida, o druida para por um momento sobre uma elevação de pedras, e se volta para a Corredeira, sentando-se por alguns momentos para recuperar o fôlego. Talvez este lugar não tivesse sido a melhor escolha, pois a visão daqui era, por si só, de tirar o fôlego. Os Montes, bem próximos e imponentes, logo fariam sombra sobre a Corredeira a e floresta ao redor, quando o sol estivesse no oeste, mas agora as águas brilhavam prateadas e Kórdan conseguia ver duas cachoeiras, magníficas, antes do rio virar para oeste. Uma brisa fria vinha ao encontro de Kórdan; parecia que a terra tinha finalmente acordado. Absorto, o druida sentia a natureza ao redor. Os sons, os cheiros, as cores...
De repente, Kórdan ouve uma voz bem fina, como se ela viesse de muito longe, trazida pelo vento. Olhando em volta , o druida não vê ninguém, mas continua ouvindo a voz! “Aqui!”, o homem ouve. Kórdan procura, mas não vê ninguém. “Atrás de você, estúpido!”. Irritado, o druida se levanta bruscamente, virando num salto, mas não há ali nem a sombra de alguém.
“Eu tenho amigos humanos que não são burros como você, sabia?”. Kórdan olha uma vez mais em volta, mas continua sem ver ninguém. “Eu posso ficar aqui o dia inteiro, está tão confortável...”